Image Map

domingo, 15 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 17 (Parte 2)


Impulsos


Bati a porta da casa, atraindo a atenção de todos que ainda estavam lá. Já passava da meia noite, o que explicava o fato de minhas primas menores já estarem com seus presentes abertos. Minha mãe me olhou abismada e pareceu procurar por Cameron, mas ele não estava comigo. Eu não sabia onde ele estava. Não sabia definir como era a minha expressão, mas pelo modo como todos me olhavam, eu deveria estar pálida, chorando ou alguma coisa do tipo. 
- Onde você estava, Demetria? Cadê o Cameron? - minha mãe perguntou, se levantando. Olhei para a sala de jantar e percebi que a mesa estava arrumada. 
- Eu não sei. - eu disse, caminhando sem jeito até o sofá mais próximo e deixando meu corpo cair no mesmo. Me ajeitei e fiquei sentada com a coluna ereta. - Podem ir comer, já passa da meia noite, tem uma ceia incrível esperando vocês... Feliz Natal! - eles estranhavam meu comportamento, não tirando os olhos de mim. Eu poderia simplesmente levantar e fingir que tudo estava bem, mas não conseguia. Minhas pernas estavam tremendo e eu queria chorar desesperadamente. Não sabia direito se era por ter pensado em me permitir ser beijada ou pelo que disse a Cameron. E onde ele estaria? 
Meus familiares deram de ombros e foram comer, me avisando que meu presente e o de Cam estavam seguros embaixo da árvore. Eu só queria que todos fossem embora logo, só queria me trancar em meu quarto e ficar lá escondida, mas tinha que manter as aparências. 
Fazendo-me tomar um susto, batidas impacientes foram dadas na porta. Eu sabia que era ele, por isso fingi não ter ouvido e continuei do mesmo jeito. Peter veio andando rápido da sala de jantar e me olhou como se perguntasse "Qual é o seu problema?". Abriu a porta e Cameron apareceu, estava pálido e os lábios roxos de frio. Ele passou pelo meu irmão e me olhou de soslaio, fingindo que de fato eu não estava ali. 
- Qual é o problema? - Peter perguntou. 
- Eu... - Cam olhou para mim de novo e engoliu em seco. - Minha mãe acabou de me ligar no celular, ela disse que preciso ir embora porque um... - pareceu pensar para responder. - Parente se acidentou, e nós somos bem próximos dele e... Eu preciso ir embora agora, vou lá em cima fazer minhas malas e... - Cam estava nervoso. 
- De maneira nenhuma! - minha mãe surgiu de novo na sala e procurava por uma explicação. - Já viu como está o tempo? Você não vai conseguir um voo para Londres agora, passe a noite aqui e, se quiser, vá amanhã. 
- Não, Sue, eu realmente preciso ir agora. Nem que eu passe a noite no aeroporto, não tem problema. - eu não conseguia dizer nada, porque sabia exatamente o motivo de tudo aquilo. - Desculpe-me por isso, de verdade. Em todo o caso, eu agradeço sua hospitalidade, foi realmente ótimo passar esses dias com vocês. Feliz Natal, me desculpem! - ele não deu tempo para ninguém dizer mais nada e subiu as escadas praticamente correndo. Minha mãe e Peter me olharam como se soubessem que aquela atitude era por minha causa. Meu irmão ficou quieto e voltou para a mesa, minha mãe cruzou os braços na altura do peito e movimentou a cabeça, indicando o andar de cima da casa, pedindo que eu subisse e invertesse aquela situação. 
Senti-me como uma adolescente novamente e me levantei do sofá, evitando olhar para ela. Subi as escadas de um jeito lento, tentando adiar o máximo a conversa que eu estava prestes a ter commeu amigo. Por que ele tinha que agir daquela maneira? Não era um menino, sabia como as coisas funcionavam. Fazer toda aquela cena na sala não foi a coisa certa, e só fazia com que eu me sentisse pior. Por que ele não podia simplesmente esconder aqueles malditos sentimentos de mim e poupar toda aquela situação? Eu estava sendo exageradamente egoísta, mas não via outra solução. E, se ele soubesse que nossa aproximação me deixou daquela maneira, com certeza faria outra tentativa. 
Bati na porta do quarto onde ele estava, não recebendo resposta. Puxei a maçaneta e entrei lentamente, percebendo que ele jogava as coisas de qualquer jeito dentro de sua mala. Cameron sabia que eu estava lá, mas não se deu ao luxo de virar o corpo para me olhar, continuou a fazer o que estava fazendo. 
Cam, o que diabos foi tudo isso? - ele fechou o zíper da mala e se virou para me olhar. Senti um aperto no peito quando percebi que ele estava prestes a chorar, seus olhos estavam vermelhos. Era só o que me faltava. 
- Não foi nada, eu vou te deixar em paz. - Cameron deu um passo, não fazendo questão de esconder as lágrimas que queriam sair de seus olhos. - Quando quiser voltar para Londres, é só me ligar e eu venho te buscar. Vou cumprir o meu papel perfeitamente. 
- Que papel? Cam, eu... 
- Não, não se preocupe em me dar explicações. Eu não deveria ter tentado te beijar, eu sei. 
- E eu não deveria ter... - travei meus lábios, arregalando minimamente os olhos. Por pouco não confessei que cheguei a pensar em beijá-lo - Dito o que disse. - consertei meu quase-erro. 
- Dito? Você me deu um tapa! - ele tirou a mala da cama e tentou passar por mim, mas eu me coloquei na frente da porta e a fechei, impedindo que ele saísse. - Demetria, me deixe sair. - sua voz era autoritária. 
- Não! Eu quero que você fique. - olhei em seus olhos. Ele largou a mala no chão e ficou parado me olhando. Ficamos brincando de estátua por quase um minuto, até que ele me pegou de surpresa e se aproximou bruscamente, mas não de maneira rápida o suficiente. Consegui desviar meu corpo. Eu sabia que ele tentaria me beijar de novo. 
Por... Favor. - ouvi sua voz soar quase inaudível e um embrulho no estômago veio. 
Cameron, me diga que esse "Por favor" não é pelo que eu estou pensando... 
- Eu quero beijar você, mas tendo a certeza de que eu não vou receber um tapa depois. É, eu estou pedindo, quase implorando que você me deixe sentir seus lábios de novo. Patético, eu sei. Mas se eu não fizer isso, parece que vou explodir a qualquer momento. Então, ou você me deixa te beijar, ou eu vou embora. 
- Eu estou de frente para um homem ou para uma criança? Você acha que vai longe com essas chantagens? - me exaltei, voltando a ficar de frente para ele. 
- Me desculpe. Não sei o que eu tenho... - ele estava se segurando para não chorar novamente. - Nunca fiquei desse jeito por ninguém. Talvez, se eu apenas puder beijar você como eu quero, as coisas melhorem. 
- Você sabe que as coisas não vão melhorar. Só vão piorar. 
- Deixe que eu decida isso! - segurei sua mão antes que ela pudesse tocar meu rosto. 
- Você não vai viajar para Londres agora, é perigoso nessas condições. - alertei, provavelmente mais maternal do que previ. - Nós vamos descer, abrir nossos presentes e apreciar a comida que minha mãe passou o dia inteiro fazendo. 
- Você acha que pode me dizer o que fazer? 
- Já estou fazendo isso. Você vai dizer que recebeu outro telefonema e que não precisa mais viajar com urgência. - puxei sua mão e nós saímos do quarto. 

Não achei que seria capaz de rir naquela noite, mas eu estava errada de novo. Depois do banquete que foi tenso em seus primeiros minutos, estávamos novamente todas sentados na sala. Cameron, Peter e os maridos de minhas tias estavam na varanda conversando, e nós contiuávamos ali, apenas assistindo a neve cair do outro lado da janela de vidro. 
Minha vó se aproximou, com os cantos dos lábios erguidos em forma de um leve sorriso. Me ajeitei no sofá e assisti ela segurar uma de minhas mãos por um tempo e depois sorriu exatamente como tinha sorrido no dia em que eu aprendi a tocar piano. 
- O que está acontecendo com você, querida? - ela perguntou do jeito mais natural possível. 
- Por que a pergunta, vovó Marissa? - olhei-a sem entender. 
- Eu venho te observando desde a hora que desceu por aquelas escadas e percebo algo diferente no seu rosto. Principalmente quanto o rapaz alto e bonito está por perto. - quase engasguei, cruzando minhas pernas de forma desconfortável e coçando minha nuca. 
Cam? Ah, você está vendo coisas! 
- Não precisa ficar desse jeito, Demetria, você não está cometendo nenhum crime. É só que o jeito que você ri quando está perto dele é tão espontâneo! Você fica mais calma quando ele está por perto, como se ele lhe transmitisse segurança. 
Eu estava ouvindo tudo aquilo mesmo? Era difícil de acreditar. 
- Eu ri porque ele disse uma coisa engraçada. 
- Você riu porque gosta dele. - senti meu queixo cair pouquíssimos centímetros, determinada a eliminar aquela conclusão da mente dela. 
- Vovó, eu sou casada! Eu amo meu marido, eu... - vovó Marissa me interrompeu.
- Nossos corações são capazes de amar mais de uma pessoa, querida. 
- Eu duvido! E, mesmo que fosse verdade, não seria justo. Porque alguém sempre sairia machucado. 
- Me avise se eu estiver errada, mas isso já não está acontecendo? - ela parecia totalmente convicta do que dizia. - Você nunca vai conseguir agradar todas as pessoas que ama. Quando fizer uma feliz, a outra vai chorar. - falava tudo aquilo de um jeito tão sereno, sempre com as mãos apoiadas sobre as pernas cruzadas. Seus cabelos brancos estavam presos em um bonito penteado, o que dava elegância a ela. Era uma mulher bem experiente. 
- Nisso eu concordo com você... - admiti. 
- Lembro-me de quando era jovem. - ela suspirou. - Ah, como eu sofria! Enquanto estava dançando aquelas músicas adoráveis da minha época com um rapaz, o outro me assistia como se esperasse sua vez... Meu coração sempre acabava dividido, era uma tortura! Ainda bem que eu conheci seu avô e ele fez eu me acalmar. - eu realmente gostava de quando ela começava a contar sobre sua juventude, mas naquele momento eu não queria ouvir mais nada. 
- Eu acho que preciso beber alguma coisa, vovó. - levantei-me do sofá, tentando fugir da continuação daquela conversa. 
- Não se preocupe, você não é a primeira e muito menos a última mulher a passar por essa situação. - vovó disse quando eu já estava de costas para ela, me fazendo parar de andar e pensar em sua frase. Não, ela estava errada. Porque eu não estava passando por situação nenhuma. Não aquela, pelo menos. 


O relógio marcava duas e trinta e cinco, mas eu não conseguia pregar os olhos, então levantei da cama e fui até minha mala, pegando uma garrafa de tamanho médio e saindo do quarto. Tentei ao máximo não fazer nenhum barulho, porém, no caminho, percebi que eu não era o único ser acordado. Voltei a andar e desci a escada, logo chegando até a cozinha. Peguei duas canecas e abri a garrafa, despejando o líquido dentro de ambas. Escondi o objeto de vidro dentro de um armário qualquer e voltei a subir as escadas, passando pela porta do meu quarto e parando em frente a deCameron, mas a mesma estava encostada e pela fresta eu percebi que o recinto estava vazio. Caminhei pelo corredor, chegando até a varanda. 
Wolfe estava lá. 
A neve continuava a cair em Genebra, estava congelando, mas ele parecia não se importar. Seu corpo era apenas coberto por uma calça de moleton preta e uma blusa azul de mangas compridas. Passei pela porta e ele virou o corpo, me ouvindo. Percebi que um sorriso quase surgiu em seus lábios. Quase. 
- Chocolate quente? - eu disse, lhe oferecendo uma das canecas vermelhas. Ele pegou sem hesitar e levou até a boca, fazendo uma careta e afastando a caneta, me fazendo rir. 
- Wow, que chocolate quente forte! Isso é tequila? - ele riu também. 
- Sim, mas faça o favor de fingir que é chocolate quente. 
- Onde você conseguiu isso? 
- Eu trouxe na mala. - Cam arregalou os olhos e deu de ombros, tomando o conteúdo com vontade. Fiz o mesmo, ignorando a ardência na garganta. Trocamos olhares por um tempo e nos encostamos na sacada, olhando a neve cair. Uma coisa que eu odiava em Cameron, era sua mania de ficar vários minutos em um silêncio proposital. Ele fazia aquilo só para me deixar agoniada. Tomei outro gole de tequila na caneca e baguncei minha franja, jogando-a para trás. Ele percebeu meu gesto e soltou um risinho. 
Cameron, por que você me ama? - perguntei sem pensar duas vezes. Eu não estava bêbada, mas também não estava em meu estado normal. Caso contrário, nunca teria feito aquela pergunta a ele. De certo modo, fiquei curiosa por uma resposta. 
Eu sou uma contradição viva. O arrependimento não tardou a vir. Tanto pela tequila, como pela minha pergunta abusada. 
Demi, não inventaram resposta para essa pergunta ainda. Eu poderia dizer que é por causa dos seus olhos e seu sorriso, ou talvez por causa do seu jeito de ser... Eu não sei, não dá para explicar. 
Concordei com a cabeça e fiquei em silêncio de novo. Cam entornou o conteúdo da caneca e acabou com a tequila, colocando o objeto em uma mesa de madeira que estava ao nosso lado. Senti duas mãos frias segurarem meu rosto, obrigando meu corpo a se virar. Larguei minha bebida na mesma mesinha que ele e deixei meu corpo ficar mole, perdida naqueles olhos que tentavam me dizer tantas coisas. Eu estava com medo, pensei em me afastar. E quanto mais eu tentava me afastar de Cameron Wolfe, mais ele tentava se aproximar de mim. Eu via sofrimento em seus olhos. Deus, ele estava completamente mergulhado em tristeza. Apesar dos sorrisos encantadores e dos olhos brilhantes, ele não conseguia esconder estar quebrado por dentro. E a culpa era minha. 
Ele umedeceu os lábios com a língua antes de falar. 
Demetria, eu preciso de você. Eu preciso sentir de novo como é ter você nos meus braços, só para mim. Nem que seja por uma noite... - levantei uma sobrancelha, sentindo a quantidade de tequila que eu tinha tomado surtir um leve efeito. 
- Por uma noite? Você diz que me ama e depois diz que só me quer por uma noite? 
- Você adora se fazer de idiota! - seu tom de voz era brincalhão, ele não tinha intenção de me magoar com aquelas palavras. - Se eu pudesse, passaria todas as noites da minha vida com você. Não só as noites, mas os dias também. Mas eu sei que não posso ter isso, então eu mando meu orgulho para o inferno e torço por apenas uma noite. - depois de ouvir tudo aquilo, meu coração acelerou. Por mais que você não sinta nada por uma pessoa, certas palavras conseguem provocar sensações diversas em seu corpo. Das melhores as piores. 
Naquele caso, eram as piores. 
Como eu tinha sonhado em ouvir aquelas palavras anos antes... Eu daria qualquer coisa para que ele tivesse me dito aquilo quando éramos adolescentes. 
Estava frio, eu me sentia fria por dentro e por fora. Me sentia sozinha, me sentia perdida, mesmo estando na casa que era de minha família. Eu me sentia culpada, mas também me sentia injustiçada. Eu queria correr dele, mas também queria curar sua mágoa. Repreendi a mim mesma, baixando a cabeça e segurando o lábio inferior com força. A simples hipótese se fez em um vislumbre por minha mente. A imagem do rosto tristonho de Joseph se formou perfeitamente, quase como se eu pudesse enxergá-la, ali, onde o rosto de Cameron deveria estar. Por um momento, cega pela saudade, eu ergui minha mão e toquei o rosto do homem a minha frente, desfazendo o toque quando percebi que, não, não era Joseph. Joseph estava longe demais para que eu pudesse tocá-lo... Mas presente demais para que eu pudesse deixar de pensar nele. 
Eu estava louca, só poderia estar correndo em direção a insanidade, visto que algo em meu interior alertou que eu deveria proferir as palavras que, involuntariamente, se formaram em minha mente. E o som das palavras determinava que eram proferidas por Daniel, sim, aquela era a sua voz. 
Faça
- Trinta minutos. - eu sussurrei e ele me olhou sem entender, uma chama de esperança surgindo em sua face. - Meu quarto. - soltei as palavras de um jeito rápido, virando meu corpo desconcertado e saindo de perto dele, caminhando rápido pelo corredor. Naquele momento eu não me permitia pensar em nada, porque, se pensasse, me arrependeria. Eu já tinha dado esperança a ele, como poderia tirar?. Eu não poderia mentir para mim mesma, estava carente. Estava precisando de calor humano, precisando de alguém para levar minhas mágoas embora por pelo menos um tempo. Eu era um ser humano como qualquer outro, estava com a tremenda necessidade de me sentir amada. De me sentir melhor, de sentir que eu ainda estava viva. E só existia um jeito de confirmar. 
Senti ódio de mim mesma. 
Abri a porta do quarto e coloquei meu corpo para dentro, fechando-a e me encostando à madeira. Fechei os olhos e soltei o ar pela boca lentamente, deslizando meu corpo que, por fim, caiu sentado no chão frio. Meu dedo anelar queimou em uma reação psicológica e eu levantei minha mão para olhar. 
Lá estava a aliança. 
Fechei os olhos de novo, dessa vez com mais força. Eu não queria sentir aquela culpa mesmo antes de ser necessário, eu estava travando uma batalha com aquela maldita culpa imprópria. Quando percebi, já tinha arrancado a aliança do meu dedo. Ele formigou e a marca feita pelo anel estava lá, eu ainda conseguia senti-lo contra a pele de meu dedo anelar. Levantei-me e o guardei em uma caixinha de madeira ao lado da penteadeira, apagando a luz e lançando meu corpo em direção ao cama, olhando o teto como se a solução estivesse presa ali. 
Meus músculos pesaram, assim como minhas pálpebras. 

(n/a: Coloque Apologize do OneRepublic para tocar!)

Duas batidinhas na porta fizeram meu coração acelerar assim que abri os olhos em um susto. Levantei da cama e caminhei até a porta, respirando fundo de novo antes de segurar, girar e puxar a maçaneta. Quando o fiz, ele estava lá, me olhando extremamente sério. Sem dizer nada, fui para o lado e dei passagem para que entrasse em meu quarto. Tranquei a porta e virei o corpo. Ele estava de pé, parado, a luz vinda da janela iluminava seu rosto e seus olhos.
Eu não queria falar nada, eu não falei nada.
Acabei com a distância entre nossos corpos e passei minhas mãos por seus ombros, sentindo as suas abraçarem minha cintura. Nossos lábios se chocaram e a língua dele pediu passagem, concedi sem pensar. Uma de suas mãos saiu de minha cintura e foi para a minha nuca, segurando os cabelos do local com determinação. A forma como ele me beijava era desesperada, necessitada. Estava me deixando sem fôlego. Sua língua quente fazia aquele frio idiota na barriga surgir toda vez que começava a travar uma guerra com a minha. Segurei seus cabelos com força, aprofundando ainda mais nosso beijo. Era molhado, intenso, dizia muito e ao mesmo tempo não dizia nada. Seu hálito era quente e agradável, seus lábios eram macios. Ele sabia o que estava fazendo.
Nos separamos, ofegantes. Ele me fez olhar em seus olhos e eu balancei a cabeça positivamente, sendo levada - de um jeito que não me importei em reparar - até a cama.
De modo estranho, a luz de meu quarto passou a piscar, como se prestes a queimar. A atmosfera do ambiente parecia carregada, assim como meu corpo, que era capaz de movimentos lentos e impacitados. Era como se eu não conseguisse guiá-los, o homem sedento a minha frente era o responsável por isso.
Ele se deitou por cima de mim, delineando as curvas do meu corpo - ainda coberto pelas roupas de frio - com uma das mãos. Cameron não queria largar meus lábios, não queria quebrar aquele contato. Ele tinha medo de me soltar e não conseguir me ter novamente. Seus lábios ávidos percorreram minha pele até a região do pescoço, onde ele beijava com paixão. Eu tentava ficar em silêncio, sendo obrigada a segurar os gemidos que já insistiam em vir.
De repente, a neve do lado de fora parecia ter se transformado em um sol escaldante. Literalmente. A escuridão não envolvia mais o lado de fora, porém, meu quarto ainda parecia sombrio.
Ele parou de me beijar e tirou minhas roupas na velocidade da luz, deixando-me totalmente nua em tempo recorde. Um arrepio percorreu todo o meu corpo.
- Eu não consigo acreditar nisso... - Cameron apenas encostou nossos lábios, respirando com dificuldade. - Parece que vai acabar a qualquer momento. Eu preciso te segurar com força, antes que acabe. Eu preciso aproveitar isso como se fosse a última coisa que eu farei em vida. - logo ele estava com o abdomen nu a minha frente, soltando um gemido baixinho quando as palmas geladas de minhas mãos passaram por sua barriga. Senti algo queimar as palmas de minhas mãos, afastando-as repentinamente de sua pele. Olhei para a luz que voltou a piscar e o sol não brilhava mais do lado de fora. Tínhamos voltado para a madrugada.
Cameron relaxou o corpo na cama e passou uma perna por cada lado de meu corpo, puxando o elástico da calça que usava. A temperatura só aumentava, e eu não me permitir pensar nada, dizer nada e sentir apenas o que o momento proporcionava.
Ele depositou diversos beijos pela região de meu pescoço e virou a cabeça, encostando seu ouvido na região de meu coração.
- Veja só como bate... - o puxei pelos ombros, passando a língua por seus lábios e recebendo uma mordida no lábio inferior. As mãos dele largaram meu corpo e ele tentou desesperadamente se livrar de sua calça, a arrancando de qualquer jeito e levando sua boxer cinza junto. Seu corpo se afastou ainda mais e ele começou a beijar meu tornozelo, subindo cada vez mais, até chegar em minhas coxas. Seus dedos passaram rapidamente pela minha virilha, então prendi a respiração.
Gritos curtos escapavam por meus lábios, como gemidos desesperados. Eu sentia o suor esquentando minha pele enquanto fitava o homem ainda em cima de mim, realizando aqueles movimentos lentos - e por vezes rápidos - de forma repetitiva contra o meu corpo.
- Olhe nos meus olhos, Demetria! - Cameron ordenou, e no mesmo momento eu senti a luz acima de nós explodir, mas em nada pareceu afetar nossos corpos, apenas provocara um tremendo susto em mim. Segurei com força nele, me desfazendo daquele maldito contato visual que ele insistia em ter. Quando voltei a fitar suas feições, não sabendo mais se o tinha dentro de mim ou não, como se incapaz de sentir alguma coisa, não fora o seu rosto que enxerguei.
O rosto que estampava aquelas imagens em preto e branco não era do homem cujo corpo permanecia grudado ao meu. Era outro rosto. Completamente diferente.
Joseph... - escapou pelos meus lábios entreabertos. Por um instante, apenas um instante, eu sorri com a ideia. A ideia de que era ele ali. Joseph, meu marido.
Mas não era.
Arregalei meus olhos, percebendo o que tinha acabado de acontecer. O homem que me tinha em seus braços não disse nada, provavelmente fingiu não ter escutado. Senti um aperto no peito, senti como se eu fosse a única vilã da história. Ali, brincando com o coração de um e desejando o de outro. Não era justo, não era certo. E precisava terminar.
Estarrecida, olhei para a porta antes fechada, abrindo a boca em espanto quando constatei que a mesma estava aberta. Tudo ficou escuro por segundos, eu não sentia mais um corpo por cima do meu. Abri os olhos com desespero, forçando-os a permanecer daquela forma, então algo voltou a mudar em toda a cena. A porta aberta não mais vazia, revelava alguém que apenas observava o que eu fazia com Cameron naquela cama. Senti a vergonha envolver meu corpo como ondas cruéis em uma tempestade, deixando-me absurdamente enojada. Joseph manteve os olhos fixos aos meus, encostado ao batente, a aparência desleixada, os cabelos bagunçados, profundas olheiras nos olhos.
Mas o sorriso era sombrio.
Tentei me livrar da prisão que o homem em cima de mim ainda fazia em meu corpo, arregalando os olhos quando vi um revolver reluzente ser tirado do bolso do casaco que Joseph usava. O homem à porta olhou para o mesmo e voltou a revelar um aberto sorriso de intenções obscuras.
- Saia daqui... - tentei, notando que aos poucos ia perdendo o fôlego, até não ser capaz de falar mais nada.
- Agora eu tenho um motivo para permanecer na prisão. - a voz de meu marido penetrou pelo recinto dolorosamente, fazendo com que meus ouvidos latejassem. Em seguida, notando a surdez que se fazia presente, tudo que consegui ver fora sangue. Sangue que caiu sobre o meu corpo, arrancando um grito de pavor que irrompeu pelos meus lábios. Era o que eu merecia por ter agido de forma tão inconsequente


Um som esganiçado pela agonia escapou por meus lábios secos, doloridos por terem sido segurados por meus dentes durante o tempo em que permaneci adormecida. Com suor na testa, levantei-me as pressas e olhei ao redor, levando a mão até meu peito, massageando a região e tentando fazer com que meu coração não batesse de forma tão descompassada. Olhei para a lâmpada acima de mim, sem qualquer sinal de instabilidade. Levantei-me com pernas bambas, a expressão em meu rosto, provavelmente, revestida pelo incomodo que cobria todo o meu ser. Meu estômago estava embrulhado, lágrimas queriam sair por meus olhos. Xinguei mentalmente a mim mesma o tanto de vezes que fui capaz, não acreditando que tinha mesmo sonhado coisa tão absurda. Levei meus cabelos desobedientes para trás, caminhando de um lado para o outro do quarto. Corri até a caixinha de madeira na penteadeira e vasculhei por minha aliança perdida em meio a brincos e outras jóias, colocando-a em meu dedo o mais rápido que pude. Ainda tentando estabilizar minha respiração, olhei um relógio de parede e percebi que apenas vinte minutos tinham se passado. Sim, vinte minutos fora tempo o suficiente para que aquelas imagens pavorosas invadissem meu subconsciente. Eu estava apavorada, como se o ato realmente tivesse acabado de ser executado, como se sentisse em meu corpo as sensações provenientes do sonho. 
Não, não, não! O que eu tinha na cabeça? Como pude me dar ao luxo de pensar em trair meu marido? Voltei a largar meu corpo no chão, ficando sentada de qualquer jeito, encarando o nada enquanto tentava pensar em uma forma de desfazer um estrago que estava prestes a ser concluído. 
Traição nunca esteve disponível em meu vocabulário. Nos poucos relacionamentos que tive antes de conhecer Joe, até mesmo nos mais insossos e sem qualquer índice de, no mínimo, paixão, jamais me deixei pensar em traição. Eu simplesmente me afastava deles, dando liberdade para a pessoa seguir com sua vida. E não seria naquele momento que um deslize aconteceria. Eu tinha convicção do que queria e do que não queria, era adulta o suficiente para reconhecer que, sim, fazemos coisas sem pensar, mas, mesmo assim, não precisamos cair no mesmo erro duas vezes. Nada aconteceria naquela noite. 
Alguém bateu em minha porta. 
Levantei-me conformada, já sabendo de quem se tratava. Limpei os cantos de meus olhos úmidos com a palma da mão, pedindo mentalmente perdão a Joseph, mesmo sabendo que ele não seria capaz de ouvir. Era o que mais doía naquele momento: reconhecer que, por instantes, eu cogitei a hipótese de traí-lo. Trair o homem que eu amava. 
- Estúpida! - rosnei para o meu reflexo no espelho, não gostando da imagem que encarei. 
Coloquei-me de frente para a porta, segurando a maçaneta com firmeza antes de girá-la. A enorme sensação de déjà vu fraquejou minhas pernas novamente, forçando-me e hesitar antes de puxar a porta para trás. E, quando finalmente uni coragem o suficiente para o ato, lá estava aquele rosto iluminado me olhando de forma interessada. Eu senti nojo dele, de mim, da situação em um geral. Queria sair correndo daquele lugar e voltar o quanto antes para a minha verdadeira casa. 
Encarei o rosto de Cameron com pesar, negando com a cabeça e segurando meu lábio inferior com os dentes, tentando adiar a palavra que escapou sem pedir permissão pelos meus lábios. 
- Desculpe. - sussurrei, encostada ao batente da porta, sentindo o incômodo na boca de meu estômago outra vez. Não era justo o que eu estava fazendo. Não era... Não era! 
- Pelo quê? - quis saber, curioso. 
- Pelo sentimento que você nutre por mim. Se eu pudesse impedir, impediria. - ele olhou para baixo e riu, passando as mãos pelos cabelos e já sendocapaz de compreender que nada aconteceria entre nós. Sentindo-se enganado, Cam suspirou pesadamente e evitou o contato visual. - E desculpe também por... Isso. - eu me referia ao que acontecia no momento, meu impensado pedido para que ele fosse até o meu quarto, incitando a ideia de que algo aconteceria entre nós naquela noite. - Eu não sou essa mulher, essa mulher que provoca situações que no dia seguinte lhe trarão apenas arrependimento. Vá embora pela manhã, se quiser, vou entender se você determinar que nossa amizade acaba aqui. - sorri tristemente. - E obrigada, eu te agradeço do fundo do meu coração por ser meu anjo da guarda. 
- Não é isso que eu quero ser. - lamentou ele, fazendo menção de se aproximar, mas ergui minha mão, pedindo que não o fizesse. 
- É só o que você pode ser. Sinto muito. - aproximei meu corpo do seu, o deixando esperançoso por segundos, mas percebi que seus ombros murcharam quando tudo que fiz fora apoiar uma mão em seu largo ombro esquerdo, ficar nas pontas dos pés e depositar um beijo terno em seu rosto, na altura da bochecha. Apenas movimentando os lábios como se dissesse "me perdoe", tomei distância para poder fitá-lo, com um sorriso singelo nos lábios. - Bom resto de madrugada. 
Lentamente fechei a porta, assistindo seu rosto inconsolável aos poucos desaparecer. 

I'd take another chance, take a fall, take a shot for you
I need you like a heart needs a beat, but it's nothing new
I loved you with a fire red now it's turning blue
And you say "Sorry" like the angel
Heaven let me think was you, but i'm afraid.

It's too late to apologize
It's too late.

*:・゚✧*:・゚✫*:・゚✧*:・゚✫*:・゚✧*:・゚✫

Bom, vocês não comentam, mas vou postar um capitulo novo a cada episodio que eu assistir de uma serie, ok?
Tchau

Um comentário:

Sem comentario, sem fic ;-)