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sábado, 22 de março de 2014

Secretary II - Capítulo 10


Culpa



- Pode entrar! - Cameron disse, parado ao meu lado. Olhei ao redor, reparando minuciosamente nos detalhes da entrada daquela casa que ele tinha insistido em me levar. Cameron tinha conseguido fazer com que eu me sentisse um pouquinho melhor, aconselhando que seria melhor eu descansar e tentar pensar em tudo com mais clareza no dia seguinte. Então tudo que pude fazer fora concordar e deixar que ele me guiasse. Meu estado emocional estava instável, então eu faria praticamente qualquer coisa para não ficar sozinha. Sim, foi perigoso ter aceitado deixá-lo me levar até a sua casa, mas naquele momento pensar em consequências estava fora de cogitação. Por um segundo, me deixei levar pelo meu lado sensato e parei para pensar no que poderia acontecer quando nós dois ficássemos sozinhos em algum lugar reservado; não exatamente algo sexual, mas sentimental. Eu tinha medo do que ele poderia tentar me dizer e tinha medo também de acabar dizendo o que não deveria. 
O jardim da casa era extremamente bem cuidado e estava infestado por diversas flores; provavelmente fora pedido da madrasta de Cameron. Ele abriu a porta de detalhes dourados e fez um gesto com a cabeça, pedindo para eu entrar. Olhei com certo receio para ele, relutante em aproximar nossos corpos. - Meu pai e a Elizabeth estão viajando, só voltam semana que vem. Pode entrar, Demetria! - encarei seu rosto e me deixei distrair, percebendo que ele tinha imitado meu gesto e também me fitava. Ficamos naquela situação por meio minuto, enquanto eu pensava em todas as coisas que já tinha acontecido entre nós dois. O amor não correspondido na adolescência, o reencontro inesperado anos mais tarde, o envolvimento que eu tinha sonhado intensamente anos antes, nossa quase-fuga, a tentativa dele de impedir que eu fosse baleada... 
Balancei a cabeça, fechando os olhos e mandando aqueles pensamentos embora. Ele ficou sem graça e pediu mais uma vez para que eu entrasse, e então eu o obedeci, obrigando minhas pernas a se moverem e me colocarem para dentro de um lugar coberto pela escuridão. Ele passou por mim e andou pelo local escuro, que se tornou iluminado segundos depois. Já acostumada com a claridade repentina, percebi que uma enorme escada se encontrava no lado esquerdo do lugar, provavelmente levando ao andar de cima. Do outro lado, mesmo com a escuridão, pude perceber que o enorme corredor com quadros e vasos com flores levava ao que deveria ser uma sala. Mas desisti de fazer minha analise quando percebi queCameron passou rápido por mim e trancou a porta. Olhei surpresa para ele, que estava com um olhar vazio. Ele se encostou na porta e um sorriso teimava em escapar por seus lábios. 
- Por que a pressa em trancar a porta? - me atrevi a perguntar, juntando as mãos atrás de meu corpo. Insegura. 
- Não posso deixar você escapar... - ele disse, em um tom de voz baixo. Desgrudou o corpo da porta e começou a se aproximar de mim. - Porque finalmente eu te tenho aqui e chegou a hora de recuperar o tempo perdido... - arregalei meus olhos com suas palavras e recuei, começando a sentir um arrepio que era provocado pelo olhar intenso que ele me lançava. Não era uma sensação boa.
Cameron, pare! - pedi. 
- Parar por quê? Estamos sozinhos aqui... Você, eu... - algo no seu jeito de falar e se mover me deixava ansiosa, com uma sensação angustiante e ao mesmo tempo de adrenalina no corpo. Cameron encostou uma das mãos em meu braço e desceu, fazendo um carinho leve. Eu já me preparava para começar a gritar ou tentar escapar daquilo, mas quando pensei em dizer alguma coisa, ele colocou o dedo indicador em meus lábios. - Você precisa de alguém por perto, não é? Eu estarei por perto. - aproximou a boca do meu ouvido, sussurrando. - Mais perto do que você poderia esperar! - fechei os olhos com força quando senti que sua intenção era usar os lábios para prender o lóbulo de minha orelha. Agilmente toquei seu rosto, o empurrando para trás enquanto eu recuava um passo. 
- Pare! - tirei violentamente sua mão do meu braço e esquivei meu corpo, olhando com fúria para ele. Cameron começou a rir. - Onde diabos está a graça? - ralhei. 
- Onde está o seu senso de humor, Demi? - Cam sorria enquanto falava, se mostrando em um estado totalmente diferente do meu. - Estou só brincando com você! - assisti enquanto ele se dirigiu até o primeiro degrau da escada e se virou para me olhar. - Vem! Você precisa de um banho. - ele disse aquilo com uma voz sussurrada e um olhar carregado. 
- Não preciso de um banho, não aqui. - assegurei. - Pode trancar a porta do banheiro, eu não quero ver nada. - ele disse baixinho, como se negasse com a própria voz o que acabara de dizer. Olhei para minhas mãos ainda sujas de terra e senti certo incomodo, querendo me livrar daquela sensação que me acompanhava desde o momento em que achei um osso nos fundos daquela casa. Queria tirar aquela sensação de meu corpo, que parecia sujo. Não tinha muito o que fazer, então me dei por vencida e o acompanhei até o andar de cima, começando a me preparar psicológicamente para o que aconteceria em seguida. Aliás, meu psicológico estava mais bagunçado que o quarto de um adolescente revoltado. 

Depois de passar por um corredor largo e bem decorado, ele abriu uma das portas brancas. Deduzi que seria um quarto de hóspedes, para que eu pudesse tomar um banho e tudo o mais. Porém, quando ele adentrou o cômodo e eu o acompanhei, percebi que se tratava do seu quarto. Não foi difícil notar aquilo, porque diferenciar um quarto de hóspedes e um quarto de um homem era extremente fácil. No centro, uma cama king-size estava apenas com lençóis brancos. Brancos e bagunçados. 
- Desculpe, a empregada está de folga e eu não tive tempo de arrumar. - ele coçou a nuca, sorrindo torto. Ignorei aqueles movimentos insuportáveis que ele era mestre em fazer e continuei a observar o quarto. Um guarda-roupas ficava em uma das paredes, era enorme e de um material escuro, combinava com as paredes pintadas de um tom de cinza aconchegante. Na parede, uma televisão de plasma e ao lado uma cômoda com alguns porta-retratos e troféus. No que ele era tão bom assim para ter ganhado trófeus?, pensei. Apesar da leve bagunça, era um lugar acolhedor e tinha um cheiro bom... Era o cheiro dele, é claro. - Pode se sentar na cama, enquanto eu procuro algo que dê para você vestir, ok? - concordei com a cabeça em silêncio e fui até a cama, ajeitando um pouco o lençol amarrotado e sentando ali. O cheiro de perfume impregnado no tecido veio até minhas narinas e eu passei a mão pelo rosto, tentando me livrar daquilo. Cameron procurava por algo dentro de seu guarda-roupas. 
O que eu estava fazendo ali? 
De repente, me assustei com minha habilidade em calcular friamente minhas ações e no momento seguinte simplesmente não ligar para o que fazia e agir por impulso. Eu estava a salvo, nada de ruim - fisicamente - estava acontecendo comigo, então eu não teria motivos para me preocupar, certo? Errado. 
Depois de pegar duas peças de roupa, ele fechou a porta de material escuro e caminhou até onde eu estava, observando tudo ao redor. Levantei-me e ele estendeu as mãos que seguravam as roupas, pedindo para que eu as pegasse. Fiz isso, olhando para as mesmas por uns instante. 
- Antes que você pergunte, tem toalhas limpas no banheiro. - Cameron se sentou em uma poltrona que parecia muito confortável e pegou um dos livros que estava sobre uma mesinha repleta de vários outros. Enquanto fingia ler, aquele maldito canto de seu lábio se levantou e ele me encarou. - Afinal, você não quer que, de maneira contrária, uma certa situação de, não sei, meses atrás se repita, certo? 
Abri a boca para responder, sendo invadida por uma memória um tanto quando... molhada, mas desisti e virei meu corpo, caminhando até a porta do banheiro.
Mas parei antes de adentrar o recinto. 
Virei-me em um giro de calcanhares em sua direção outra vez, com o rosto erguido e o olhar determinado. 
- Há algum banheiro que não seja nesse quarto, certo? - perguntei, olhando insistentemente para a porta que revelava uma saída daquele quarto. O homem ergueu os olhos antes presos ao livro e os pousou sobre mim, negando com a cabeça em um gesto de desapontamento antes de se preparar para falar. 
- Saia, cruze todo o corredor e entre na última porta à direita. - explicou indiferente. 
Antes de seguir suas instruções, olhei para a camisa preta que estava em minhas mãos. Virei-me de volta, esperando que um Cameron que se fingia concentrado em um livro levantasse o olhar para mim novamente. 
- Sex Pistols? - perguntei em voz alta, mostrando a camiseta que ele tinha me dado. 
- Sim! - levantou as sobrancelhas. - Você tinha uma igual a essa, eu me lembro. 
Antes que ele falasse mais alguma coisa, coloquei meu corpo para fora de seu quarto e caminhei pelo solitário corredor escuro, pensando se deveria aproveitar a chance para escapar daquela casa de uma vez por todos. O incomodo em meu peito só fazia aumentar, como um sinal de que o piorainda estava por vir. 
Tranquei a porta, me encostado à mesma e tentando não repreender a mim mesma por ter procurado logo ele; logo o homem que não desistiria até me ver cair fraca em seus braços, desistente. Encarei minha imagem no reflexo, passando a mão - que lavei brevemente - pelo meu rosto, fitando meus próprios olhos firmemente. 


Joseph's P.O.V

Bati minhas costas contra a lateral da cama, estendendo minhas pernas e deixando meu corpo totalmente jogado no chão. As luzes estavam apagadas, se não fosse pela janela aberta, eu não conseguiria enxergar nada. Não que isso importasse. Irritado com aquele maldito curativo em meu rosto, tratei de puxar o mesmo e jogá-lo longe, passando a mão pelo local e sentindo os pontos. 
Fechei os olhos por um tempo, tentando me livrar de outra tontura e assim que os abri de novo, tateei pela garrafa que estava a poucos centimetros de mim. A virei sem pensar duas vezes, sentindo o liquido descer de uma maneira insuportável por minha garganta. Eu não sabia que droga de bebida era aquela, só fiquei feliz ao encontrar algo alcoólico, independente do que fosse. 
Tragando um cigarro, comecei a amaldiçoar tudo e todos ao meu redor, principalmente aquele maldito lençol na cama que fazia questão de me lembrar das vezes em que ela esteve deitada ali. Não pude deixar de recordar os momentos bons que tinhamos compartilhados naquela cama. 
A paixão, o calor, o amor... Amor... Como o amor era bom para as pessoas, pensei. 
Virando a garrafa outra vez, ignorando as gotas que escapavam de minha boca e desciam pelo pescoço, me controlei para não socar alguma coisa. Bufei alto e depois de acabar com seu conteúdo, joguei a garrafa longe. Ignorando o barulho de vidro se quebrando, acendi outro cigarro e me levantei com um pouco de esforço. Mas isso foi apenas para poder jogar meu corpo como um peso morto na cama. Deixei que o cheiro de Demetria praticamente me drogasse, me cobrisse por inteiro, até que a sensação me fazia sentir que ela realmente estava ali do meu lado. Virei o corpo para o lado que ela costumava dormir e então comecei a pensar em outras coisas. 

Flashback
(A narração dos flashbacks desse capítulo será em terceira pessoa.)

Os corredores de uma escola são sempre movimentados, não importa de qual escola se esteja falando. Sempre existirão as panelinhas distribuidas por cada canto; cada uma com a sua cultura, seu modo de pensar e de agir. Em todas as escolas existirão aqueles que sempre serão notados, aqueles que os outros alunos farão questão de virar o pescoço para olhar. 
É claro que na Browning High School não seria diferente! Muito pelo contrário... Naquela escola infestada pelos filhos dos homens e mulheres mais ricos e poderosos de Londres, era tudo muito pior. Adolescentes de 15 anos não eram considerados simples adolescentes, todos sabiam bem o que faziam com suas vidas. A venda de drogas e bebida alcoólica, apesar de extremamente proíbida, era difícil de ser impedida. Todos os finais de semana algum mauricinho ou patricinha era anfitrião de uma festa bombástica que durava até o sol raiar. 
Popularidade, egocentrismo, violência, drogas, sexo, festas, rivalidade... Joseph Jonas. 
Já acostumado com os olhares que sempre recebia ao cruzar aquele corredor, ele deu de ombros, bagunçando os cabelos que começavam a parecer mais compridos do que de costume e segurou com mais força a mochila que estava pendurada apenas em um dos ombros. Suas roupas eram despojadas e largadas; usava uma calça jeans surrada, all star que deveria ter visto água no século passado e a rotineira jaqueta de couro com qualquer camiseta descolada por baixo. Apesar do visual relaxado, o perfume que seu corpo exalava seria capaz de hipnotizar as meras mortais que davam um jeito de chamar a atenção do garoto que nem fazia questão de notá-las. Joseph fora obrigado a se acostumar com tudo aquilo, fora obrigado a conviver e a se tornar uma daquelas pessoas. Os olhos verdes intensos tratavam de esconder toda a mágoa que dominava seu interior, demonstrando indiferença e frieza. Um total rebelde. 
Ele sorriu malicioso ao cruzar o corredor e dar de cara com uma garota poucos centimetros mais baixa que ele; seus cabelos - que chegavam na cintura - eram de um intenso castanho avermelhado, os olhos eram castanhos e bem maquiados. Usava uma blusa preta justa ao corpo, com alças finas e que deixava um pedaço de sua barriga a mostra; saia jeans mais curta do que sua mãe permitiria, meias pretas e botas de salto. Ela levantou uma das sobrancelhas negras e perfeitamente desenhadas e retribuiu o sorriso malicioso de Joseph. 
Margo Quick. 
Welcome to the jungle! - ela disse, movimentando os lábios impecavelmente pintados com um batom vermelho rubro de um jeito que fez o garoto bagunçar os cabelos mais uma vez e puxá-la pelo cintura, grudando seus corpos e depositando um longo beijo no pescoço de Margo. A garota soltou um risinho e prendeu seus dedos nos cabelos da nuca dele, mordendo os lábios e pressionando sua pélvis contra a dele. Beijaram-se de um jeito que poderia matar todas aquelas garotas de inveja, mas que não desistiam de tirar os olhos daquela cena chamativa e um tanto quanto obscena. Depois de se reparar de Joseph, Margo ajeitou seu batom e entrelaçou seu braço com o do garoto, enquanto caminhavam pelo resto do corredor em direção a sua devida sala de aula. É claro que eles estavam interessados em estudar. É claro! 
- A mesma merda de sempre. - o garoto comentou, enquanto passavam por um bando de garotas que praticamente se jogavam para cima do popular Jonas. Ele riu e Margo tentou não bufar de raiva, lançando um olhar mortal para as outras. 
- Sabe, Joe... - ela começou, com a voz sexy e forçada que tinha. - Eu acho que você deveria fazer algumas tatuagens. Sabe, você pode fechar um braço e também fazer algumas aqui - ela parou de andar, ficando a frente dele e tocando o pescoço de Joseph com o dedo indicar, começando a descer. Encostou os dedos na camiseta branca do garoto e começou a fazer movimentos circulares, passando a língua pelos lábios e fingindo não perceber o estrago que estava começando a provocar em Jonas. - Algumas aqui... - seus dedos continuaram a descer, chegando até a barra do jeans surrado. - Eu adoraria uma aqui... 
Quick, não me provoque! - ele mordeu o lábio inferior, sentindo que a calça jeans começava a incomodar. 
- Ah, eu provoco sim! - Margo parou de tocar o garoto e começou a fazer os movimentos que estava fazendo nele novamente, só que agora em seu próprio corpo. - Vou fazer uma tatuagem aqui... - os olhos de Jonas estavam presos nos dedos da garota. - E talvez outra aqui... - antes que ela pudesse cumprir o caminho que queria, sentiu algo se chocar contra seu corpo e depois praticamente se jogou nos braços de Joseph, que a segurou rapidamente. Virou-se, totalmente irritada e soltou um riso alto ao descobrir quem tinha sido a responsável por aquele acidente. A garota que acidentalmente tropeçou e esbarrou em Quick era baixinha, tinha os cabelos loiros bem lisos e em um corte chanel com franja. Ela ajeitou seu suéter e depois os óculos de grau, olhando de um jeito apavorado de Joseph para Margo. 
- Qual é o problema, Fields? Ficou cega? - ela se aproximou de Erin, olhando com fogo em seus olhos, fazendo a menina se encolher e ficar menor do que já era. - Na verdade, você já é cega. Vejo que a situação só está piorando. 
- M-me desculpa, Margo! Eu não queria... 
- Foda-se! Cale a boca e saia da minha frente! - Quick disse rude, passando por ela e fazendo com que a garota tropeçasse de novo. Uma Erin extremamente constrangida e vermelha levantou o olhar, encontrando o de um Joseph indiferente, que a encarava como se estivesse olhando para nada mais nada menos que o chão em que pisava. Os lábios da loira formaram uma linha reta e ela murmurou um pedido de desculpas para o garoto, passando por ele o mais rápido que pôde. 
- Hey, Erin. É Erin, né? - ela se virou, arregalando os olhos. 
- S-sim. 
- Não ligue para a Margo, é sério. - ele revirou os olhos, sorrindo brevemente para a garota de óculos e indo atrás de sua namorada insana. 
Ah, o colegial... Tão doce e surpreendente. Sim, surpreendente! Afinal, as coisas mudariam drasticamente e era só questão de tempo.

Fim do flashback


Demetria's P.O.V

I got no emotions for anybody else, you better understand I'm in love with myself. Myself, my beautiful self! - desliguei o registro do chuveiro e me peguei cantarolando aquela música que tinha feito parte da minha adolescencia. O que eu estranhei naquela situação, foi que há muito tempo eu não começava a cantarolar sem que pudesse perceber, como um gesto de quando você está feliz e começa a cantar espontaneamente uma de suas músicas preferidas. Saí do box, indo até a pia e pegando uma toalha branca e fofa que estava sobre a mesma. Me sequei rapidamente, tentando identificar algum barulho vindo do corredor ou do quarto de Cameron e, pela milionésima vez, me perguntando o que estava fazendo lá. Coloquei a toalha em um suporte e fui conferir a roupa que ele tinha separado para mim. Segurei a camiseta pelas mangas, balançando a cabeça ao perceber que era exatamente igual a uma que eu praticamente não tirava do corpo quando era mais nova, mas é claro que a de Cameron era bem maior. Depois olhei com receio para a boxer preta que também se encontrava sobre a pia. Então era isso? Eu tinha tomado banho no banheiro da casa deCam e depois vestiria a boxer dela? 
Ri sozinha.
Só podia ser uma infeliz brincadeira com a minha pessoa. 
Irritada de repente, suspirei pesadamente e joguei as duas peças de roupa para longe, procurando as que usava antes com os olhos, encontrando-as e vestindo de qualquer jeito, sem me importar que ainda estivessem sujas de terra. 
Sequei meu cabelo com a toalha, penteando rapidamente e deixando ele partido ao meio, completamente solto para secar totalmente ao natural. Ignorando o fato de ter perdido um dos pequenos brincos que eu usava em algum lugar, tirei o outro e coloquei dentro do bolso da calça. Recolhi as peças que tinha jogada no chão e dei uma leve ajeitada em tudo, respirando fundo ao segurar a maçaneta da porta, me preparando para outro olhar e outro sorriso de um Cameron que estava adorando toda aquela situação. Mas é claro que eu acabaria com a graça dele, porque nada aconteceria entre nós! Eu nem precisava ficar refletindo sobre isso, porque eu tinha total consciencia dos meus atos, não estava bêbada. Então, a menos que ele me drogasse sem que eu percebesse, eu me manteria longe dele. 
Abri a porta, segurando sua camiseta e boxer com os braços firmes, percebendo que ele não estava ali. Soltei o ar aliviada e fui até a porta que estava entreaberta. Encostei a mesma, tentando não fazer barulho e fui até a poltrona que ele estava antes, me sentando e dando uma olhada em todos aqueles livros. Ele realmente gostava de livros policiais. Fiquei um tempo folheando alguns, estranhando o fato dele não ter aparecido no quarto ainda. Um dos livros era até que interessante e depois de alguns minutos, eu já estava meio que envolvida na leitura. Foi então que ouvi a porta se abrindo e encolhi minhas pernas, colocando o livro por cima das mesmas. 
Ele sorriu de um jeito aborrecido, se é que existia um sorriso assim, olhando de meu rosto para as roupas que permaneciam as mesmas em meu corpo. Seu olhar fitou sua camiseta e boxer sobre a cama, então ele negou com a cabeça e começou a falar: 
- Desprezou minhas roupas. - disse, fingindo-se de magoado. Fechei o livro e me levantei, cruzando os braços enquanto simplesmente lhe respondia com um negar de cabeça. 
- Como você mesmo disse, são suas, não minhas. Quem deve usá-las é você. - expliquei, recebendo apenas duas sobrancelhas arqueadas como resposta. Cameron inflou mininamente as narinas e voltou a sorrir com intenções desconhecidas, me obrigando a bufar. 
- Sabe, eu não gostava muito do cheiro desse sabonete... Mas acho que agora eu gosto! - Cameron disse de um jeito casual, como se estivesse comentando a mudança de temperatura ou qualquer outra banalidade. - Demetria, não precisa me evitar! Se esqueceu que foi você quem me procurou? - quando olhei para cima, ele estava parado ao meu lado, com um olhar compreensivo. - Eu quero te ajudar! 
- Eu não sei se você realmente pode me ajudar. 
- Me deixe tentar. - com um gesto abusado, ele segurou uma de minhas mãos e me obrigou a caminhar até sua cama. Sentou-se e pediu para que eu sentasse ao seu lado. Fiz isso, colocando as mãos sobre as pernas, na intenção de barrar qualquer contato que ele tentasse iniciar. 
- A camiseta teria ficado bem em você. 
Cam... Não aumente o meu arrependimento por ter te procurado. - voltei a reforçar que ele deveria desistir das provocações, pois não conseguiria nada. - Eu quero um amigo, não alguém que vai tentar me despir. 
Demetria, o ser humano não pode fazer tudo que passa pela sua cabeça. - ele disse em um tom divertido. - Então fique tranquila. 
- Eu agradeço. - fingi um sorriso, incomodada com suas palavras anteriores. 
- Você quer conversar sobre alguma coisa? - ele se aproximou mais, e eu senti seu braço se chocar com o meu. Desconfortável, fiquei enrolando alguns fios de cabelo e olhando para o chão. Lembrei dos acontecimentos daquele começo de noite, de tudo que eu e Caleb descobrimos. Por um momento, a calma foi embora e aquela sensação de aperto no peito voltou. Me deixei levar pelos pensamentos corrompidos de antes e logo a vontade de chorar chegou. Levantei o rosto e encarei Cameron, que me olhava preocupado. Manti nosso contato visual, esperando que a sensação de segurança voltasse, como se eu sugasse ela através dos olhos dele. 
- Você pode fazer aquilo com o lábio? - pedi, soando idiota. Ele riu, franzindo o cenho. 
- Aquilo o quê? - sua expressão parecia a de uma criança curiosa. As linhas de expressão de repente o tornaram mais jovem, o tornaram aquele garoto do colegial. 
- Você levanta um dos cantos, sei lá... Por alguma razão idiota, aquilo me acalma. Parece o tipo de sorriso que garante que tudo vai ficar bem. - confessei. 
- Assim? - ele virou um pouco o corpo, levantando um dos cantos dos lábios, rindo em seguida. 
- É exatamente assim. 
- Funcionou? - Cam perguntou, curioso. 
- Acho que sim. 
Um minuto de silêncio se passou. 
Demetria, o que aconteceu? 
- Eu só não queria ficar sozinha, e você foi a única opção que me pareceu aceitável. 
- Devo me sentir feliz com isso? - ele abriu um dos botões da camisa, passando a mão pela nuca e em seguida a levando até seu cabelo. Ele puxou um pouco o mesmo, em uma tentativa de bagunçá-lo ou amurrá-lo, eu não sabia definir. Será que ele sabia que aquilo estava me deixando constrangida? É claro que ele sabia, era de propósito. O desgraçado estava me tentando. Não teria sucesso em suas tentativas, não teria. Não teria. 
Juntei minhas pernas o tanto que era possível, tentando não deixar transparecer pelo meu rosto o que se passava em minha mente, meus questionamentos internas. 
Bufei, atraindo a atenção dele mais uma vez. Era isso que eu deveria fazer: ficar quieta até entendiá-lo o suficiente para me dar boa noite e pedir gentilmente que eu me dirigisse até um quarto de hóspedes, ou porta a fora de sua casa. Era uma boa opção. 
- Vou perguntar de novo. O que aconteceu? - ele quebrou o silêncio e sua voz soou mais alta e firme. 
- Você sabia o tempo, não? Sabia sobre... Erin Fields. 
- É, eu sabia. 
- E o que você sabe? 
Demetria - sua mão quente encostou em meu rosto e ele passou o dedo polegar pela minha bochecha. Não consegui me desviar daquele contato e deixei que ele continuasse, na busca incessante por palavras que aliviariam minha inquietação. - Pare de se preocupar tanto com coisas que não aconteceram por sua causa! Pare de se culpar. - agora as duas mãos seguravam meu rosto e uma das pernas dele coberta pelo jeans roçou nas minhas também cobertas. Por que ele não falava de uma vez? - Você não merece passar por tudo isso! Dê um descanso a si mesma, pense em você! - seu olhar era tão, tão, tão intenso que eu não conseguia mais desviar. Parecia que, se eu desviasse, algo grave poderia acontecer. 
Cam... - tentei pronunciar alguma coisa, não reconhecendo minha própria voz. 
- Você pode até me odiar, me amaldiçoar por achar que estou tentando estragar a sua vida, mas não é isso! Demetria, nunca será isso. - com a força que consegui juntar, tirei suas mãos do meu rosto e o abracei rapidamente. Inspirei o cheiro dele e fechei os olhos, sentindo uma onda de paz cuidar do meu corpo. 
- Obrigada! - eu disse, recostando minha cabeça pesada pelas diversas perturbações no peito de Cameron.
Nos soltamos e ele mordeu o lábio inferior, aparentando estar com a respiração acelerada. Levantou-se da cama e foi até a janela, abrindo-a um pouco mais. 
- Que calor do inferno! - resmungou, virando o corpo e se mostrando tentado a abrir mais botões da camisa. Observei a situação dele. 
- Acho que o problema é com a sua casa... Vamos sair daqui e talvez isso melhore. Ou, se não quiser sair, eu faço questão de sair. - levantei-me da cama, sem pensar ao levar meu corpo até a porta. Respirei fundo e engoli a vontade de mandá-lo para o inferno quando outra tentativa de me deter se fez presente. Cam não sabia o que estava fazendo. Ele não se importava com a minha situação, ele não tomava as atitudes que pensei que tomaria. Ele não queria me consolar, ele queria me ter
Movimentei meu braço, apenas pedindo educadamente que ele o soltasse. Assim que o fez, levei meu olhar em sua direção e respirei fundo, tentando controlar um riso inconformado que subia pela minha garganta. É claro que ele viu a oportunidade perfeita ali. Cameron queria se aproveitar de mim, utilizar meu momento debilitado única e exclusivamente para entorpecer minha percepção do era certo e errado, fazendo com que, sem capacidade de pensar, eu me entregasse a sua vontade. 
Demi... - o homem tentou, enquanto eu continuava estagnado ao batente da porta. 
- Não fale nada, ok? Eu não quero ouvir. Deixe-me sair daqui. - falei baixo, mas com força na voz, deixando claro que era melhor que ele atendesse meu pedido. 
- Desculpe... Eu prometo que não vou tentar mais nada. Não sei o que me deu. 
- Claro. - soltei com um risinho desconfiado, não confiando de forma alguma em suas palavras. 
Por outro lado, eu não queria sair sozinha, ir até minha casa sozinha. Obviamente ele não estava disposto a me levar, então minha única saída fora apenas perguntar onde ficava o quarto de hóspedes, para que eu pudesse me aconchegar por lá até que o amanhecer desse o ar de sua graça. Com as instruções que foram passadas, deixei o cômodo sem me dispor a falar mais nada. Adentrei um outro quarto e larguei em um sofá que estava abaixo da janela de vidro com cortinas. Abraçando uma das almofadas, eu apenas assistia a noite do lado de fora, com medo do que a imensidão daquele mundo reservava para mim. 


Joseph's P.O.V

Deixei meu corpo submergir na piscina. Com os olhos fechados e a respiração presa, ignorei o efeito do alcool em meu sistema e voltei a superfície, nadando até a borda da piscina e apoiando os braços no mármore. Mesmo com a mão molhada, peguei o celular que estava jogado no chão e vasculhei por certas fotos. Assim que as encontrei, o arrependimento por ter começado a procurar veio. Peguei uma garrafa de vodka e a virei, fechando os olhos com força e tentando ignorar o ardor na garganta. Eu estava me torturando, eu merecia aquilo. Antes que pudesse colocar tudo para fora, parei de beber e voltei e encarar as fotos que iam aparecendo no celular. Eu vivia reclamando com Demetria por tirar fotos em horas inapropriadas. Muitas vezes ele acordava primeiro e ficava tirando fotos de mim enquanto eu dormia. Ou de quando eu estava me barbeando, ou quando eu gritava com a televisão durante um jogo de futebol. Fui passando as fotos, sentindo meu estômago embrulhar. Parei em uma foto que tinha sido tirada exatamente onde eu estava. Demetria puxava meu cabelo, tentando me afogar. Nossos rostos eram sorridentes e felizes, como se não houvesse nenhum problema no mundo. Larguei o celular e soltei meu corpo, voltando a mergulhar. Emergi do outro lado, pegando impulso e saindo da piscina. Um homem enxendo a cara, fumando e vendo fotos em uma piscina... Patético e humilhante. 
Me peguei pensando no que Demetria deveria estar fazendo naquele momento. 
Levantei meu corpo, - que se encontrava do jeito que eu tinha chegado naquele inferno de mundo - peguei a vodka e o celular e entrei em casa de novo. 
Memórias semelhantes as que me visitaram no quarto voltaram a aparecer. 

Flashback

- ISSO NÃO É MEU! - Joseph disse, totalmente exasperado, bagunçando os cabelos de uma forma desesperada. A Sra. Cameron, diretora da Browning High School estava sentada em sua cadeira preta de couro, com a pose durona de sempre. A mulher era considerada uma verdadeira bruxa pelos alunos da escola. Se os adolescentes dali queriam ser rebeldes, eles até poderiam ser, mas teriam de aceitar as consequencias impostas por ela. A mulher de meia idade e cabelos negros balançou um pacote branco na frente dos olhos de Joseph, voltando a jogar o mesmo em sua mesa. - ESSA PORRA NÃO É MINHA! 
- Meça suas palavras antes de falar comigo, garoto! - ela ralhou, enquanto lixava uma de suas impecáveis unhas vermelhas. Se levantou de sua cadeira e caminhou ao redor do garoto, com os braços cruzados e uma expressão pensativa. - O que fazer com você, Jonas? Seu pai não vai gostar de saber que seu compartamento problematico não exibe mudança! - o garoto olhava suplicante para ela. - Então pare de fingimento e confesse logo! 
- Eu não vou confessar nada! EU NÃO FIZ NADA! 
- Pare de gritar, eu não sou a sua mãe! - o silêncio se instalou por alguns segundos e Joseph fechou a cara, enquanto a diretora Cameron levantou uma das sobrancelhas. - Se você tivesse uma, é claro. 
Joseph respirou fundo, fechando as mãos em punhos e tentando controlar a raiva. 
- Essas drogas não são minhas, diretona Cameron! Por favor, acredite em mim! Foi o Carter que colocou elas no meu armário, eu tenho certeza! 
- E como você pode provar isso? Tem tesmunhas que comprovem que o Stone é o responsável? 
Do outro lado da sala, atrás de uma bancada com milhares de livros empilhados e empoeirados, uma garota loira que usava óculos fingia não prestar atenção na conversa. Ela organizou alguns livros e olhou com pena para Joseph. Era surpreendente a frequencia com que aquele garoto rico e indiferente ia parar na diretoria e, consequentemente, na detenção. Ela se afastou e desviou o olhar quando o mesmo a encarou do lugar que estava, pedindo com os olhos para que ela parasse de bisbilhotar e fosse cuidar de sua vidinha de merda. Erin pensou por uns instante e decidiu que aquela seria a coisa certa a se fazer. 
- Vamos, Jonas! Quero provas! Onde estão suas testemunhas compradas com maconha e pílulas? - Cameron disse, rindo com escárnio. 
- Isso não é dele. - o garoto virou o rosto, se surpreendendo ao ver a garota desajeitada apoiar as mãos na bancada, encarando com certo medo a diretora. - Eu vi quando colocaram em seu armário. 
- Quem colocou no armário dele, senhorita Fields? 
- Carter Stone. - a expressão da diretora dizia que ela não estava surpreendida com aquilo. 
- O que eu faço com esses riquinhos drogados? Francamente! - Joseph e Erin trocaram um olhar cúmplice. - E você, Jonas, vai ficar uma hora na detenção. Agora saia daqui! Ou melhor, saiam os dois! - ela foi até seu telefone e discou alguns números rápidamente. - Margaret? Peça ao Stone para vir até aqui! 
Erin seguiu Joseph até a saída, tentando pensar em algo para dizer a ele, mas antes que pudesse ter alguma ideia, o garoto se virou rapidamente e deu um beijo rápido na bochecha dela. Ele riu quando percebeu que ela parecia um tomate e bagunçou o cabelo. 
- Você salvou minha vida, Erin. 
- Não foi nada. - ela encarava os próprios pés, mexendo na armação dos óculos. De repente, se sentiu confiante e levantou o rosto. - Mas, se você ou algum dos seus amiguinhos mimados me chamar de nerd esquisita de novo, eu vou dizer a Cameron que você me deu pílulas em troca do que eu disse lá dentro. 
- Isso não é verdade! - ele franziu o cenho. 
- Em quem você acha que ela vai acreditar, Jonas? - a garota sorriu, passando por Joseph. O garoto balançou a cabeça negativamente, rindo. Procurou sair logo daquela área, antes que tivesse que dar de cara com Carter Stone. A raiva correu por suas veias só de imaginar. 

Fim do flashback


Demetria's P.O.V

Abri os olhos, sentindo as palpebras pesadas e o corpo mole. Tudo estava exatamente do jeito que eu me lembrava; a luz estava acessa, a janela aberta e eu era a única naquele quarto. Ignorando o peso em minha cabeça, fiz força para levantar, ficando sentada sobre o sofá. Eu tinha pegado no sono, nem fazia ideia de quanto tempo havia se passado desde que Cameron e eu tínhamos nos entranhado daquele jeito. Sentindo a garganta extremamente seca, decidi levantar, sair daquele quarto e procurar pela cozinha. Abri a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível e encarei o corredor escuro. Se Cameron realmente estava no quarto ao lado, ele queria privacidade e tinha se trancado. Descalça, passei rapidamente pelo corredor, como um fantasma. Desci as escadas degrau por degrau, tomando cuidado para não tropeçar em alguma coisa. A entrada apenas era iluminada devido as enormes janelas de vidro que davam uma vista ampla para o jardim. Apoiei minha mão em uma mesa de centro com um enorme vaso e olhei ao redor, procurando pela cozinha. Quando cheguei na mesma, agradeci mentalmente por ter encontrado copos limpos em um armário e uma jarra com água gelada na enorme geladeira de duas portas. Acabando com a iluminação no comodo que a geladeira aberta provocada, tomei em apenas um gole o copo cheio de água e fiz o caminho de volta com passos arrastados. 
Saindo da cozinha, passei ao lado do que deveria ser uma sala, mas tudo estava um breu e eu não conseguia definir muito bem o que se encontrava ali. Virei o corpo, tendo em mente que eu precisava caminhar rápido até a escada, subí-la como se não precisasse de fôlego e me trancar naquele quarto novamente. 
Demi? - congelei ao ouvir uma voz chamar meu nome, vinda da direção daquela sala escura. Virei o corpo, caminhando com receio. Uma luz fraca foi acessa, iluminando um pouco o local e revelando uma ampla e confortável sala de estar. Os sofás eram extremamente grandes e um tapete fofo estava sobre o chão. A parede ao lado era toda de vidro, oferecendo uma vista privilegiada de uma piscina que fazia reflexo ao redor da sala.Cameron estava sentado - lê-se: jogado - em um dos sofás, ainda sem camisa e com uma expressão de cansaço. Me encostei em uma parede e fiquei encarando o cômodo, enquanto ele parecia comer alguma coisa. Corri meu olhar por ele, percebendo que segurava um pequeno potinho com várias bolinhas vermelhas dentro. Cerejas. 
Desejei descontrolavelmente que minha fruta preferida fosse melancia, abacaxi ou qualquer coisa que fosse diferente do que ele colocava no boca de um jeito lento. 
- Não conseguiu dormir? - concordei com a cabeça, me mantendo imóvel. - Eu também não consegui. - ele tinha o olhar perdido em um dos quadros pendurados na parede. Aquela família era fã de Arte. - É difícil pensar em dormir com você aqui... 
- Eu não planejo matar você enquanto dorme. - eu disse, soltando um risinho baixo e nervoso. 
- Ok... - ele sorriu - Vamos fingir que esse é o motivo, Demetria. - e ele continuava a jogar indiretas, fazer provocações e se portar como se nem estivesse percebendo isso. - Quer uma? - ele pegou outra cerveja no potinho, segurando-a pelo cabinho fino e a balançando, colocando em sua boca no instante seguinte. Neguei com a cabeça, mantendo os braços cruzados atrás de meu corpo. Ele deu uma leve batidinha na superfície do sofá, pedindo que eu fosse até lá. Relutante, eu fui, sentando-me um pouco longe dele. Cruzei meus braços e fiquei admirando o reflexo da piscina que formava desenhos desconexos no teto de um branco impecável. - Então quer dizer que você fica jogado em um sofá comendo cerejas? 
- Qual é o problema? Algumas pessoas podem achar isso bastante atraente, Demetria! Não respondi, me atrevendo a pegar com agilidade uma cereja no potinho que repousava em seu colo. Eu estava com fome, o que poderia fazer? - Se importa? - ele negou com a cabeça quando me viu degustar a fruta. 
- Vou acender a luz! - Cam disse, se levantando bruscamente e caminhando pela sala mal iluminada. Fiquei encarando suas costas, até perceber que seu corpo vacilou a caiu de um jeito desengonçado no chão, fazendo um barulho estranho. Olhei assustada para ele e percebi que havia acabado de tropeçar em uma almofada que estava jogada no chão. Senti uma gargalhada subir por minha garganta enquanto ele se levantava. Não conseguindo segurar, comecei a rir descontroladamente, deitando meu corpo completamente no sofá e derrubando o potinho com as cerejas. Os cantos de minha boca começavam a doer e ele se aproximava, com uma expressão inconformada. 
Já sentindo algumas lágrimas se formarem em meus olhos, percebi que ele se ajoelhou ao lado do sofá, me olhando seriamente. 
- Achou isso engraçado? - ele levantou uma das sobrancelhas e eu percebi que a luz vinda da parede de vidro iluminava seu corpo. 
- Achei. - continuei a gargalhar, tentando achar forças para me levantar. Cameron levantou-se primeiro, apoiando uma das mãos em meus ombros, entortando o corpo e ficando parcialmente em cima de mim. Demorei a perceber o que estava acontecendo e, se eu não tivesse levantado com tanta força e pressa, ele teria me beijado. Fui para o meio da sala, olhando assustada para ele que continuava de costas para mim. A indignação voltou a brilhar em minhas íris. 
Cam fechou os olhos com força e algumas veias de seu pescoço estavam saltadas. Eu não queria começar a sentir medo dele, exatamente no momento em que achava que ele só me traria conforto. Recuperou-se, voltando ao semblante sereno de sempre e caminhou arrastado até mim, sem intenção alguma de me tocar. 
- Não, isso não é engraçado! - ele exaltou a voz, a centimetros de distância. - Parece que o meu corpo vai explodir a qualquer momento, Demetria! Não sente isso? - por ser mais baixa que ele, levantei meu rosto e continuei a sustentar seu contato visual. 
Ah, não, de novo não! 
- Eu não sinto nada! - rosnei, encontrando força o suficiente para não desviar meus olhos. 
- É claro que você sente, porra! - quando dei por mim, já estava com as costas na parede, com as mãos de Cameron em meus ombros. Os dedos de uma mão passaram pelo meu pescoço. - Sua pele está tão quente! É impossível que você não esteja sentindo nada! - seu rosto foi se aproximando gradativamente e eu sentia o medo e a fúria travarem uma luta dentro de mim. Meus olhos se prenderam naqueles lábios rosados e levemente trêmulos; passou a língua pelo lábio inferior e estava tão... Tão próximo. Arregalei os olhos, trancando meus lábios em uma linha reta. 
- Não... - parei, sentindo uma súbita falta de ar. - Não se atreva a me beijar! - a frieza em minha voz era forçada, mas eu não me importava com isso. - NÃO! - praticamente cuspi aquele protesto, espalmando minhas mãos em seu peitoral e o empurrei para trás.
- Eu já te falei que não sou bom em seguir conselhos. - fechei os olhos quando, por uma fração de segundo, ele conseguiu driblar a barreira que eu sustentava com os braços. Sendo pega de surpresa, precisei calcular meus movimentos com agilidade, ou seus lábios tocariam os meus. Empurrei-o com uma força que não imaginei ter, soltando um grunhido. 
- Chega! Chega, por favor! - coloquei as mãos na cabeça, andando pelo comodo. - Me leva para casa, é sério. Por favor! 
- Não, eu não vou te levar. - seu tom de voz estava furioso. 
- Me leva! 
Deixei meu corpo se ajoelhar no chão, sentindo o tapete fofinho fazer carinho em meus pés descalços. Logo percebi que alguém estava do meu lado, e eu não precisei levantar meu rosto que estava escondido entre as mãos para saber de quem se tratava. Cameron soltou um longo suspiro, tocando meu calcanhar com os dedos. 
- Pare. de. me. tocar. Droga! - pedi pausadamente, encolhendo meu corpo. 
- Olhe para mim! - Cam puxou minhas mãos, obrigando-as a se separarem do meu rosto. - Demetria, olhe para mim! - sem forças, obedeci. - Me desculpe. 
- Não adianta pedir desculpas se você não tem intenção de parar. 
- E eu não vou parar mesmo! Só quero que você me desculpe. 
- Não tente me beijar de novo. 
Demi, eu não estou falando disso! - enquanto ele ainda roçava os dedos em meu calcanhar, levantei o olhar. Eu sabia o que viria a seguir, sabia do que ele estava falando. Cameron se referia ao passado
- Isso não importa mais. 
- É claro que importa! - meu corpo foi puxado outra vez, mas não para tentar grudar nossos lábios, ele apenas envolveu os braços por mim e fez com que minha cabeça ficasse encostado em seu peitoral nu. Cansada, ouvi com atenção o que ele tinha a dizer. - Não há um dia em que eu não me arrependa. Não há um dia em que eu não me encontre pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes... Eu fui tão estúpido no passado, Demetria! Como acha que é pensar que, se eu tivesse dado valor ao que estava ao meu redor, hoje você seria minha
- Amores de colegial não duram... - respondi sem pensar, com os olhos fechados. Cameron apertou os braços ao meu redor. 
- Eu faria aquele durar, não tenha duvidas. 
- Agora é tarde. 
- Você pensa assim, eu não. 
Corri minha mão por seu braço, sentindo os pelos eriçados roçarem na palma de minha mão. Deixei me perder por um momento nas memórias da adolescência e não pude evitar de sentir aquela raiva de novo. Mas a raiva não era forte o suficiente para fazer com que nossos corpos se separassem, eles pareciam estar grudados. 
- Falar é fácil. 
- Na noite do baile... - ele começou, e eu senti meu coração acelerar e o estômago embrulhar. Com tanta coisa para falar, ele tinha que me lembrar daquele maldito baile? - Eu fui até a sua casa, eu vi você através da janela! Você estava sem toda aquela maquiagem e parecia se olhar intensamente em um espelho. - Cameron sussurrava, de uma maneira que só eu era capaz de ouvir. Estavamos sozinhos, então isso não fazia muito diferença. - Você estava linda, completamente diferente da garota rebelde que eu tanto via no colégio. Aquela era a verdadeira Demetria, eu tinha certeza. - sorriu. - Pensei em te chamar e me desculpar por tudo que tinha te dito durante naquele ano, mas tudo que consegui fazer foi dar meia volta e sair rápido dali. 
Me soltei dele, encarando seu rosto com a boca entreaberta e os olhos arregalados. 
- Você... Você foi até a minha casa na noite do baile? - a ardência em meus globos oculáres se fez presente. 
- Sim. 
- Droga, por que você não fez nada? Por que não me chamou? Você ao menos fazia questão de imaginar como eu me sentia? 
- Eu sei... Agora eu sei! Estou recebendo o troco e talvez isso seja mais do que merecido. 
Cameron, se você soubesse... 
- Eu sei, Demetria! - senti um beijo longo e intenso em minha bochecha, percebendo que uma lágrima escorria pela outra. Cameron colocou o dedo sobre a mesma, impedindo que caísse em meus lábios. - Agora você percebe o tamanho do meu arrependimento? Se as minhas decisões tivessem sido diferente, nada disso estaria acontecido ao nosso redor. Você não teria se envolvido com certas pessoas, você não teria que sofrer assim... Mas eu fui um desgraçado! E é como dizem... Aqui se faz, aqui se paga


Joseph's P.O.V

Segurei com força no volante do carro, soltando o peso da perna contra o acelerador. Ignorando os efeitos do alcool em meu corpo, passei por vários carros recendo buzinas furiosas em troca. Não liguei para aquilo e continuei a dirigir o mais rápido que podia. Depois de beber ao ponto de adquirir uma vista turva e fumar duas cartelas inteiras de cigarro, a única escapatória para sentir um pouco de paz foi me enfiar naquele carro e dirigir até um lugar que eu sabia que seria capaz de me acalmar pelo menos um pouco. As memórias e o cheiro dela ainda estariam ali, mas eu não me importaria. Pelo contrário, eu queria senti-la perto de mim, queria seu cheiro extramamente irresistível penetrando por minhas narinas. Eu fecharia meus olhos e pensaria nela, apenas nela. Passaria o resto da noite daquela maneira, imaginando o que eu não podia ter em mãos. Mas eu sabia que logo tudo aquilo teria fim. 
Eu não desistiria de Demetria. O inferno teria que congelar e só depois disso eu pensaria em deixar aquela mulher de lado. 
Eu poderia ir atrás dela naquele momento, mas não queria piorar a situação. Estava descontrolado e sem condições de medir meus atos. 
Já longe de toda aquela civilização desgraçado, saí do carro para abrir o enorme portão, voltando para o veículo em seguida e estacionando em qualquer lugar. Caminhei até a entrada da casa de madeira, sentindo o vento tentando me confortar, o único que tentava levar as sensações ruins embora. Meu estômago pareceu se revirar dentro do meu corpo e eu esfreguei os olhos, tentando me livrar daquela visão turva. Dei alguns passos tortos para mais perto da porta, até que senti pisar em cima de algo que não era o chão. Olhei para baixo, controlando a tontura e pegando um objeto pequeno e brilhante, piscando os olhos diversas vezes para tentar identificar o que era. 
Muito familiar. 
Bastou apenas mais uma olhada para que eu percebesse que já tinha visto aquela objeto em Demetria. Era um dos brincos do par que eu tinha dado a ela há alguns meses. Mas o que diabos estavam fazendo ali? 
Olhei ao redor, procurando sinais que poderiam indicar que alguém estaria por ali, mas só o vento continuava se fazendo presente. Guardei o pequeno objeto dourado no bolso da calça e abri a porta de madeira, colocando meu corpo para dentro. 

Flashback

Erin assistia do outro lado do gramado Joseph e o homem que ela tinha quase certeza ser o seu pai, enquanto os dois pareciam estar perdidos em uma discussão sem fim. O homem de meia idade adotava uma pose superior e um olhar frio para o filho, que o encarava com certo ódio. Erin segurou os livros com mais força e se escondeu atrás de uma árvore, temendo que pudesse ser vista por algum dos dois. Depois de longos mínutos, o homem se deu por vencido e se afastou do garoto, caminhando na direção de um luxuoso carro preto que fez os olhos de Erin brilharem. Joseph xingou o ar que respirava e correu para baixo da árvore que Erin estava escondida atrás, fazendo com que a garota encolhesse o corpo e tentasse não ser vista. Ele vasculhou por algo no bolso e tirou um cigarro de maconha, sorrindo ao sentar-se embaixo da árvore. Depois de algumas tragadas no baseado, ele já se encontrava perdido em dezenas de pensamentos. 
Dava graças a Deus por Margo ter saído com as amigas e se esquecido dele. 
Erin ponderou se deveria sair correndo ou puxar assunto com ele, mas e se o garoto da jaqueta de couro que fumava aquele baseado como se fosse a última coisa que faria em vida se irritasse e fosse grosso com ela? É claro que estava acostumada com a grosseria dos alunos daquela escola, mas ela via algo diferente nele... Não sabia explicar. 
- Reze para que a Cameron não te veja com isso. - ela se revelou para Joseph, que virou o corpo bruscamente e se engasgou com a fumaça. - Desculpe aparecer assim. 
- Foda-se. - ele não fazia questão de olhar para ela. 
- Aquele era o seu pai? Ele é sempre tão bravo? 
- Já foi pior... - Joseph inclinou a cabeça para o lado, com os olhos fechados, soltando a fumaça. - Agora se controlou um pouco, mas isso é só porque arranjou uma vadia que tem idade para ser filha dele. 
- Que legal! - Erin tentou deixar seu tom de voz animado. 
Que legal! - Jonas repetiu, com desdém. 
- Se importa se eu me sentar? - ela perguntou. 
- Não se importa com isso aqui? - ele balançou o cigarro para que ela pudesse ver claramente. 
- Na verdade, não... - Erin sorriu, timida. - Meu irmão costuma fumar coisas que tem esse mesmo cheiro, então já me acostumei. 
Erin sentou-se ao lado de Joseph, cruzando as pernas e colocando os livros sobre a grama. Apreciou o canto de alguns passaros por um breve momento, voltando sua atenção para o garoto que bagunçava os cabelos com os dedos de unhas curtas e roídas. 
- Vendo assim até parece um paraíso. - Jonas comentou, encarando o gramado e sentindo seu corpo relaxado. 
- Espere até os demônios voltarem! - Fields riu. - Ahn... Cadê a Margo? 
- Sei lá. - Joseph não fazia o tipo namorado preocupado, isso era mais do que evidente. 
- Ela ficaria uma fera se me visse aqui com você. - Joseph olhou diretamente para Erin pela primeira vez naquele dia. 
- Você deveria simplesmente ignorar o que ela faz, assim como eu costumo fazer. 
- Ela é sua namorada! E, bem... Já vi várias vezes que você não ignora ela... Se é que me entende... - a garota loira se controlava para não gaguejar. O garoto soltou uma risada nasalada e malíciosa. 
- É diferente, Erin, é diferente. 
- Ok, vamos fingir que sim. 
- Pode ser sincera e dizer logo que eu não passo de um garoto mimado, problematico e que só pensa em drogas e sexo. Meu pai diz isso todo dia, então não faz diferença. 
- Você é um garoto mimado, problematico e só pensa em drogas e sexo... - ela soltou as palavras rápido depois, sentindo sua lingua enrolar. - Mas conversa com uma estranha como eu, então podemos obter algum progresso futuramente! 
- E eu achava que sinceridade não existia por aqui. 
- Ah, eu sou muito sincera! 
- Bom saber. - ele jogou o resto de seu baseado longe e indireitou o corpo, tirando algumas coisas do bolso de sua jaqueta. Erin observou seus movimentos atenta, e então seus olhos avistaram dois pequenos papéis verdes onde reconheceu o nome de uma de suas bandas preferidas. 
- Smashing Pumpkins? - ela não conseguiu conter um sorriso. 
- É, eu tenho dois ingressos para o show deles semana que vem, mas a Margo acha a banda uma merda. Vou sozinho. 
- E-eu p-poderia ir com você, sei lá... - Joseph guardou as outras coisas de volta e segurou os dois ingressos, dando um para Erin que pegou rápido, antes que o papel fosse embora junto com o vento. 
- É todo seu. 
- Sério? Eu posso ir? 
- Tanto faz! Se não se importar em andar com alguém como eu... - Joseph se levantou, pegando a mochila e encarando Erin. 
- Puxa, eu esperei minha vida toda por um show desses caras! - ela falou como se estivesse na casa dos 80, sentindo o fim de sua vida próximo, mas mesmo assim contente porque iria realizar um sonho. 
- Certo, então me dá o seu endereço e semana que vem eu vou te buscar em casa para írmos. - ele assistiu a garota abrir sua bolsa e tirar de lá uma caneta e um pedaço de papel. - Diga a sua mãe que não precisa se preocupar, te levo em casa assim que o show acabar. 
- Ela vai deixar, eu tenho certeza! - Erin disse afobada, levantando e entregando o papel com o endereço para Joseph. 
- Ela não acha que garotos como eu são má influencia e só querem sexo com sua pobre filha? - ao invés de se mostrar constrangida com as palavras do garoto, tudo que Erin fez foi rir alto e balançar a cabeça negativamente. 
- Meu pai vive contando que era um bad boy no colégio. Te vejo depois, Joseph! 
- É, pode ser. - ele deu de ombros e caminhou em direção a saída da escola. Erin arrumou suas coisas mais uma vez e, sorrindo feito uma boba, caminhou pela mesma direção que o garoto e logo voltava animada para casa. 
Atrás de uma outra árvore do gramado, um garoto de cabelos castanhos claros e olhos verdes observava tudo, com um sorriso diabólico repuxando pelos lábios. Carter mal podia acreditar que Jonas estava se envolvendo com aquela garota tão sem graça. Mas, sempre vendo uma oportunidade para sacanear Joseph, Carter começou a pensar em um plano. 

Fim do flashback

I used to be a little boy
So old in my shoes
And what I choose is my choice
What's a boy supposed to do?
The killer in me is the killer in you
My love
I send this smile over to you.

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