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domingo, 25 de maio de 2014

Secretary II - Capítulo 13


Lamentação



Demetria's P.O.V

- Calcinha vibratória? - perguntei junto com a personagem de Katherine Heigl. Eu e Joe estávamos deitados na cama confortável do quarto do hotel, aproveitando nossa lua de mel antecipada. Estava congelando e não tinha muito para fazer, então revolvemos ligar a enorme televisão e procurar algo aceitável para assistir. Enquanto Joe zapeava pelos canais, gritei para que ele parasse no que estava passando The Ugly Truth. Eu não era uma fã assídua de comédias românticas, mas aquele filme conseguia me divertir. Apesar de querer socar o personagem de Gerard Butler em certos momentos, também achava o cara um gênio. - Acho que eu quero uma... - eu disse, encarando o rosto de Joe e rindo. Ele tinha o cenho franzido e olhava para a televisão de um jeito engraçado, como se não entendesse nada do que estava se passando. Desceu o olhar para mim - que estava com a cabeça aconchegada em seu peitoral - e balançou a cabeça negativamente, desligando sua atenção do filme. 
- Como se você precisasse disso! - ele disse alto, me olhando convencido. - Digo, para que querer obter prazer artificial? 
- Prazer artificial? - questionei, levantando uma sobrancelha. Ele afagou meu cabelo e mordeu o lábio, olhando brevemente para a televisão e depois me lançou um olhar sedutor. 
- É óbvio que ela quer estimular o botãozinho - ele fez aspas com os dedos e uma voz engraçada, me fazendo gargalhar. Eles usavam aquele mesmo termo no filme. - com isso, porque ela não tem ninguém para fazer do jeito certo. E, sério, quase me ofende você dizer que quer um treco desses! 
- Espera! Espera! - interrompi aquela pequena discussão sobre estimulação de botõezinhos e apontei para a televisão. - O garotinho pegou o controle da calcinha! - coloquei as mãos na boca eJoseph me olhou como se dissesse "Você só pode estar brincando comigo!". Homens... 
- O garoto vai fazer ela ter um orgasmo artificial? 
Joe, cala a boca! - bati em sua coxa, sentindo os cantos da minha boca doerem de tanto ter rido naquele dia. Assistimos enquanto a personagem passava por aquele momento constrangedor e super engraçado, enquanto o garoto que segurava o controle mal sabia o que estava fazendo. Até Joe riu, riu com gosto quando a personagem atingiu seu ponto máximo
- Qual é o problema com esses filmes? - ele perguntou, depositando um beijo em minha orelha. 
- Você não concorda com nada que o Mike afirma? - perguntei, lançando um olhar desafiador a ele. Meu marido ficou em silêncio por um tempo e depois olhou para cima, como se tentasse disfarçar. - Mas, sabe, ele está certo... Todo esse machismo até que faz sentido. Um homem não vai querer saber o que você sente em relação a várias coisas no primeiro encontro, e quando vocês olham uma mulher, não ligam se ela é uma psicopata ou uma virgem, só se importam... 
- Se o fecho do sutiã dela é na frente ou atrás... - ele me cortou e eu devolvi seu olhar, com um ponto de interrogação na face. - É claro que pensamos em outras coisas também, mas isso é uma questão a ser muito bem pensada! Na frente é mais fácil, sabe? Dai, ficamos pensando: E se acontecer algo em um lugar inusitado? Homens querem poupar tempo, Demetria! Porque... 
- Ok, eu já entendi! - coloquei levemente meus dedos sobre seus lábios, o calando e dando-lhe um selinho em seguida. Apesar de querer continuar a assistir o filme, ficar conversando com ele me pareceu bem mais interessante. Senti a mão de Joseph passear por minhas costas, parecia procurar por algo. 
- Em todo o caso, eu prefiro quando o sutiã não existe... - ele sorriu malicioso e satisfeito ao se dar conta de que eu não estava usando sutiã. - Muito, muito mais fácil! - levantou o tronco e me levou junto, abrançando-me pela cintura e brincando com sua boca pelo meu pescoço. 
- É só isso que vocês querem? Facilidade? - fiz minha melhor cara de feminista. Quando dei por mim, já estava deitada na cama com Joe por cima. Ele apoiava os cotovelos na cama para não depositar todo o peso de seu corpo sobre mim. 
- Não, não queremos só isso. Bom, não sei o resto dos homens, mas eu nunca vou querer só isso. - fechei a cara e ele pareceu adorar aquilo, já que distribuiu beijos pela pele exposta que encontrou.
- Hm. - foi o único som que saiu pela minha garganta, e continuei a fazer charme. 
Damn baby, You frustrate me! I know you're mine, all mine, all mine... But you look so good it hurts sometimes. - ele sussurrou e mordeu o lóbulo de minha orelha. 
- Cantar John Mayer no meu ouvido é golpe baixo! - coloquei as palmas de minhas mãos em seu peito e tomei impulso, levantando meu tronco e invertendo nossas posições. Saí de cima dele e me afastei um pouco, cruzando as pernas ao estilo índio e mexendo em meus cabelos de um jeito despreocupado. Ele me olhava com diversão e sedução nos olhos. Joseph já havia me dito uma vez que se fascinava quando eu começava com aquele joguinhos. Ele se sentia atraído por provocações como aquelas. Uma grande vantagem era que a cama era enorme, então eu coloquei meu cabelo para um lado do ombro - deixando o pescoço amostra do outro - e apoiei minhas mãos no cama, engatinhando até o travesseiro que me esperava no final. O peguei e deitei a cabeça no mesmo, ainda fingindo que Joe não existia. 
Something 'bout the way your hair falls in your face. I love the shape you take when crawling towards the pillowcase... - ele cantou um trecho anterior da música e eu não aguentei, começando a rir. Ficamos naqueles joguinhos de casais por um tempo, até que decidimos pedir algo para comer, já que nossos estômagos pareciam roncar sumultaneamente. Não demorou, e então soltei um gemido de satisfação ao descobrir que comeríamos fondue. Joe colocou a bandeja na cama, com uma panela em cima de um rechaud. Nos deliciamos com o fondue de chocolate, com os morangos e uvas e não paravamos de rir em momento algum. Vezes por algo engraçado que ainda acontecia no filme, vezes por algo engraçado que acontecia com nós. Ele pegou uma uva com o garfo especial e mergulhou na panela, oferecendo para mim. Abri a boca e esperei, mas virei meu rosto ao perceber que sua intenção era apenas me lambuzar. 
- Ah, você quer um remake daquela cena com chocolate na cozinha? - perguntei, passando o dedo em meu rosto e retirando o fondue, colocando o mesmo na boca. 
- Eu tenho direito a remake? Ah, então não vou querer só o do chocolate, acredite! - a malícia de Joe era delíciosa. Era algo que fazia um calor gostoso envolver todo o meu corpo. Ele sabia o que dizer nas horas certas - e nas erradas também - e era isso que o tornava aquele ser tão... Irresístivel. A combinação cabelo bagunçado, fondue e malícia era a única que eu estava interessada em provar. 
Depois de um tempo, quando o filme e o fondue já tinham acabado, decidimos procurar algo para jogar. Eu não sabia o que diabos um UNO estava fazendo na mala de Joe, mas me empolguei e quase tive que obrigá-lo a jogar comigo. Jogamos por um tempo, mas eu era fera naquele jogo, e Joseph não se conformava. Depois de me ouvir gritar "UNO" umas sete vezes, ele jogou as cartas de sua mão para o alto, pegando as minhas e fazendo o mesmo. 
- Estraga prazeres! 
- Não, errado! Causa prazeres! - revirei os olhos. 
- O que vamos fazer? Tem algo que a gente pode jogar sem que você se sinta ofendido ao perder? - provoquei. 
- Que tal Eu nunca? - franzi o cenho e pensei por um instante. Eu tinha recordações não muito boas daquela brincadeira, mas as coisas estavam diferentes, certo? Jogar Eu nunca  com o meu marido poderia ser bem divertido! 
- Olha, eu até aceito, mas você já viu o frio que está fazendo? Eu não vou tirar a roupa e congelar com você. 
- Como se você fosse congelar comigo... 
- Tá bom, Senhor Malícia, mas escolhe outra coisa! 
Ele olhou ao redor com a expressão pensativa. 
- Já sei! Sem essa de tirar a roupa, beber ou qualquer outra coisa... Vamos apenas contar coisas absurdas que já fizemos e pronto. Você começa! 
- Ok... - concordei com a cabeça, colocando a mão no queixo e mergulhando em memórias. O que eu poderia contar? Joe era meu marido, eu não tinha muitas experiências excitantes escondidas dele. Flashbacks da época da faculdade vieram em minha mente e eu não conseguia permacener séria quando aquilo acontecia. Quem nunca viveu algo maluco durante a faculdade? - Uma vez... - comecei. - quando eu estava no segundo ano da faculdade, eu namorava um cara - Joe ficou tenso com aquela revelação, me divertindo. - E ele tinha uma irmã gêmea. E, sei lá, de um jeito bizarro eles eram mais parecidos que o recomendado. Uma noite, depois de uma festa - levantei um dedo - e você sabe como são festas de faculdade... - ele concordou, rindo. - Eu bebi tanto que confundi os dois e acabei beijando ela! - eu disse alto, colocando as mãos na cabeça e fingindo um tom de desespero na voz. Joe arregalou os olhos e sua boca abriu lentamente. 
- Wow! 
- E tem mais... - fechei a boca em linha reta e tentei não rir. - Ele viu! E ficou com ciúmes, achou que eu estava trocando ele pela irmã! - Joe teve um ataque de riso e deitou na cama, balançando a cabeça negativamente. 
- Eu queria ter conhecido você na faculdade! - ele disse, me olhando nos olhos. 
- Ah, não queria não... Sabe, eu era um pouco descontrolada. Ok, eu não era descontrolada, mas acabava bebendo mais que o recomendado nas festas e... Uh, sempre acontecia algo que me fazia sentir vergonha no dia seguinte. É até um pouco desconfortável lembrar de certas coisas... 
- Não são memórias ruins, você não precisa sentir vergonha. Se eu tivesse passado por algo assim, me divertiria lembrando e contando. - por um momento, seu semblante ficou sério, como se ele nunca tivesse vivenciado momentos divertidos no passado. Fiquei séria também e levei minha mão até sua coxa, apertando brevemente e atraindo sua atenção de volta para mim. 
- Sua vez! - a expressão divertida dele voltou. 
- Eu não sei porque nunca te contei isso, mas já fui preso em Las Vegas... - gargalhei, achando aquilo totalmente clichê e excitante. - É, você deve estar pensando o quanto isso é clichê, mas foi legal! E eu fiquei na cadeia só uma noite... - rimos. 
- Posso perguntar o que você fez para ser preso? 
- Digamos que eu também era amigo do alcool, então, em um cassino, o único jeito que eu achei de comemorar por ter ganhado dinheiro foi tirar a roupa... 
- Você foi preso por isso? - eu disse alto, juntando as palmas das mãos. Que cena absurda deveria ter sido! 
- Imagine um cara que tinha acabado de sair da puberdade, bêbado e em Las Vegas... - ele torceu os lábios e suspirou, dando de ombros. 
- Todos tem seus podres. 
Ficamos conversando e contando situações bizarras um para o outro, até que Joe resolveu ir tomar um banho. Fiquei jogada na cama, zapeando pelos canais a procura de algum filme bom. Mas nada parecia me agradar, já que, pelo horário, vários canais estavam exibindo filme de terror ou filme porno. Quando percebi que Joe estava prestes a sair do banheiro, sentindo aquele cheiro gostoso de banho, apaguei a luz pelo abajur e me escondi atrás da cama, querendo surpreendê-lo. Minha criança interior estava mandando lembranças. Quando ele saiu do banheiro, provavelmente estranhando aquela escuridão, eu o surpreendi e bati o travesseiro contra seu corpo. Ele soltou um som de surpresa com a boca e tentou me pegar pela cintura, mas eu subi na cama e repeti o movimento, bagunçando seu cabelo molhado. O cheiro que emanava do seu corpo era maravilhoso. Soltei risinhos nervosos quando ele também subiu na cama e pegou um travesseiro, começando a guerra. Sim, nós éramos duas crianças. Mas quem se importava? Não falam tanto de aproveitar as pequenas coisas? Que momentos como aquele eram os que a gente deveria sempre aproveitar e procurar repetir? Qual era o problema? Estávamos tentando colocar a felicidade acima do medo. 
Quando o travesseiro de Joe me acertou de novo, joguei meu corpo na cama e gemi de dor. Estava fingindo, é claro. 
- Você me machucou! - eu disse, segurando um dos ombros com a mão e encenando uma cara de dor. Ele me olhou sem entender e ficou de joelhos na cama, puxando meu corpo para cima. - E só vai sarar com massagem! - pisquei os olhos diversas vezes fazendo charme e ele riu, me deitando de bruços e começando a passar as mãos decididas pelas minhas costas. 
- Você poderia ter pedido massagem de um jeito mais sexy, Demi. 
- Vai logo! - ordenei e fechei os olhos, esperando que os toques começassem. Joseph sabia fazer massagem! Eu não sabia com quem ele tinha aprendido a fazer aquelas coisas, mas também nem queria questionar. Aproveitar era melhor. Ele tocava os lugares certos, fazendo pressão em meus músculos e me fazendo soltar gemidos agoniados. - Por que tão tensa, senhora Jonas? 
Preferi não responder. 
Ele continuou com a massagem - que poderia ter sido melhor se aquele casaco maldito não estivesse cobrindo minha pele - e depois pediu que eu fizesse nele também, mas eu não sabia fazer do jeito que ele sabia. Tentei tocar os lugares certos e provocá-lo também. Estava mais para um amasso do que para uma massagem. O que eu sabia massagear bem era sua língua, com a minha. 
Estava tarde, já estávamos cansados. Tomei um breve banho e voltei para a cama, deixando Joseph me envolver em seus braços. Virei o corpo de lado e ele seguiu meus movimentos, passando o braço por minha cintura e o deixando um pouco abaixo da região do meu busto. 
- Conchinha, Joe? - perguntei em um tom divertido. 
- É, eu sei, sou um idiota por querer dormir de conchinha com a mulher que acertou um travesseiro na minha cara, mas a vida é assim mesmo... - ele se aconchegou melhor e nossos corpos se encaixaram, o sono não demoraria a vir. 
Porém, um barulho nos obrigou a desfazer aquela posição. 
Era o celular de Joe. 
Ele se mexeu desconfortável e soltou meu corpo, percebi que tinha deixado a cama e estava procurando pelo aparelho. Fiquei do mesmo jeito, apenas esperando que ele voltasse e me abraçasse. 
- É o Caleb... - escutei sua voz dizer em tom baixo e virei o resto para olhá-lo, a luz do celular iluminava seu rosto. Ele atendeu e, por alguns segundos, o silêncio tomou conta do quarto. - O quê? - sua tom de voz ficou mais baixo ainda e ele veio para perto da cama, se sentando na mesma e ficando de costas para mim. - Você não está falando sério... - começando a ficar preocupada, levantei e fui para perto de Joseph, tentando descobrir o que estava acontecendo. Acendi a luz e me assustei ao ver a expressão em seu rosto. Estava pálido. - Nós estamos voltando! - ele disse por fim e desligou o celular, encarando o nada e largando o aparelho na cama. Senti minhas mãos suarem frio. 
Joe, o que houve? - pedi impaciente e ele levantou o rosto para me olhar. Sua boca estava entreaberta e os olhos pareciam confusos. - Pelo amor de Deus, o que houve? 
Um som de lamento saiu pela boca de Joe e ele passou as mãos nervosas pelos cabelos, tentando obrigar o ar a entrar em seus pulmões. Eu estava em pé, de frente para ele, ficando cada vez mais nervosa. O que estava acontecendo? Ele levantou e segurou meu rosto com uma das mãos e seus olhos brilhavam. O típico brilho quando lágrimas começam a se formar. 
- Jared... - ele disse inseguro, tentando medir as palavras. - Jared está morto. 
Meu coração acelerou, meu corpo pareceu ficar extremamente pesado e meus olhos se arregalaram. 
- Isso... Isso é algum tipo de brincadeira, certo? O Caleb estava brincando, não é? Vocês estão tentando me assustar, é isso! - eu dizia tudo rápido demais, não conseguindo controlar o nervosismo. De repente, Cassie veio em minha mente e eu senti aquele aperto no peito aumentar, com lágrimas que já começavam a querer descer pelo meu rosto. - Diz que não passa de uma brincadeira, por favor! - pedi, deixando que as primeiras lágrimas começassem a cair. Joe me abraçou com força e depois soltou um longo suspiro. - O que aconteceu? 
- Ele não disse, mal conseguia falar... - ele me soltou e começou a andar pelo quarto. - Temos que voltar para Londres, Demetria, nós... 
- Eu sei, eu sei! - atordoada demais, não sabendo se aquilo era real ou não, obriguei meu corpo a se mover e comecei a pegar tudo que me pertencia naquele quarto, abrindo a mala e jogando as coisas de qualquer jeito. Eu estava em choque, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não podia acreditar que meu melhor amigo estava morto. E, pior, não podia acreditar que o namorado que minha amiga tanto amava estava morto. Foi como se a escuridão tivesse coberto toda aquela felicidade que tentavamos sentir naquela lua de mel. De repente, fugir não surtia mais efeito. Não importava o lugar onde estávamos, a escuridão nos perseguia com astúcia. Ela nos encontraria em qualquer lugar, nunca escaparíamos de tudo aquilo. 
Joe não me disse mais nada, apenas vestiu um casaco por cima da roupa que estava usando o tratou de arrumar rapidamente sua mala. Saímos as pressas do quarto do hotel e descemos pelo elevador, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Parecia um sonho, porque agíamos mesmo quando não queríamos, nossos corpos pareciam se movimentar sem o nosso controle. Logo, depois de um processo que pareceu durar uma eternidade, Joseph pegou o carro e nós saímos do hotel. Passar mais de cinco horas dentro daquele carro seria pior que o inferno. A agonia só aumentava dentro do meu peito e eu não conseguia me acalmar, não conseguia impedir que aquelas lágrimas solitárias corressem pela minha bochecha. A situação de Joseph só piorava tudo, porque ele tinha os olhos vidrados e não abria a boca para nada. Se não fosse pelo movimento de suas mãos e dos globos oculares, eu poderia dizer que ele mal estava respirando. Não podia ser verdade, aquilo não podia estar acontecendo. Jared McDowell não podia estar morto. Sua imagem sorridente e extremamente viva veio em minha mente e eu só consegui chorar de um jeito mais desesperado. Algumas pessoas parecem tão vivas... Parecem tão vivas que você até chega a cogitar a hipótese delas serem imortais. Era assim com Jared, ele era tão... Alegre! É claro que andava extremamente esquisito há um tempo, mas, mesmo assim, continuava com aquela estranha alegria envolvendo seu corpo. Eu queria acordar, queria acordar com Joseph beijando minha pele e dizendo que tudo estava bem, que eu estava apenas tendo um pesadelo. Quando tudo aquilo ia parar? 
Quem estávamos tentando enganar? Já deveríamos até estar acostumados com aquela escuridão que inundava nossas vidas. Um momento feliz era a oportunidade para a tragédia se apresentar diante dos nossos olhos. Não podíamos nos mostrar felizes por um segundo e, de um jeito catastrófico, algo acontecia e nos colocava para baixo. Era como ter o corpo jogado violentamente para várias direções, enquanto eu não podia fazer mais nada a não ser aguentar a dor e esperar pela escuridão. Eu não gostava de pensar daquela maneira, mas talvez as coisas não fossem tão cruéis se eu estivesse morta. Algo dentro de mim dizia que tudo era minha culpa. Masoquista, muito masoquista, mas eu não conseguia evitar aquele sentimento. E algo me dizia também que a morte de Jared não fora algo acidental. Apesar de não ter noção alguma do que tinha matado meu amigo, eu conseguia sentir que aquilo tinha sido feito de propósito. 
- Tente dormir um pouco. - escutei a voz de Joe como se estivesse distante e então olhei seu rosto. A estrada estava escuro e parecíamos os únicos por ali. Ele tentou sorrir e me passar confiança, mas eu sabia que ele estava tão destroçado quanto eu com tudo aquilo. Ele e Jared tinham uma amizade muito grande, e eram sócios. Joseph estava se sentindo perdido, porque Jared fora um dos poucos amigos verdadeiros que tivera na vida. 
Eu ainda tinha esperança de estar tendo um pesadelo, então encostei minha cabeça no banco confortável do carro e fechei os olhos, criando a ilusão de que conseguiria acordar se fizesse aquilo. Minhas palpebras ficaram pesadas e a escuridão confortável veio. 

Senti uma dor latejante na cabeça e tentei abrir os olhos, mesmo sabendo que aquilo seria uma tarefa complicada. Depois de acostumar minha vista com a pouca claridade do carro, percebi que algo estava diferente. A atmosfera era fria, mas não aquele frio que eu estava acostumada... Era algo agonizante, era o frio da morte. Desesperada, virei o rosto para o lado e um grito saiu pela minha garganta quando reconheci a motorista. Era ela, Erin Fields. Os cabelos loiros, exatamente como na foto, estavam bagunçados e cobrindo um pouco seus olhos. No corpo, ela tinha um vestido branco sujo de terra. Estava sem os óculos e os olhos claros estavam fixos na estrada escura e coberta de névoa. Tentei dizer alguma coisa, mas as palavras não saiam, eu mal conseguia me mexer. Erin virou o pescoço e olhou para mim como se pedisse ajuda. Novamente eu tentei falar, mas parecia ter algo tampando minha garganta. Uma falta de ar súbita veio e então a garota loira ao meu lado começou a chorar de desespero.
- Você precisa fazer isso parar! - ela disse rápido e eu percebi que sua voz - apesar de estar carregada pelo desespero - era angelical. - NÃO PODE DEIXAR QUE FAÇAM ISSO COM ELE! - a garota berrou, fazendo meus ouvidos doerem, mas eu não conseguia mexer minhas mãos e tentar tampá-los. Violentamente ele freou o carro e continuou a chorar, desviando o olhar de mim para as próprias mãos, que estavam feridas e sangrando.
- Você... - me esforcei ao máximo e tentei dizer algo a ela, mas a mesma me cortou.
- Não foi ele! - seu corpo se aproximou e ela segurou meu rosto com as mãos. Seus dedos eram tão gelados que ela poderia congelar minha pele a qualquer momento. - NÃO FOI ELE! - repentiu, só que mais alto. A olhei confusa e Erin soltou meu rosto, voltando a posição de antes. - Ajude-o, isso não é justo... Não foi ele... - ele dizia mais para si mesma do que para mim. Em seguida, seu corpo pareceu paralizar-se, e ela desapareceu, deixando apenas seus ossos no banco do carro. Tentei desesperadamente abrir a porta...
 


Demetria? Demetria? Acorda! - abri os olhos assustada e encarei Joseph, que tinha as mãos em meus ombros e tentava a todo custo me acordar. Com a respiração acelerada, olhei o banco de trás do carro e percebi que nós dois éramos os únicos ali. Tinha sido apenas um sonho. 
Mas só aquilo tinha sido um sonho, porque o resto... Continuava a ser a cruel realidade. 
Sentindo a cabeça pesada, encarei o rosto de Joe; olheiras intensas repousavam embaixo de seus olhos e ele parecia estar muito cansado. Através da janela do carro, observei o crepúsculo no céu. 
- Onde estamos? - perguntei com a voz preguiçossa, pensando no sonho que eu tinha acabado de ter. 
- Em Londres. - ele disse. - Quase chegando na casa de Cassie... Caleb me ligou de novo enquanto você dormia e disse que eles foram para lá. 
- Eles quem? 
- Cassie, Caleb e Rachel. - com um esforço, consegui ter uma ideia do que poderia ter acontecido no dia anterior. Caleb tinha nos dado ingressos para um show da banda 30 Seconds To Mars, e seria exatamente naquela data. Será que eles tinham ido todos juntos naquele show? A vontade de chorar voltou quando identifiquei a rua onde Cassie morava, mas eu engoli as lágrimas. Precisava estar forte por ela. Nossa amizade andava abalada, mas naquele momento ela precisava de mim, eu tinha certeza. 

(n/a: Coloque Teardrop do Massive Attack para tocar!)

Desci do carro e levantei o olhar para encarar a casa de minha amiga. Tentei ignorar aquele frio insano e caminhei pelo pequeno jardim, até a porta. Joe veio logo atrás e eu toquei a campainha, me preparando para o que estava nos esperando lá dentro. 
A porta se abriu, revelando uma Rachel com os olhos inchados e mãos trêmulas. Ao nos ver na porta, ela soluçou e abraçou meu corpo, deixando que as lágrimas caíssem e molhassem minha blusa. Correndi seu abraço, levantando o rosto e encontrando Caleb sentado no sofá, estava sem os óculos e as olheiras eram piores que as de Joseph. 
Trocamos um olhar confuso por alguns segundos e eu desviei, não querendo dar oportunidade para ele tocar no assunto da Erin. 
- Foi horrível! - Rachel resmungou e soltou meu corpo. - Ele me atacou! Se não fosse pelo Caleb, eu não sei o que teria acontecido comigo... - entramos completamente na casa e a atmosfera era pesada. Olhei ao redor e percebi que Cassie só podia estar em seu quarto. Deixei que Joseph ficasse por ali e, trocando outro olhar carregado com Caleb, subi correndo as escadas. Limpei os vestígios de lágrimas em meu rosto e caminhei pelo corredor escuro. Segurei a maçaneta da porta do quarto de Cassie e respirei fundo, adentrando o cômodo e dando de cara com a escuridão. Uma claridade insignicante vinda da janela não era o suficiente para iluminar todo o ambiente. Percebi um corpo deitado encolhido em um dos lados da cama e depositei o peso do meu corpo sobre o outro lado, tentando chamar a atenção de Cassie, mas ela não moveu nenhum músculo. Observei o leve brilho de seus cabelos loiros e identifiquei uma foto amassada e jogada perto do corpo dela. Peguei a mesma e senti meu coração apertar. Ela e Jared sorriam e o plano de fundo era uma praia. Eu tinha uma foto parecida com aquela, só que estava com Joseph. Tinha sido durante férias que passamos juntos. 
- Se não quiser conversar comigo agora, tudo bem, mas vou ficar aqui até que você mude de ideia, ok? - eu disse convicta e ela se mexeu minimamente, virando um pouquinho o corpo e ficando do mesmo jeito que eu: com a cabeça encostada e pernas dobradas. 
O silêncio continuou por alguns mínutos e meus olhos estavam ardendo, mas eu não queria chorar na frente dela. Minha cabeça estava a mil, eu ainda não sabia o que tinha acontecido realmente com Jared e vê-la naquele estado tão deplorável só piorava a situação. Manti a foto dos dois em minhas mãos, ficando imóvel e em silêncio, esperando que ela resolvesse dizer alguma coisa. 
Para minha surpresa, Cassie se mexeu novamente e veio para mais perto de mim. 
- Eu perdi ele... - sua face confusa e pálida foi tomada pela dor, e lágrimas grossas desciam desempedidas pelo seu rosto. - Eu perdi ele, Demetria! - Cassie encostou a cabeça em meu ombro e eu a abracei de lado, tentando dar algum conforto. Estava tão debilitada. Deixei que ela escorregasse e se aconchegasse em meu colo, enquanto eu afagava seu cabelo. Decidi ficar quieta e apenas ouvir o que ela tinha a dizer. - Eu aceitaria vê-lo andando por ai, longe de mim... Aceitaria que ele não pertencesse mais a mim, mas isso? - ela soluçou mais alto e eu continuei com o carinho em sua cabeça, me desesperando. - Perdi ele de todos os jeitos possíveis. O máximo que vou poder ter dele é o cheiro nas roupas e deitar do lado que ele dormia quando ficava aqui, porque sempre vai ter o cheiro dele. Só isso! - as lágrimas vinham tão violentas que Cassie não conseguia respirar direito, ofegando com frequência. - E não me deixaram ver ele, não deixaram eu vou o amor da minha vida,Demi! - levantou o tronco e me abraçou com força. Passei meus braços por seus ombros e tentei dizer palavras que a acalmassem um pouco. 
- Você não está sozinha, Cass. Nunca vai estar, pode ter certeza. 
- Me desculpe pelo que eu te disse na festa... Eu não queria, só estava desesperada... Mas de que adiantou, não é? Eu perdi ele! - ela repetiu aquilo mais uma vez, como se não conseguisse acreditar e quisesse que alguém olhasse em seus olhos e lhe dissesse que estava louca, porque Jared não estava morto, e logo voltaria para os braços dela. Eu queria que as coisas fossem daquele jeito. 
- Já passou, já passou... Eu estou aqui! Sei que não posso fazer nada para diminuir essa dor, porque eu também consigo senti-la, mas não vou sair de perto de você. E o Jared também não vai, mesmo que ele não possa ficar aqui do jeito que nós queremos. - já um pouco mais calma, com a respiração se estabilizando e as lágrimas dando uma trégua, ela se soltou de mim e voltou a deitar do jeito que estava antes. 
- Esse era o lado que ele dormia... - disse baixinho. - Droga, esses enjôos não passam! 
- Enjôos? - perguntei, olhando séria para ela. Cassie apenas concordou com a cabeça e engoliu em seco. Pronto, outra preocupação se apossou de minha mente. Levantei com cuidado e calcei meus sapatos. - Vou procurar algo para você tentar comer, não pode ficar de estômago vazio. Volto logo! 

Encostei a porta com cuidado e caminhei pelo corredor, descendo as escadas rapidamente e dando de cara com Joseph e Caleb na sala. Rachel não estava com eles, provavelmente estava no quarto na cozinha. 
Encarei os dois, percebendo que ambos estavam totalmente acabados. Joe me olhou com preocupação e depois encostou a cabeça no sofá, fechando os olhos e tentando descansar pelo menos por um tempinho. Caleb me olhou também e eu não sabia definir bem o que aquela expressão queria dizer. Sentia que ele estava bravo por eu ter me afastado, mas também estava extremamente triste com tudo que tinha acontecido. Problemas demais, problemas demais. 
- O que diabos aconteceu? - perguntei alto, fazendo Joseph abrir os olhos e voltar a me encarar. Caleb se ajeitou no sofá e, ainda sem os óculos, encostou os cotovelos nos joelhos e encarou o chão, soltando um longo suspiro. 
- Eu estava contando para o Joseph... Estávamos no show e a Cassie passou mal. Descemos e Rachel foi comprar água, enquanto Jared foi ao banheiro e Tyler ficou com Cassie. Minha irmã estava demorando muito, então eu fui atrás dela, encontrando a mesma jogada no chão. Tinha sido atacada por alguém... - sentei no sofá ao lado de Joe e ele segurou minha mão. - A ajudei a levantar e começamos a caminhar, foi então que eu ouvi aqueles gritos... Um segurança se aproximou e correu na direção do som estridente. Era um grito de mulher. Voltei para o lugar onde Tyler e Cassie estavam, mas não os encontrei... - ele tomou fôlego e massageou o pescoço, tentando se lembrar claramente de todos os fatos. - Ajudei Rachel a se sentar e corri na direção que o segurança também tinha corrido. Nisso, Tyler veio correndo também e disse que tinha levado Cassie até o carro, porque ela estava passando mal de novo e não queria ficar lá dentro do estádio. Pedi que ele fosse cuidar da Rachel e continuei a correr, seguindo o segurança... De repente, tudo virou um pesadelo. O lugar vazio se tornou cheio e a polícia chegou... Eu entrei no banheiro e me assustei quando vi aquela cena. Ele estava morto! Nosso amigo estava morto... Tinham cortado a garganta dele... E eu não acreditei quando vi que a Bethany estava lá também. 
- BETHANY? - eu praticamente gritei, olhando na direção do quarto de Cassie e me arrependendo. Joseph passou o braço pelos meus ombros e tentou me acalmar. - Porra, o que a Bethany fazia lá? - diminui o tom de voz. 
- Foram assaltantes, Demetria. Eles queriam roubar a bolsa dela e a lavaram naquele banheiro, na intenção de fazer outras coisas... O Jared deve ter ouvido ou visto e correu para ajudar. Não atacaram só ele, ela estava com cortes nos braços e no rosto... Totalmente descontrolada! Foi um pesadelo, eu nunca tinha passado por uma situação como aquela... 
- E ninguém tem pistas desses assaltantes? - Joseph perguntou. 
- Eu liguei para o meu pai há umas duas horas e ele disse que encontraram um carro abandonado a alguns quilometros do Wembley. E dentro do carro tinha uma máscara preta, exatamente como Bethany mencionou. Mas verificaram e o dono da placa está morto há anos... Confuso, eu sei. 
- E onde o seu pai está agora? - perguntei, tentando absorver tudo aquilo. 
- Não faço ideia... - Caleb puxou os cabelos para trás e bufou. - É demais para mim, é demais... Sinto que vou enloquecer a qualquer momento! - ao dizer isso, ele olhou para mim com o mesmo olhar de antes, me deixando aflita mais uma vez. Me livrei das mãos de Joseph e levantei do sofá, andando de um lado para o outro. 
- E agora? Onde está o corpo do Jared? Avisaram a família dele? 
- Eles iam fazer a perícia... E avisamos a família sim, é a mãe dele que vai cuidar do funeral. 
Eu sentia, mais forte do que nunca, que o assassino de Jared estava mais perto do que qualquer um ali poderia imaginar. De algum jeito, eu sabia que Bethany não estava naquele banheiro por acaso.
O nome do ser veio em minha mente, e calafrios percorreram meu corpo só de imaginar do que ele seria capaz. 


(n/a: Coloque Angel da Sarah McLachlan para tocar!)

Spend all your time waiting for that second chance
For a break that would make it okay
There's always some reason to feel not good enough
And it's hard at the end of the day, I need some distraction.
Oh beautiful release
Memories seep from my veins, let me be empty
Oh and weightless and maybe I'll find some peace tonight.


Coloquei um casaco por cima do vestido preto, ajeitando os botões e arrumando a meia calça. Prendi meu cabelo em um coque bem firme e caminhei até o espelho do quarto, me olhando dos pés a cabeça. Meu rosto estava totalmente sem maquiagem, eu não queria esconder a dor que transparecia. Estava uma manhã fria e sem sol e o vento fazia questão de ser cortante, provocando um barulho alto na janela. Fechei os olhos por um momento e suspirei, os abrindo em seguida e olhando para várias fotos que estavam em porta-retratos. Em uma delas, eu estava com Jared, apenas com ele. Eu me lembrava bem do dia em que aquela foto fora tirada... 

Flashback 

Estava ficando impaciente com todos aqueles mimos, sem contar que ficar naquela cama dia e noite me tirava do sério. Ok, meu corpo ainda estava dolorido, principalmente na região abaixo da costela, mas eu não era uma garotinha, tinha forças para levantar e fazer minhas coisas. Mas minha mãe não queria saber, fez questão de se mudar para minha casa por algumas semanas e cuidar devidamente de mim. Quinze dias tinham se passado desde o dia em que eu tinha acordado naquele hospital em Los Angeles. Todas as memórias ainda eram frescas, mas eu não me deixava abalar ao pensar em tudo. Estávamos livres de todo aquele inferno, as coisas já estavam começando a mudar. Joseph viria me visitar mais tarde, então eu não tinha absolutamente nada para fazer. Peter tinha ido comprar algumas coisas, enquanto minha mãe se mantinha presa na cozinha preparando coisas para que eu comesse. 
Uma batida na porta chamou minha atenção e, sentindo uma leve dor, levantei meu tronco e fiquei sentada na cama. Gritei que a porta estava aperta e então Jared apareceu. Ele entrou timido no quarto e deu um sorrisinho de canto, colocando um urso com flores em cima de minha penteadeira, depois foi até minha cama. Se sentou na mesma e depositou um beijo em minha bochecha. 
- Como você está? - perguntou-me de um jeito terno. 
- É difícil dizer... Não deixam que eu movimente o corpo! - eu disse de mau humor e ele riu levemente, olhando ao redor do quarto. Era estranho vê-lo dentro da minha casa depois de tudo que tínhamos passado juntos. Quando vi Jared pela primeira vez, desejei que ele morresse, desejei que ele ficasse longe de mim. Mas, depois de conhecer melhor a pessoa que ele era, tive certeza de que o queria como um amigo. Queria ele na minha vida. 
- Pare de reclamar e aproveite os mimos! Sério, Demetria, estão te tratando como um rainha. 
- É um tédio. - ele riu de novo, revelando seus dentes extremamente brancos. 
- O importante é que tudo acabou bem, certo? Podemos nos considerar super heróis agora! 
- Super heróis? - levantei uma sobrancelha. - Quantos anos você tem? Sete? 
- Somos super heróis e pronto, Demi. 
Tentei protestar, mas Jared mandou que eu calasse a boca e, cuidadosamente, abraçou meu corpo por um tempo. Correspondi e tive a certeza de que tudo estava bem.

Fim do flashback

Joseph colocou as mãos nos meus ombros, fazendo um leve carinho com os dedos. Virei o corpo e o olhei nos olhos, percebendo que estava em um estado muito parecido com o meu. Sentindo uma lágrima solitária e quente parar em minha bochecha, alisei seu terno preto e ajeitei a gravata para ele. Joseph levou uma das mãos até o meu rosto e limpou a lágrima, balançando a cabeça positivamente e segurando minha mão. Saímos do quarto e descemos as escadas, caminhando até o carro. 
Não seria um dia fácil.

In the arms of the angel, fly away from here
From this dark cold hotel room and the endlessness that you feel
You are pulled from the wreckage of your silent reverie
You're in the arms of the angel
Maybe you find some comfort here.


Um sol tímido estava no céu quando chegamos ao cemitério. O relógio em meu pulso marcava nove horas da manhã em ponto. Joseph saiu do carro e deu a volta no mesmo, abrindo a porta para mim. Por estar com um salto levemente alto, segurei sua mão e ele me ajudou a sair do veículo. Já conseguia ver a movimentação no lugar; vários carros chegando e pessoas circulando por ali. Caminhamos pelo caminho emoldurado com grama e flores e, ao longe, eu já conseguia avistar a capela onde Jared estava sendo velado. Percebendo que eu estava prestes a chorar de novo, Joe me abraçou pela cintura e deu um beijo terno em minha testa. Ele estava com óculos escuros. Eu não fazia questão de andar rápido, em alguma parte do meu ser, ainda existia a esperança de tudo aquilo ser um sonho, mas por que eu estava demorando tanto para acordar? 
A capela era toda pintada de branco, com estátuas de anjos ao redor. Subimos as pequenas escadas da mesma ainda abraçados. A enorme porta de madeira estava aberta, e vários cheiros diferentes prenetraram minha narinas: perfumes diversos, flores e velas. 
Quando adentramos o local, demos de cara com Caleb, que estava saindo da capela. Ele nos cumprimentou com um aceno de cabeça e ajeitou a gravata de seu terno preto, passando por nós. A maioria dos bancos já estavam ocupados por familiares e amigos de Jared. Joseph parou em um dos bancos para falar com alguns colegas de trabalho e eu continuei a andar. Todos estavam vestidos de preto e o silêncio pairava. Avistei a mãe de Jared, Claire, parada de frente para um caixão escuro com detalhes dourados. Lágrimas saiam de seus olhos e ela acariciava os cabelos do filho. Na primeira fileira de bancos, estavam Cassie e Rachel. Fui até ambas e as abracei, me demorando mais com Cassie. Ela estava totalmente acabada. Nem de longe parecia a amiga vaidosa que eu tinha conhecido; seus cabelos estavam presos e ele usava um vestido preto de mangas compridas, solto ao corpo. Quando percebi que Claire estava se afastando do caixão, Joseph me alcançou e foi falar com Cassie. Não consegui escutar o que ele disse a ela, mas sorri aliviada quando um sorriso quase que inperceptível seguido por um risinho saiu dos lábios da loira. Levantei-me e fui até o caixão; flores estavam ao redor, em sua maioria rosas brancas e uma pequena homenagem a ele estava montada ao lado, com fotografias e alguns pertences. Abaixei o olhar e encarei o rosto sereno de meu amigo. 

So tired of the straight line and everywhere you turn
There's vultures and thieves at your back. And the storm keeps on twisting
You keep on building the lies that you make up for all that you lack
It don't make no difference, escaping one last time
It's easier to believe in this sweet madness
This glorious sadness that brings me to my knees.


Nem a morte seria capaz de arrancar a beleza daquele ser. Lindo, parecia um anjo; estava com um terno preto, a gravata perfeitamente arrumada junto a gola da camisa branca cobria metade de seu pescoço, impedindo que o motivo de sua morte fosse revelado. As mãos entrelaçadas repousavam sobre seu abdomen, os cabelos loiros estavam penteados para trás. O rosto de Jared era tão leve que ele parecia estar dormindo, um sono tranquilo... E eterno. Antes que eu pudesse me dar conta, já estava chorando. Era impossível me conformar com aquilo, ele não merecia ter aquele final! 
Passei as costas de minha mão por sua bochecha, sentindo o quanto fria sua pele estava. 
Somos super heróis... - eu sussurrei, deixando de tocar sua pele e olhando seu rosto por uma última vez. Me despedi para sempre. 
Depois de um tempo, enquanto outras pessoas iam chegando, Cassie pediu que fossemos dar uma volta pelo cemitério. Ela se certificou de que a mãe de Jared estava bem e me puxou pela mão, a segurando e me conduzindo até a saída da capela. Caminhamos em silêncio pelos túmulos extremamente bem cuidados e envoltos pela natureza; a sombra das árvores nos protegia do leve sol. O rosto de Cass estava inchado e não existia brilho algum em seus olhos; não chorava, mas parecia tão sem vida como qualquer pessoa que estava abaixo daquelas terras. Ainda em silêncio, Cassie soltou minha mão e caminhou na minha frente por um dos corredores de lápides, abraçando os próprios braços. 
Demi... - ela me chamou, acordando-me de diversos pensamentos. - Você lembra quando eu disse que ia parar de me cuidar? - concordei com a cabeça, já tendo quase certeza do que ela queria me dizer. - Naquela época, eu já tinha parado. Não tinha certeza se daria certo ou não, então permaneci em silêncio. - enquanto falava, acariciava a região da barriga com os dedos. - Tempos depois, os sintomas começaram, eu estava certa de que tudo começaria a ser diferente. Não sabia ao certo quando ia contar ao Jared, mas me senti super feliz quando ele mudou o jeito de me tratar, ficou tão carinhoso... - ouvi um leve choro começar. - Até parece que ele sabia que ia morrer... Queria que eu guardasse a melhor lembrança possível. - afastei uma mecha de cabelo que, por causa do vento, caiu em seu rosto e deixei que ela repousasse a cabeça em meu ombro. - Eu estou grávida. 
- Você percebe como a vida faz de tudo para que a gente não desista? - seus olhos molhados e confusos me olharam, procurando por uma explicação melhor. - Cassie, o Jared vai continuar com você! Esse pedacinho de vida que começa a se desenvolver ai dentro é a prova mais forte disso. Essa criança é a prova do que vocês sentiam um pelo outro! Então, você pode lamentar pela morte, mas nunca se sinta fraca ou sozinha. Ele deixou um filho para curar suas feridas, Cassie! Um filho! - um vento leve passou por nós e ela sorriu levemente, voltando a acariciar a barriga. Limpei as lágrimas de seus olhos e sorri também. - Ele não sabia que seria pai, mas, onde quer que esteja agora, eu tenho certeza do quanto está feliz. 
- Você tem razão! Jared não se foi por completo, tenho um pedaço dele comigo. 

You're in the arms of the angel
Maybe you find some comfort here
You're in the arms of the angel
Maybe you find some comfort here.


Assistindo o caixão descer, enquanto algumas pessoas jogavam as rosas brancas. Conversei mentalmente com Jared. Eu sabia que de algum jeito ele poderia me escutar. O agradeci, agradeci por ter sido um dos melhores amigos que eu poderia ter tido na vida. Agradeci por sempre tentar levar a dor dos outros embora, por ser do jeito que era. Mesmo que andasse triste e tenso em seus últimos dias de vida, a alegria não deixava de fazer parte de seu ser. Onde quer que ele estivesse, eu sabia que estava bem. Estava olhando por Cassie, pelo bebê que ela teria e por todas as pessoas que o amavam. Sua mãe poderia se orgulhar pelo resto da vida por ter tido um filho como aquele. Lembrava-me com clareza de quando Jared me contou o que o levou a trabalhar com Joseph em um passado que já não importava mais. Lembrava de que ele não queria ser quem era obrigado a ser, e buscava incontrolavelmente por uma saída. Por paz. Apesar de não ter tido a chance de uma vida feliz que merecia, ele estava em paz. Longe de todo o caos do mundo, longe das pessoas ruins que nós ainda teríamos que lutar contra. 
Quando a terra já cobria totalmente o caixão, o agradeci por uma última vez, prometendo-lhe justiça. Prometendo não deixar que nada de ruim acontecesse com sua namorada e seu filho. Éramos super heróis, e eu lutaria, lutaria com todas as minhas forças até o final. 
- Descanse em paz, meu amor. - ouvi Cassie sussurrar, jogando uma última rosa. 

/Demetria's P.O.V


Cameron caminhava cabisbaixo, estava extremamente preocupado com Demetria. Tentou ligar para ela várias vezes, mas a maldita caixa postal entregava que ela não queria atendê-lo. Bufou e apertou o passo quando percebeu que estava perto de sua casa. Um som de carro se aproximando o fez virar o pescoço e xingar mentalmente todos os palavrões possíveis. O veículo vermelho parou ao seu lado. Cam assistiu uma Bethany com curativos no rosto e no braço descer do mesmo e o olhar com uma expressão de pânico. Ele abriu a boca para perguntar o que tinha acontecido, mas foi pego de surpresa quando Carter também saiu do carro e veio em sua direção. Alguém podia fazer o favor de quebrar todos aqueles dentes. Desfazendo seu sorriso de escárnio, Carter olhou sério paraCameron e cruzou os braços.
- O que aconteceu com ela? - Wolfe perguntou, se referindo aos curativos de Bethany. 
- Consequências de um certo acontecimento... - Carter disse e depois riu. Bethany abaixou o olhar, não querendo encontrar o olhar reprovador de Cameron. Passou a mão sobre o curativo em seu rosto e se lembrou de Jared. Ia passar no cemitério mais tarde, mesmo que sua presença não fosse bem vinda... 
- Quê acontecimento, Carter? - Cameron elevou seu tom de voz e encarou Carter com os músculos tensos. 
- Eu matei o amiguinho da sua querida Demetria, só isso. - Stone disse, levantando os cantos dos lábios. Cam arregalou os olhos e olhou aflito para Bethany, que estava prestes a chorar. Uma preocupação insana tomou conta de seu corpo. E se Carter tivesse tentado fazer algo com Demetria, exatamente como tinha dito que faria? 
- Se você encostou nela... - ele rosnou, mas Carter balançou a mão, em um gesto que pedia para Cameron calar a boca. 
- Eu ainda não toquei na sua vadiazinha, meu amigo. Ela nem estava lá... 
Cameron saiu de perto de Carter e foi para o lado de Bethany, segurando o braço dela e olhando o ferimento. 
- Carter, quem você matou? - suas narinas inflaram, seus olhos escorriam fúria e Bethany puxou o braço com força quando percebeu que Wolfe estava começando a apertá-lo. 
- Era loiro, acho que seu nome era Jared... - Carter colocou o dedo no queixo, fez uma cara pensativa e depois riu. 
- Por que fez isso? 
- Eu estava com tédio, e precisava deixar claro que não estou brincando. - Carter fez um gesto com um mãos, como se quisesse dizer que aquilo era óbvio. Cameron respirou fundo e balançou a cabeça negativamente, decidindo se ia para cima daquele desgraçado ou não. As coisas estavam passando dos limites, ainda tinha que parar Carter. 
- Você vai parar com tudo isso agora, me ouviu? - Cameron disse com fúria, olhando Carter nos olhos. O mesmo ergueu as sobrancelhas e tombou a cabeça para um lado. 
- Pode dizer de novo? Eu acho que não entendi onde você quer chegar. 
- Você vai parar com toda essa porra, agora! - Bethany sentiu medo de Wolfe ao ouvi-lo soltar as palavras daquele jeito. 
- Eu vou? Só porque você quer? E quem é você? - Carter apontou para o amigo com deboche. - Vá foder sua querida Demetria e não se meta nos meus planos! 
Bethany tentou segurar Cameron, mas o mesmo já tinha acertado o punho em Carter, que não se mostrou fraco e repetiu o movimento, fazendo o outro cambalear para o lado. A ruiva olhou ao redor, procurando por ajuda, mas o maldito lugar estava deserto. Tentou entrar no meio daquela briga, mesmo sabendo das consequências e segurou com força os braços de Wolfe, o puxando para trás enquanto Carter ria. Seu supercílio sangrava. 
- Vai para o time dos mocinhos agora, Wolfe? 
- Em que mundo você vive? - Cam tentou se soltar de Bethany para ferir Carter novamente. - Isso não é um jogo, você não é um ser superior. Do mesmo jeito que mata, pode ser morto. Pare com isso, Carter! Você é doente, porque não é possível que enxergue o mundo do mesmo jeito que as outras pessoas. Não existem mocinhos ou vilões, ESTAMOS NA PORRA DO MUNDO REAL! ENTÃO, ACORDE PARA A PORRA DA REALIDADE! - ele gritou, fazendo o semblante de Carter mudar ao ouvir tudo aquilo. 
Abriu a boca para responder, mas ao mesmo tempo sentiu algo molhado e quente em suas mãos. Ergueu as mesmas e arregalou os olhos ao ver o sangue. Suas mãos estavam sujas de sangue. Bethany franziu o cenho e se perguntou o que Carter estava vendo de errado em suas mãos, elas estavam normais. Carter continuava com os olhos arregalados, tentando se livrar daquele sangue. Porém, quanto mais tentava limpar em sua roupa, mais estava se sujando. Seu corpo estava estranho, parecia pesado. Levantou o rosto e teve uma surpresa. Não foram os rostos de Bethany eCameron que ele viu. 
As duas figuras a sua frente eram loiras. Um homem e uma garota. A garota tinha os cabelos curtos e estava com um longo vestido preto; o homem estava com uma camisa branca suja de sangue, um corte profundo em sua garganta. 
Carter piscou os olhos diversas vezes e voltou a olhar para as mãos, percebendo que não estava mais sujas de sangue. 
- Carter? - o homem perguntou, fazendo Carter ranger os dentes e dar um passo para trás. Como era possível? Aquele homem estava morto! 
- Carter? - dessa vez foi a garota loira que o chamou, com uma expressão confusa. 
De repente, os dois sorriram. Eram sorrisos malígnos. 
Carter sentiu algo segurar seu corpo e fez força para se soltar, correndo na direção da garota. 
- Você está morta... - ele disse alto, pronto para empurrá-la e se livrar do homem. 
- CARTER, FICA LONGE DELA! - Cameron berrou, empurrando Carter pelo peito ao perceber que ele queria bater em Bethany. A ruiva recuou e encolheu o corpo, assustada. Carter colocou as mãos na cabeça e lançou um olhar suplicante para os dois a sua frente. A forma de Cameron e Bethany parecia mudar e eles se transformavam em Jared e Erin. Wolfe pediu que Bethany se afastasse e segurou Carter pela gola de sua camisa, abrigando o mesmo a voltar para a realidade. - Você precisa de uma camisa de força! - Wolfe disse, frio. Carter se soltou e deu a volta em seu carro, totalmente atordoado. 
- E você precisa tomar cuidado, Cameron. 
- Foi um grande erro me contar o que você fez, então não pense que vai se safar. Eu não precisa da sua ajuda, eu cansei de todo esse maldito jogo. Chegou a hora de parar! - Carter entrou em seu carro e bateu a porta com violência. Olhou para os dois por uma última vez e, com as mãos tremendo, girou a chave na ignição. 
- Isso nunca vai parar! Você vai se arrepender dolorosamente, meu amigo. - essas foram as últimas palavras de Carter antes de arrancar com o carro e sair cantando pneus. 
- Já estou mais do que arrependido por tudo isso. Por tudo! - Cam disse baixo, apenas para Bethany ouvir. Carter já estava longe. - E você, Bethany, não podia ter escolhido outra vida, não é? - ele olhou para a ruiva com reprovação, passando rápido por ela e entrou em sua casa, batendo a porta. 
Bethany foi a procura de um táxi. 


Demetria's P.O.V

A maioria das pessoas que estavam no funeral de Jared já tinham ido embora. Cassie se despediu dos que ainda estavam no cemitério e disse que depois queria falar comigo. Ela estava pensando em ir passar algum tempo com sua família em Bolton. Seria bom para ela. 
Caminhei mais rápido, com os olhos atentos e procurando por Joseph, mas o mesmo parecia ter sumido. Passei por um dos corredores de lápides e dei de cara com Caleb. Ele parou abruptamente de andar e me olhou firme. Bufei, já sabendo o que me aguardava. Por causa de toda aquela correria, não tivemos tempo de conversar sobre a infeliz descoberta. 
- Me desculpe por ter sumido, eu só... Eu disse que precisava de tempo. 
- Todos precisam de tempo, Demetria, olhe ao seu redor! Tanta coisa acontecendo... - enquanto Caleb falava, fitei um outro caminho do cemitério e não acreditei no que estava vendo. - Eu estou pirando! - fingi prestar atenção no que ele dizia e voltei a prestar atenção nos movimentos da mulher que se afastava do lugar onde estávamos. Eu não acreditava que ela tinha sido capaz de aparecer! 
- Olha, Caleb, eu sei que você quer achar uma solução para tudo, eu também quero! Mas eu não estou com cabeça agora. Vou achar o Joseph e ir para casa, prometo que conversamos depois. - não esperei que ele respondesse ou tentasse me impedir e corri na direção em que tinha visto Bethany. Ela andava lentamente por entre os túmulos e estava toda vestida de preto. Notei um curativo em seu rosto, exatamente como Caleb tinha mencionado. Me escondi atrás de uma árvore quando ela virou o corpo para trás e pareceu procurar por alguém. Com a raiva crescendo dentro de mim, continuei a segui-la e parei quando a mesma também parou, só que em frente a um túmulo. Fui me aproximando aos poucos, percebendo que ela nem notava minha presença. Se abaixou e colocou uma rosa junto a lápide, virando o rosto e se surpreendendo ao me ver. 
Demetria. 
- Como você tem coragem de vir até aqui? - ela se levantou e ajeitou os cabelos vermelhos, me olhando sem emoção alguma coisa. 
- Quer me impedir de trazer flores para minha mãe? - Bethany levantou uma sobrancelha e riu com escário. 
- Você acha que eu não sei o que está acontecendo, não é? Você não foi assaltada, Bethany. - eu disse convicta, imitando seu gesto e levantando uma sobrancelha. 
- Pena que você não pode provar nada. 
- Não sente nojo de si mesma? Será que, nem por um segundo, você não para e pensa no que está fazendo? Nos considerávamos você é uma amiga de verdade, Bethany. E o Caleb... Ele gostava muito de você, e eu sei que você também gostava dele. Bom, se é que aquele sentimento era verdadeiro... Se é que algo em você é verdadeiro. - apontei para seu cabelo e ela fechou a cara. 
- O que você queria que eu fizesse? Eu não tenho escolha. 
- Sim, você tem. Ficar bem longe de nós. É o melhor que pode fazer. - Bethany se aproximou e me olhou nos olhos, tentando me intimidar. Sem sucesso. Não fiz questão de acabar com nosso contato visual e cruzei os braços, sentindo o vento ficar mais forte. 
- Se você soubesse o que ele pensa em fazer com você... - senti um calafrio correr pelo meu corpo e engoli em seco. Sabia que ela estava se referindo ao Carter. - Eu tentaria me manter em segurança, Demetria. 
- Diga ao Carter para ele vir logo até mim, se é isso que ele realmente quer. Eu não tenho medo! 
- Você é boa em enganar os outros... - ela disse, desviando seu olhar dos meus olhos e encarando algo que estava atrás de nós. Um sorriso malvado surgiu em seus lábios e ela recuou um passo. - Olá, Joseph. 
Virei o corpo bruscamente para a direção que ela olhava e encontrei um Joseph que estava em dúvida se continuava a se aproximar ou não. Ele olhou friamente para Bethany e apertou o passo, chegando até onde estávamos. Abri a boca para dizer algo a ele, mas Bethany impediu, passando por mim e ficando de frente para ele. 
- Queria te dar os parabéns, Jonas. - ela disse, sorrindo de orelha a orelha. 
- Parabéns? - ele continuou a olhá-la daquele jeito frio, como se guardasse muito rancor. 
- Claro! Você é um ótimo marido, permite que Demetria afogue as mágoas nos braços de outras pessoas. - senti como se tivesse levado um choque. Minhas mãos suaram frio e meu coração acelerou. Como ela sabia? Como Cameron foi capaz de contar aquilo a alguém? Principalmente a ela! E, se Bethany sabia, Carter sabia também. Joseph continuou do mesmo jeito, imóvel. Mas, ao abaixar meu olhar, percebi que suas mãos estavam fechadas em punhos. Ele me olhou, porém, sentindo-me péssima, tudo que eu fiz foi desviar aquele olhar. Bethany sorriu novamente e se aproximou o máximo que pôde dele, tocando a gravata preta de Joseph e a puxando levemente, aproximando um pouco mais seus rostos. Eu poderia ter sentido um ciúmes doentio, mas estava mergulhada demais em arrependimento para mexer meu corpo e pará-la. - Cameron ficou muito feliz. - ela sussurrou, sua boca a poucos centimetros de distância da dele. 
Bethany virou o rosto para me encarar e sorriu sem mostrar os dentes, soltando a gravata de Joseph e caminhando para longe de nós. 
Meu estômago estava embrulhado, o choro estava entalado em minha garganta e eu simplesmente não conseguia olhar Joseph nos olhos. O vento cortante brincou com nossos cabelos, produzindo o único som no ambiente. 
Ouvi um respirar fundo e ele se afastou de mim. 
- É verdade? 
Joseph... - sua voz alta não permitiu que eu continuasse. 
- Eu perguntei se é verdade. - fechei os olhos ao sentir a frieza de suas palavras doer dentro de mim e encarei as lápides ao nosso lado. Tudo que eu conseguia desejar naquele momento era poder estar dentro de uma delas. Eu não podia perder a confiança dele, não podia perder uma das coisas mais valiosas que eu tinha. Sem a confiança daquele homem, o que eu faria? Não consegui evitar de sentir nojo de mim, de minhas fraquezas. Senti asco ao lembrar do que fui capaz de fazer quando não conseguia confiar e estava com medo de Joseph. Abracei meus braços e permaneci em silêncio, sabendo que minhas palavras só trariam mais feridas. 
Joseph balançou a cabeça positivivamente e recuou mais um passo, mas parou e virou o corpo para mim. 
- Vou entender seu silêncio como uma confirmação. 
Joseph, espera! - segurei seu braço, procurando por contato visual. Seus olhos verdes estavam apagados e tudo que ele fez foi olhar para minha mão segurando seu braço, como se pedisse em silêncio para que eu o soltasse. E foi o que eu fiz. 
- E você me diz para ter esperança, Demetria? - ele disse, derrotado. - Como eu posso ter esperança e acreditar que as coisas vão ficar bem, se a cada segundo eu estou mais perto de perder você? - dito isso, ele deu as costas para mim e se afastou, sumindo de vista. Coloquei a mão na região da costela, lembrando do tiro que atingira aquele lugar no passado. Eu poderia me arrepender amargamente por aqueles pensamentos, mas lamentar por aquele tiro não ter tirado minha vida foi ivevitável. 

If I could tear you from the ceiling
I know best have tried
I'd fill your every breath with meaning
And find a place we both could hide.

Don't go and leave me
And please don't drive me blind.

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