Image Map

sábado, 7 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 16


Furacão
(N/a: Coloque essa música para tocar quando a letra aparecer. E essa para ler a carta.)



Demetria's P.O.V

Joguei o celular com violência na parede ao perceber que a bateria tinha acabado. Eu não podia permitir que Joseph fizesse aquilo, precisa ir até ele de qualquer jeito. Sentindo a raiva pulsar dentro de mim, praticamente corri até o escritório da casa e procurei desesperadamente pelas chaves que seriam capazes de me colocar para dentro da empresa. Algo me dizia que Joseph estava lá. 
Quando as encontrei, fui até a porta e parei por um instante, permitindo que pensamentos corrompidos viessem em minha mente. Dei meia volta e com uma das chaves daquele molho eu abri uma gaveta, respirando fundo e segurando firme aquele objeto frio. Me certifiquei de que estava carregado e saí correndo do escritório, pegando meu sobretudo preto que estava jogado no sofá e o vesti de qualquer jeito. Coloquei as chaves em um bolso e o revolver em outro. 
Tudo que eu conseguia pensar era que estava prestes a perder Joseph. O medo de imaginar ele acabando com a própria vida obrigou meus pés a se movimentarem mais rápido na direção do carro. E, se daquele dia em diante, qualquer lampejo de felicidade fosse arrancando da minha vida? E se as coisas nunca mais fossem normais para mim? Será que Jared estava certo quando disse que talvez eu não tivesse nascido para levar uma vida normal? 
Girei a chave na ignição e senti o desespero crescer quando arranquei com o carro, totalmente descontrolada. 

Não me importei com a velocidade do carro, não me importei com os sinais vermelhos que foram ultrapassados, e nem com as pessoas que quase atropelei. Eu precisa ir mais rápido, eu precisava fazer alguma coisa, nem que fosse algo que mudaria totalmente o curso de tudo. Eu não queria chorar, não queria que alguém me abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem. Não queria ninguém cuidando de mim, tentando me proteger. Simplesmente não aguentava mais ser a vítima em tudo aquilo. 
Enfiei a mão no bolso do sobretudo e senti o objeto gelado entrar em contato com a pele de minha mão, fechando os olhos rapidamente e soltando o ar pesadamente. Se eu tivesse que fazer justiça com as próprias mãos, eu faria. 
Meus músculos começaram a doer de tensão e minhas mãos estavam prestes a quebrar o volante, devido a força que eu o segurava. Ignorei o frio, o embrulho no estômago e as mãos trêmulas. 

/Demetria's P.O.V


Carter pressionou ainda mais seu corpo contra o de Scarlett, fazendo a mulher soltar um gemido abafado e voltar a grudar seus lábios novamente. A língua esperta e áspera dele era capaz de provocar arrepios insanos no corpo dela, que envolveu o quadril dele com sua coxa. Os lábios de Carter desceram e deram um chupão destemido no queixo de Scarlett, a mesma fechou os olhos e segurou os cabelos da nuca dele com força. Olhou suas tatuagens por um instante e sentiu a excitação aumentar. 
Carter podia ser tudo que era, mas ela não conseguia resistir. Apesar de não nutrir sentimentos pelo homem de olhos verdes, e ter a certeza de que não pensaria duas vezes antes de atirar em sua cabeça, era impossível não sentir o corpo pegar foco com toda aquela provocação. Os olhos intensos e felinos de Carter a olharam com luxúria, enquanto uma de suas mãos fortes e grandes estavam no zíper da calça dela, tentando abri-lo. Scarlett conseguia sentir os dedos dele mesmo através do jeans. 
Não se importava com consequências, nem com o que seu chefe iria pensar. Aliás, ele nem precisava saber de todo aquele contato íntimo que ela estava tendo com Stone. 
O homem enfiou a mão por dentro da blusa dela e segurou um de seus seios ainda cobertos pelo sutiã, apertando-o com determinação. Ele não sabia ir devagar, ele não queria ir devagar. O suor já estava no corpo de ambos, apesar de ainda estarem vestidos. Scarlett soltou outro gemido agoniado quando Carter voltou a posição anterior e mordeu o pescoço dela com vontade. 
- Eu não sabia que você curtia vampirismo, gato. - ela disse provocante, mordendo o lábio inferior. O ser que parecia fazer um belo trabalho em seu pescoço soltou um risinho que causou arrepios em Scarlett e levantou o rosto, mordendo o lábio inferior dela. 
- Se eu te contasse o que realmente curto você tentaria fugir de mim. - ele disse, apertando o outro seio da mulher, que sorriu largo e riu com gosto. 
- Eu? Fugir de você? - colocou as duas mãos no peito dele e, pegando impulso, se levantou da cama, levando o corpo de Carter junto. Sentou em seu colo e começou a distribuir beijos pela região do rosto e pescoço do homem. - Às vezes eu acho que você esquece com quem está falando. 
- Nunca esquecemos o que nos atormenta. - ele disse, gostando das carícias dela, segurando sua cintura com força e possessividade. 
- Então eu estou fadada a lembrar de você pela resto da vida. - Scarlett passou as mãos pelos braços nus e tatuados dele, continuando com toda a provocação. - Meu corpo dói só de imaginar. 
- E a dor só tem o lado ruim? Já te mostrei que não, e posso mostrar de novo, se quiser... - suas mãos a apertavam com tanta força que a mulher soltou um som agoniado com a boca e voltou a fechar os olhos, puxando o cabelo dele. Ambos gargalharam. - Na verdade, quero te mostrar outra coisa. 
- Agora? 
- Sim. Agora! - Carter praticamente jogou o corpo de Scarlett na cama e se levantou, virando o rosto para encará-la de um jeito sedutor e medonho ao mesmo tempo. - Me espere aqui. 
Scarlett esperou pacientemente, jogada na cama e observando toda a decoração do lugar. Nada ali combinava com Carter. Tudo arrumado demais, luxuoso demais... Normal demais. O certo para um homem como aquele seria um quarto com paredes pretas, objetos bizarros, correntes e qualquer outra coisa que combinasse com os desenhos das tatuagens e aqueles olhos que, de tão verdes, chegavam a assustá-la. Mas o medo rapidamente ia embora quando ela se lembrava de quem era. Ela, Scarlett Meredith, não precisava ter medo de ninguém. Na verdade, as pessoas é que deveriam temê-la. 
- Voltei. - virou o rosto ao ouvir a voz de Carter e levantou o tronco, ficando sentada na cama de um jeito provocante. Carter se sentou e apertou sua coxa, só para lembrá-la do motivo de estar naquela cama. Os olhos atentos de Scarlett obervaram uma câmera que parecia bem antiga nas mãos de Carter. Com maestria ele colocou uma fita dentro da mesma e apertou alguns botões. 
- O que tem de interessante nessa câmera? E, fala sério, sua vó se filmava nua para o amante com isso? Parece coisa do século passado! 
- Shh - ele pediu que ela se calasse com o dedo e aproximou o visor da câmera para que ela pudesse ver melhor. Scarlett olhou do objeto para Carter algumas vezes e resolveu prestar atenção no que ele tanto queria mostrar. Aparentemente, a filmagem tinha sido feita em um lugar escuro. A imagem estava distorcida e balançava. Cabelos loiros foram exibidos, seguido por pedidos de socorro. 
"Agora você fica quietinha e eu te ajudo com esse pequeno... Problema. Afinal, ninguém quer morrer virgem, não é?"
Ao ouvir aquilo, Scarlett olhou mais uma vez para Carter. A risada masculina vinda do vídeo era o único som no recinto. Ela tentou dizer alguma coisa, mas ele levou o dedo indicar até os próprios lábios e depois apontou para o visor, pedindo para que ela continuasse a ver. 
Era claro o que estava acontecendo naquela filmagem. Uma garota virgem sendo obrigada a ter relações com alguém. Mas quem? 
"Carter, para, por favor! Não precisa ser assim! Não precisa..."
Os olhos da morena se arregalaram ainda mais quando o grito da garota loira foi mais alto e ela gemeu de dor. A voz de Carter penetrou seus ouvidos novamente, mas não vinha do mesmo ambiente em que ela estava. Vinha do vídeo. 
Empurrou o objeto com a mão e olhou séria para Carter, que riu e colocou a câmera na cama. 
- Eu sei que você curte uma insanidade, mas isso? Wow... - ela olhou ao redor, pensando em pouco. É claro que aquilo não a abalou, estava acostumada a lidar com situações daquele tipo. Mas qual era o intuito de Carter ao mostrar um vídeo em que supostamente estaria violentando uma garota? - Quem é a garota? 
- Não interessa. Agora nós podemos continuar com... - ele se jogou em cima de Scarlett de novo, mas a mesma usou a força e empurrou o corpo dele para longe, o fazendo cair deitado na cama. 
- Você quer me excitar com isso? Qual é, Carter? Quer saber? Vou embora! - se levantou a ajeitou a blusa, prendendo o cabelo e lançando-lhe um olhar aborrecido. 
- Eu não vou deixar você sair daqui, querida. - ainda deitado na cama, ele disse, com um sorriso angelical repuxando pelo lábios. 
- Ah, não vai? Nossa! - ela gesticulava exageradamente com as mãos, como se estivesse apavorada. - O que farei agora? Meu Deus, Carter Stone vai fazer coisas ruins comigo... - olhou com deboche para ele. - Vá a merda, eu não tenho medo de você. 
- Deveria ter. 
- Sabe o que me impediu de te matar até agora? - ela se aproximou de Carter, passando as mãos pelas pernas cobertas dele, subindo com movimentos lentos e olhares intensos. O mesmo engoliu em seco e se preparou para o que viria a seguir. Scarlett sempre gostava de surpreendê-lo. Suas mãos pararam na região de seu pênis, fazendo um movimento circular por cima do tecido de sua calça. - O fato de você ainda conseguir fazer alguma coisa boa com essas mãos e o resto do corpo. Porque, francamente, é só para isso que você serve. Aliás, já está ficando tediante. Quando eu voltei para Londres, achei que seu... - os toques continuavam. - ... desempenho seria melhor. Mas é a mesma coisa de sempre! Selvageria, mordidas e blá blá blá. Me poupe, cara! - ela parou de tocá-lo e sorriu de orelha a orelha. - Reveja a situação e descubra quem é que realmente precisa temer alguém aqui. - Scarlett acendeu um cigarro e se aproximou de Carter mais uma vez, soltando a fumaça em seu rosto e dando um selinho rápido nele. - Adeus, Stone. Mude a situação, porque o bad boy revoltado já broxou há muito tempo. 
- Vadia. 
- Diga algo que me ofenda, querido. 
E então ela saiu, batendo a porta. Carter não foi atrás dela, mas estava com raiva. A raiva já começava a correr solta por suas veias. O que mais ele teria que fazer para provar que não estava no meio de tudo aquilo por brincadeira? Quantas gargantas teria que cortar? Pegou a câmera e cuidou para que a mesma fosse guardada no lugar de antes com segurança. A televisão na sala estava ligada, e uma informação transmitida no noticiário atraiu sua atenção. Vestiu um casaco preto e saiu de casa. 
Estava na hora de brincar.


Demetria's P.O.V

Bati a porta do carro e corri até a entrada da empresa. Depois de um tempo - sem parar para pensar como - eu consegui entrar na mesma e corri até o elevador, apertando o botão diversas e diversas vezes. Quando as portas se abriram, joguei meu corpo para dentro e apertei outro botão. 
E se fosse tarde demais? E se nada mais pudesse ser feito a não ser lamentar pela morte do homem que eu amava? 
Eu tentava - apesar de tudo - manter um pensamento positivo e aquilo só me deixava mais enfurecida. Depois do que me pareceu séculos, as portas do elevador se abriram e eu subi a pequena escada, dando de cara com a noite e quase pisando em uma garrafa quebrada. 
Lá estava ele. 
Joseph estava de costas, totalmente imóvel. Levei a mão até o peito, tentando regularizar minha respiração e me aproximei. Com medo de que ele se assustasse com a minha presença, me movi como um fantasma e fui chegando cada vez mais perto. 
- Eu sei que você está aí, Demi. - ele se mexeu levemente, virando o rosto e me lançando um olhar vazio. Sua aparência era acabada e duas linhas roxas jaziam abaixo de seus olhos. Eu tive receio de me mover, porque não sabia o que se passava pela cabeça dele. O vento era forte, frio e cortante. Os cabelos de Joseph dançavam por sua testa e ele continuava a me olhar, como se estivesse hipnotizado. - Estava esperando por você. 
- Esperando por mim? Esperando por mim desse jeito? - apontei para o corpo dele sentado naquele muro. Suas pernas balançavam soltas e ele poderia cair a qualquer momento. - Joseph, por que você faz isso comigo? - eu disse, totalmente derrotada. 
E então, o corpo dele se virou e ele colocou as pernas para dentro do lugar, se levantando e caminhando para perto de mim. Eu não sabia bem o motivo, mas senti vontade de recuar. 
- Você gostaria de me visitar na cadeia, Demetria? Gostaria de passar vários anos da sua vida tendo que se manter presa a um criminoso? Quer essa droga de vida para você, Lovato? - Naquele instante, o Joseph que eu conheci parecia estar falando comigo. Fiquei confusa por ele ter me chamado por aquele sobrenome, mas dei um passo e deixei nossos corpos a pouquíssimos centrimentos de distância. 
Tirei alguns fios de cabelo do rosto e respirei fundo antes de falar. 
- Por favor, não faça isso comigo. 
- Eu sou um assassino! - me manti imóvel mesmo quando suas mãos seguraram meus dois braços. Ele os apertou com força e balançou meu corpo, obrigando-me a manter o contato visual. 
- Você não se lembra daquela noite, e se não for verdade? 
- Você tem alguma prova? - o aperto de suas mãos em meus braços ficou mais rivogoro e eu soltei um leve gemido de dor. Dor física, emocional... Seus olhos, mais brilhantes do que nunca, procuravam ansiosos por uma resposta positiva em meu rosto. Era como se eu fosse sua última esperança. 
Quando vi Joseph Jonas pela primeira vez, eu sabia que algo mudaria em minha vida. Quando nosso contato foi reforçado e todas aquelas coisas aconteceram, foi como entrar em uma montanha russa. 
Quando a mesma está prestes a começar aquela torturante subida, você pensa em desistir, mas não vê saída alguma. Quando o turbulento e violento percurso está acontecendo, você pensa que não sairá viva para contar a história, mas não existe meio de parar. Ninguém pode parar. Quando o passeio termina, você olha ao redor e percebe que gostou. Você percebe que, apesar de tudo, valeu a pena e quer sentir toda aquela adrenalina de novo. 
Poderia até soar bizarro, mas Joseph era como uma montanha russa. E eu queria ir naquela montanha russa outra vez, e outra... E outra. Até que eu não aguentasse mais, até que minhas forças acabassem. 
- Vamos fugir! - ouvi minha própria voz soar baixa e irreconhecível, mas continuei a falar, sem raciocionar direito. - Vamos para algum lugar onde ninguém nos conheça, onde nada disso importe mais. Eu não me importo com o que você fez... - vacilei, sentindo meus olhos marejarem. - Eu só quero ficar com você, Joseph. Vamos, por favor! Vamos sair daqui e fugir de todo esse inferno. 
- Você sabe que as coisas nunca mais vão ser do mesmo jeito. - ele respondeu imediatamente, com um olhar questionador. 
- Eu sei, mas não me importo. Vamos? Por favor, vamos... - em desespero, segurei seu rosto com as mãos e beijei seus lábios frios. Era a única saída, era minha última chance. 
Ele separou nossas bocas e me olhou intensamente por uma última vez, segurando uma de minhas mãos com força e puxando meu corpo na direção da porta. 
Descemos pelo elevador e logo estávamos na rua, dentro do carro. Não que eu estivesse gostando da situação, mas a adrenalina corria viva por minhas veias e eu só conseguia pensar em como seria aquela nossa fulga. Esqueci de tudo; esqueci dos meus amigos, minha família e minha vida que poderia ser feliz. Eu estava sendo completamente inconsequente, mas o que ganharia se não fosse? De que estava adiantando tentar fazer tudo do modo correto? 
- Se nós vamos mesmo fazer isso... Eu preciso que você nos leve até nossa casa, tem algo lá que eu preciso pegar. - ele disse, sentado no banco do passageiro. Não estava em condições de dirigir. Girei a chave na ignição e nos levei para longe dali. Através do vidro do carro, ele olhou sua empresa. Eu era capaz de imaginar o que estava passando por sua mente. Ele estava abrindo mão detanta coisa. Mas valeria a pena? Será que ele estava convicto de que fugir comigo era o melhor, ou Joseph tinha apenas medo de negar meu pedido e me perder de vez? 

No matter how many times did you told me you wanted to leave
No matter how many breaths that you took you still couldn't breath
No matter how many nights that you'd lie wide awake to the sound of the posion rain.


Enquanto eu dirigia, olhei para o lado e percebi que ele mexia em seu celular. A expressão indecifrável se fazia presente e eu não quis falar mais nada. Parecia que apenas o corpo dele estava dentro daquele maldito carro. As ruas estavam vazias, a frio aumentava cada vez mais e eu sentia aquela arma pesar dentro do bolso. Tentei enfiar em minha cabeça que a partir daquele momento tudo ficaria mais suportável, porque nós íriamos fugir. Mas o caminho para nossa casa era longo, e surpresas poderiam surgir... 

Where did you go?
Where did you go?
Where did you go?

As days go by
The night's on fire...


Pelo retrovisor do carro, percebi que faróis fortes poderiam me cegar. Um carro em alta velocidade se aproximava e o maldito sinal estava vermelho. Tentei respirar fundo e acreditar que ele passaria por nós e seguiria seu caminho, mas não foi isso que aconteceu. Quando o veículo vermelho estava quase encostado no que eu dirigia, pude ver aquele rosto. Eu não sabia como e nem por que, mas meu coração acelerou e eu senti que minhas suspeitas estavam corretas: Fugir seria uma ilusão. Algo catastrófico aconteceria naquela noite. Pisei fundo no freio e passei pelo sinal vermelho, recebendo um olhar assustado de Joseph. Com os olhos vidrados na direção, virei em outra rua, desviando do caminho proposto. 
Carter não podia estar nos perseguindo, Carter não podia estar tão focado em acabar com a minha vida daquela maneira! 
Depois de um tempo, já longe daquele local, senti meus batimentos cardíacos se acalmarem e respirei fundo, percebendo que Joseph não parava de me olhar. 
- O que foi? Você quer desistir? - perguntei irritada. 
- Era ele, não era? O Carter... - antes que ele pudesse terminar sua frase, meus olhos avistaram o mesmo carro vermelho entrar na rua em que estávamos. Soltei um palavrão e acelerei novamente, quase batendo em um caminhão que cruzava a rua. Com uma freiada brusca, nos coloquei em outra direção novamente e olhei para trás frenéticamente, desejando com todas as minhas forças que o carro vermelho sumisse. Acelerei o máximo que pude, ignorando Joseph que tentava me fazer parar. Eu estava prestes a ter um colapso nervoso, mas não conseguia parar. Como aquele desgraçado nos achou? O que ele ainda poderia querer depois de causar tudo aquilo? 
Não tive tempo para refletir melhor sobre aquelas perguntas, porque, antes que meus olhos pudessem piscar mais uma vez, o carro vermelho ultrapassou o meu e impediu a passagem. O som estridente provocado pelos pneus fez minha cabeça latejar. 
Demetria, saia daqui... - Joseph rosnou, olhando fixamente para a porta do carro que se abria. Fazendo uma sensação insuportável crescer em meu peito, Carter se revelou. Eu não estava aguentando toda aquela ousadia... 
- Não! - eu disse alto, abrindo a porta do carro e enfiando a mão no bolso onde a arma se encontrava. Meu marido repetiu meus movimentos e abriu a porta do outro lado. Carter estava parado, e nos olhava com diversão explícita em sua face. Meu estômago revirou e eu engoli em seco, me aproximando. Joseph veio em minha frente e tentou me segurar, mas eu lutei contra ele, lutei porque não aguentava mais ver a expressão de puro divertimento daquele filho da puta. A raiva era tanta que eu estava começando a perder a noção de tudo a minha volta. Tudo que eu conseguia pensar era em pegar a arma e atirar nele, eliminá-lo e pronto. 
- Se não é o meu casal preferido... - a voz desprezível penetrou meus ouvidos. Empurrei o braço de Joseph que tentava me segurar pela cintura e fiz meu olhar se encontrar com o de Carter. 
Joseph, saia da minha frente! - ordenei. 
- Não! Quem você acha que é? Vai mesmo tentar atirar nele? Demetria, você pediu que fossemos embora, então saia daqui e eu encontro você depois. Eu consigo me livrar dele, eu... 
- Você não consegue porra nenhuma, Jonas. - a voz alta de Joseph, junto com seus olhos verdes intensos roubaram toda a minha atenção. 
Eu tinha conseguido esquecer de Carter no segundo em que estava prestando atenção apenas no homem que eu amava. 

Tell me would you kill to save a life?
Tell me would you kill to prove you're right?
Crash, crash, burn! Let it all burn...
This hurricane chasing us all underground.


Gesto fatal o suficiente para que Carter se aproximasse de nós dois e puxasse o corpo de Joseph para trás, me fazendo recuar e soltar um grito de horror. Frustante era eufemismo, porque eu não pude fazer nada para evitar que Carter o ferisse. 
Em um piscar de olhos, a expressão de Joseph mudou e ele arregalou os olhos, soltando um gemido de dor. Olhei rápido para as mãos de Carter e identifiquei uma pequena faca enfiada na lateral do abdomen de Joseph. O sangue já era visível. 
Demetria... Corre... CORRE! - Joseph gritou antes de Carter jogar seu corpo no chão e vir em minha direção. Tentei correr, tentei entrar no carro e salvar a única coisa que ainda me restava: minha sobrevivência. Porém, Carter puxou meu braço com violência e fez meu corpo se virar, fazendo com que se chocasse com o seu. 
- Veja só o que temos aqui... - eu não sabia definir bem o que mais predominava em meu ser: o ódio ou o medo. Olhei para Joseph jogado no asfalto. Ele segurava o lugar ferido e tentava se levantar, mas suas feições indicavam dor pura. Carter sacou o celular e rapidamente discou algum número, aumentando a força que depositava em meu braço. 
- Alô? Sim, eu estava assistindo o jornal e sei onde Joseph Jonas está... - não acreditei no que ele estava ouvindo, não conseguia processar direito todas aquelas informações. Durante um momento de distração de Carter, tentei me soltar de seu aperto, mas ele percebeu e obrigou meu corpo a ficar colado ao seu. Eu estava com as costas pressionadas contra seu peitoral. - Ele está ferido, não vai fugir. - ele disse aquelas palavras de um jeito baixo, perto do meu ouvido. Depois de depositar um beijo no local, ele me puxou pela braço novamente. 
Demetria... - ouvi a voz de Joseph voltar a me chamar e tentei olhá-lo, ver seu rosto mais uma vez. Mas fui pega de surpresa quando meu corpo foi empurrado para baixo e minha cabeça se chocou com algo duro. A escuridão veio. 

Quando abri os olhos, estava em um carro em movimento. Uma tontura poderosa não me deixava levantar o tronco e ver melhor, mas eu sabia que não estava mais com Joseph. Pelo espelho do carro, eu consegui ver aqueles olhos verdes. Mexi meu corpo com esforço, dando conta de que ele tinha feito minha cabeça bater em alguma coisa e depois me jogou dentro de seu carro. Coloquei a mão na testa e no canto eu senti algo molhado, vindo a perceber que se tratava de sangue. 
O carro parou. 
Eu não sabia muito bem onde estava, mas sabia que aquele lugar era perto de minha casa. 
Carter abriu a porta e saiu, dando poucos passos e abrindo a porta de trás, puxando meu corpo com a mesma violência de antes, obrigando-me a sair do veículo. Quasei caí no chão quando ele me soltou por um segundo para fechar a porta, mas seus braços fortes me pegaram de volta. Senti nojo... 
- Não se preocupe, Demetria... Você está em boas mãos agora. - sua mão afagava meus cabelos bagunçados e eu tentei virar o rosto quando senti seus lábios encontarem na pele de minha bochecha. Tentei gritar, mas sua mão foi pressionada contra minha boca. - Ah, você não tem ideia do quanto eu imaginei como seria ter você assim nos meus braços... - os beijos pelo rosto continuaram. Meu corpo estava completamente imobilizado, e o desespero só crescia. Ele me mataria. - Agora nós vamos poder nos divertir muito... E eu vou poder fazer você implorar por misericórdia! - um som agoniado saiu de minha garganta quando seus lábios se chocaram com os meus. 
Diversas cenas invadiram a minha mente, principalmente a de Joseph ferido no chão. 
Com a força que consegui juntar, virei o corpo e soltei uma de minhas mãos, começando a socar o peito de Carter e o pegando de surpresa. Ele soltou uma risada divertida e fingiu se proteger, mas passou o braço pelo meu pescoço e apertou um pouco, causando uma tremenda falta de ar em mim. Tentei lutar mais uma vez, tentei chutá-lo, mas nada parecia adiantar. Eu me sentia tão fraca... 

Flashback

Rolei os olhos com aquelas instruções bizarras e tomei fôlego. Não tinha a mínima ideia de como executar golpes de boxe, então iria fazer como visto na televisão. Comecei a acertar socos de qualquer jeito, enquanto Joe o segurava e gritava palavras que me estimulassem a não parar. Tive de admitir que aquilo era terapêutico. Vez ou outra eu parava para respirar ou rir de alguma besteira que ele falava. Até que tive uma ideia... 
- AI! - gemi alto, parando de distribuir socos e segurando uma mão com a outra, ainda com as luvas. Encolhi um pouco o corpo. 
- O que aconteceu? Você se machucou? - Joseph estudou minha fisionomia de dor e veio até mim, preocupado. Tirou as luvas de minhas mãos e examinou o pulso cujo eu queixava sentir dor. 
- Acho que torci... - eu disse, fingindo uma voz chorosa. Ele parecia mesmo preocupado. 
- Tem certeza? Não acho que isso... 
Antes que ele terminasse sua frase, aproveitei seu momento de distração e o empurrei para o chão. Meu impulso sobre seu corpo o pegou de surpresa e ele não teve como se segurar; caí junto com ele. Joe estava jogado no chão e eu em cima dele, com um sorriso de vitória. 
- Touché. 
- Não preciso de treinamento, Jonas! Como pôde ver, estou totalmente em boa forma. 

Fim do Flashback

No matter how many deaths that I die, I will never forget
No matter how many lives I live, I will never regret
There's a fire inside of this heart and a riot about to explode into flames.


Carter soltou um grunhido de dor quando sentiu minhas unhas fazerem um estrago na pele de seu rosto. Ele vacilou rapidamente, tempo o suficiente para que eu o empurasse para trás com um soco e tentasse correr. Passei por seu carro e tropecei em meus próprios pés, soltando gritos desesperados toda vez que ele parecia mais perto. Corri com tanto empenho que meus pulmões estavam prestes a explodir a qualquer momento. A fraqueza em minhas pernas era evidente, minha vista estava turva e as luzes ao redor eram como borrões, mas não poderia parar de correr. Ouvindo a voz de Carter dizer algo incompreensível atrás de mim, passei por um beco escuro e fui parar no meio da rua. 
Os faróis de um carro me cegaram por um segundo e eu achei que morreria. 
Porém, outra freiada brusca fora dada naquela noite, na tentativa de não me atropelar. Fazendo meu coração quase sair pela boca, Cameron saiu de dentro do carro e sua expressão era de puro terror. Carter parou de correr e ficou bem próximo a mim, mas algo diferente estava em seu rosto. Suas pernas pareciam prestes a ceder, e suas mãos seguravam a cabeça com força. Cameron veio até mim e envolveu meu corpo com um abraço. 
- Meu deus, o que aconteceu? Demetria, ele fez alguma coisa com você? - suas mãos seguravam meu rosto com determinação. - Por favor, diga que ele não fez nada! - meus ouvidos identificaram um grito de Carter e eu virei o rosto bruscamente, percebendo que seu corpo estava praticamente estirado no chão e ele implorava para que algo parasse... 
- O que v-ocê f-faz aqui? - gaguejei, me segurando nele para não cair. - Minha casa fica bem próxima e... 
Joseph me mandou uma mensagem há pouco tempo e disse para que o encontrasse aqui... - então Joseph sabia que nosso plano de fugir não daria certo? Ele havia chamado Cameron para cuidar de mim. Eu não conseguia me conformar com aquilo. 
De repente, tive um estalo. 
Puxei o revolver para fora do sobretudo e, sem pensar duas vezes, o apontei para um Carter que parecia agonizar no chão. A cena era perturbadora, mas a raiva crescente dentro de mim falava mais alto.
Demi, o que você está fazendo? Pare com isso! - Cameron tentou tomar a arma de minhas mãos, mas eu desviei e lancei um olhar mortal para ele. Carter levantou o rosto e pareceu se esquecer que estava no meio de um estranho ataque. Seus olhos correram do revolver para o meu rosto e um sorriso surgiu. Ele tinha lágrimas escorrendo pelo rosto e suas veias estavam saltadas, mas isso não o impediu de me olhar daquela maneira. Seu corpo se levantou. 
Tentando controlar a tremura em minhas mãos, apertei meus dedos contra o gatilho e mirei com mais presição na direção daquele homem. 
Demetria, não vale a pena... Vamos sair daqui! - Cameron tentava me fazer desistir a qualquer custo. 
- CALA A BOCA! - eu gritei, não desviando meu olhar de Carter. 
- Não acabe com a sua vida assim... 
- A MINHA VIDA JÁ ACABOU! - Carter deu um passo e eu dei outro, ficando mais perto dele. A arma não parecia intimidá-lo. - ELE ACABOU COM A MINHA VIDA! - as lágrimas caiam livres pelo meu rosto e minha vista estava extremamente embaçada. Eu poderia ceder a qualquer momento e deixar meu corpo cair. 
Mas não antes de mandar aquele desgraçado para o inferno.

Where is your God?
Where is your God?
Where is your God?

Do you really want?
Do you really want me?
Do you really want me dead or alive
To torture for my sins?


Carter não teve tempo de dar mais um passo. Meu dedo trêmulo puxou o gatilho e meus ouvidos doeram quando o disparo aconteceu. Eu não sabia se Cameron ainda estava comigo, não sabia mais onde estava. Nem sabia se ainda estava viva... Só sabia que tinha conseguido ferir Carter Stone. Seu corpo caiu no chão e ele gemeu de dor, segurando com força sua perna. Minha vista estava tão ruim que eu apenas fui capaz de ferí-lo de raspão na perna. Mas isso não me fez abaixar a arma... 
! - Cameron estava prestes a tentar de novo. 
- Quer escolher o próximo lugar onde eu vou atirar? - perguntei friamente para Carter, sentindo a força provocada pela raiva em meu corpo. Eu poderia aguentar um pouco mais, poderia aguentar até que ele estivesse morto. 

Do you really want?
Do you really want me?
Do you really want me dead or alive
To live a lie?


O desgraçado sorriu. O desgraçado não estava mais com a expressão de dor em seu rosto. Ele me olhava com fascinação, era como se aquele feito tivesse provocado algum tipo de sensação boa nele. Como se eu tivesse causado algo bom nele... 
Carter me olhava como se estivesse orgulhoso, como se aquilo não tivesse o irritado de maneira nenhuma. 
Ainda jogado no chão, ele fechou os olhos e sua face parecia mergulhada em deleite. 
- Finalmente eu tive o prazer de conhecer a verdadeira Demetria. Você não sabe como eu queria vê-la assim... Quase não sinto vontade de quebrar seu lindo pescoço por causa disso. Foi tão... excitante! 
- Eu vou... Eu vou... - tentei dizer, sentindo os braços de Cam em mim. - Me solta, porra! Eu vou matar esse desgraçado, vou mandá-lo para o inferno! 
- Vê como você é malvada, Lovato? Não entendo porque se deixa dominar por aquela mulher fraca. Não entendo por que gosta de se fazer de mártir... Olhe só para você, olhe o que você pode ser se quiser... 

The promises we made were not enough
The prayers that we had prayer were like a drug
The secrets that we sold were never known.


- Vá para o inferno! - tentei apertar o gatilho mais uma vez, tendo a certeza de que a bala perfuraria seu crânio, mas as duas mesmas mãos de antes puxaram meu corpo de novo e Cameron conseguiu tomar a arma das minhas mãos. Tentei pegá-la de volta, mas ele não deixou. Ele era mais alto, seu corpo era mais forte... Não tive escolha a não ser desistir. 
- Esqueça isso, vamos embora daqui! Entre no carro! - ele ordenou, olhando para Carter por uma última vez antes de abrir a porta para mim. Eu não queria virar meu rosto, não queria vê-lo de novo. Suas palavras ainda ecoavam em minha mente. Mas meu rosto se virou e ele ainda continuava a me olhar. Seu olhar era capaz de dizer que aquilo não estava acabado, que aquela ferida em sua perna não significava nada. 
Nós nos veríamos novamente.

The love we had, the love we had...
We have to let it go.


Entrei no carro e Cameron bateu a porta, dando a volta e entrando também. Arrancou com o carro e nos tirou daquele lugar. Deixei que as lágrimas caíssem desempedidas e encostei a cabeça no banco do carro, tentando respirar novamente. 
- Por que você não me deixou matá-lo? - choraminguei, olhando com raiva para um Cam que ainda parecia extremamente em pânico. Uma de suas mãos segurava o volante e a outra foi até a minha, me fazendo sentir sua pele quente entrando em contato com a minha. Ele a apertou um pouco, como se quisesse me trazer de volta para a realidade e suspirou. 
- Eu não posso permitir que você acabe com a sua vida desse jeito. Não sei o que sente pelo Joseph, não sei qual é a real gravidade de tudo isso, mas eu sei o que eu sinto por você. Se eu puder te manter longe do perigo, eu vou manter. 
- Você não entende que eu cansei de ser a vítima? 
- Você é um ser humano! - agora era ele que parecia estar com raiva. - Pode reclamar o quanto quiser, mas eu vou manter a minha promessa. Eu vou proteger você! 
Senti as lágrimas voltarem quando aquela maldita promessa fora mencionada. Lembrei de Joseph. O que teria acontecido com ele? Será que estava bem? Será que seu ferimento doia muito? Era quase certo que a polícia já teria o encontrado àquela hora. E então o que ele mais temia aconteceu. Não conseguiu dar um fim a própria vida, não conseguiu fugir comigo... 
- Eu sei que você não quer ouvir isso agora, porque talvez não ajude... Mas um dia você vai poder ser feliz. Não me pergunte como, mas eu tenho total certeza disso. 
Tentei fingir que aquelas palavras eram capazes de me acalmar enquanto ele dirigia pela noite. 

/Demetria's P.O.V


Caleb sentiu o líquido descer queimando sua garganta e ajeitei os óculos, pedindo outra dose ao garçom. Olhava as pessoas ao seu redor que bebiam tranquilamente no pub e se perguntava por que sua vida tinha deixado de ser normal daquele jeito. Um dia, um nerd de 23 anos que ainda morava na casa do pai, e no outro envolvido em todo aquele grande problema. 
Pegou seu copo e entornou o conteúdo novamente, quase engasgando ao perceber quem tinha acabado de entrar no local. 
A mulher vestia uma jaqueta de couro e os cabelos estavam soltos, percebeu como os mesmos eram escuros e compridos. Os olhos pareciam atentos a todos ao redor, mas ela ainda não tinha notado a presença dele ali. 
- Perdida? - Caleb disse desanimado, assim que ela se aproximou. Scarlett virou-se para ele e arregalou os olhos, sorrindo abertamente em seguida. Sem cerimônia, ela se sentou na mesma mesa onde ele estava bebendo e apoiou os cotovelos na madeira escura.
- Ok, só pode ser um sinal! Nos encontramos pela segunda vez... - ela apontou para ele, ainda não se dando conta do estado em que Caleb se encontrava. - Isso quer dizer que você tem que pagar minha bebida. - Scarlett sorriu convencida e chamou o garçom, ajeitando-se na cadeira confortável. 
- Como quiser. - ele deu de ombros, cabisbaixo. 
- O que há de errado com você, cara? Eu entendo que goste de beber sozinho em um pub, mas com essa cara? - ela franziu o cenho. - Olha, desse jeito você vai afastar qualquer ser do sexo oposto que tente chegar perto! 
Pela primeira vez naquele dia turbulento, ele deu um sorriso sincero. 
- Não afastei você, então... 
- Tudo bem, você ganhou. - ela pegou sua bebida e agradeceu ao garçom, tomando de um jeito lento, apreciando o sabor. - O que me conta, Caleb? - era bom saber que aquela mulher desconhecida ainda lembrava seu nome. 
- Nada muito complexo... - sua voz adquiriu um tom irônico e ele balançou a cabeça negativamente. - Só acabei de prestar depoimento em uma delegacia. - Scarlett levantou uma das sobrancelhas e apoiou o cotovelo na mesa, segurando o queixo com a mão. 
- O que andou aprontando, garoto? 
- Eu, nada. Meu pai... Bem, aparentemente ele enterrou o corpo de uma garota que estava desaparecida há anos e só agora resolveu revelar o que tinha feito. Eu ainda estou em estado de negação, como se não fosse verdade... E não tenho a mínima ideia do por que estou te contando isso. 
- Mas o seu pai matou essa garota? 
- Não, outra pessoa fez isso. Ele foi pago para se livrar do corpo. - a curiosidade fez a garganta de Scarlett coçar, ela precisava perguntar mais, precisava saber mais. 
- Sabe quem é o suposto assassino? 
- Um amigo meu, seu nome é Joseph Jonas, mas você nem deve conhecê-lo... - ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Se lembrava claramente de já ter ouvido aquele nome antes. É claro que sim! Carter tinha dito que aquele tal de Joseph Jonas era um dos seus dois novos brinquedinhos. Ele e sua mulher, Demetria Lovato. Em sua cabeça, as coisas começaram a se juntar, sua agilidade em raciocinar em casos como aqueles era admirável. Se lembrou de algo que tinha visto mais cedo, naquela mesma noite... 
- Caleb, me perdoe pela tremenda curiosidade, mas... Você sabe me dizer se a garota assassinada era loira? - ele a olhou com uma sobrancelha arqueada e tomou sua bebida de um jeito demorado, como se pensasse se deveria responder aquela pergunta ou não. 
- Sim, ela era loira. Erin Fields era loira... - ele soltou um longo suspirou e olhou Scarlett nos olhos. A mulher fez o mesmo e tentava esconder o sorriso que queria surgir em seus lábios. Algo naquele ser de óculos e jeito nerd a deixava encantada. Ela tomou o último gole de sua bebida colorida e se levantou da mesa. 
- Obrigada pela bebida, gato. Olha, eu sinto muito pelo seu pai, espero que as coisas se ajeitem... 
- Por que vai sair assim? - ele se sentiu triste, porque teria que ficar sozinho de novo. Teria que pensar em tudo aquilo de novo. - Você é do tipo que sempre arranja um jeito de fugir? - já perto da porta, ela ajeitou sua jaqueta e sorriu. 
- Faz parte de quem eu sou. - Caleb concordou com a cabeça e se despediu com um aceno de cabeça, tendo como única companhia a solidão. 

Scarlett saiu do pub e caminhou pelas ruas frias e com pouca iluminação. Entrou em seu carro e tirou o celular do bolso, discando aquela sequencia de números que lhe parecia sempre útil. Depois de um tempo que lhe pareceu uma eternidade, ele atendeu com a voz grossa e firme de sempre. 
Arthur? - ele pediu para que ela prosseguisse. - Eu acho que você deveria pegar um avião e vir para Londres, porque eu acabei de descobrir uma coisa que pode te interessar muito... Sim, é sobreela, é a chance de você conseguir o que tanto quer! Ok, vamos precisar de um tempo... Vejo você em breve. - após desligar, ela guardou o aparelho novamente e logo estava longe dali. 


Demetria's P.O.V

Ainda era cedo quando deixei aquela delegacia. Passei pelas portas e Cameron estava me esperando do outro lado da rua, encostado em seu carro. Abracei meu corpo para tentar me livrar do frio e fui até ele, recebendo um olhar terno e preocupado ao mesmo tempo. Ele segurou minha mão e a beijou docemente, como se aquilo fosse capaz de me consolar de algum jeito. Durante a madrugada, políciais conseguiram me encontrar e pediram que eu fosse prestar depoimento na delegacia onde Lovato estava. Ele ainda estava lá, apenas tinham cuidado de seu ferimento e sua situação ainda seria decidida, para que assim pudesse ser mandado para o lugar certo. 
- Como foi? - Cam me perguntou em um tom de voz baixo. 
- Austin deixou claro que eu não estava envolvida. Os peritos ainda estão fazendo seu trabalho, várias resultados de exames ainda não sairam. Me disseram que um deles vai demorar quase um mês e... - parei de falar, respirando fundo e tentando segurar as lágrimas. - Ele não quis me ver. Disse que eu deveria sair logo de lá e deixá-lo em paz... Eu nem sei se ele está bem, Cam. - ele me abraçou de lado, deixando que minha cabeça encostasse em seu ombro. 
- Ele acha que desse jeito vai melhor para você. 
Eu ia protestar e dizer que Joseph deveria estar com raiva de mim, mas senti o celular vibrar dentro do bolso do meu casaco. 
- Alô? 
Demetria? - não reconheci a voz, e o número era desconhecido. 
- Sim, quem é? 
Uma amiga. Uma pessoa que pode te ajudar... Mas isso vai levar algum tempo. 
- Quem é você? Do que diabos está falando? 
Quero que saiba que nós sabemos o que está acontecendo e vamos cuidar disso. Vamos cuidar do Joseph... 
- O que você sabe sobre o Joseph? - Cameron ficou tenso e me olhou com uma sobrancelha arqueada. 
Não se preocupe, com o tempo você vai entender tudo. Até logo! 
- Espera! Alô? - bufei e guardei o celular, totalmente confusa. - Era só o que me faltava! - eu disse e depois expliquei para Camtudo que aquela voz feminina tinha dito. 
- Onde será que o Carter está? - ele disse, olhando ao redor, como se tivesse medo de que o mesmo estivesse por ali. 
- Eu não sei, eu não quero pensar nisso... Não quero pensar nele. Vamos embora daqui, por favor. - entrei no carro e Cameron nos levou até minha casa, depois de se certificar de que nenhuma ameaça estava por perto. 
Durante todo o trajeto, fiquei pensando nas coisas que aquela mulher tinha me dito. Quem seria ela? Quem seriam eles? Como poderiam me ajudar? Eu não queria pensar naquilo, na verdade não queria pensar em nada. 
Entrei em casa com Cameron em meu encalço, totalmente silêncioso. Subi as escadas e fui até meu quarto, pegando uma mala e olhando com determinação para ele. 
- Você tem certeza? 
- Tenho. 


Sentei em minha poltrona e fechei os olhos, os abrindo em seguida e encontrando Cam sentado ao meu lado. Todos os passageiros já estavam a bordo, o avião estava prestes a decolar. Eu não tinha certeza se aquela era a melhor solução temporária para os meus problemas, e nem sabia o motivo de Wolfe estar comigo. Joseph tinha pedido para ele cuidar de mim, mas eu tinha achado aquela ideia inaceitável. Porém, algo nos olhos daquele homem ao meu lado me fazia sentir confiança, fazia uma força fraca - porém viva - aquecer meu interior. Talvez tudo que eu precisava era ficar um tempo longe daquele lugar, daqueles pensamentos... De Joseph. 
Lembrei-me da carta que minha mão segurava e a abri, percebendo que o papel branco estava amassado. Mas não me importei, porque assim que meus olhos enxergaram aquela caligráfia, eu sorri. Um sorriso triste, mas ainda assim continuava a ser um sorriso. A letra de médico, o jeito que era curvada e ao mesmo tempo elegante... 

"Demetria,
Eu nem sei direito o que te dizer, nem sei direito o que pensar. Enquanto escrevo essa carta, estou observando você dormir. Você é tão linda, é tão difícil saber que não vou mais poder tocar sua pele tão macia. Vai ser difícil acordar em um lugar estranho e não ter você ao meu lado, tentando me fazer levantar dos jeitos mais irritantes possíveis. Eu odeio quando você tenta me acordar a qualquer custo, me tira do sério. Mas o que eu não daria para que essa fosse minha única preocupação...
O que eu não daria para ser quem você merece que eu seja.
Sei que essas palavras não são justas, sei também que minhas atitudes vão te magoar, mas estou começando a pensar que desse jeito é melhor. Talvez seja melhor que você fique com raiva de mim, crie ódio por mim. Não quero que passe noites chorando, não quero que deixe de viver por minha causa... Um ser tão vivo e lindo como você não merece essa dor. Mas eu não posso impedir que a dor no meu peito continue, porque a cada fração de segundo eu penso em nós dois. Penso nas conversas que costumávamos ter, penso nos momentos bons que só você foi capaz de me dar... Penso na mulher que corria pela areia da praia comigo como se fossemos duas crianças, na mulher que me irritava em um segundo e no outro me fazia ter vontade de beijá-la até que o mundo acabasse. Penso na mulher que me permitiu sonhar de novo, na mulher que me fez sentir a vida novamente. A pessoa que me trouxe esperança quando eu achei que ela não existia mais para mim.
Por favor, meu amor, não chore. Eu sei que é difícil o que eu peço, mas eu não vou suportar conviver com a ideia de que você chora por mim. Eu te amo, eu te amo loucamente e vou amar para sempre, mas sei que não te mereço. Se eu pudesse voltar no tempo, teria te polpado de todo esse sofrimento.
Não posso exigir mais nada de você, posso apenas ser eternamente grato por tudo que fez por mim. Não posso exigir que você me espere, que viva uma vida presa a mim, isso jamais poderia ser justo. Portanto, se encontrar uma oportunidade para ser feliz novamente, agarre-se a ela com todas as suas forças, exatamente como eu fiz quando te encontrei. Foi fugaz, não evitou que tudo isso acontecesse, mas eu faria tudo de novo.
E, talvez um dia, eu possa ser aquele que vai te fazer feliz.
Mas, eu imploro, não se esqueça de viver.
-Joseph."
 

Encostei minha cabeça no vidro da janela e assisti o chão ficar longe. Enquanto o avião decolava, obriguei minha mente a me levar até um momento bom. Era só isso que eu tinha: momentos para recordar. 
O furacão, depois de inumeras ameaças, havia chegado. Destruiu o que tínhamos construído. Me jogou para um lado e Joseph para outro, os destroços estavam por toda parte. Olhando tudo aquilo, observando a desgraça que se apossava da minha vida, eu me perguntei: Um dia teríamos forças para reconstruir o que o furação destroçou? 

Oh, I am going down, down, down
I can't find another way around
And I don't wanna hear that sound
Of losing what I never found.

2 comentários:

  1. Ta perfeito demais! Não deixe de postar, por favor, eu amo seu blog. Posta logo, beijos <3

    ResponderExcluir
  2. Pqp to chorosa depois dessa carta! Postaaa mais

    ResponderExcluir

Sem comentario, sem fic ;-)