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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Secretary - Capítulo 4


Passei o resto daquele dia no quarto, não desci nem pra comer. Não me interessava os assuntos que Joseph conversaria com aqueles homens, eu ainda estava meio abalada com o acontecimento daquela manhã. Minha cabeça dava voltas e eu pensava em tudo que havia acontecido comigo durante aqueles dias. Em um momento, eu era apenas uma secretária eficiente, no outro uma prisioneira, isca e até mesmo uma companhia sexual. 
Lembrei de quando eu lutava contra mim mesma todos os dias para encará-lo no escritório, disfarçando tudo que sentia por ele. Eu não passava de uma tola, ele sempre desconfiou e usou isso para seu benefício. Xinguei mentalmente todas as decisões que tomei durante esses anos, elas me levaram até aquele emprego, me levaram até ele e ao seu plano de vingança. Plano esse que eu tinha um conhecimento vago. Lembrei que apesar de não morar com minha família - que vivia na Suíça - eu tinha amigos, amigos que deveriam estar telefonando para minha casa para me convidar para uma festa qualquer e eu não estava lá para atendê-los. 


Encarei o relógio no criado-mudo que marcava quatro da tarde, fiz força para levantar da cama e encarei a porta. Ele não havia entrado no quarto desde manhã quando me deixou aqui, preocupado e ainda nervoso pelo que Jared havia feito. Estremeci com aquela lembrança e esfreguei as mãos em meu rosto. Levantei-me vagamente e caminhei até a grande janela. Empurrei a cortina branca para o lado e observei Joseph e os outros três parados em frente a um carro. Reparei em suas expressões e percebi que ambos riam e pareciam comemorar algo. Até Jared, que estava com um notável hematoma no rosto participava daquilo. Joseph se virou e seu olhar encontrou com o meu. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios e apenas voltei a cortina em seu lugar e saí da janela. Sentei na cama de novo, tirando os sapatos e soltando o ar devagar. Estava começando a me irritar, toda aquela maldita brincadeira estava perdendo a graça. Fechei os olhos para reprimir minha raiva e percebi um barulho vindo da porta. 
Ele sorriu mais uma vez, um brilho intenso em seu olhar provocou um frio em minha barriga. Caminhou calmo até a cama e sentou-se do meu lado. 
- Quase tudo pronto. - disse, olhando para frente, sem me encarar. 
- Ótimo! - disse, forçando uma animação que não existia. Ele percebeu minha ironia e se virou para me olhar. Ficamos quietos por alguns minutos, até que resolvi quebrar o silêncio. 
- Por que eu? Com tantas mulheres que devem passar por sua vida diariamente... - ele ergueu seu dedo indicador, me fazendo parar de falar. 
- Acho que já te expliquei. 
- Não, aquela explicação não é válida. Eu falo sério, por quê? Eu nunca te fiz nada e acho que você tem consciência que seus atos estão me colocando em perigo. 
- Você não disse nada disso ontem, na sala, comigo... nua - cruzou os braços. - Decida-se, uma hora é completamente dócil e outro se revolta. 
- Não me trate como se eu fosse um animal que você está domesticando. - alterei meu tom de voz. 
- Que engraçada você - ele riu - Eu adoraria mais algumas piadas, mas estou realmente cansado. Jared, James e Ian ficaram praticamente o dia todo aqui e amanhã preciso checar os últimos preparativos pra viagem. Ah, e não se preocupe, Ian já tomou a precaução de pegar seus documentos em sua casa, caso queira saber. 
Congelei naquele momento. Como era? Um daqueles três invadiu minha casa? 
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? - me levantei, sendo seguida por ele. Caminhei rápido até a porta, ele foi atrás e segurou meu braço. - Tire as mãos de mim! - Por impulso, mirei um tapa em seu rosto e segundos depois ouvi o barulho produzido pelo impacto de minha mão em sua pele. 
- Sua... - ele tinha a mão no rosto, os olhos fechados. 
- Cala a porra da sua boca! Primeiro me faz dormir com você, depois me prende nessa droga de casa, seu empregado ou Deus sabe o que ele é de você tenta me violentar e agora você me diz que mandou invadirem minha casa? Quem diabos acha que é? - minha voz era tão autoritária que eu mesma não a reconheci. - Eu deveria... 
Ele me empurrou para a porta, fazendo com que minhas costas se chocassem com a mesma. 
- Deveria o que, Lovato? - seu rosto a milímetros do meu refletiam raiva e superioridade. Me encolhi, sentindo ele me apertar contra a porta fria. - Eu tentei ser bom com você... Tentei mesmo... 
- TENTOU? AQUILO QUE QUASE ACONTECEU COMIGO HOJE SERIA BOM? - lágrimas brotaram em meus olhos. - Eu sentir algo ou não por você não te dá o direito de achar que pode controlar a minha vida. 
Ele saiu de perto, ficando de costas. Parecia refletir sobre algo. Continuei a falar. 
- Eu fui uma tola em achar que você era uma pessoa boa, fui ainda mais tola em achar que um dia... Que um dia poderia ter algo sério com você. - uma risada ecoou no quarto. Sim, ele ria de mim. 
- Como você gosta de construir castelos. - voltou a ficar de frente pra mim, dessa vez com uma certa distância. - Eu não sinto nada por você, eu não te amo. Se por acaso faço sexo com você é por pura vontade, só por fazer. Pare de sonhar. - encarei-o, tentando ao máximo controlar o mar de lágrimas que imploravam para sair de meus olhos. 
Aquela foi a gota d'água. 
- Quer saber? Me mata! Vai, me mata de uma vez. - larguei meus braços no ar. - Eu não quero mais fazer parte disso. - ele sacudiu a cabeça negativamente, continuando parado. Fui até Joseph e comecei a dar socos em seu peito, o que o assustou um pouco. - Anda, acabe logo com isso. Você mesmo disse, se eu não lhe ajudasse, iria dar um jeito, não é? Acabe comigo agora! - senti uma dor em meus dedos ao acertar seu tórax com força. Ele se mantinha imóvel, piscou algumas vezes e então me segurou pelos braços com agressividade. 
- Pare de ser ridícula. - disse pausadamente. 
Antes que eu pudesse dizer algo, sua boca se chocou com a minha, sua língua ignorou qualquer barreira e já se misturava com o interior de minha boca. Recuei um pouco, tentando me soltar, mas logo aquele efeito que ele ainda provocava em mim começou a se manifestar. As mãos fortes em minha cintura faziam com que nossos corpos quase se fundissem. Parou o beijo e me encarou, sua respiração estava acelerada e meus lábios formigavam. 
- Por que... Por que você é tão... - seu indicador que foi colocado em minha boca me impediu de continuar. 
- Talvez um dia você descubra. - a raiva não estava mais em seu rosto. Por um instante poderia jurar que vi tristeza em seu olhar. Ele se afastou, abrindo a porta e saindo em seguida. Voltei para cama e desabei a chorar, molhando o travesseiro e sentindo as lágrimas grossas e quentes correrem livres por meu rosto. 

O sol entrava pela janela aberta do quarto, me fazendo virar o rosto. Era terça, o dia em que as coisas mudariam talvez para sempre. Vesti a calça jeans que havia colocado sobre a cama e a blusa vermelha de mangas. Não tinha vontade de me olhar no espelho, não queria encarar a verdade. A televisão estava ligado e ao fundo de um programa que eu reconheci tocava a música. Uma parte da letra me chamou atenção. 

Searching for the truth in your eyes 
Procurando pela verdade nos seus olhos 
Found myself so lost to recognize 
Me encontro tão perdida pra ser reconhecida 
The person now that you, you claim to be 
A pessoa que agora você diz ser 
Don't know when to stop, where to start 
Não sabe quando parar ou quando começar 
You're just so caught up to who you are 
Você está tão apegado a quem você é 
Now you're far too high for me to see 
E agora você está muito alto para eu poder ver 

Suspirei, sentindo uma pontada em meu peito. Aquela música só podia ter sido feito pra mim, feita para aquele momento. 

I'd never thought that we'd come to this 
Eu nunca pensei que chegaríamos a esse ponto... 

- Já está pronta? - Joseph apareceu na porta, me acordando de pensamentos. Sua expressão se tornou séria quando ele notou a minha. Mas simplesmente ignorou, pegou uma mala que estava no canto do quarto e caminhou até a porta novamente. Lançou um olhar sério para mim, fazendo sinal com a mão para que eu saísse também. Sem questionar, deixei o quarto, não me preocupando se a porta estava aberta ou não. Caminhávamos em silêncio. Desde aquela última briga em meu quarto, mal havíamos nos falado direito, ele não ia até o quarto e eu raramente descia. Algo havia mudado, tanto nele quanto em mim, eu só não sabia o que era. Saímos pela porta que dava para o jardim e percebi que Jared, James e Ian estavam em frente a um carro preto. Se indireitaram ao perceber que estávamos chegando perto. Jared me lançou um olhar estranho e eu preferi desviar o meu. 
- Entre! - Joseph disse para mim, abrindo a porta. 
Entrei no veículo sendo seguida por ele e por James, que ficaram nos bancos de trás comigo. Jared entrou pelo morotista e Ian pelo passageiro. Nada superaria a tensão que se encontrava ali. Eu me sentia pesada, observada e com uma terrível sensação de repulsa ao ver o olhar de Jared me observar pelo espelho do carro. O carro ganhou movimento e logo eu percebi que já estávamos longe da rua da casa de Joseph. Eles conversavam sobre algo que eu não conseguia prestar atenção. Me mantive imóvel, encarando a paisagem que passava rapidamente pelo carro que estava em alta velocidade. 
- Acha que dessa vez vamos conseguir? - Ian perguntou, virando o pescoço para encarar Joseph. 
- É claro que sim! - sua voz estava alta demais, o que me desesperou. - Dessa vez eu vou ter o prazer de olhar nos olhos daquele babaca e fazê-lo perceber que mexeu com a pessoa errada. 
- É uma pena pra família Wolfe! - Jared falou, rindo em seguida, demonstrando que não estava preocupado com família nenhuma, na verdade. 
Wolfe... - Já posso imaginar ele pedindo pra que eu não faça nada, cara, eu já posso ver a cara branca dele se contorcendo de dor e lágrimas caindo dos seus olhos, feito um bichinha. - senti nojo ao ouvir aquilo sair da boca de Joseph. Mas eu precisava perguntar uma coisa, uma coisa que chamou minha atenção e que eu torcia com todas as forças para que a resposta não fosse a que eu imaginava. 
- Qual é o nome desse homem? - perguntei, a voz tão baixa que eles poderiam até nem ter escutado. 
Cameron. Cameron Wolfe. - o nome saiu com certa repugnância da boca de Joseph, que ganhou um olhar de raiva em seguida. 
Meus olhos se arregalaram e meu coração acelerou. Não, não podia ser verdade. Respirei fundo e tentei me recompor, aquela deveria ser uma simples coincidência. 
- Eu... preciso ligar pra um amigo... Avisar que... 
- Não, você não vai ligar pra ninguém. - ele disse, me olhando, como se aquilo fosse óbvio. 
- Ele vai ficar preocupado comigo... Eu só vou dizer que vou fazer uma viagem de trabalho. - olhei suplicante para Joseph que revirou os olhos e pegou o celular que estava com James. Entregou ele para mim, me observando. 
Tentei me lembrar dos números, mas minha cabeça estava em plena confusão, aquilo não seria fácil. Chutei uma sequência de números, ouvindo chamar em seguida. 
- Alô? 
- Mike? - pedi, tentando controlar minha voz o maximo que podia. 
Demi? Onde é que você está? Caramba, eu tô te procurando há dois dias e... 
- Mike, eu tenho que fazer uma... - olhei para Joseph que prestava atenção em minha conversa. - Viagem de trabalho, vou demorar uns... Acho que três semanas. 
- O quê? Como assim? Mas... 
- Tchau, Mike, preciso desligar. 
Entreguei o telefone de volta para Joseph. 
- Mike, hein? Seu namorado? - ele disse, rindo em seguida. 
- E se fosse, o que isso importaria a você? - respondi sem prestar atenção no que dizia, encarando a janela. 
- Tem razão, tanto faz. 

Flashback – 6 anos atrás. 
Narrativa em 3ª pessoa. 

O pátio da escola estava lotado, o sinal havia acabado de tocar e os corredores estavam cheios de alunos, alguns em seus armários e outros andando despreocupados com o horário. 
A menina surgiu meio desajeitada, os jeans surrados em um tom claro, a camiseta preta de alguma banda não identificada, o all star preto completamente gasto. Os cabelos pretos meio desgrenhados e feitos em um coque frouxo. A maquiagem em seus olhos era forte e borrada de propósito. Os fones em seus ouvidos, com o volume mais alto do que deveria indicaram que ela estava ouvindo Oasis. Parou em seu armário, abrindo-o com dificuldade. Guardou alguns livros e o fechou. Abaixou o olhar ao perceber que um grupo de garotas com roupas curtas e cabelos exageradamente loiros a encarava. Os dedos nervosos mudaram a música, agora uma mais agitada, ela cantarolou um trecho junto. 
- Hey! Me espera! - um garoto ruivo, com sardas pelo rosto e vestido no mesmo estilo que ela disse, ficando ao lado da garota. 
- Oi, Mike. - disse distraidamente, sem olhar para o amigo. 
- Você... Você tá sabendo do baile? - ele coçou a nuca, meio sem graça. A verdade é que ele queria muito convidá-la para o baile que a escola realizaria no final do semestre. Todos os preparativos estavam sendo feitos e aquilo irritava a garota. 
- Quem é que não sabe dessa porcaria? - ela disse brava, roendo uma das unhas que continham um esmalte preto descascado. 
- Você quer ir... - ele ia dizer, até que um batalhão de garotos passou correndo por eles, fazendo os dois livros que a menina carregava caírem no chão. 
- Filhos de uma puta! - ela xingou, se abaixando e recolhendo seus livros. - O que você dizia, Mike? - o garoto ficou sem graça novamente e seu rosto assumiu uma expressão triste. 
- Esquece, falo com você depois. - virou o corredor, entrando na última sala onde metade dos alunos estavam para fora. 
Ela continuou a caminhar, já que sua sala era uma das últimas. 
- Olha só a roqueira nojenta. - ouviu uma voz familiar falar atrás de si, bufou ao perceber quem era. Preferiu não falar nada, apenas deu de ombros. 
- Ora, não vai me dar atenção hoje, bonequinha das trevas? Quem vai te levar pro baile? Um cadáver? - todos que estavam ao redor começaram a rir loucamente. 
- Deixa ela, cara. - um deles, que estava meio longe pediu, olhando em dúvida para a menina. 
- Fica na sua, Cam. 
- Cala a boca, Carter, cuide da sua vida! - ela disse, agressiva. Avançando para cima do menino. Balançou a cabeça negativamente ao perceber que aquilo não valia a pena. Mostrou o dedo do meio para todos que estavam ali e entrou em sua sala. 

Demetria? - Cam a acordou de seus pensamentos, enquanto estava sentada em uma das mesas do pátio. Estava sozinha como sempre, com um livro entre as mãos e os fones nos ouvidos. 
- Que foi? - ela o fuzilou com o olhar. Por dentro sentiu uma coisa estranha no estômago. Ela não sabia porque ficava daquele jeito quando via Cam, mas preferia ignorar aquilo. 
- Desculpe pelo Carter, ele exagera às vezes. 
- Às vezes? - disse alto. 
- Bom, desculpa. Tchau. - ela mordou o lábio ao ver o garoto se afastar e um impulso a fez gritar seu nome. 
Cam! - ele olhou para atrás e ela fez sinal com a mão para que ele se aproximasse. 
- Sim? 
- Você... Bom, você... Gostaria de ir ao baile comigo? - sua mente a xingava de todos os palavrões possíveis por ter dito aquilo, mas já estava feito. Cam engasgou e disfarçou, olhando em volta. Melissa, uma garota loira que usava uma saia jeans curta e uma blusa rosa decotada olhou pra ele do lugar que estava e sorriu maliciosa. 
- Você tá brincando com a minha cara, né? Eu? Ir no baile com você? Que piada! - riu alto, deixando a menina sem entender. 
- Qual é o problema? 
- Você é o problema, sua estranha. - olhou debochado para ela, se afastando e indo ao encontro da loira. Ela o abraçou e logo Cam a beijava com vontade. Tudo isso na frente de Demetria. 
- Um dia você vai se arrepender de ter dito isso. - simplesmente soltou as palavras, amassando uma das folhas do livro que lia. 

/Flashback 

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