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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Secretary II - Capítulo 2


V de vermelho e vingança



Ouvi seus passos na escada ficando cada vez mais próximos, eu estava tentando buscar pelo menos um pouco de ar para meus pulmões; minhas mãos tremiam, mal conseguia sair do lugar onde estava. Fechei os olhos com força e os abri de novo, me abaixando rapidamente para pegar o celular e o desliguei assim que percebi a maçaneta da porta sendo girada. Levei minha mão até a nuca, a massageando, a fim de tentar disfarçar meu estado. Ele abriu a porta, estava com aquele sorriso sapeca nos lábios e puxava sem jeito um dos botões da camisa. Engoli em seco, tentando sorrir paraJoseph. Caminhei até a ponta da cama encarando o chão, encarando seus sapatos que ficavam cada vez mais próximos. 
- Não achou que eu passaria mais de vinte e quatro horas sem você, achou? - senti suas mãos em minha cintura e levantei o olhar para seu rosto, fazendo nossos olhares se encontrarem. - Na verdade eu deveria ficar longe, já que aquela brincadeira de hoje foi exagerada... - ele riu e eu fui obrigada a acompanhá-lo. - Você está bem? - ele colocou a mão em meu rosto, segurando minha cintura com a outra. Fiz um sinal positivo com a cabeça, passando a língua em meus lábios secos de nervosismo. Mas, supostamente, ele entendeu aquilo de outro jeito, já que seu olhar desceu até minha boca. 
- Ei! - espalmei minhas mãos em seu peitoral. - Joe, eu gostaria de conversar com você. - Joseph não parecia estar prestando atenção nas palavras que eu dizia, eu sentia o jeito que o corpo dele estava: praticamente pedindo para se esfregar ao meu. Seus olhos brilhavam de desejo, o lábio inferior era mordido pelos próprios dentes diversas vezes; eu conhecia bem demais o homem que estava a minha frente... Ele não estava afim de conversar, não naquele momento. 
- Eu adoraria conversar com você, Lovato. - sua boca foi até meu pescoço, distribuindo beijos discretos por ali. - Mas não acho que seja uma boa hora para falar... 
Dito e feito, logo ele havia dado um jeito de me jogar na cama e fazer com que eu me deitasse, o fato de eu estar só de roupão o fez sorrir em comemoração, suas mãos aproveitavam minhas pernas descobertas; sua boca explorava meu maxilar, pescoço e colo. Apesar de querer me entregar àquilo, algo me bloqueava, eu não conseguiria aquela noite. Não depois daquela ligação. Droga! 
Joseph! - eu disse firme, apoiando minhas mãos em seu peitoral, fazendo força para cima. Ele parou com os beijos e me lançou um olhar sério, desapontado. Saiu de cima de mim devagar e eu fui levantando o tronco. Joe se endireitou na beirada da cama, sentado com as pernas para fora e eu fui para mais perto dele, passando o braço por seu ombro. - Me desculpe. - tentei dizer em um tom de voz normal. - Eu... O casamento, isso anda me deixando muito estressada! - ele estava olhando para o chão, sua pele estava quente e seu olhar perdido. 
- Quando você vai parar com isso? Quando vai deixar de se estressar por um casamento? 
- É o nosso casamento! - tirei minha mão de seu ombro, o encarando séria. 
- Não quero que fique assim. - ele se levantou, caminhando pelo quarto. - Não sabe como eu esperei por isso, não sabe como eu quero poder dizer que você é realmente minha. 
- Eu também quero! - abaixei o olhar, me xingando por lembrar daquela maldita ligação a cada fração de segundo. 
- Então por que está assim? - ele veio até mim de novo, se ajoelhando a minha frente e colocando as mãos em minhas coxas. Passei meus braços pelo seu pescoço, encostando minha testa na dele e fechando os olhos, absorvendo seu perfume tão viciante. A única coisa que conseguia me acalmar. 
- Tenho medo. - eu disse, simplesmente. 
- Medo? 
Joseph, eu te amo tanto! - voltamos as posições anteriores e ele segurou minha mão. A mão com o anel. Olhou para o mesmo e sorriu; o sorriso se transformou em uma risada gostosa, me fazendo rir de leve junto, mesmo sem saber o motivo. - Do que está rindo? 
- Nada, é só que... Estou imaginando nós daqui uns bons trinta anos e... - ele passou as mãos sobre os cabelos, levantando as sobrancelhas. 
- Você nunca perderia esse seu charme. - eu disse baixinho, dando um selinho nele. 
- Quantos filhos acha que vamos ter? E netos? Vamos ter cachorros correndo pela casa? Vamos ter um... 
Jonas! - o cortei, colocando as mãos em seu rosto. - Uma pergunta de cada vez! E no momento eu nem sei o que vou estar fazendo amanhã, quem dirá daqui trinta anos ou mais. 
- Pois então, eu sei! - ele fez com que eu me levantasse e me abraçou, começando um beijo suave. Dei passagem para sua língua, matando a saudade que sentia. O beijo foi ficando mais forte, mais necessitado e mais molhado; mas algo me fez parar com aquilo tudo. De novo. 
- Eu não posso, ok? Hoje não! 
- Já entendi, Demetria. - ele se endireitou e deu um beijo no meu rosto em forma de despedida. - Me avise quando sua neurose por causa desse casamento sumir. 
- Como se eu quisesse estar assim! - disse fria. 
- Durma bem. - dizendo isso, ele bateu a porta do quarto. Me sentei na cama de novo, sentindo-me uma completa idiota. Droga, não era para aquelas coisas estarem acontecendo, eu não podia colocar tudo a perder por um simples telefonema. Apesar dos pesares, eu não sabia o motivo de Cameron ter me ligado, talvez não fosse nada. Ok, era mais do que óbvio que tinha alguma coisa por trás daquilo. 
Encarei o anel que reluzia em meu anelar, suspirando pesadamente. 

Flashback

- Você não sabe o que está dizendo! - ele se segurava para não gritar, as veias de seu pescoço já estavam saltadas. Eu só conseguia deixar que as lágrimas caíssem, não conseguia acreditar, não podia ser verdade. Bem naquele dia estávamos completando seis meses de namoro, seis meses desde que toda aquela bagunça em nossa vida havia se ajeitado. Mas os problemas sempre davam um jeito de aparecer nas piores horas. - Demetria, é mentira! Como pode pensar que estou te traindo? Porra, será que dá para acreditar em mim? 
- Então me explique, Joseph! Me explique por que você não retornou minhas ligações, por que tem agido tão frio comigo esses últimos dias, por que para de conversar com quem quer que seja quando eu estou por perto. Voltou a esconder coisas de mim, assim como fazia antes? - limpei meus olhos que estavam borrados e levantei do sofá da casa dele indo até a porta, mas Joseph foi mais rápido e segurou meu braço. 
- Sabe como eu me sinto sabendo que você não confia em mim? 
- Me dê motivos para confiar em você, preciso deles mais do que nunca. - o desafiei com o olhar. 
- Quer motivos? Então você vai ter seus motivos! - me soltou e subiu as escadas com pressa, voltando com algo nas mãos depois de alguns poucos minutos. A princípio não identifiquei o que era, mas bastou ele abrir a caixinha de veludo vermelha. A ficha caiu. 
- E-eu... - gaguejei, perplexa com o brilho do anel. 
- Eu queria achar um que fosse perfeito, eu queria planejar essa noite; não queria que faltasse nada. Há seis meses eu sou uma nova pessoa, há seis meses eu descobri o que é viver de verdade. - ele tomou fôlego. - Eu ignorava suas ligações pois sabia que não aguentaria manter tudo em segredo, você me conhece. - ele falava e andava na minha frente, meio descontrolado. - Não estou sendo frio com você, só estava ocupado planejando tudo. Parei de conversar com o Jared e a Cassie aquele dia quando você estava se aproximando, simplesmente porque ambos estavam me ajudando com tudo isso. - Joe respirou fundo e eu me sentia um lixo. - Satisfeita ou precisa de mais motivos? 
Voltei a chorar de novo, dessa vez abrindo a porta da entrada da casa e saindo pelo jardim escuro. Caminhei com pressa, mas conseguia ouvir os passos dele atrás de mim. Segurou meu braço e me puxou, fazendo nossos corpos se chocarem. Me encostou na parede e seus lábios tocaram os meus, a expressão de dor e arrependimento estampada em ambos os rostos. 
- Me desculpe! Eu sou uma idiota, eu deveria ter conversado com você; deveria ter esperado, eu estava insegura, eu... 
Então, em meu piscar de olhos seguinte, ele já estava ajoelhado diante de mim, revelando a caixinha com a aliança sem mesmo me dar a oportunidade de descobrir como aquela terrível noite tinha sofrido uma incrível reviravolta. 
Demetria Lovato, você quer se casar comigo? - meu coração parou. O sangue havia parado de circular por minhas veias, meus pulmões não encontravam ar; senti que minha pele ficou gelada. E no instante seguinte, todos os meus sinais vitais voltaram mais fortes do que nunca. - Sabe que eu não aceito um não como resposta! 

Fim do flashback.

Alguns dias depois…


Joseph's P.O.V

Bati a porta de meu carro e fui tomado não apenas pela brisa fria da manhã, mas também pela enorme sensação de nostalgia que aqueles tijolos apodrecidos junto a grama crescida e mal cuidada me proporcionaram. A Browning High School estava bem na minha frente como um fantasma do passado; minha visão escurecida devido a óculos escuros não me impediu de confrontá-la e sentir todas aquelas sensações novamente, ambas mais fracas, porém ainda presentes. Um enorme portão de metal e janelas de vidro atingidas por pedras entraram em minha visão, tudo ali parecia ter sido atingido por alguma coisa ou talvez por alguém. Encostei minha mão em uma das grades enferrujadas e me surpreendi assim que, após um barulho irritante, o portão se abriu vagarosamente. Hesitante o suficiente para permanecer no mesmo local por vários minutos como uma estátua, decidi pensar um pouco e chegar a conclusão que entrar ali talvez não fosse uma boa ideia. Entrar em contato com aquelas milhares de lembranças talvez não fizesse bem a minha consciência, minha sanidade instável. 
Assim como os buracos no chão, eram minhas lembranças daquele lugar; enormes lacunas em meio a imagens não muito agradáveis. Fora ali que tudo teve seu início, fora ali que comprei minha passagem para a vida obscura que me aguardou de braços abertos. 
Um pouco mais a frente havia uma enorme porta de madeira fechada, estava repleta de buracos mal feitos provocados por cupins; os pedaços da mesma jaziam ocos e uma curiosidade quase me fez chutar aqueles restos e entrar no local. Entrar naquela escola onde passei três anos de minha vida. Três anos longos, confusos e frios. 
Voltei um passo e olhei para trás, encontrando a rua deserta; era bem cedo. Demetria deveria estar dormindo ainda, deveria estar sonhando com o que aconteceria dali há algumas horas. Senti os cantos dos meus lábios se levantarem involuntariamente e não fiz nada para segurar aquele sorriso; era um dia feliz, era mais do que feliz. O dia em que Demetria Lovato se tornaria minha mulher. 
Não fazia sentido continuar naquele lugar e deixar que imagens distorcidas bagunçassem minha mente que por fim estava se organizando. 
Mas esquecer aquela noite era algo que estava fora do meu controle... 
Joseph Jonas! - virei bruscamente e dei de cara com olhos que me analisavam friamente, uma expressão séria e indiferente ao mesmo tempo. 
- Policial Austin... - consegui dizer, depois de alguns segundos em silêncio. - Quanto tempo! 
- Quanto. - levantou uma das sobrancelhas. - Caleb me disse que hoje você vai se casar, está certo? Meus sinceros parabéns. - vi um sorriso quase imperceptível no meio daquela barba um pouco maior do que deveria estar. Por um instante me esqueci de que o pai de um dos meus amigos era um policial que eu conhecia há muito tempo... Muito tempo. 
- Sim, é hoje! - tirei os óculos escuros e ele balançou a cabeça em forma positiva, olhou ao redor e para a grande fachada desgastada da escola. Quando seus olhos voltaram a me encarar, comecei a me irritar com toda aquela análise ridícula, aquilo me deixava desconfortável e sem saber para onde olhar. Medo? Nem eu sabia a resposta. 
- O que faz aqui? 
- Eu estava passando e... - olhei para baixo, bagunçando o cabelo e jogando-o para trás com a mão. - Acabei parando aqui. Foi bom vê-lo, até qualquer dia! - passei rápido por ele sem esperar resposta, mantendo as mãos nos bolsos do casaco e sem coragem de olhar para trás. Até que sua voz alta e rouca me faz parar de andar. 
Joe! 
- Sim? - tudo que consegui fazer foi virar o pescoço. 
- Cuide-se! 
Ignorei aquele suposto conselho e segui até meu carro. Girei a chave na ignição e dei uma última olhada para a Browning, suspirando. 
Malditas memórias. 

/Joseph's P.O.V

Afundei meu rosto no travesseiro ao ouvir o som estridente do despertador, o mesmo indicava oito horas da manhã em ponto. Remexi-me na cama por alguns minutos, me assustando ao ouvir risadas altas vindas do andar de baixo; eram de minha mãe, Cassie e da mãe de Jared, Sra. Claire. Senti vontade de me enrolar na coberta e não sair mais de dentro dela. Imaginar como todos reagiriam a me ver foi meio constrangedor, eu realmente não gostava de ser o centro das atenções, tantos mimos como aqueles que estava recebendo chegavam a se tornar ofensivos. Ninguém queria me deixar fazer nada, meu esforço seria apenas no dia do casamento. Vestir o vestido vermelho e me casar, só! 
Decidi parar de pensar besteiras e logo estava de pé, alongando o pescoço e os braços. Uma fresta da cortina na janela revelou que apesar do clima estar meio frio um sol nada tímido brilhava. Fui até meu enorme espelho e senti uma enorme vontade de rir ao perceber meu estado: cabelos totalmente bagunçados, um pijama curto demais e uma camiseta de uma banda que eu deveria ter ouvido muito quando era adolescente. Fora o fato de estar com rímel seco espalhado ao redor dos olhos. 
- Você nem parece uma noiva! - falei para meu reflexo e decidi tomar um banho, já que aquele dia seria o mais longo de todos; muito a fazer, muito a pensar e... No final dele, eu seria de Joseph. 
Comecei a considerar a hipótese de sair da igreja e ir direto a um hospício, era mais do que óbvio que todos me deixariam louca em conjunto. Pensar que era realmente o dia do meu casamento fazia meu estômago enjoar-se e a vontade compulsiva de roer uma de minhas unhas me dominou, mas respirei fundo e comecei a tirar minha roupa vagarosamente. Desde pequena sempre ouvia dizer que as noivas ficavam a beira da loucura no dia de seu casamento, mas eu poderia colocar minhas mãos no fogo e afirmar com todas as palavras que jamais passaria por aquilo. 
Grandes voltas você deu, Senhor mundo! 
Com os olhos fechados para evitar que espuma de shampoo entrasse nos olhos, aquele dois rostos entraram de supetão em minha mente. Às vezes eu gostava de pensar que pelo menos uma daquelas aparições fora um mero sonho; era irracional que depois de tanto tempo resolveram aparecer, era irracional manter aquele maldito mistério. Um belo soco em quem inventou a palavra "mistério", só para constar. Era apenas naquelas coisas que eu conseguia pensar enquanto finalizada meu banho, desligava o chuveiro e me secava. 

Sequei meus cabelos e coloquei um vestido curto e largo ao corpo, - era cinza com detalhes em vermelho - uma rasteirinha preta e sentei-me na cama ainda bagunçada. Encarei o chão por intermináveis segundos. 
Quem me visse naquela situação certamente pensaria "Um típico caso de noiva que se arrependeu de ter dito sim e não quer mais se casar!" Casar era o que eu mais queria, seria capaz de tudo por aquele casamento, seria capaz de tudo para realizar aquele sonho com Joseph; poderia estar correndo por ai e gritando isso para todos ouvirem. Porém, não conseguia deixar de agir mecanicamente aqueles dias, sempre acabava ficando quieta demais e pensativa demais. Para minha sorte ninguém percebeu. 
Ouvi uma batida na porta e pensei três vezes antes de pedir que entrasse. 
- Entre, está aberta! - era meu irmãozinho Peter. Irmãozinho que nada, ele já era um homem com direito a uma pequena e fina barba, estatura superior a minha e tudo isso com apenas 17 anos. 
It's a beautiful day, don't let it get away... - cantarolou sorrindo e se sentando a meu lado na cama. - Quando foi que o tempo passou tão rápido, irmã? 
- Me pergunto isso de cinco em cinco minutos, Pet! 
- Sabe, estou muito feliz por ter me escolhido para conduzi-la até o altar, me sinto responsável e importante. - suas feições angelicais demais para a idade me fizeram sorrir de leve. Ele era tão parecido comigo fisicamente, mas psicologicamente falando era bem mais forte. Peter Lovato se tornaria um grande homem. 
- Você é muito mais que importante, Peter! - beijei-lhe a bochecha. 
- Deve ser complicado para você... 
- Do que está falando? 
- Nosso pai, sabe? - não era uma hora para aquele assunto. - O fato dele não estar aqui, o fato de nem se quer sabermos como ele é, quem ele realmente é... - sua expressão ficou tristonha. - Mamãe não gosta de falar dele e isso me faz pensar que talvez ele não seja o que esperamos. 
- Eu sei o que você sente, Pet. Mas se ele não se importou, por que nós deveríamos? Não quero me lamentar por um homem que nem se importou em saber a cor dos olhos dos filhos, saber se estavam saudáveis. - foi inevitável sentir os olhos arderem, mas eu jamais choraria por aquilo. Por aquele homem, um completo estranho. 
- Desculpe! - ele se levantou e me abraçou rapidamente. - Você deve estar sensível hoje, eu não queria desenterrar essas coisas. Desculpe! 
- Pare de me tratar feito uma bonequinha, Peter Lovato! - o empurrei de brincadeira pelo ombro. 
- Você parece uma com esse vestido e esse cabelo. - antes que eu pensasse em uma resposta, ele começou a rir e saiu correndo do quarto. 
Eu amava demais aquela criatura, mesmo tendo passado vários anos longe dele, pois estudava e morava na Suíça com minha mãe; era injusto os dois terem aquele sotaque francês e eu ter que me conformar com o britânico. 
E voltaram a bater na porta... 
- Entre! - eu disse alto, me levantando e colocando brincos pequenos e simples nas orelhas. O rádio estava ligado sem que eu me lembrasse de tê-lo ligado e uma música do Brandon Flowers tocava, cantarolei um trecho não tendo certeza da letra. Percebi que dessa vez era Jared quem estava a minha porta. 
- Hey, Jar! 
- Olá noiva, como se sente? 
- Sinto que meu estômago é um buraco negro e sem fim, mas isso deve ser apenas fome. - nos cumprimentamos com beijos na bochecha, estranhei Cassie não ter subido com ele. 
- Onde a Cass está? 
- Ah, sua mãe preparou centenas de coisas calóricas e ela não resistiu. Aliás, estão pedindo para que você desça. - simulei uma expressão de desanimo e ele riu. - Já entendi que você não gosta de ser o centro das atenções. 
- Não gosto mesmo. - enrolei uma mecha de cabelos nos dedos. - E como você e Cassie estão? 
- Estamos... Bem! - Jared sorriu sem graça e sem mostrar os dentes. 
- Não me convenceu, tente de novo. 
Demi, eu só ando confuso, não é nada que exija alguma preocupação da sua parte. E pare com isso, não vou lhe atazanar com meus problemas no dia do seu casamento. - seu semblante ficou sério ao pronunciar a última palavra. 
- Somos amigos, pode me contar o que quiser! Mesmo que eu esteja em lua-de-mel... - soltei um riso e ele tentou me acompanhar. 
- Não, nem pensar! Dubai é muito longe, as ligações serão caras demais. 
- É o sócio da Empire que está falando isso? Sério? - cruzei os braços. - E só irei para Dubai com Joe em dezembro, você tem longos quase dois meses para desabafar, McDowell. 
- Obrigado pela preocupação Demi, mas ela não é necessária. - Jared idiota McDowell coçou a nuca e anunciou que estava saindo do quarto, concordei com a cabeça e pedi para avisar às mulheres do andar de baixo que logo desceria para começar meu "dia de noiva". 

Horas depois...


Encostei a mão no vidro da janela do carro, era uma mini limousine preta que mais parecia um daqueles adoráveis carros dos anos quarenta. Contemplei todos os detalhes daquela igreja totalmente branca, a decoração com flores estava por todas as partes. Respirei devagar enquanto o motorista estacionava no lugar certo. Talvez o vestido estivesse me apertando ou aquela súbita falta de ar era a boa e velha ansiedade. Abaixei o olhar, sentindo o cheiro dos tulipas vermelhas arrumadas em um bouquet impecável que era segurado por minhas mãos. E então foi a vez de admirar o vestido. 
Meu Deus, que loucura! Eu estava mesmo em frente a uma igreja com aquele vestido vermelho. 
Meus olhos o mediram com precisão, captando cada detalhe perfeitamente trabalhado; os bordados por toda a cauda, a textura incrível e aquele tom de vermelho tão apaixonante e intenso. Na parte do busto e tronco era simples e bem justo, mais parecia um corpete pelo modo como delineava minha cintura. A grinalda e o véu não deixavam de ser impecáveis também; a grinalda contava com pequenas flores artificiais vermelhas que eram presas por uma tiara dourada, perfeitamente em sintonia com o coque formado em meu cabelo. O véu branco que tinha os mesmos bordados da cauda do vestido caia sobre minhas costas. Poderia ser um grave exagero, mas eu me sentia uma princesa. O leve reflexo da janela permitiu-me ver meu rosto maquiado: meus cílios nunca estiveram tão longos, o trabalho feito pela maquiadora em minha pele quase a fazia parecer de porcelana. Levei o dedo indicador até meus lábios para verificar se o batom cor-de-boca estava em ordem. Era uma maquiagem simples, porém bonita. 
Uma reconstituição de minha breve vida fora mais do que necessária; de uma garota calada e tímida, cujo sonho fora ter uma banda, a uma mulher que poderia afirmar com quase toda a certeza ser feliz. 
Poderia o inferno dar lugar àquele paraíso? 
Esfreguei minhas mãos e fechei os olhos por alguns segundos, sentindo um mix de vários sentimentos; emoção, ansiedade, impaciência, amor e medo juntos formavam o meu corpo, naquele momento. O último deles era inevitável, infelizmente. Eu gostaria de poder não sentir mais medo. 
Como meu Joseph deveria estar? Avistei minha mãe sair toda pomposa de dentro da igreja, vindo na direção do carro em que eu estava. Abri a porta para que ela entrasse, e assim o fez. Se colocou do meu lado e fez questão de me abraçar de imediato. Percebi que ela estava quase chorando e me segurei para não fazer o mesmo. 
- Mamãe! Minha maquiagem! - exclamei, e nos soltamos. Ela limpou os cantos dos olhos e me olhou orgulhosa. 
- Oh, você precisa ver o Joe! - sorriu. - O homem vai acabar fazendo um buraco no chão da igreja, Jared está tentando acalmá-lo, mas acho que o coitado não sabia que noivas precisam se atrasar. É uma tradição. - ri do comentário dela, imaginando aquela cena. Joseph totalmente a beira de um ataque de nervos pela minha demora intencional. 
A felicidade abandonou rapidamente o rosto de minha mãe, e eu coloquei a mão em seu ombro coberto pelas alças do vestido lilás. 
- O que foi? 
- Não deveria lembrar disso agora querida, mas fico pensando em como seriam as coisas se seu pai estivesse aqui. 
Ah, de novo não... 
- Ele não se importa com nós, deixe isso pra lá. 
- Eu sei, eu sei! - ela tinha um olhar perdido. - Mas é que eu não consigo deixar de pensar em certas coisas, como tudo poderia ter... - o som de batidinhas no vidro do carro fez ela se calar e ambas viramos nosso pescoço para encarar Peter. Mamãe me deu outro abraço mais leve e saiu do carro, sorria para Peter. Ele estava com o cabelo todo para trás, com um terno preto; a postura lembrava a de um cavalheiro. Hesitei um pouco até colocar os sapatos vermelhos para fora do carro e segurar a mão de Pet que me ajudou a sair. O sol estava se pondo, as árvores ao redor dançavam com a brisa levemente gelada e eu sorri para Peter. Um sorriso totalmente aberto, feliz. 
- Você está maravilhosa! 
- Estou é muito exagerada. - mencionei que não gostava de ser o centro das atenções. 
- Deixa de besteira, Demi! - ele bateu a porta do carro e enlaçou nossos braços. 
- Pronto? - eu disse em uma postura reta até demais. Estava ficando sem ar com aquele vestido. 
- Quem tem de estar pronta é você. - soltamos risinhos, nervosos no meu caso. Começamos a caminhar enquanto eu já conseguia ouvir uma agradável melodia de piano vinda do interior da igreja. 
- Acho que vou desmaiar! 
- Minha função é te conduzir até o altar, e não te segurar. 
E então tudo mudaria para melhor. O conto-de-fadas com pessoas imperfeitas estava completo, todas as páginas em ordem, não era? 
As enormes portas se abriram, fechei meus olhos depositando certa força nos dedos ao segurar o bouquet. Senti que Peter me puxou com o braço, pois era como se minhas pernas estivessem congeladas. A música do piano agora se juntava a duas vozes; uma masculina e outra feminina. Todos os rostos se voltaram para mim, todos estampavam surpresa, felicidade e até espanto devido a cor do vestido. Fiquei com medo daquela enorme cauda, tentando afastar a ideia de que poderia tropeçar e cair. Era como um filme em câmera lenta. 
Eu realmente não sabia para onde olhar, eram tantos rostos conhecidos. As laterais dos bancos da igreja estavam enfeitadas com flores brancas e vermelhas, o restante daquele sol que já estava partindo entrava pela porta, clareando mais um lado do que o outro. Eu não sabia se estava sorrindo durante todo aquele trajeto, não tinha noção de como meu rosto deveria estar, não conseguia pensar nisso naquele momento; apenas sentia meus pés contra o chão e o braço de Peter nem mesmo o vestido continuava a incomodar. Era como se aquele fosse um caminho eterno. 
Com direito a trilha sonora, fui reconhecendo quase todos aqueles rostos; Mike estava a meu lado esquerdo, ao seu lado sua esposa Jennifer que segurava a pequena e primeira filha do casal. Sorri para ele, relembrando os velhos tempos. 
O altar se aproximava. 
Em meio a toda aquela gente, consegui ouvir Cassie fungar. Assim que a encarei, - em um dos lados do altar - percebi que a mulher era só lágrimas. Jared ao lado dela apertava sua mão, na tentativa de acalmar a namorada. Senti vontade de chorar e rir ao mesmo tempo. Minha mãe, Sra. Claire, Bethany e outras amigas também possuíam olhos marejados; logo todos estariam aos prantos, menos a própria noiva. 
Meu olhar cruzou com o dele. 
Por um instante eu não estava mais naquela igreja, parecia que ele e eu estávamos em um universo paralelo. Nossos globos oculares eram como ímãs, não se desviavam um do outro apesar da pouca distancia que ainda nos separava; um atraia o outro. Aquele rosto, o rosto do homem que eu amava remetia-me tantas coisas. Eu via o homem sério e frio pelo qual me apaixonei e em seguida, como se uma máscara caísse, dava lugar a um rosto sofrido, um homem quebrado. Alguém que só queria se sentir melhor e se livrar de tantas lembranças ruins. E uma segunda máscara caira, dando lugar àquele sorriso. Joseph sorria feito um bobo, como uma criança teria sorriso ao encontrar o convite dourado de Willy Wonka, ou algo parecido. Logo sua expressão mudou e ele abaixou o olhar, contemplava o vestido; contemplava seu desejo que estava em meu corpo. Sua boca ficou entreaberta e as bochechas assumiram um tom corado, o brilho dos olhos era superior ao de uma jóia das mais finas. Estava lindo, o terno era todo preto, - uma combinação fatal - a camisa branca e a gravata vermelha perfeitamente arrumada. Os cabelos estavam penteados para trás, impecáveis. Eu bem que era acostumada a vê-lo com os fios soltos pela testa, sempre passando as mãos por eles, era uma mania. Naquele dia não. Parecia um príncipe. 
Peter desfez o nó em nossos braços e me deu um leve beijo no rosto, passando a minha frente e cumprimentando Joseph com um tapinha nas costas. Lancei sorrisos para todos que estavam nas laterais do altar e então ele veio até mim. Sua mão gelada encostou em me rosto, logo senti seus lábios encostarem-se em minha testa, depositando um beijo carinhoso. 
Estou morto. - consegui ouvir sua voz baixa e carregada de segundas intenções, então sorri boba. 
O padre começava a proferir aquelas palavras pelas quais eu fazia questão de prestar bastante atenção. Virei meu rosto, e o de Joe também estava virado na mesma direção. Senti todo o meu corpo pegar fogo e se congelar no momento seguinte. Sensações, das mais variadas e poderosas; sensações que só ele seria capaz de me proporcionar. O tempo passava devagar, em alguns momentos eu chegava a pensar que algo bizarro aconteceria durante a cerimônia. Imaginei que talvez algo não esperado surpreendesse a todos enquanto mais daquelas palavras eram proferidas. Não passou de um simples fruto de minha imaginação. 
Tudo estava bem, eu não permitiria que mais nada de ruim acontecesse. Não mais. 
Joseph Jonas e Demetria Lovato, aqueles com personalidades e vidas diferentes; o chefe e a secretária; o vilão e a mocinha; o homem quebrado e a mulher que arriscou sua vida para ajudá-lo. Dois seres humanos que continuavam a respirar e a acreditar que a vida poderia sim ser algo bonito. Estava sendo. 
Entrei em choque ao ouvir o padre começar a falar com Joseph, em seguida um silêncio agonizante se instalou em todo o local. Até que... 
"Sim!" 

Ouvi meu nome e senti a certeza de que repetiria aquelas palavras, talvez até acrescentaria mais três. 

"Sim, claro que sim!"

Uma lagrima quente escorreu por meu rosto. Sem mais problemas, sem dor. Não apenas uma troca de alianças, uma troca de sentimentos. Ele me presenteara com os seus que eram tão intensos e eu o recompensava com os meus que, por vezes parecerem confusos, eram os mais sinceros do mundo. 

"Eu os declaro marido e mulher. Joseph, pode beijar a noiva."


- E viva os noivos! - Jared propôs um brinde coletivo, levantando sua taça e sendo seguido pelos demais. Passando por todas as coisas que aconteceram depois da troca de alianças, lá estávamos nós; Joseph me abraçava por trás, não desgrudava seus braços de mim por nada no mundo. Eu já tinha me livrado do véu e da grinalda, Joe afrouxara a gravata e deu um jeito de bagunçar levemente os cabelos. Estávamos perto de um palco onde uma banda que me lembrava o estilo do Maroon 5 se preparava para começar a tocar. A festa acontecia em uma espécie de campo, com uma enorme tenda branca e com várias flores divididas por mesas e na decoração geral. Quase todas as mesas estavam ocupadas; os convidados conversavam alegremente, tiravam fotos, comiam e bebiam. Observei Cassie ao longe, ela dançava feito uma louca com outras duas amigas, estava até meio descabelada. 
- Não quer ir socializar com seus amigos? - perguntei a Joseph, enquanto ele tinha o queixo encostado em meu pescoço, sua respiração fazendo cócegas em meu pescoço. 
- Hm... Não. Mas vou ter que fazer isso. - seus braços me soltaram e ele sorriu abertamente antes de se afastar de mim. 
- E aí, tampinha? - Jared chegou de surpresa, me dando um empurrãozinho de brincadeira. 
- Olhe aqui, meu rapaz, sou quase uma super-heroína com esse vestido. Eu tomaria cuidado com palavras desse nível. 
- Nossa, agora você me assustou. - rimos. Ele arregalou os olhos. - Como se sente, Demi? - ao mesmo tempo em que conversávamos, tentávamos improvisar alguns passos para a música agitada que tocava. 
- Me sinto casada com Joseph Jonas, acho que não existe explicação melhor. 
- Está vendo? Tudo ficou bem! Eu poderia dizer que acabou em pizza, mas não vejo pizza por aqui... - ele virou o corpo e fingiu procurar por pizza. - Droga, não acredito que não tem pizza! - ri alto da sua cara que lembrava a de uma criança de cinco anos ao não encontrar doces no armário. Avisei-lhe que precisava ir falar com alguns convidados. Tombei com Cassie perto de uma das mesas e percebi que ela estava estranha, parecia tensa. Arrisque perguntar qual era o problema, mas ela mudou de assunto e disse que eu deveria me preparar porque logo teria a dança. Senti voltas no estômago ao lembrar daquela maldita dança. Eu tive que ensaiar aquilo com Joseph e o resto dos que estavam envolvidos. 
Andava e parava um pouco em uma mesa ou outra para conversar com amigos, perto de uma delas avistei uma rodinha de homens e Joe estava junto a eles. Ele me chamou e lá estava eu recebendo mais cumprimentos de alguns de seus amigos. Entre risadas e piadinhas com a gravata do noivo, Bethany apareceu como um fantasma e me abraçou. Todos ficaram de frente para ela, que tinha um sorriso muito aberto. Chegava a ser estranho. 
- Meus parabéns, de verdade! Vocês formam um casal tão perfeito! 
- Obrigado, Bethany. - Joe respondeu e eu poderia dizer que seu tom de voz fora até que severo demais, poderia jurar que Bethany lhe lançou um sorrisinho de escárnio antes de ser puxada por Rachel para irem dançar. 
Estranho, porém irrelevante.

- Senhoras e senhores, por favor! - Cassie chamou a atenção de todos. - Chegou a hora do melhor momento deste grande dia, ou noite... Isso não importa! - ele havia subido no palco. - Espero que concordem comigo quando digo que uma simples valsa de noivos é algo bem ultrapassado. Hoje vocês contemplarão algo bem mais bonito e interessante. - dito isso, alguns dos convidados aplaudiram e eu olhei para Joe que estava encostado em uma parede próxima, segurando uma taça com vinho. Ele riu e encenou uma dança, erguendo um dos braços e colocando o outro sobre o abdomen. Logo estávamos frente a frente, no centro do campo. As milhares de luzes pelo local faziam parecer que ainda era dia. Eu e Joseph no centro, Cassie e Jared em um dos lados, Bethany e Caleb do outro lado e Rachel com Peter próximos de nós. 
Cassie fora louca por inventar aquela coreografia meio medieval, mas até que poderia ser divertido. 
- Isso vai ser cafona e divertido ao mesmo tempo! - Caleb disse. 
- Calado! - Cass colocou as mãos na cintura e o olhou séria. 
- Tenho o direito de opinar, ok? Meu presente de casamento foi o melhor de todos. - Caleb tinha nos presenteado com ingressos para um show do 30 Seconds To Mars. 
Fizemos uma pequena reverência e então a música começou. 

You'll never know how much I really love you. (Você nunca vai saber o quanto eu realmente te amo)
You'll never know how much I really care. (Você nunca vai saber o quanto eu realmente me importo.)

Eu e Joseph nos aproximamos e nossas mãos se levantaram, uma quase tocando a outra. Mantemos aquelas posições assim como todos os outros participantes daquela dança e demos um giro lento; voltamos a ficar um de frente para o outro e pegar uma pequena distância. 

Listen.(Escute.)
Do you want to know a secret? (Você quer saber um segredo?)
Do you promise not to tell? (Você promete não contar?)

Comecei a balançar meus quadris no ritmo da música. No instante seguinte, Joe olhava-me como se propusesse me contar alguma coisa e pedindo para eu não contar a ninguém. Basicamente seguindo a letra da música com gestos. Coloquei a mão no peito, como se estivesse fazendo uma promessa. 

Closer. (Mais perto.)

Ele fez um gesto com o dedo para que eu me aproximasse. Fazendo isso, nossos corpos se juntaram e ele envolveu minha cintura com um dos braços, segurando minha mão. Nossos passos e movimentos com o corpo eram rítmicos. 
- Eu mal posso esperar para todas essas pessoas sumirem da nossa vista. - ri maliciosa. Joseph aproximou os lábios do meu ouvido, enquanto tentava dançar. Estava realmente sendo bem engraçado. 

Let me whisper in your ear. (Deixe-me sussurrar em seu ouvido.)
Say the words you long to hear... (Falar as palavras que você anseia ouvir...)

I'm in love with you! - cantou para mim. Todos tentavam manter a coreografia apesar das risadas e brincadeiras. Envolvi meus braços em seu pescoço, fechando os olhos e apenas sentindo o corpo dele; foi como se apenas nós estivéssemos ali. Vez ou outra seus quadris balançavam desengonçados. Todos iriam rir dele depois. 
- Esse vestido... - Joe disse baixinho e em seguida suspirou. - Lovato, você vai causar um estrago em mim. Aliás, você já cansou! 
- Acho que ainda posso causar muitos estragos em você, marido! 

I've known the secret for a week or two. (Eu sei do segredo há uma semana ou duas.)
Nobody knows, just we two. (Ninguém sabe, só nós dois.)

A música continuou e ele me fez rodopiar, apertando minha cintura e me abaixando logo depois; seu corpo acompanhava o meu, se curvando lentamente para baixo. Ficamos naquela posição que deveria ser graciosa, mas deveria estar engraçada por alguns poucos segundos e logo ele me levantou. Joseph realmente estava se sentindo um dançarino profissional, percebi que os convidados que assistiam batiam palmas e soltavam gargalhadas. Quando a música finalmente, terminou ele me puxou pela nuca, grudou nossos lábios e começamos um beijo apaixonado e meio sem jeito que fez todos soltarem gritinhos animados e maliciosos. 

Estava sentada em uma das maiores mesas, observando todos ao meu redor. A banda estava no palco e fazia um cover de alguma música que eu conhecia, porém não lembrava o nome. Joe estava circulando por ali com os outros homens, Peter conversava animadamente com uma garota ruiva que deveria ter a idade dele, Cassie, Jared e os demais estavam espalhados pelo campo. Comi alguns docinhos e beberiquei o vinho que já fazia um efeito inofensivo em me corpo. Ajeitei a parte de cima de meu vestido, que por sinal era tomara-que-caia e fiquei por ali mesmo, observando o céu escuro e sem estrelas. 
- Quantas taças de vinho você já bebeu? - Cass se aproximou, já roubando um dos meus docinhos e sentando-se em uma cadeira perto da minha. 
- O suficiente para não saber responder essa pergunta, talvez. - respondi distraída, encarando o resto do liquido de cor escura naquele objeto de vidro brilhante. 
- Parece cansada. - ela disse, tapando a boca com a mão enquanto comia. 
- Depois de um dia como o de hoje, não me surpreenderia estar cansado mesmo. - dei um sorrisinho de leve. Virei o pescoço e um garçom se aproximava com uma bandeja que continha apenas um envelope no meio. 
- Senhora... - não me acostumaria a ser chamada de senhora tão cedo. - Pediram para que eu lhe entregasse isso. - agradeci com um aceno de cabeça e tirei o envelope pequeno e branco da bandeja dele, que se afastou em seguida. Aproveitei que Cassie estava mais preocupada com seus doces do que com o que acontecia ao redor e me levantei, afastei-me dali e fui parar perto do estacionamento; ele era totalmente aberto, sem tendas. Olhei para os lados, os responsáveis pelos barulhos que conseguia ouvir eram grilos, vozes vindas da festa e a banda que se apresentava. Abri o envelope e retirei o papel que estava dobrado duas vezes, então o segurei com firmeza, enquanto sentia uma brisa gelada fazer a saia do vestido deslocar-se para o lado, leve como uma pluma, assim como uma mecha de cabelo que se soltou do meu penteado. Forcei levemente a vista por causa da fraca luz e comecei a ler aquelas poucas palavras. 

"Fiquei magoado por ter desligado o telefone na minha cara aquela noite, mas não se preocupe; essa visão que você me proporcionou hoje fez com que fosse perdoada de imediato. Nunca desejei tanto poder ser outra pessoa, poder ser Joseph. Ou no mínimo estar na pele dele."

Meu coração acelerou e em forma de reflexo levantei o rosto tão rápido que meu pescoço poderia doer no dia seguinte. O vento brincava com os fios que se soltavam do meu coque enquanto eu encarava estática um conjunto de enormes árvores a uma distância considerável. Passei a mão direita pelo braço esquerdo, sentindo frio. 
Até que meus olhos enxergaram aquela silhueta. 
Tentei dar um passo para trás, mas minhas costas encontraram a parede. Era um homem que se aproximava de mim, eu já conseguia ver que usava um terno em tom grafite, logo não restavam mais dúvidas. Ele caminhava enquanto o vento lhe fazia companhia; o andar decidido, ombros largos e firmes, cabelos mais compridos do que eu me lembrava e uma expressão totalmente fria e sem emoções. Por um momento não parecia aquela pessoa, não parecia ele
Parou e me olhou de cima a baixo, estava a mais ou menos dez passos de distância. 
- Achei que nunca conseguiria me encontrar com você hoje. - era totalmente assustador e confuso ouvir aquela voz de novo, era como se eu estivesse sonhando ou simplesmente tendo uma lembrança desagradável. Olhei para a movimentação da festa e pensei em correr. - Demetria... - pronunciou meu nome de uma forma que um louco julgaria carinhosa e tombou a cabeça para o lado, sorria. - Não acredito que está sentindo medo de mim, logo de mim... O homem que já se arriscou tanto por você. São tantas lembranças! - ele estava mesmo querendo trazer tudo aquilo de volta? Eu não conseguia acreditar. 
- Vá embora! - eu disse firme, amassando o papel e jogando em sua direção. 
- É assim que vai me tratar depois de todo esse tempo? Está com raiva? - cruzou os braços despreocupadamente. Aquele homem nunca perderia a paixão que tinha por momentos de perigo. Qualquer um poderia vê-lo ali... - Eu é que deveria estar sentindo raiva agora, sabe? - o olhei sem entender, parada no mesmo lugar. - Você não percebe? Não consegue imaginar como tudo poderia ter sido diferente e... Melhor? 
- Eu disse para ir embora! - era tudo que eu conseguia pedir a ele, mas daquela vez fora em um tom ainda mais alto.
- Queria poder ter impedido isso, sinceramente. - balançou a cabeça como se lamentasse por algo. 
- O que diabos você está dizendo? - minha postura era agressiva, mas não o intimidava. 
Demi, minha doce Demi, tão inocente como da última vez que tive o prazer de vê-la... 
- Se não sumir daqui agora, eu vou gritar. Não duvide! 
- Tem tanta coisa que essa sua mente fantasiosa e enganada não sabe, eu queria poder te falar, amor. Apesar de achar que você não quer ouvir. 
- Não me chame assim! - gritei, me arrependendo em seguida. Ninguém podia me ver ali com ele, maldição. 
- Desculpe, esqueci que agora você tem... Dono. - podia jurar que a expressão em seu rosto era de nojo. 
Cameron... 
- Não deveria ter se casado com ele. 
- Cale-se! Suma daqui! - ele avançou, estávamos a pouquíssimos centímetros de distância. 
- Eu tentei avisar, mas vejo que vai preferir sofrer a queda sozinha. 
- Queda? Pelo amor de Deus, do que está falando? Pare de me deixar confusa. - Cameron esticou o braço e encostou na saia volumosa do vestido, sorriu levemente e depois me olhou com cinismo. 
- Você vai se arrepender, Demetria, virá correndo me pedir ajuda... - começou a se afastar aos poucos e se abaixou para pegar o papel que estava no chão, o guardando em seu bolso. - Talvez eu até esqueça esse seu jeito injusto de me tratar e lhe ajude, mas preciso pensar no caso. Até lá... Desejo-lhe sorte, amor. - fechei os olhos, fingindo que ele não tinha me chamado daquilo de novo. 
- Espere! Vai mesmo continuar com todo esse mistério? Isso é ridículo. 
- Suponho que se lembre do nome Carter Stone, não é, querida Demi? - tentei disfarçar a surpresa e o incomodo que senti ao ouvir aquele nome. Então era mesmo verdade? Não, não poderia ele ser ozorro
- Me lembro sim. 
- Que bom! Logo tudo vai ficar mais claro, eu prometo a você. - e logo ele havia se tornado apenas uma sombra novamente, se afastando. O vento cessou e eu encarei o chão, torcendo para que alguém me beliscasse e eu descobrisse que tinha dormido por causa das várias taças de vinho. Doce ilusão, doce como o vinho. 
Ainda consegui ouvir aquelas últimas palavras: 
- A família Wolfe precisava muito voltar à Londres! 
Minhas pernas ordenaram que eu corresse para longe dele, para longe de tudo que estava me perseguindo de novo. Aquelas malditas e confusas palavras... Segurei com as duas mãos na saia do vestido e a ergui um pouco, sentindo as consequências de correr com saltos altos. Voltei para a festa e tentei me recompor e respirar novamente do jeito que se devia. 
Como era possível tudo aquilo acontecer tão rápido? 
Me segurei para não gritar ao sentir duas mãos fortes e decididas me agarrarem pela cintura e me puxarem para trás, para um canto reservado. Sua boca foi até meu ouvido e então Joseph sussurrou:
- Eu estava te procurando... 

"O passado lhe dá um aceno amigável ou nem tanto e faz o que é certo: fica para trás. É sempre para a frente que se anda, com o rosto erguido e a certeza de que dias melhores lhe aguardam; assim como um sorriso e um abraço de boas-vindas daquele que você ama..." 

- Finalmente! - ele juntou nossas mãos e as fez subir, parando abaixo do meu busto. Curvei o pescoço e nossos lábios se tocaram. - Toda minha, você é toda minha. - sua voz quase fazia meu corpo ceder. - Senhora Jonas! 

"Mas e se o passado se recusar a este feito e escolher caminhar ao lado de suas vitimas como uma sombra negra?"

2 comentários:

  1. aiiii jesus perfeitoooo, pq a demi nao conta pro Joe ai senhor, posta logo

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  2. Faz divulgações ? Pode divulgar o meu blog pf o link é http://smiletodaybecauseyouareonewarriorfics.blogspot.pt/2014/03/resposta-aos-resultados-da-sondagem.html pf divulguem obg

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Sem comentario, sem fic ;-)