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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 19


Inocência



Demetria's P.O.V

Genebra

Janeiro. Um novo ano.
O futuro estava se transformado em presente, mas o passado não deixava de nos segurar com suas garras afiadas. Os dias passavam, tempo estava sendo perdido. Mas o que poderíamos fazer? Estava tudo de cabeça para baixo, de novo. 
Eu estava sozinha em casa; minha mãe tinha ido fazer compras. Suas compras demoravam horas e mais horas. Peter tinha saído com Cameron, eles insistiram para que eu fosse também, mas me recusei. Aquilo era tudo que eu mais queria: ficar sozinha. Ficar remoendo o que tinha quase feito, sozinha; me culpar eternamente, sozinha; me sentir um lixo, sozinha. Poderia parecer um drama excessivo, algo deveras desnecessário, mas eu não conseguia eliminar a sensação que fazia parecer que eu realmente tinha passado dos limites com Cameron. O homem não fora embora no dia em que eu praticamente o forcei a me esquecer, ele alegou que não tentaria mais nada. E foi o que aconteceu. Fora que minha mãe exigiu que ele ficasse pelo menos até o primeiro dia daquele ano que tinha se iniciado. Como eu poderia contestar, certo? Ficávamos longe um do outro, conversávamos apenas quando o restante de minha família estava por perto. Era melhor assim. 
Eu estava com o corpo largado na banheira, a água estava bem quente - a deixei assim devido a temperatura baixa ao redor. Voltei a pegar a garrafa e tomei seu líquido, já acostumada com o gosto amargo. Eu estava no fundo do poço. Estava chorando há horas seguidas e bebendo de estômago vazio feito uma maluca. Não me surpreenderia se desmaiasse a qualquer momento naquela banheira.
Na maior parte do tempo, eu gostava de manter a positividade ligada, gostava de pensar que tudo ficaria bem. Mas naquele dia não. Eu estava sendo uma completa pessimista depressiva, que não conseguia pensar em outra coisa a não ser o fato de que, talvez, as coisas não melhorassem. Talvez eu tivesse criado a ilusão de que palavras proferidas por minha mãe se tornavam a verdade porque, dessa forma, parecia mais confortável viver. Mas eu não era uma garotinha, eu deveria estar preparada para o pior. Joseph pensou em desistir da própria vida uma vez, então o que me garantia que não tentaria novamente, principalmente vendo seu caso apenas se agravar? 
Meu estômago parecia se revirar dentro de mim e aquela devastadora sensação de arrependimento gelava todo o meu corpo. Como quando você sabe que fez algo terrível e não pode voltar atrás. Você seria capaz de vender sua alma para voltar atrás. 
Eu estava completamente sóbria quando tomei aquela atitude detestável, nem a desculpa do álcool eu poderia dar. Por que tinha que ser tão impulsa, por que eu pensei em me entregar a algo que só traria benefício a outro alguém? Eu não aguentava ver Cameron sofrendo por mim, mas quase aceitar dormir com ele fora... Repulsivo! Eu estava sentindo nojo, me sentindo suja. Parecia que ficar o dia inteiro naquela banheira não alíviaria aquilo de maneira nenhuma. Eu queria fazer alguma coisa, queria achar um jeito de consertar meu erro. Procurei durante horas por alguma solução dentro da minha mente, mas tudo que eu conseguia pensar era: Eu traí por pensamento o homem que amo - por mais que ninguém tenha o poder de ler minha mente. Se eu contar a ele, será que as coisas permanecerão as mesmas entre nós? 
Deixei minha cabeça afundar e prendi a respiração, totalmente submersa pela água quente. 
Naquele momento eu não tinha permissão para sentir saudades de Joseph, mas não conseguia evitar. Incrível como quando você está no estágio máximo da saudade, pequenas coisas fazem com que ela só aumente. Coisas tão insignificantes como o cheiro do cabelo dele, a maneira como parecia um garotinho enquanto dormia, o jeito desesperado que ele ficava quando eu não estava me sentindo bem. É triste quando a única coisa que você tem para tentar aliviar um pouco a dor são lembranças de uma época supostamente feliz. 

Flashback
1 ano antes...

A única coisa que impedia nossos corpos de terem um contato direto com a areia branca era aquele tecido fino de cor forte. O céu estava de um azul extremo, sem núvens. O sol brilhava, seus raios eram fortes e reconfortantes. O mar estava calmo, as ondas se movimentavam de um jeito lento, provocando uma atmosfera agradável. Um leve vento passava pelos coqueiros, os movimentando. 
A paisagem paradisíaca a minha frente só não era melhor do que a que estava ao meu lado: Joseph. 
Tínhamos escolhido aquela ilha para passar as férias, era praticamente deserta. Cassie e Jared estavam conosco, mas àquelas horas deveriam estar escondidos em algum canto do outro lado da ilha. 
Joseph estava estirado ao meu lado, vestia apenas uma bermuda larga e vermelha. O calor já fazia seu corpo transpirar levemente, o deixando com um aspecto que me parecia atraente. Eu pedi que ele passasse protetor solar, mas meu namorado estava se recusando, então tive que me levantar e fazer aquilo para ele. Seus olhos estavam cobertos por óculos escuros e Joe não fazia muito a não ser aproveitar minhas mãos passando pelo seu corpo. Deitei o corpo de lado e apoiei o cotovelo na areia, segurando minha cabeça com a mão. Ele ergueu sua mão e delineou minhas curvas, como quem não queria nada. Depois de um tempo, continuamos daquele mesmo jeito. Imóveis, apenas aproveitando o sol. Ergui um pouco o corpo, sentindo a leve brisa passar por meus cabelos e olhei para o corpo de Joseph de novo, mordendo o lábio inferior. Ele parecia preguiçoso demais, desinteressado demais. Ajeitei a parte de cima do biquini branco que eu estava usando e fui para mais perto dele, engatinhando e abaixando um pouco meu corpo para dar um beijo em seu queixo. Me pegando de surpresa, ele segurou minha cintura e derrubou meu corpo, o deitando e ficando por cima. Soltei um risinho assustado e ele um malicioso. Estava difícil controlar os hormônios com aquele calor, a pouca roupa, os beijos no pescoço e aquele abdomen delícioso se roçando com minha barriga. Arfei, sentindo sua mão segurar meus cabelos com certa força e Joseph me deu um beijo de tirar o fôlego, deslizando a mão por uma de minhas coxas. Comecei a rir e ele parou para me olhar. 
- Eu achei que você queria dormir... - comecei, mas ele grudou os lábios nos meus. 
- Pequena regra: fique quieto até que sua presa pense que você não liga para ela. E, então, ataque! - Joe disse baixo, praticamente sussurrando e me olhou de um jeito intimidador. Voltamos a nos beijar e ele movimentou um pouco o corpo, me fazendo sentir o volúme dentro de sua bermuda. Beijou meu colo e chegou perto dos seios cobertos pelo biquini. - E com esse biquini, Demetria, é quase um pecado não pensar em nada devasso. - Joseph inverteu nossas posições e me deixou por cima, começando a brincar com o laço do biquini em minhas costas. Ele puxou uma das pontas e eu senti a peça ficar mais frouxa em meus busto. 
- Tem certeza de que você quer fazer aqui? Não é uma ilha deserta, Jonas! - provoquei, erguendo uma sobrancelha. 
- Você consegue ver alguém? - levantei o rosto para olhar ao redor e ele aproveitou para dar um chupão em meu queixo. Apoiei minhas mãos e os joelhos na areia coberta pelo tecido e comecei a distribuir beijos por todo o peitoral dele. Sorri satisfeita ao mordiscar sua barriga e ele fechar os olhos, deixando que um som - que indicava satisfação - escapar por seus lábios. O vento aumentou um pouco, espalhando meus cabelos para diversas direções, mas Joseph tirava os fios que vinham desobedientes em meu rosto. Subi um pouco o corpo, voltando a beijar seus lábios. O calor entre nossos corpos ficou maior, e a fricção foi instantânea. Mas antes de qualquer outra coisa acontecer, percebi que ele me olhou de um jeito estranho e abriu a boca para dizer alguma coisa. 
- O que foi? - perguntei, afagando seu cabelo. 
- Posso te pedir uma coisa? 
- É claro que pode! - sorri maliciosa e voltei a beijar sua pele. 
- Olhe para mim! - sua mão segurou meu queixo, erguendo meu rosto, enquanto a outra continuou a segurar um dos lados dos meus quadris. Concordei com a cabeça e esperei que ele falasse. - Se algum dia você encontrar outra pessoa e algo, qualquer coisa, acontecer entre vocês, por favor, me conte, ok? - revirei os olhos, não entendendo o motivo daquilo. 
Joe, o que deu em você? Isso não vai acontecer, e... 
- É sério, Demi! Você promete que vai me contar? 
- Eu nunca vou esconder nada de você, independente do que seja, meu amor. - Joseph sorriu para mim e desviou o olhar para observar a praia. Poderia até ser impressão minha, mas quase jurei que seu semblante estava coberto de preocupação. Mas tudo estava bem, aquele estava sendo o nosso final feliz. 
Voltei a distribuir minhas carícias, até que ele pareceu se esquecer do que o atormentava e passou os dedos pelas minhas costas, puxando com determinção o laço do biquini. A peça deixou minhas costas nuas e continuou a cobrir apenas meus seios, de modo que eles estavas quase expostos. Logo ele deu um jeito naquele pequeno problema. 
- Agora podemos desfrutar um pouco da natureza, não é? - Joe disse, com um tom de voz divertido e arteiro. Eu tinha certeza de que ele não estava se referindo a surfar ou nadar com golfinhos. 

Fim do flashback.

Era tarde para reverter o pensamento condenador que tive, mas não era tarde para ser justa e fazer o que Joseph tinha me pedido. Lutar para conseguir sua liberdade, lutar para que estivesse a salvo em meus braços outra vez. Era o mínimo que eu podia fazer. Emergi e saí da banheira, enrolando meu corpo em uma toalha e começando a tremer. Estava frio demais! Depois de me secar e colocar uma roupa quentinha, peguei todos os meus pertences e os arrumei de qualquer jeito dentro da mala. Peguei meus documentos, cartão de crédito e o dinheiro que tinha levado e desci com a mala para o andar de baixo, procurando por papel e caneta. Enquanto me sentei no sofá e pensei em quais palavras usar naquele brilhete, senti as lágrimas voltarem a cair. Eu não poderia mais ficar na Suíça, não conseguia mais aguentar aquela dor. Eu precisa voltar para a Inglaterra e fazer alguma coisa. No bilhete, avisei minha mãe e Peter que eu realmente precisava voltar para Londres, pedi desculpas e disse que logo daria notícias. Peguei mais um pedaço de papel e escrevi outro bilhete, aquele foi mais breve ainda. Disse a Cam que não aguentava mais ficar naquela situação e precisava voltar. Pedi desculpas pelo meu erro e o agradeci por não ter me deixado durante toda aquela loucura. 
Subi rapidamente até seu quarto e coloquei o papel dobrado sobre sua cama, voltando para a sala e respirando fundo. Olhei para a janela e suspirei ao perceber que estava nevando. Eu teria que pegar um taxi e ir até o aeroporto antes que alguém chegasse em casa. E foi exatamente o que eu fiz. 

/Demetria's P.O.V


Londres

- Por favor, Joseph... - o tom de voz de Elizabeth era baixo, ela estava com lágrimas nos olhos. Não aguentava ver o filho naquela situação. Mas o olhar dele para ela era frio, Joseph estava mudado. A barba em seu rosto estava um pouco crescida, os cabelos estavam bagunçados e os olhos verdes nem de longe eram brilhantes. Um mês tinha se passado desde que Joseph Jonas estava preso. Os resultados mais demorados de diversos exames feitos nos restos mortais encontrados na casa que pertencia a seu pai ficaram prontos. A ossada realmente era de Erin Fields, sua morte fora devido a bala que penetrou seu crânio. Os familiares da garota já estavam cientes de tudo e já organizavam um lugar para enterrar os restos da filha, junto com uma homenagem. Os advogados de Joseph tentavam fazer alguma coisa, mas Jonas simplesmente não cooperava. Parecia que ele não queria sair dalí, parecia que queria pagar. Mas e se o que Bethany disse era realmente verdade? Então, não seria justo ele permanecer daquele jeito. 
Elizabeth estendeu a mão para segurar a do filho, que estava apoiada na mesa. A área de visitas estava vazia, só os dois se encontravam lá. Joseph tirou a mão do lugar, olhando para baixo e se mexendo desconfortável na cadeira. 
- Não sei o que deu em você, mas não faz sentido que venha me procurar e pedir isso agora. - sua voz estava estranha, nem ele mesmo a conhecia mais. - Eu estou trancado aqui há um mês, e só agora você resolve que me quer em sua vida de novo? Novidades: eu não quero você na minha. Você teve muitos anos para tentar consertar seus erros, agora já é tarde. Poderia ter pensado em mim antes de fugir com aquele homem, mas não, você não parou para pensar no que poderia acontecer comigo e partiu. Isso tudo é culpa sua! - Joseph soltou todas as palavras sem pensar, olhando fundo nos olhos da mãe. Ela limpou uma lágrima e se recompôs, não evitando o contato visual. Sabia que provavelmente era tarde, mas também sabia que enquanto ela e o filho estivessem vivos, tentar uma reaproximação era considerável. 
- Eu não posso te culpar por falar desse jeito, filho, mas... 
- Por que agora? Aceite logo que seu filho está perdido e vá embora. 
- Você não está perdido, Joseph. Eu sei, com toda a certeza do mundo, que você não fez nada àquela garota. O meu filho não, o Joseph que eu vi crescer nunca faria nada assim. 
- Viu crescer? Claro, até a parte fácil! Porque quando eu realmente comecei a crescer, você não estava lá. Eu enfrentei os piores momentos daquela época sozinho. 
- Sim, enfrentou tudo sozinho. E eu tenho orgulho de você por isso. 
- Por favor, vá embora. 

Flashback
23 anos antes...
(n/a: Leia os flashbacks ouvindo essa música) 

Os corredores do hospital eram movimentados, assim como a cabeça de Joseph. Não sabia o que estava acontecendo do lado de dentro daquela sala de parto, não sabia como sua amada Elizabeth estava. Ela entrou naquele lugar com muita dor, dizia não aguentar mais, as lágrimas saiam grossas de seus olhos. Joseph tinha beijado sua testa com carinho e dito que tudo ficaria bem. O rosto jovem naquela época estava preocupado, os olhos vermelhos por causa de lágrimas que ele insistia em segurar. Se lembrava do médico ter avisado desde o início que a gravidez de Elizabeth era de risco, mas sempre manteve a esperança acessa. 
Tudo ficaria bem. Seu filho - ou filha - ficaria bem. Ele e ela decidiram que o sexo do bebê seria uma surpresa. 
Dentro da sala repleta por médicos, Elizabeth tentava se manter acordada. As dores eram intensas, suas forças estavam acabando, mas ela sabia que precisava resistir e lutar. O médico tentava lhe passar confiança com palavras que a estimulavam a continuar empurrando, apesar de olhar com preocupação para seus ajudantes. Ela chorava, implorava para que seu bebê chegasse com vida ao mundo. Não suportaria ter a felicidade arrancado de seu corpo, mas pensar o pior era inevitável naquela situação. 
- Mais um pouco, Elizabeth, seja forte! Só mais um pouco... Vamos lá! - um grito escapou por sua garganta ao ouvir as instruções do médico. Sua visão foi escurecendo aos poucos e ela pareceu levar um choque. Mal conseguia se mexer. 
Porém, quando ouviu aquele choro, sabia que seria capaz de passar por tudo aquilo de novo. Valeu a pena. 
- Pronta para saber o sexo do mais novo habitante desse mundo? - ela ouviu uma voz perguntar e, mesmo totalmente fraca, um som afirmativo saiu de sua garganta. - É um menino! Um menino forte e saudável! Meus parabéns, Elizabeth. 
Um menino. Ela não conseguia acreditar! Um menino... Seu bebê estava bem. Joseph estava bem. 

Fim do Flashback.

Joseph... - Elizabeth tentou outra reaproximação e segurou a mão do filho. Joseph tentou recuar, mas não conseguia. O calor da mão de sua mãe era reconfortante. - O dia em que você nasceu continua sendo o dia mais feliz da minha vida. Seguido pelo dia em que você disse sua primeira palavra: mamãe. E quando você disse aquelas três palavras totalmente enroladas: vou sarar você. Se lembra disso, Joe? Você era tão pequeno, mas ficou ao lado de seu cachorro quando ele ficou doente. Você queria curá-lo de qualquer jeito. Deitava a cabecinha na barriga dele e ficava lá o dia inteiro. Eu olhava aquela cena e pensava: meu menino vai ajudar as pessoas ou até mesmo os animais quando crescer. Esse ainda é seu sonho, não é? Ser médico. 
Joseph estava sem reação. Ouvir tudo aquilo não lhe fez bem, suas fraquezas estavam aumentando. Se ele era tão sem importância para a mãe como imaginava ser, como ela era capaz de se lembrar de tudo aquilo? 
- Olhe para mim... Mãe. - ser chamada daquele jeito fez o peito de Elizabeth se encher de felicidade, apesar de tudo. - Você acha mesmo que eu posso continuar tendo sonhos? Tudo que eu posso querer agora é sair daqui, a qualquer custo. E há muito tempo eu me proíbo de desejar as coisas, porque nunca vou alcançá-las. 
- Não fale assim, meu garoto. Você sabe que ainda tem pelo que lutar. 
Será mesmo que aquela mulher queria Joseph de volta em sua vida? Será mesmo que ela estava realmente arrependida? Elizabeth sentia saudades imensas de Joseph. Queria tanto poder voltar no tempo e nunca tê-lo abandonado. 

Flashback
19 anos antes...

O sol estava brilhando. O garotinho passou correndo pela ponte de madeira, ignorando os gritos de sua mãe para que fosse mais devagar. Ele olhou o enorme lago a sua frente e sorriu, se assustando quando seu pai se aproximou e o pegou nos braços, ameaçando jogá-lo dentro da água. Quando o susto passou, ele disparou a rir. Elizabeth e sua irmã estenderam uma toalha quadriculada em uma região próxima e ficaram lá sentadas, olhando as flores e assistindo os homens começarem uma tentativa de pescaria. Joseph, o marido da irmã de Elizabeth e o pequeno Joseph se sentaram na beirada larga da ponte. Joseph assistia os dois mais velhos prepararem os instrumentos de sua pescaria e cruzou os braços, se perguntando se teria que ficar apenas olhando. Ele estava usando um boné de algum time de futebol, sua mãe quis que ele colocasse, pois daquele jeito se protegeria um pouco mais do sol. Algum tempo depois, quando a pescaria não parecia ter sucesso, ele saiu de perto dos homens e foi procurar sua mãe. Se sentou com ela perto de uma clareira. Os dois ficaram um tempo apenas olhando as nuvens passando, Joe podia jurar que enxergava desenhos de animais nas mesmas. 
- Mamãe, será que um dia eu vou me casar e ter filhos? - a voz fina e infântil do menino pegou Elizabeth de surpresa e ela parou um instante para pensar. 
- É claro que sim, Joe! Quando você encontrar a pessoa certa, tudo isso vai acontecer. 
- Mas como eu vou saber quem é a pessoa certa? - ele tirou seu boné e a mãe passou os dedos por seus cabelos. Os olhinhos verdes a olhavam com curiosidade. 
- Quer uma dica? A pessoa certa será aquela que vai te dar forças para fazer qualquer coisa. Você vai pensar nela e perceber que tudo é possível. E ela também vai se sentir desse jeito quando pensar em você. É claro que às vezes as coisas não vão ser fáceis, mas no final tudo dá certo. 
- Algo de ruim vai acontecer comigo? - Joseph perguntou, ingênuo. 
- Por que me pergunta isso, querido? É claro que não! - Elizabeth beijou a testa do garoto e ele sorriu sem mostrar os dentes. 
- Uma vez eu ouvi o papai dizer que o mundo não é mais um lugar bom. As pessoas não são boas como costumavam ser... - para a pouca idade, Joseph era um garoto extremamente inteligente. - Papai disse que as pessoas se machucam. 
- E quem vai cuidar dessas pessoas no futuro? - ela sorriu e ele sorriu também. - Quem vai ser o melhor doutor do mundo? 
- Eu, mas será que vou conseguir? 
- Acredito em você. - as bochechas dele ficaram coradas e Joe riu de leve, uma risada gostosa de se ouvir. - O que foi? 
- Onde será que está a menina que vai casar comigo? 
- Ah, ela está por aí. Cedo ou tarde vocês vão se encontrar! Até lá, eu vou cuidar de você! 

Fim do flshback.

- Por que você não ficou por perto? Por que teve que me abandonar, mãe? - os olhos de Joseph brilharam, mas não de felicidade. Eram as lágrimas que estavam prestes a cair. Elizabeth apertou sua mão com mais força, se lembrando do que tinha dito ao filho alguns bons anos antes. 
- Eu não tive escolha, meu filho. Seu pai me disse que se eu saísse daquela casa, deveria ficar longe de você. Ele me ameaçou... - suas palavras eram sinceras. - É tarde demais para pedir uma última chance? - ela tentou mais uma vez, sua última chama de esperança. Precisava do perdão do filho. Joseph balançou a cabeça negativamente e ficou com os olhos perdidos, como se estivesse pensando em alguma coisa. Sua mãe sabia que nem tudo estava perdido. A mesma bondade do garoto de apenas 4 anos ainda estava alí. 
- Como é que eu vou fazer o que você me pediu antes? Não vão me deixar... 
- Vou dar um jeito, Joseph. Não se preocupe. Eu só te peço que faça isso, vai ser muito importante para mim. E depois nós vamos pensar em um jeito de te tirar daqui. 
Depois que os dois aparentemente fizeram aquele combinado, ela se levantou e se despediu com um beijo na testa dele. Já era um homem, mas nunca era tarde demais para uma demonstração de afeto de mãe. Ele chamou seu nome e ela se virou. Joseph quase se esqueceu de perguntar uma coisa... 
- Onde o Cameron está? - aquele era o jeito de ter notícias do homem que estava encarregado de cuidar de Demetria. Precisava saber se ele estava bem. 
- Há um mês que ele viajou. 
- Para onde? - ela estranhou aquelas perguntas e ele se deu conta de que sua mãe não sabia de tudo que estava acontecendo. 
- Ele me disse Genebra, na Suíça, mas não sei bem. 
Genebra. Era lá que a família de Demetria morava. Os dois estavam juntos, bem longe. Ela estava a salvo, era tudo que lhe importava. 
Uma de suas mãos se fechou em punho, assim como seus olhos. Quando os abriu, ele sentiu a raiva de novo. Mas não tinha vontade de se vingar ou fazer algum mal a Cameron, na verdade, ele só se sentiu daquele jeito porque queria estar no lugar dele. Saudade já era pouco para o que ele estava sentindo da mulher que amava. A mulher que, quando era pequeno, se perguntava onde estava e quando entraria em sua vida. 


Demetria's P.O.V

Eu estava em Londres, em casa
E realmente poderia tentar atender as ligações constantes que faziam o toque do telefone me tirar do sério. Eu sabia que era algo relacionado a empresa e aos hotéis de Joseph, e, como ele estava preso, era meu dever estar ciente de tudo que acontecia. Mas quando entrei naquela casa depois de exatamente um mês, tudo que eu quis fora tentar me sentir parte de tudo aquilo novamente. Deixei minha mala em qualquer lugar e subi as escadas, caminhando até o final do carredor e abrindo uma porta que raramente era aberta. 
Era um quarto vazio, espaçoso. As paredes estavam pintadas de um tom muito claro de azul e as janelas davam vista para o jardim dos fundos. Encostei-me à uma das paredes e fiquei ali por um tempo apenas pensando, olhando para o teto e me perguntando se as coisas dariam certo algum dia. Me lembrava bem de minha infância, de quando eu vivia perguntando para mim mãe se um dia eu sofreria muito. Ela, na tentativa de manter o meu jeito inocente de enxergar o mundo, mentiu. Disse que eu nunca sofreria, que nada de ruim aconteceria comigo. Disse que eu encontraria alguém que me ajudaria a manter tudo em seu devido lugar. Quando perguntei quem seria esse alguém, ela riu e disse que só o tempo responderia minha pergunta. E lá estava eu... Perguntando para o nada quando veria o sol outra vez, no sentido figurado. 
Mas apesar de tudo, eu jamais seria capaz de abrir mão daquela vida. Era a minha vida. 
O recinto onde eu estava, era simplesmente o lugar onde Joseph e eu tínhamos planejado que seria o quarto de nosso primeiro filho. Por que eu tinha entrado ali? Era difícil responder, talvez eu apenas quisesse procurar por esperanças de um futuro menos doloroso e incerto. 
O amor verdadeiro era uma coisa tão inexplicável. Ele conseguia colocar um sorriso em meu rosto mesmo quando tudo estava caindo. Sorrindo esperançosa, mesmo que fosse descobrir o motivo dessa esperança tempos depois, saí do quarto, apertando o interruptor. 
Ouvi o telefone tocar no andar de baixo e meu estômago revirou, como se eu imaginasse que algo preocupante me aguardava do outro lado da linha. Desci as escadas correndo e hesitei um pouco ao segurar o telefone. Me sentei no sofá e respirei fundo. 
- Alô? 
Demi? Nossa, até que enfim te encontrei! - não acreditei no que estava ouvindo. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. 
- Cassie? Meu Deus, como você está? Que saudades! - eu tinha até me esquecido de como era bom ouvir a voz de uma amiga. 
Eu estou morrendo de saudades de você, sério. E... Ah, eu estou bem. Sabe, a família aqui na fazenda do meu avô é tão grande que eles conseguem me distrair. Acho que com o tempo está ficando mais fácil superar... - fazia um tempo em que eu não parava para pensar em Jared. O falecido Jared. O amigo que fora arrancado do mundo sem chances aparentes de defesa. Mas eu não tinha esquecido a promessa que tinha feito a ele. Sua morte seria vingada. 
- É muito bom ouvir isso. E o bebê? - não podia ver Cassie, mas imaginei que naquele momento ela acariciava a barriga e dava um leve sorriso. 
Está bem. Minha vó vive dizendo que vai ser um menino... Mas não me pergunte como ela sabe disso, porque eu não tenho a mínima ideia! E que fome é essa que eu sinto? Vou virar um balão,Demi! - nós duas rimos. 
- Mal posso esperar para vê-lo! - do outro lado da linha, ouvi uma repentina movimentação e vozes misturadas que pareciam ser de crianças. 
Demi, desculpe... Eu vou ter que desligar agora, porque meu irmão e as crianças vão colher frutas e querem me levar junto. Não acho que seja uma boa ideia, mas se eu não for, eles vão me carregar! - ri de novo. Ela nunca mudaria seu jeito tagarela, e aquilo era um ótimo sinal. 
- Ok, Cassie, pode ir. Divirta-se, você merece.
Espera! Você está bem? Como estão as coisas por aí? - e não demorou para que eu me sentisse triste de novo. 
- Eu estou... Respirando, Cass. As coisas vão ficar bem... 
Demetria, não me deixe preocupada!
- Não se preocupe comigo, e sim com o pequeno ser humano que está dentro de você. 
Fique bem, ok? Vamos nos ver logo. 
- Espero que sim. - ela desligou e eu me perguntei o que faria em seguida. Tinha um certo medo de ir visitar Joseph na prisão, pois não sabia se ela gostaria que eu o fizesse. Me preocupei também com o fato de que logo Cameron chegaria a Londres, eu sabia que ele viria atrás de mim. 
Talvez não fosse uma boa hora para visitar Joe, então eu visitaria outra pessoa. 


Não me preocupei ao sair de casa, e nem me deixei pensar em Carter. Eu sabia que estava correndo um certo perigo, mas continuei a dirigir por um caminho que eu não conhecia muito bem. Mesmo assim, logo consegui encontrar o local. Estava todo coberto por neve, e estranhei as crianças não estarem montando bonecos com ela.
Estacionei meu carro em um lugar apropriado e caminhei pelo jardim congelado, subindo as escadas de madeira a batendo calmamente na porta. Uma mulher de meia idade me atendeu, vestia seu uniforme. 
- Olá, eu queria ver o Jamie! - ela me estudou por um momento e depois balançou a cabeça positivamente, abrindo mais a porta e me dando passagem. 
- As crianças estão nos quartos, está muito frio, não é? Mas vou chamar o Jamie. Sente-se, por favor. - concordei e fiz o que ela me pediu. Me senti ansiosa porque veria aquele garotinho de novo. 
Ouvi passos rápidos na enorme escada de madeira e levantei o rosto, percebendo que se tratava de Jamie. Ele usava um suéter de lã azul e os cabelos lisos estavam mais compridos do que da última vez que eu tinha o visto. Ele me olhou por um segundo e tombou a cabeça para um lado, como se tentasse me reconhecer. As sardas em seu nariz e maçãs do rosto eram adoráveis, e os olhos azuis estavam brilhantes. 
Demetria? - um sorriso tímido surgiu em seus pequenos lábios e Jamie veio para mais perto. - Eu sabia que você voltaria! - me surpreendi muito quando ele praticamente se jogou em seus braços, abraçando meu corpo de um jeito terno. Correspondi seu abraço e fechei os olhos por um instante, sentindo o calor reconfortante do corpo dele. Quando me soltou, Jamie se sentou ao meu lado e começou a me olhar de uma maneira curiosa. Sorri levemente. 
- E então, como você está? Como passou as festas? - perguntei. 
- Bem! Acredita que eu ganhei presente? - arregalei os olhos, dizendo a ele como aquilo era bom. - Mas e você? Parece triste. - olhei para o garoto tentando esconder meu espanto. Como ele sabia? Talvez crianças tivessem mesmo aquela capacidade de enxergar o que outras pessoas não eram capazes. 
- É complicado, sabe, Jamie? Você não precisa entender nada disso agora. - ele ficou em silêncio por um instante, olhando para os dedos das mãos que se entrelaçavam. 
- Me desculpe pela última vez que você veio me visitar, ok? Eu estava triste. 
- Não tem problema! - me aproximei e beijei-lhe o rosto macio. 
- Hoje você não está com aquela maquiagem feia... Você é muito bonita. 
- Obrigada! - olhei para a janela, observando a neve e tendo uma ideia. - Gosta de fazer bonecos de neve? - um sorriso largo surgiu em seus lábios mais uma vez e, depois de conseguir permissão, nós fomos para o lado de fora. Há anos eu não tentava fazer um boneco de neve, então deveria estar meio enferrujada, mas não demorou para que Jamie e eu começassemos nosso trabalho. 
Naquele dia ele estava se mostrando uma criança tão viva e, aparentemente, feliz, nem de longe parecia o garoto triste que eu tinha visto tempos. O frio deixou a ponta de seu nariz rosado. Quando o boneco estava pronto, olhei para o mesmo e torci os lábios. 
- Ficou bom? - perguntei a ele, ajeitando os olhos que eram feitos com pedrinhas que tínhamos encontrado. 
- É, até que ficou... Mas a cabeça dele está torta. - enquanto se divertia sozinho, suas mãos trataram de ajeitar a cabeça do boneco. Eu simplesmente não conseguia parar de olhá-lo. Como uma mãe poderia ser capaz de abandonar um filho? Um pedaço dela mesma. 
De um jeito que eu não sabia explicar, cada vez mais ele me lembrava Joseph. Não sabia se era por que eu estava com saudade, ou se a semelhança realmente existia. Mas não me lembrava apenas na aparência, na verdade, era principalmente no jeito que ele ficava quando conversava comigo, sempre olhando nos olhos e movimentando os lábios, como quem procura palavras apropriadas. 
Será que um dia eu poderia mudar a vida de Jamie? Talvez, depois de algum tempo, eu fosse capaz de tirá-lo da solidão e tentar ser a mãe que ele perdeu. 
O tempo passou e nós voltamos para dentro, ficamos conversando mais um pouco. Assuntos leves, coisas que crianças costumavam pensar. Ele me disse que se sentia sozinho, mas as mulheres que cuidavam do orfanato eram boas. Perguntei o que ele mais queria, e sua resposta foi simples e direta: uma família. E a segunda coisa que ele mais queria era se tornar um astronauta. 
Demetria... - eu lhe disse que podia me chamar pelo apelido. - Obrigado por me visitar! - seus braços magrinhos me abraçaram de novo e eu afaguei seus cabelos escuros. Mas antes que pudesse me livrar daquele abraço e ir embora, ele me surpreendeu mais uma vez. - Uma vez a professora daqui me disse que abraços curam feridas, então, pronto! A sua vai se curar! - ele me soltou, satisfeito consigo mesmo. 
- Não curam, Jamie... Mas ajudam a cicatrizar. 
- Você vai voltar um dia? - questionou, os olhos pareciam tristes como no Halloween. 
- Mais breve do que você pode imaginar. Eu prometo! - levantei a mão e apontei para ela com os olhos. Ele repetiu meu movimento e nós fizemos um high five meio desajeitado. Me despedi e fui embora, olhando para trás e vendo Jamie do lado de dentro da janela, balançando a mão - se despedindo -, e sorrindo. Talvez a esperança estivesse em momentos como aqueles. 


Voltei para casa, estacionando o carro e, antes de sair do mesmo, tomando o cuidado de olhar ao redor, para ter certeza de que ninguém ameaçador estava por perto. Peguei meu celular e percebi que dez ligações estavam perdidas, e o número era de Cameron. Era mais do que óbvio que ele ficaria me perseguindo, eu não sabia como ela ainda não tinha vindo atrás de mim e... 
Meu coração quase foi para a garganta quando percebi que duas mãos bateram no vidro do carro. Olhei assustada para a direção e o dito cujo estava do lado de fora. Seu expressão era de fúria, fiquei até com certo receio de sair do carro. Como ele tinha conseguido voltar para Londres tão depressa? 
Abri a porta e saí, evitando olhá-lo nos olhos. 
- Qual é a porra do seu problema, Demetria? - ele disse em um tom de voz alta e sem paciência. 
- Quem parece ter algum problema aqui é você. - assumimos aquela posição de supostos rivais, frente a frente. - O fato do Joseph ter pedido para que você cuidasse de mim, não lhe dá o direito de achar que pode controlar a minha vida. Não vou te dar explicações, eu quis voltar para Londres e voltei! - tentei passar por ele, mas meu braço foi segurado. 
- Por que você está agindo desse jeito? Droga, eu não te fiz nada de mal! - sua testa se enrugou e as veias de seus pescoço estavam alteradas. 
- Você acha mesmo que tudo que acontece é sobre você? Não, Cam. Eu voltei para Londres por causa do Joseph, não aguentei... 
- Não aguentou a culpa? - ele levantou uma sobrancelha, o tom claro de deboche na voz. 
- Não me obrigue a sentir raiva de você de novo. 
- Esquece... - seu semblante pareceu mais relaxado e ele respirou fundo, coçando a nuca. - Você tem um compromisso sábado. 
- Compromisso? 
- Sim, é aniversário da Elizabeth. Acho que não preciso lembrá-la de quem se trata, certo? Vai ser lá em casa, nós vamos juntos. 
- Obrigada por perguntar se eu quero ir. - apenas acenti com a cabela, abrindo a porta e enpurrando-a antes que ele pudesse pensar em entrar. 
Eu não tinha um sentido muito bom quando se tratava de festas. E algo me dizia que aquela me reservava algumas surpresas. 

/Demetria's P.O.V


(...)

Arthur deixou que a satisfação estampasse seu rosto. Ele e o detetive deram um aperto de mão. Ambos vestiam roupas pretas, ambas as expressões eram sérias e superiores. 
- Posso mesmo confiar em você? A mulher me ofereceu uma quantia muito alta para que ele pudesse sair hoje. 
- Com quem acha que está falando, meu caro? O nome Arthur Sheppard é desconhecido por aqui? 
- De forma alguma. 
- Então não diga asneiras! Sabe que o caso dele é de meu interesse. 
- Quem é você? - Joseph perguntou. O detetive se aproximou e, após receber uma autorização, retirou um molho de chaves do bolso e abriu a cela, fazendo um gesto com a cabeça, indicando aJonas que ele poderia sair. 
- Não faça perguntas, só faça o que eu mandar. - Arthur respondeu. 
- Eu... Eu estou livre? - Joseph sentiu o corpo inteiro esquentar, como se a esperança corresse por suas veias de novo. 
- Ainda não, mas não se preocupe, vamos cuidar disso depois. Agora venha comigo, você tem um compromisso. - Joseph caminhou lentamente para fora da cela e percebeu do que tudo aquilo se tratava. Lembrou-se de um pedido que tinha recebido dias antes, e seguiu o homem extremamente alto e de aparência imponente. Algo naquele rosto era familiar... 
Quando já estavam na rua, Joseph respirou fundo, sugando todo o ar livre que conseguia. Estava há um mês trancafiado, mal conseguia explicar como era a sensação de ver o lado de fora de novo. Seus olhos correram pela rua escura e logo ele avistou uma figura feminina encostada em um carro do outro lado. Ele a reconheceu. Scarlett. A mulher se virou e sorriu largo, caminhando até ambos e cruzando os braços. 
- Olá, garoto inglês. Pronto para um pouco de diversão? 
- Posso deixar tudo em suas mãos, Scarlett? - Arthur perguntou, olhando severamente para Joseph. Então era ele o marido de sua filha... 
- Deixa comigo, Arthur. Vou fazer tudo exatamente como combinamos. - ela lhe deu um aceno de cabeça, quase como um continência e Joseph assistiu o homem misterioso se afastar. 
- Espera! - Jonas disse alto e o outro homem se virou. - Quem é você? 
- Qual foi o combinado, Jonas? Sem perguntas! - o sujeito entrou em seu carro e foi embora. 
- Então... - Scarlett olhou ele da cabeça aos pés e franziu o cenho, um pouco decepcionada com a aparência largada dele. - Vai bancar o durão comigo de novo ou podemos começar a trabalhar em nossa amizade? - Joseph conseguiu enxergar uma arma reluzente sair do bolso do casaco de couro que Scarlett usava. Ela não apontou o objeto para ele, apenas escolheu mostrar e deixar claro como seriam as coisas. 
- Então você está fazendo tudo isso porque minha mãe pediu? 
- Não, não, gato. Sua mãe só pediu uma coisa que Arthur conseguiu fazer, mas o grande plano não foi montado por ela. 
- Grande plano? 
- Quer saber? Podemos conversar sobre isso depois. Anda, entre no carro! - ela o puxou pelo braço. - Vamos dar um jeito nessa barba e vestir você com algo mais apropriado. 
Dentro do carro, ela olhou para ele mais uma vez. 
- Não tente nada, garotão, afinal, já deve ter percebido que eu estou do seu lado. 
- O que diabos você está fazendo? 
- Hoje eu sou responsável por você. E, se quiser sair do xadrez, não faça nada que possa irritar o Arthur. - seus dedos passaram rapidamente pelo pescoço, imitando uma situação de enforcamento. 
- Quem é aquele homem? Me parece tão... Familiar. - Scarlett deixou seus lábios em uma linha reta e ponderou se aquele era um assunto que poderia tratar com ele. Negativo. 
- Familiar, né? Você não imagina o quanto! 
E então ela os tirou dali, tendo a certeza de que a noite seria longa. E divertida

Unforgettable, that's what you are
Unforgettable though near or far
Like a song of love that clings to me
How the thought of you does things to me
Never before has someone been more.


Os ouvidos de Demetria captaram aquela música clássica assim que Cameron estacionou em frente a enorme casa da família Wolfe. O local estava impecavelmente iluminado e vários carros estavam por perto, assim como pessoas vestidas de maneiras extremamente elegantes. Demetria observou a festa de dentro do carro e evitou olhar para Cam, abaixando a cabeça e tentando mandar aquela estranha sensação embora. Aceitou sua carona apenas por medo de chegar até aquele local sozinha. Estar em Londres a fazia parecer uma covarde que sentia arrepios só de pensar em sair sozinha à noite, como se vampiros sedentos por sangue pudessem atacá-la. A mulher riu, desistindo de se sentir em um filme de terror, o homem ao seu lado saiu do veículo e deu a volta, abrindo a porta para ela e estendendo a mão. Um vento frio a recebeu, e por sorte não estava nevando. Segurou na mão de Cameron e tomou impulso para sair do carro. Ajeitou seu longo casaco que era do mesmo tom de rosê do vestido - também longo - que estava usando. Os cabelos estavam soltos - para proteger um pouco o rosto do frio - e enrolados nas pontas. Wolfe trajava um terno preto, camisa e gravata azuis. 
Ela tinha receio de entrar naquele lugar, tinha um certo medo de se encontrar com a mãe de Joseph. Mas quando se deu conta, já estava passando pela entrada e sorrindo mecanicamente para alguns dos convidados. 

Próximo dali, outro carro se aproximou. Vermelho sangue. A porta se abriu e um belo terno grafite entrou em vista. As mangas escondiam suas tatuagens, o cabelo penteado para trás lhe dava um ar mais sofisticado. Parecia até outra pessoa... Mas os olhos insanamente verdes e aquele sorriso o entregavam. Não estava mais abalado pela tentativa de suicídio, as vozes em sua cabeça estavam baixas. Nem mesmo se deixou aborrecer por sua ajudante ter morrido em um acidente. No final das contas, ela tinha se mostrado inútil. No entando, às vezes o alivio atingia seu corpo... Pelo menos aquela morte não era culpa dele. 
Carter não esperava que Elizabeth lhe convidasse para seu aniversário, provavelmente não estava ciente dos problemas que ele tinha com seu enteado. 
O homem ajeitou sua gravata e sorriu galante para duas mulheres que passavam por perto, encostando-se em seu carro e acendendo um cigarro. Os olhos se grudaram na figura feminina que passava pela grande entrada. 
Então ela também estava lá... Demetria estava lá. 
Carter se livrou de seu cigarro e colocou sua melhor máscara de bom moço, cruzando a área do jardim e se juntando discretamente àquela festa. 


Scarlett ouviu o barulho do chuveiro e se olhou no espelho, ajeitando os últimos detalhes de sua aparência. Foi até uma pequena mesa no centro do cômodo e pegou sua fiel companheira: uma arma. Depois de prendê-la em sua coxa e esconder com o vestido roxo, ela soltou o cabelo e fez uma maquiagem rápida. Os pés reclamaram um pouco por causa do salto, estava mais acostumada com botas e tênis. Mas para quem já havia lutado com homens que tinham o dobro de seu tamanho, aquilo não era nada. 
O lugar onde estava era uma casa que fora alugada por Arthur, para que ela dormisse e se escondesse de alguém, caso fosse necessário.
- Já terminou, Jonas? - ela deu uma batida na porta do banheiro. Pegou o terno em um cabide que estava em cima do sofá e, assim que Joseph abriu a porta, ela o entregou para ele. 
Alguns mínutos depois, a porta se abriu de novo e ela se levantou para certificar-se de que seu protegido estava mais apresentável. 
Sem a barba, o rosto de Joseph era bem mais jovial, quase era possível confundi-lo com um adolescente. O cabelo estava penteado para trás, retirando aquele ar de largado. O terno que vestia havia caído como uma luva, e a cor escura combinava com seu tom de pele. Ele se olhou no espelho, quase conseguindo se sentir o Joseph importante e poderoso de antes. Pena que tudo aquilo era apenas por fora, uma máscara. 
- Um dia eu vou descobrir por que você e aquele homem estão fazendo tudo isso, não vou? 
- É claro que vai. Mas pare um pouco de pensar nisso, gato. Venha! - ela o chamou com a mão. - Não se preocupe, não vou te levar algemado e nem nada do tipo. Sei que vai se comportar... - o timbre de voz sedutor que ela usava não era para atraí-lo ou coisa parecida, mas mesmo assim Joseph engoliu em seco e apenas concordou com a cabeça. 
Dentro do carro, ela percebeu que ele continuava com a postura tensa e decidiu dar uma leveza ao clima. 
- Você nunca ri? Nunca diz algo engraçado ou simplesmente relaxa? 
- Isso que você vê é algo horrível, não é? Essa pessoa que eu me tornei. Eu não era assim, Scarlett... Há um tempo, alguém me fez encontrar a felicidade, mas arrancaram ela de mim. Sou obrigado a ser esse homem tenso e de poucas palavras, para minha própria segurança. 
- A pessoa é a Demetria? 
- Sim, é ela. 
- Ok, mas tente se descontrair um pouco hoje, pode ser? Beba um drink, dance alguma coisa esquisita e esqueça um pouco os problemas. Sempre existem situações piores que a nossa, lembre-se disso. - antes de ligar o carro, Scarlett apalpou a região onde estava seu revolver e Joseph levantou os cantos dos lábios, prestes a rir. 
- O que é você, uma agente secreta? - ela sorriu convencida e girou a chave na ignição com maestria. 
- Que tal o Capitão América de vestido? 
- Faz sentido... - ele riu, se surpreendendo com o próprio ato. - E você não tem sotaque britânico. 
- Se eu passar mais tempo aqui, vou começar a ter... - Scarlett disse de um jeito engraçado, forçando um sotaque que não lhe pertencia. 


Demetria's P.O.V

A casa de Cameron parecia maior do que eu me lembrava. Uma enorme área abrigava diversas pessoas que conversavam entre si e bebiam seus drinks ou champagne. Algumas delas me olhavam como se soubessem quem eu era, outras simplesmente deveriam pensar que eu era a nova namorada de Cam. Elizabeth estava perto das escadas, junto com um homem que só poderia ser o pai de Cam, já que a semelhança entre ambos era grande. Foi estranho, porque eu nunca tinha visto ele. Aquele era o homem responsável pela destruição da família de Joseph. Não necessariamente responsável, porque Elizabeth não foi obrigada a largar o filho e o ex marido falecido. Pelo menos era o que eu sabia. 
Cameron levantou o braço e acenou para os dois. O pai apenas retribuiu seu aceno, mas Elizabeth nos olhou e arregalou os olhos, dizendo algo rapidamente para a mulher que estava ao seu lado, vindo ao nosso encontro. Era complicado olhar para ela, porque tinha muito de Joseph ali. 
Os olhos eram iguais. Aquilo me matava! 
Ela parou de frente para mim e eu não hesitei em cumprimentá-la e lhe desejar os parabéns. Algo em seu olhar era curioso, esperançoso e preocupado ao mesmo tempo. 
Cameron, seu pai quer falar com você. - ela disse, sem olhar para ele. Wolfe me olhou como se perguntasse se poderia me deixar sozinha com ela e eu apenas fiz que sim com a cabeça. - É bom ver você, Demetria. Como tem passado? - pensei para responder, olhando ao redor. 
Podia jurar ter visto um rosto conhecido, mas deixei passar. 
- Nem queira saber, Elizabeth. - era estranho pensar que ela era minha sogra, e também era estranho perceber que ela sabia mais do que eu imaginava. Aquela mulher não estava perto do filho, mas sabia tudo que acontecia com ele. 
Voltei a olhar para o lado e quase deixei minha pequena bolsa cair. Meus olhos se arregalaram e minhas mãos suaram frio. O ser estava encostado em uma parede do outro lado, segurando uma taça e olhando intensamente para mim. Só podia ser uma alucinação, não era possível que ele estivesse ali... Elizabeth segurou minha mão com delicadeza quando percebeu que algo estava errado. Olhei-a, assustada, mas menti e disse que não era nada. 
- Eu preciso... Preciso falar com o Cameron, me desculpe. Vejo você depois! 
Passei correndo por alguns dos convidados, olhando para trás algumas vezes para ter a certeza de que Carter não estava me perseguindo. Subi as escadas rapidamente e fui parar em um corredor com várias portas. Eu já havia estado ali. Caminhei devagar, procurando Cameron com os olhos, até que um dos quartos abertos chamou minha atenção. Na verdade, a porta estava apenas encostada. Puxei-a lentamente e dei de cara com o que parecia ser uma mistura de closet e sala de pintura. Em uma dos cantos, uma mesa de madeira escura sustentava vários porta-retratos. Em vários deles, o mesmo garoto estava, só que em situações e lugares diferentes. Não foi difícil descobrir de quem se tratava... 
Joseph. 
Esquecendo completamente de Carter, me aproximei mais e fiquei observando as fotografias. Em uma delas, ele ainda era bem pequeno e estava todo vestido de branco, como se fosse um médico; um cão de grande porte e cor de caramelo estava junto com ele. O sorriso em seus pequenos lábios nunca havia mudado, só fora obrigado a desaparecer. 
Demetria, o que faz aqui? - Cameron me pegou de surpresa e minha mão quase esbarrou em um dos objetos. Suspirei. 
- Por que você não me disse que o Carter estaria nessa festa? - ele arregalou os olhos. 
- O Carter está aqui? 
- Sim, eu o vi! Ele estava me olhando e... Droga, eu preciso ir embora! 
- Não! Me escute bem: nós vamos lidar com isso, ok? Provavelmente a Elizabeth não sabe dos últimos incidentes e acabou convidando ele. Carter é esperto, Demi, ele não vai fazer nada com todas essas pessoas por perto. Não deixe ele intimidar você. 
Tentei me convencer de que era a coisa certa a se fazer e deixei que ele me tirasse daquele aposento. Descemos as escadas de novo e Carter não estava mais por perto, pelo menos não consegui enxergá-lo. Fiquei me perguntando o que mais poderia acontecer naquela festa. 

Cam percebeu que eu estava meio abalada, então pegou duas bebidas e me levou até outra sala mais reservada. Fiquei sentada em silêncio, apenas bebendo meu drink com pequenos goles. Eu sabia que ele queria dizer alguma coisa, mas não me importei em perguntar o que era. Eu estava com medo. Carter estava naquela mesma casa, só Deus sabia o que ele era capaz de fazer. 
Cameron se aproximou mais no sofá e eu olhei ao redor, procurando por uma terceira pessoa, mas nós dois éramos os únicos. Permaneci imóvel, torcendo para que ele não tentasse nada. 
Demi... - ele sussurrou perto do meu ouvido. - Tudo bem, eu estou aqui. - desgrudei minhas costas do sofá quando senti seus lábios tocarem meu rosto. Olhei feio para Cameron e ele apenas levantou uma sobrancelha. 
- Seja lá o que você esteja pensando em fazer... Não perca seu tempo, não vai acontecer. Deixe de insistir, pelo amor de Deus! 
Escutei risadas altas e próximas; logo duas mulheres - que aparentavam ter mais ou menos a mesma idade que eu - surgiram na sala, olhando com receio para mim. Uma delas caminhou até Cam e o puxou para um abraço. Simplesmente fingi que era invisível. 
- Eu não sabia que tocavam The Pierces em uma festa de gente velha. - uma delas, a mais baixa, comentou, se sentando no sofá do outro lado da sala. Seu vestido era laranja e seu cabelo ruivo estava preso em um coque frouxo, tinha uma pinta próxima a boca. Nossos olhares se encontraram e ela me mediu, disparando a olhar de um jeito investigativo para Cam. 
- Não fale assim, Maureen! Tia Elizabeth não é velha, ela só... Que tal uma jovem senhora? - a outra, mais alta e de cabelos loiros - que estavam soltos - tentou consertar as palavras da ruiva, brincando com a gravata do único homem presente. Usava um vestido perolado e parecia uma pessoa divertida. Fiquei torcendo para que ela se virasse e ficasse de frente para mim, porque algo me parecia extremamente familiar. 
Demetria, essas são as sobrinhas de Elizabeth. Maureen... - Cam apontou para a ruiva, que apenas ergueu os cantos dos lábios e fingiu ser amigável. - E Kendall. - a tal Kendall se virou em minha direção e deu um largo sorriso. Era tinha olhos bem expressivos e bochechas rosadas. Eu deveria estar louca, mas me lembrava muito a falecida Erin Fields. 
- Espera aí... - Kendall começou. - Você é a esposa do Joseph, não é? Tia Elizabeth já comentou de você... 
- É, Kendall, é ela sim. - Maureen se levantou e caminhou com passos lentos e provocantes até Cameron, pegando sua bebida e bebericando. Olhou para ele de um jeito intenso e se afastou, abrindo a porta e saindo. 
- Qual é o problema dela? - perguntei para Kendall. Ela olhou para Cameron e soltou um risinho, o mesmo ficou desconfortável. - Não leve a Maureen a mal, é só que ela ainda não superou oCameron... É, eles foram namorados há um tempo. Se me permite dizer, acho que ela pensa que algo está acontecendo entre vocês dois e ficou com ciúmes. Daqui a pouco fica bêbada e esquece. - Kendall disse e em seguida se levantou, pedindo licença para sair da sala também. 
O recinto estava em total silêncio. 
- Não vai me perguntar nada? - Cameron começou. 
- Perguntar o quê? - eu disse, distraída. 
- Maureen... 
- Desde quando eu me importo com seus relacionamentos passados? 
- Tem razão, você não se importa. - estranhei o jeito como ele saiu do sala, me deixando sozinha. Mais parecia uma donzela com o orgulho ferido do que um homem que não conseguia aceitar que a mulher que ele dizia amar só tinha olhos para outro... 

Um arrepio percorreu minha espinha quando comecei a encarar aquela sala vazia, então decidi sair e ficar no meio dos convidados, para que Carter não pudesse se aproximar. O aquecedor estava ligado em todas as partes da casa, então me senti avontade para tirar o casaco que cobria boa parte do meu vestido e o deixei em um lugar próprio. Enquanto passava pelo corredor que dava acesso ao centro da festa, esbarrei em alguém. Era Maureen. 
- Olha, se não é a namoradinha do Cameron de novo... - ela cuspiu as palavras, me olhando com desdém. Soltei um risinho e balancei a cabeça, não acreditando na infantilidade da criatura. 
- Eu não sou a namorada do Cameron, sou casada com Joseph Jonas. Você sabe bem disso. - respondi, firme. 
- É, mas eu não o vejo por aqui, então... 
- Então por que você não vai atrás do seu ex namorado e tenta relembrar os velhos tempos? 
- Acha que não percebi como ele estava te olhando, Demetria? - ela deu um passo e ficou mais próxima, minha vantagem era ser mais alta. - Por acaso ele já se declarou para você? Disse as palavrinhas mágicas? Uma pena que Cameron sempre diz o mesmo para todas. Acredite, eu também já ouvi o mesmo que você deve ter ouvido sair por aqueles belos lábios... 
- Você não tem algo de mais produtivo para fazer? Sei lá, fumar um baseado, ficar bêbada... Com licença! - passei por ela, pegando uma taça com o garçom e me misturando com os convidados. Avistei Cameron a uma certa distância e ele estava bebendo feito um louco. Entornava a bebida de um jeito desesperado e parecia rir de algo que outro homem falava por perto. Deveria estar ficando bêbado. Pensei no que Maureen tinha me dito e chacoalhei a cabeça, olhando a entrada do lugar. 
A atenção das pessoas foi tomada por alguém que estava chegando. Elas pararam de conversar entre si e olharam na direção que eu não estava conseguindo enxergar muito bem. Abri caminho e encostei-me À uma das paredes, tendo uma visão melhor. Um carro havia estacionado e de lá duas pessoas saíram. A chegada de um convidado deveria ser algo mais trivial, e não algo notado daquela maneira. 
Foi então que eu percebi o real motivo da agitação. 
Minhas pernas fraquejaram e meu coração acelerou. Não acreditei no que estava vendo. 
A mulher usava um vestido roxo e caminhava com um ar de superior, queixo erguido. Não se dava ao trabalho de olhar para os outros, apenas seguia sua direção. Estava de braço dado com um homem. Ele olhava para as pessoas da festa com um olhar meio envergonhado, mas não se deixava abater. Meu Deus, como ele estava lindo... 
Era ele, era o meu Joseph. 
Algo dentro de mim reagiu de um jeito estranho por estar vendo ele chegar com aquela mulher. Quem era ela? Como ele tinha conseguido sair da prisão? Será que Elizabeth tinha dado um jeito de libertar o filho por pelo menos um dia, só para tê-lo em sua festa? Fiquei olhando Joseph por um longo momento, me aborrecendo ao perceber que ele não estava notando minha presença. Sua mãe se aproximou e a mulher de vestido roxo soltou seu braço, olhando ao redor como se procurasse por alguma coisa. Mãe e filho se abraçaram e eu consegui ver a expressão confusa e tristonha de Joe. Tão perdido, tão vulnerável! Eu precisava falar com ele, precisava ter certeza de que aquilo era real. 
Mas algo me puxou para trás. A violência foi tanta que a taça que eu segurava caiu, atingindo o chão em um barulho estridente. No entando, a música alta e os burburinhos não permitiram que alguém ouvisse. Uma mão tapou minha boca e eu tentei me soltar, mesmo sabendo que já estava sendo arrastada para algum lugar. Meus pés estavam sendo obrigados a andar e meus saltos me faziam tropeçam. O perfume do ser era masculino e forte, a manda do paletó que cobria um de seus braços estava erguida, possibitando a visão de uma tatuagem em seu pulso. 
Carter. 
Minhas costas se chocaram com uma parede e o rosto de Stone entrou em meu campo de visão. Ele sorriu largo e, quando eu tentei protestar, seu dedo indicar se ergueu. 
- Silêncio, por favor. Temos contas para acertar, minha querida. 
- Eu não tenho nada para acertar com você! - rosnei, fechando os olhos ao sentir a pressão que ele fazia em meu corpo contra a parede aumentar. Ninguém parecia perceber meu sumiço, ninguém estava por perto. Aquela era uma parte afastada de toda a movimentação. 
- Que tipo de pessoa atira em outra e acha que vai ficar por isso mesmo? Nem que seja com uma dança, Demetria, mas você vai me pagar. - escutei sua risada cínica e o fitei com raiva. - Claro, podemos começar apenas com uma dança... Mas a diversão de verdade é o que importa. - Carter me desencostou da parede e eu tentei lutar contra ele, mas em vão. Ele me obrigou a subir um lance de escadas e abriu uma porta, praticamente me empurrando para dentro. O lugar estava escuro, mas ao longe eu conseguia ver os prédios da cidade. Era os fundos da casa. 
- Por favor, me deixe sair... - Stone se encostou em uma parede e levou a mão até o queixo, parecendo pensativo. Suas sobrancelhas se ergueram e ele me olhou, causando vários arrepios. Sua cabeça estava um pouco baixa, o que tornava seu olhar ainda pior. 
- Vejamos... Por onde começar? - a distância entre nós estava sendo rompida. 
Não adiantava gritar por socorro, ninguém me ouviria. 
Fui capaz de ouvir a música que se iniciava no andar de baixo, e a mesma pareceu animar Carter mais ainda. Ele acabou com toda a distância entre nossos corpos e me puxou com força pela cintura. 
- Carter... - tentei, mas ele levou o dedo indicar até meus lábios, nunca permitindo que eu tentasse terminar minhas frases. 
- Você quer dançar comigo, não quer? - sua mão acariciou levemente meu rosto. Seus olhos verdes se fixaram nos meus, era como se outra pessoa estivesse em minha frente. Mas instantes depois, o Carter violento voltou e me puxou para o lado, me obrigando a dançar com ele. - É claro que você quer! - engoli a vontade de chorar e acompanhei seus movimentos, tomando a decisão de não deixar que ele visse meu lado frágil, nunca mais. Eu o olhava e tinha certeza de que ele tinha sido responsável pelo assassinato de Jared. Sabia que tinha sido responsável pela morte de Erin, o que acabou desmoronando a vida de Joseph. 
Eu tinha uma chance de destruir aquele homem, mas para isso eu precisa fingir. Precisa ser uma ótima atriz. 
Carter estranhou o relaxamente em minhas expressões e ficou sério, continuando a me segurar e balançar nossos corpos no ritmo da música. Aproximei um pouco mais meu rosto do dele e engoli o asco. 
- O monstro sabe dançar? - minha voz soou irreconhecível. 
- Posso te surpreender com coisas mais interessantes. - levei minhas mãos até os cabelos de sua nuca e os puxei com força, arrancando um som abafado da garganta de Carter. - O que é isso,Lovato? Foi possuída pela Demetria malvada de novo? Eu gosto! 
Demetria malvada? Você ainda não a conheceu... - eu sabia que era capaz de extremos quando era colocada em situações de risco. Meu jeito impulsivo sempre acaba falando mais alto e me obrigada a fazer coisas que eu não faria em estado normal. A raiva estava me controlando naquele momento. Eu até seria capaz de matar Carter caso ele me desse uma chance... - Se sente feliz com essa sua vida de merda, Carter? Causando estragos na vida das pessoas, destruindo o que você gostaria de ter... Não pode encontrar outra caminho? Quem sabe um menos destrutivo... 
Uma das mãos que segurava minha cintura subiu e segurou meu antebraço, o apertando com força. Ignorei, continuando a fitá-lo com aquele olhar questionar. Nem eu sabia direito o que estava fazendo e onde queria chegar. Só sabia que, de um jeito desconhecido, meu medo tinha evaporado. 
- Algumas coisas nós simplesmente não conseguimos deixar de fazer, sweetheart. - seu semblante mudou de novo, e daquela vez ele realmente parecia triste. - E, nesse caso, não adianta gritar por socorro... - sua boca se aproximou de meu ouvido. - Ninguém vai ouvir. 
Não consegui descobrir se ele estava falando aquilo para exemplificar a minha situação estando presa com ele... Ou se aquela era a sua situação. 
- Pode acreditar, alguém sempre vai ouvir... Sempre. 
- Mas vai ser tarde demais. 
- Como pode ter tanta certeza? Já tentou? 
O que aconteceu a seguir, mudou toda a perspectiva da situação. 

Be my savior, and I'll be your downfall.



Maureen nos surpreendeu, abrindo a porta e colocando o corpo para dentro. Carter afastou um pouco o corpo do meu e soltou um risinho quando pôde enxergá-la melhor. Ela tirou o cigarro que tinha colocado na boca e piscou os olhos algumas vezes, para ter certeza do que estava enxergando. 
- Carter? - Maureen disse, animando-se de repente. 
- Maureen... - o tom de voz de Carter foi carregado de malicia. 
Demetria. - ela disse meu nome com o mesmo desdém de antes e passou a me ignorou, iniciando uma conversa com Carter que não me interessada. Olhei para a porta, pensando em um jeito de sair dali e procurar por Joseph. 
- Eu só precisava achar um lugar longe de toda aquela droga de festa e usar um desses... - Maureen se encostou em uma parede e Carter apoiou uma mão na mesma, ficando entre ela e o concreto. Eu sabia que ele não tinha esquecido minha presença, estava apenas esperando que eu tentasse fugir. Fiquei imóvel, assistindo os dois. 
- Você é tão pirralha, que ainda não aprendeu a lidar com festas de adultos. - Carter disse, sorrindo e brincando com os fios soltos do cabelo dela. 
- Tenho 22 anos, Stone. E uma criança jamais faria aquilo com você... 
Maureen era ex namorada de Cameron, mas aparentemente havia tido um caso com Carter. Não me surpreendi. 
Ele se esqueceu dela por um instante e se virou para mim, caminhando lentamente. 
- Parece que alguém aqui ouviu o que não deveria... - ouvi o som da risada de Maureen. 
- O quê? Que você dormiu com a namorada do seu amigo? Não se preocupe, é bem a sua cara, Carter. - eu disse. 
- E quem é você para falar de traições, queridinha? Parece tão próxima do Cam... - ignorei a pirralha - como Carter gostava de chamá-la - e cruzei os braços, escondendo meu medo. Ele se cansou de minha pessoa de novo e foi para o lado de Maureen, beijando-lhe o pescoço. 
- Ela não é divertida, Carter! 
- Posso obrigá-la a se divertir, se você quiser.
Pânico. 

/Demetria's P.O.V


Scarlett já tinha ido até o garçom e pegado uma boa taça de champagne para ela. Vigiou Joseph por um instante e bebeu o conteúdo. Olhou para tudo a seu alcance, se impressionando com todo o luxo. Há anos não participava de uma festa como aquela, mas ainda sabia se comportar como se fosse o contrário. Com classe, ela cumprimentou alguns dos convidados e voltou para perto de seu protegido. Joseph estava com uma expressão de puro tédio, que aos poucos parecia se transformar em raiva. Procurava por todos os lados, na esperança de que Demetria pudesse estar ali, mas era quase certeza de que ainda estaria na Suíça com Cameron. Era o que ele achava. 
- Por que não vai beber em outro lugar? É uma frustração a menos. 
- Pelo menos você não está preso, Joseph! Querer beber e exigir regalias demais, não acha? Permaneça sóbrio, isso é bom. 
Cameron, que já estava um pouco alegrinho, observou os dois e teve a audácia de se aproximar. Joseph ainda não tinha o visto ali. Quase tropeçando e se esbarrando em uma mulher, Cam pediu desculpas e entrou no campo de visão de Jonas, que semicerrou os olhos. Scarlett observou-o se aproximar com um sorrisinho de canto. 
Jonas. - Cam disse, olhando dele para Scarlett. 
- Pensei que estivesse na Suíça, com a Demetria. - Joseph respondeu mal humorado. Estava prestes a tomar a taça das mãos de sua protetora e molhar um pouco a garganta com algo alcoólico. 
- Então você ficou sabendo? Que bom! Saiba que eu fiz um ótimo trabalho, cuidei dela como deveria e ela está por aqui, sã e salva... 
Daniel sentiu algo quente em seu peito, talvez por descobrir que, sim, ela estava por ali. Mas por que seus olhos não a encontravam? 
- Cara, você mal se aguenta em pé! - Scarlett o interrompeu, rindo de seu estado. Balançou a cabeça no ritmo da música que tocava e continuou a boiar na conversa dos outros dois. 
- E hoje eu vou provar que realmente cuido dela, sabe por quê? - o jeito como falava era arrastado, e ria quase toda hora. Sua vista não estava boa. - Carter está aqui!
Joseph se levantou e Scarlett arregalou os olhos. 
- Puta merda! - Scarlett disse alto, atraindo a atenção de uma mulher que estava passando por perto e a olhava feio. - Desculpe! - ela deu um tapinha no ombro da jovem senhora, se desculpando. - Quem fez o favor de convidar aquela criatura? Vocês não tem noção do que ele pode fazer? Venha, Joseph! - Scarlett puxou Jonas pela mão, passando pelas pessoas e subindo as escadas. Estavam dispostos a procurar por Carter e, consequentemente, por Demetria. Sentiam que ela estava com ele. Contra a vontade, é claro. 
Cameron caiu sentado no sofá e não moveu um músculo. O homem que Demetria realmente queria estava lá, então ele não precisava se preocupar. 


Demetria's P.O.V

Aquele cheiro estava me dando nos nervos! Carter e Maureen decidiram compartilhar aquela maldita droga e pareciam envolvidos demais em seu mundo perturbado. A janela ao lado de onde eu estava se encontrava aberta, então eu abracei meus próprios braços e tentei esquecer o frio que estava sentindo. Escutei um som estranho vindo do lado de fora da porta e percebi que ele ficava mais e mais alto. Carter se levantou e largou o cigarro, me olhando e pedindo que eu ficasse em silêncio. Tinha que ser alguém para me tirar dali, tinha que ser! Outro barulho alto, e então a porta violentamente se abriu. Tinha sido arrombada. 
- Ok, crianças, hora do toque de recolher! - a mulher que tinha chegado à festa com Joseph surgiu. Ela olhou para Carter e bufou. Seu olhar se voltou para mim e seus olhos se fixaram em meu rosto. - Você é a Demetria? - como ela sabia meu nome? respondi com um simples "uhum" e ela sorriu, se aproximando de mim e estendendo a mão, a fim de me cumprimentar. - Percebi pela semelh... - seus olhos se arregalaram e ela se calou. - Ops, acho que falei demais! De qualquer jeito... O que está acontecendo aqui? E porque eu não estou surpresa por encontrar você, Carter? - era informação demais para processar. Ela conhecia todos nós! 
Antes que Carter pudesse responder, outra pessoa entrou pela porta. Parei de respirar por alguns segundos e deixei que meus olhos se perdessem nos dele. Joseph me olhava intensamente, ignorando a existência de Carter e das outras duas mulheres. Aquele um mês que tínhamos passados separados parecia não fazer mais diferença, porque finalmente ele estava perto de mim de novo. Abri a boca para tentar dizer alguma coisa e ele fez o mesmo, mas a voz mais alta de Carter nos impediu. 
- Eu lamento ter que interromper o reencontro adorável do casal, mas o que diabos ele está fazendo aqui? - ele falava com a mulher de vestido roxo. - Você deveria estar apodrecendo na cadeia,Jonas! 
- O que foi, Carter? Assustado com a minha presença? Com medo de que o que você esconde venha a tona? - ouvir o voz de Joseph soar daquela maneira me causou uma sensação estranha, quase como se eu pudesse sentir medo dele. 
- Ei, ei, parem vocês dois! Joseph, você tem alguns minutos para conversar com a Demetria. Vocês dois - ela apontou para Carter e Maureen. - Caiam fora! 
- Me obrigue! - Maureen rebateu. 
- Tem algo embaixo do meu vestido, gata, e você não vai querer brincar com isso. - a ousadia daquela mulher me surpreendia. 
Eu já brinquei, e muito. E a propósito, Scarlett, o que faz com o Joseph? - Carter se meteu na conversa das duas, olhando malicioso para a tal de Scarlett, que revirou os olhos. 
- Diferente de você, eu tenho algo de útil para fazer na vida. - ela ergueu um pouco a saia de seu vestido e puxou uma arma de um jeito rápido, fazendo com que todos recuassem um passo. - Eu falo sério, saia daqui. - Carter rolou os olhos e levantou os braços em sinal de rendição. Passou por ela, tocando seu ombro com os dedos e indo até a porta. Parou na metade do caminho e olhou para mim. 
- Nós ainda não terminamos, Lovato. - baixei meu olhar, tentando não deixar que aquelas palavras voltassem a me assustar. 
- Você também, versão ruiva da Betty boop, anda! - Scarlett ameaçou Maureen com a arma, caminhando até a saída com os dois. Antes de nos deixar, ela virou o pescoço e sorriu alegremente, fazendo o sinal de positivo com o polegar. Parecia uma boa pessoa, apesar dos pesares. E, se estava armada, com certeza não era alguém comum. 
Anda, pirado! Vamos ir dançar Frank Sinatra e brincar de casalzinho feliz! - foi a última coisa que escutei ela falar, antes que eu pudesse ficar totalmente a sós com ele

(n/a: Coloque How do Maroon 5 para tocar.)

A distância entre nós dois foi se rompendo aos poucos. Ambos caminhávamos lentamente, não permitindo que nossos olhares se desgrudassem. Parecia uma distância eterna, como se eu nunca fosse realmente conseguir ficar a poucos centímetros dele. Joseph parou, me obrigando a fazer o mesmo. Ainda sem palavras que pudessem expressar o que estávamos sentindo, permitimos que o silêncio dissesse tudo. Ao mesmo tempo em que eu parecia conhecê-lo há séculos, parecia também que eu nunca tinha visto aquele homem em minha vida. Estranhos que conseguiam transmitir dezenas de pensamentos e memórias através de simples olhares. 

I have been searching for your touch
Unlike any touch I've ever known
And I'd never thought about you much
'Til I'm broken down and all alone


Ele quis ter a certeza de que tudo aquilo não era um simples devaneio, então levantou sua mão e a levou até meu rosto, provocando um choque em todo o meu corpo. Seu toque foi sútil e rápido, mas já era o suficiente para fazer o meu sangue correr com mais vigor pelas veias. Os olhos verdes dele me faziam tanta, mas tanta falta! Eu poderia simplesmente acabar com a mínima distância e abraçá-lo, mas algo parecia me segurar. 

Oh...
Though I don't understand the meaning of love
I do not mind if I die trying
Took you for granted when you lifted me up.


Demetria... - sua voz soou baixa e rouca, arrepiando os pêlos de meus braços. Minha mão segurou a dele, e tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta. Fiz um leve carinho na pele de sua mão com meus dedos, a segurando com ainda mais força. Mesmo que tudo aquilo fosse um sonho, ele continuaria comigo mesmo depois de acordar, eu não o soltaria. De jeito nenhum. Os cantos dos seus lábios se levantaram e Joseph sorriu. O sorriso infantil e maduro, o sorriso angelical e perverço; o sorriso feliz e triste. Suspirei profundamente e, já sentindo o choro preso em minha garganta, puxei-o para um abraço. Suas mãos trataram logo de me envolver, segurando com carinho em minha cintura. Senti sua respiração perto do meu pescoço e desejei ficar daquele jeito pelo resto da eternidade. Eu não precisava de mais nada. 
Seu cheiro era como meu combustível para continuar a viver. 
- Você não sabe o quanto eu senti sua falta, Joseph... O quanto doeu, o quanto eu me arrependo por certas coisas. Meu Deus, não consigo acreditar que está mesmo diante dos meus olhos! - levei minhas mãos até seu rosto e o segurei. Ele pegou uma delas e depositou um beijo terno. Não dava para ir mais rápido, mas naquela velocidade eu poderia continuar. - Eu preciso te dizer tantas coisas... - meus olhos marejaram. 

I'm asking for your help, I am going through hell
Afraid nothing can save me but the sound of your voice
You cut out all the noise
And now that I can see mistakes so clearly now
I'd kill if I could take you back
But how, but how...


- Eu cogitei a hipótese de que você estaria aqui, e fiquei ensaindo o que dizer. Mas agora nada mais parece fazer sentido. Eu só... Eu só queria que isso pudesse durar mais. - nossos lábios se roçaram, desesperados por mais. Nossos corpos estavam em total sintônia, desesperados um pelo outro. - É bom ver que você está bem. Bom saber que meu sacrifício ao deixar o Cameron cuidar de você valeu a pena. 
Foi como se meu coração estivesse sendo esmagado. 
Por um instante, me esqueci completamente daquela fraqueza. Me esqueci do que quase não pude evitar, de minha luta incessante em determinada noite para manter o autocontrole. Joseph estava sereno, feliz... Me dilacerava ter que acabar com tudo aquilo. Mas minha sinceridade não poderia ser arruinada, eu não tinha o direito de deixar de lado o que tinha prometido a ele. Joseph precisava saber. 
- Antes de mais nada, quero que saíba que eu realmente não me arrependo de tudo que fiz por você. Saíba que os meus sentimentos sempre serão os mais verdadeiros e... 
- Ei! - ele segurou meu queixo, abaixando um pouco o rosto e tentando me acalmar com um simples toque. - Tem algo acontecendo? Você parece assustada. O Carter fez algo com você? Se fez, eu juro que... 
Joseph! - o cortei, balançando a cabeça freneticamente. - Eu cometi um erro! Talvez o pior da minha vida, mas jamais poderia esconder de você. - ele me fitou com curiosidade e o cenho franzido. Desviou o olhar por um instante e ficou pensativo, como se já conseguisse chegar a uma própria conclusão. 

I can feel it in my guts, what's going on with him now
Don't patronize me with lies
I'm a man, be a woman now.


- Tem tanta coisa acontecendo, eu queria simplesmente passar esse pouco tempo com você, Demi. Sem problemas, sem erros... Só com isso que temos agora. 
- Eu não posso, Joe. Eu não posso... Prometi que te contaria, e é isso que eu vou fazer. Minha vida pode mudar a partir de agora, mas é um risco que eu mereço correr. - dei um passo para trás e procurei pela minha coragem que só sabia aparecer nas malditas horas erradas. 
- Pode falar, não precisa ficar assim... - Joseph tentava me acalmar. 
- Eu... O Cameron... - fechei os olhos com força. Não imaginava que poderia ser tão difícil contar aquilo a ele. Começou a doer mais do que nunca. Fiquei tão travada, que era como se eu fosse morrer depois de dizer todas aquelas palavras. - Nós... - aos poucos eu esquecendo de como proferir palavras, quase sentindo meu corpo congelar. Não tinha força de vontade para encará-lo nos olhos. - Quase... 
Demetria, não precisa continuar. Eu já entendi. - seu semblante ainda não tinha mudado, continuava calmo como antes. Apenas seus olhos que ficaram levemente mais escuros e o jeito que ele estava segurando meus braços se tornou mais forte. Eu me preparei para o pior. 
- Não posso dizer que não estava ciente dos meus atos. Passou pela minha cabeça, Joseph, a ideia surgiu sem que eu pudesse controlar. Eu conseguia ver a cena acontecendo antes mesmo de acontecer de fato. Não existia sentimento de minha parte, só o terrível de que talvez você nunca voltasse para mim. - mordi meu lábio, sentindo uma incômoda dor na cabeça, talvez pelas lágrimas que com tanto esforço eu tantava segurar. - Mas não cedi, porque... - ergui o rosto, finalmente sentindo um pouco mais de coragem. Foi como se, ao ouvir a continuação de minha explicação, seu rosto e olhos se iluminassem repentinamente. - Eu sou sua, só sua. E não quero nunca ser de outro. Não fiz nada, apenas pensei em fazer. E agora não sei como agir, não sei se te mereço por ter pensado em tal absurdo, mas...
Demetria, cale-se! - Joseph aumentou o tom de voz, me assustando por um momento. - Está ouvindo as palavras que estão saindo pela sua boca? Como pode falar assim? 
- Não faça isso, não tente diminuir essa dor. Talvez eu mereça um pouco de sofrimento, talvez eu tenha sido uma péssima pessoa em algum momento de minha vida, então deixe... 

Oh...
I have been bound by the shackles of love
And I don't mind if i die tied up
Took you for granted when you lifted me up...


- Você leu a carta? - balancei minha cabeça positivamente, aborrecida por continuar sendo interrompida. - Você se lembra do trecho em que eu disse que não poderia exigir nada de você, e que, se a felicidade viesse, você deveria se segurar nela com todas as suas forças? Eu me lembro claramente do que escrevi naquele pedaço de papel. Não ofenda a si mesma, não se martirize desse jeito. Se alguém não merece alguém aqui, sou eu que não mereço você. Já se esqueceu das coisas que escondi? Eu poderia ter livrado você de muitos danos, mas fui egoísta, só pensei no meu lado. Só pensei no meu bem estar... 
- Não, pare! Eu já disse que passaria por tudo que passamos de novo... - as lágrimas caíam pelo meu rosto, já estava sendo impossível controlar. As palavras dele, que tentavam me consolar, pareciam surtir o efeito contrário e se transformavam em facas perfurando minha pele. - Eu estou com medo, eu temo que nada mais seja como antes. Eu tenho medo de te perder... Joe, por que amar você dói tanto? 
- Você teme que as coisas não sejam mais as mesmas? Quer comprovar se isso é verdade ou não? - ele indagou, sério. Uma de suas mãos subiu e segurou meu rosto, próximo a região de minhas orelhas. Seus dedos se moveram e afagaram o meu cabelo. Com sua mão livre, segurou a minha. Fiquei apreensiva. 
- Isso é possível?

But how, but how...

Why must we be so ugly
And please do not think it of me
Why does the one you love become the one who makes you want to...


Sua mão. O jeito que você aperta a minha, como se eu estivesse a ponto de ir embora... Você sempre segurou minha mão desse jeito, Demetria, sempre! 
- Porque eu sempre tive medo de perder você. - confessei e ele sorriu tristemente, se preparando para voltar a falar. 
Seus olhos. Eu os vejo e me sinto perdido e encontrado ao mesmo tempo. E foi assim desde a primeira vez que eu te vi. - por reflexo, desviei meu olhar para qualquer direção que não fosse ele, mas sua mão segurou meu rosto novamente e o virou, obrigando-me e voltar a sustentar o contato visual de antes. - Não adianta fugir, você não consegue mudar a forma como me olha. 
- Isso não faz sentido, nada do que você está dizendo faz sentido... 
- Vai me deixar terminar ou não? - Joseph me desafiou, e eu quase consegui ver o homem corajoso e astuto de antes. 
- Termine. 
Sua boca. As pessoas se deixam viciar por coisas inúteis. Drogas, álcool, nicotina... O meu vício? Seus lábios, seu gosto, o seu beijo. - sua voz estava puramente maliciosa e envolvente. - Sabe como eu vou descobrir se você ainda é minha, Demetria? 
- C-como? - gaguejei, perdida no meio de todo o efeito que aquele homem tinha sobre mim. Suas palavras me fascinavam, tudo aquilo tirava o enorme peso em minhas costas. Eu era capaz de me sentir pura de novo, completa de novo. Viva de novo. Um momento melancólico como aquele era capaz de ser muito mais, era capaz de ser feliz. E quente. Quente como a chama de esperança que nunca se apagou em meu peito. 
Joseph olhou para os meus lábios e mordeu o seu inferior, tomando fôlego e tendo a atitude que eu menos esperava: ele me beijou. Meu coração quase não conseguia dar conta de bombear sangue para o resto de meu corpo. O frio que senti não era provocado pela temperatura baixa, e sim porque apenas o fato de seus lábios tocarem os meus daquela forma já era como estar a caminho do paraíso. Ele me segurou como nunca antes, com o toque certo de possessividade e amor. Sua saliva acordou sentidos que pareciam adormecidos em meu corpo, como se fosse um remédio milagroso para alguma doença fatal. Seus dedos firmes e determinados seguraram os cabelos de minha nuca, me obrigando a aumentar a velocidade do contato e a intensidade com que nossas línguas batalhavam. Aquele beijo era mais do que pele com ele, boca com boca e saliva com saliva. Era alma com alma. 
Eu nunca tinha sido beijada daquela forma antes, não achei que seria possível sentir tudo aquilo com um simples beijo. Não achei que um mero homem abalaria todas as minhas estrutas como JosephJonas conseguia. 
Foi o suficiente para ter certeza do que eu estava começando a dúvidar: eu pertencia a ele
Seus lábios se separaram dos meus e ele mordeu meu lábio inferior com furor, arrancando um gemido aliviado e doloroso de minha garganta. Maldito homem que me fazia querê-lo com tanta loucura! 
- Tem coragem de dizer que eu estou errado, Demetria? Agora você entende o que eu quero dizer? O seu beijo, o nosso beijo, viu do que ele é capaz? O que nós temos vai muito além do carnal, o que nós temos vai muito além desses dois corpos. Você sabe disso, você sempre soube disso. Não volte a dizer aquelas palavras, nunca mais! - tomei aquelas palavras como uma ordem severa. EJoseph, não satisfeito com tamanha intensidade, procurou por mais. Levou minha mão até a altura de seu peito e a encostou ali, mantendo a sua por cima. - Sente isso? Esse coração que, de tão teimoso, continua a bater. Mesmo quando ele sabe que é hora de parar, mesmo quando ele não tem mais forças para me manter vivo... Ele continua. E sabe por que ele bate? - ele ficou em silêncio, esperando que eu respondesse. 
- Por quê? 
- Porque você existe. O que seria de mim se você não existisse, Demetria? Acha mesmo que eu ainda estaria vivo? É claro que não! 
- É cruel o que você faz comigo, sabe disso. - choraminguei, ainda sentindo minhas pernas fracas e ele soltou um risinho esperto. 
- Eu tenho que voltar para o inferno, mas não acabou aqui. - Joseph empurrou meu corpo, encostando-me à parede que estava ao nosso lado. - A esperança que você tanto me implorou para ter? Ela surgiu, e ver você hoje a aumentou mais ainda. - seus lábios roçaram nos meus de novo, apenas para me provocar. - Ouça bem isso, e nunca, eu disse nunca, esqueça: Você é a mulher da minha vida, eu sou louco por você, mulher! Diz que vai ser minha pelo resto dos tempos e então eu posso voltar para a prisão e esperar, esperar até o dia em que eu vou te segurar com os meus braços e fazer tudo isso valer a pena. 
Eu chorava, chorava compulsivamente. Como ele conseguia... 
- Eu te odeio, pare de fazer isso comigo! Vou ter um ataque cardíaco... Droga, Joseph! - Joe gargalhou em alto e bom som, me abraçando e me fazendo encostar a cabeça em seu peito. 

Cry, and why, why, why
And how
(Though I don't understand the meaning of love, I do not mind if I die trying)
How
I do not mind if I die trying
I do not mind if I die trying.


- Eu preciso ir agora. - soltá-lo foi uma tortura, mas eu não tinha escolha. 
- Vá, mas não se acostume. - já livre das lágrimas e me sentindo mais forte, deixei meu rosto erguido e esperei ele terminar toda a analise que fazia de meus traços, como se quisesse guardar minha imagem em sua mente. - Logo você vai voltar para mim. 
- Sim, eu vou. 
Eu realmente merecia aquele homem? Me custava acreditar que sim, mas eu poderia batalhar para que fosse realmente uma merecedora de todo aquele amor. As consequências e feridas? Bem, elas eram o de menos. 

/Demetria's P.O.V


Scarlett realmente não se importou em perder Maureen de vista, não estava interessada em bancar a babá. Mas seus olhos se mantinham em Carter, investigando todos os seus movimentos. Eles estavam no centro da festa de novo, envoltos por casais de adolescentes, adultos e idosos que dançavam uma versão de Can't Take My Eyes Off You. Ela o olhou e ele parecia em outro planeta. 
- Pirado? Terra para pirado! - Scarlett se colocou em sua frente e balançou os braços. Carter voltou a realidade e a olhou como se fosse invisível. - Vem, vamos dançar! 
E logo eles estavam no meio dos outros pares. Quem observava de longe, jamais poderia dizer que existiam tantos sentimentos negativos naquela dança. Quem os observasse através uma distância segura, afirmaria com todas as palavras do mundo que eram um belo casal. Um casal apaixonado. 
Mas não existia casal nenhum ali. Amor? Paixão? Nenhum deles sabia definir o que eram aquelas duas palavras. Talvez Scarlett até pudesse prender o significado, mas Carter? Impossível. 
Durante uma parte agitada da música, Carter a rodopiou, a fazendo ficar com as costas de frente para seu peitoral. Seu braço envolveu o pescoço dela, prestes a enforcá-la. 
- Belo movimento romântico, pena que não combina com a coreografia! - a mão de Scarlett estava se aproximando de sua coxa, onde a arma continuava intacta. 
- Você acha mesmo que essa porcaria presa na sua coxa vai me intimidar? 
- Meu querido, o que realmente vai intimidar você está muito bem escondido. - ela fez um movimento brusco com os braços, invertendo as posições e obrigando Carter a fingir que ainda estavam dançando. Meio sem fôlego, ele riu. - A arma? Só por diversão. 
Ao lado deles, um casal se divertia de verdade. Kendall tinha se dado bem e encontrado um antigo amigo, que era filho de um dos amigos de Joseph. Ela balançava o corpo de um jeito gracioso. Seus cabelos tinham movimentos suaves, brilhantes e com um volúme bonito. O sorriso no rosto do rapaz que a acompanhava era sincero e entusiasmado. 
Carter se esqueceu de Scarlett por um segundo e olhou aquela mulher loira que dançava. Seu rosto estampou o pânico, deixando Scarlett com um ponto de interrogação na face. 
- Não... - ele começou, já sentindo que tudo ao redor se tornava turvo. As mãos começaram a suar frio e a risada de Kendall parecia penetrar seus ouvidos de uma forma bruta. Em sua cabeça, aquela não era Kendall, a sobrinha de Elizabeth. Em sua cabeça, aquela era uma versão crescida e mais bonita de... Erin Fields. Ele se perguntava o motivo da gatora estar ali, não conseguia acreditar que estava tendo aquela maldita visão de novo! 
- Carter? - Scarlett o chamou. 
Na visão de Carter, o rosto de Kendall se virou, e seus olhos eram malvados. Ela empurrou o rapaz com quem estava dançando e caminhou em sua direção. Naquele momento, era mesmo Erin, em carne e osso, e não apenas alguém de aparência semelhante. 
"Você gosta do que vê, Carter?" Ela disse, obrigando Carter a dar um passo para trás. "Erin Fields é boa o suficiente para você agora? Eu estou gostosa agora, Carter?" Ela gritava, e ninguém ao redor parecia perceber o que estava acontecendo. Carter tentou pedir por socorro, mas nenhum som saia de sua boca. "Vamos, seu esquizofrênico de merda! É assim que você queria, não é? Eu vou atormentá-lo pelo resto dos seus dias miseráveis..." 

(n/a: Leia o restante da cena ao som de The Fantasy do 30 Seconds To Mars.) 

Everytime I think I'm gonna change it
(Think I'm gonna change it, think I'm gonna change it)
It's driving me insane!
(It's driving me insane!)

Do you live, do you die, do you bleed
For the fantasy
In your mind, through your eyes, do you see
It's the fantasy.


- NÃO! - ele gritou, e o real ambiente onde estava entrou em foco de novo. As pessoas ao seu lado pararam de dançar e Scarlett estava o olhando como se fosse uma aberração. A garota loira que estava próxima também tinha parado de dançar, e parecia estar com medo de Stone. - Você morreu! Você morreu! - ele disse alto, indo para perto de Kendall, que não sabia o que fazer. Seu par, na tentativa de protegê-la, foi para cima de Carter para enfrentá-lo, mas logo fora jogado no chão. 
Carter estava no meio de um seus ataques
- Que porra é essa, Carter? Pare com isso! - Scarlett entrou no meio daquela pequena briga - que já roubava a atenção da festa inteira - e puxou Carter pelo paletó com força. Empurrou seu corpo por entre a multidão, tentando fazer com que ele parasse de se debater. - EU FALEI PARA VOCÊ PARAR COM ISSO, PERTURBADO! - ela gritou, praticamente jogando seu corpo em uma parede do lado de fora. O virou, batendo seu queixo contra o concreto e puxando seus braços para trás, na intenção de imobilizá-lo. 
- Me solta... - ele disse, com a voz baixa e sombria. - Eu falei para me soltar... 
- Não até você parar de dar ataques, seu idiota. O que foi isso? A loira não fez nada para você! - Scarlett continuava a mantê-lo naquela posição, mas a fúria por estar naquela situação motivou Carter a se desfazer das mãos dela que seguravam seus braços. Scarlett soltou um grunhido de dor pelo soco que tinha acabado de receber e se preparou para atacá-lo de novo. Mas era tarde, ela é quem estava imobilizada naquele momento. 
- Quem você acha que é, hein, sua bastarda? Só porque perdeu o papai e acha que se tornou uma mulher forte, não pense que eu vou pegar leve com você! 
- Não fale do meu pai... Não ouse... - o tom de voz dela fraquejou e seus olhos se fecharam. Todo o treinamento que teve, toda a força que aprendeu a ter. Todo o choro que foi obrigada a engolir... Aquilo tinha que ter algum benefício. 
- Seu pai está queimando no inferno agora, de quatro para o diabo... - uma lágrima escorreu pelo rosto de Scarlett e um grito escapou de sua garganta quando ela conseguiu se livrar da pressão que Carter fazia em seus braços e mirou um soco em seu rosto. Segurou o colarinho de sua camisa e o levou para um lugar mais afastado. Depois de jogar o corpo de Carter com brutalidade no chão, ela pegou sua arma e tentou acabar com aquela maldita tremura em suas mãos. 
- Não brinque com o meu nível de paciência. Eu vou acabar com você... - no chão e com um ferimento na boca, Carter apenas gargalhou e continuou a provocá-la com palavras duras. - VOCÊ NÃO ME CONHECE, NÃO ME OBRIGUE A... 
- Scarlett, pare. - uma voz grossa e calma surgiu no meio daquela confusão. Scarlett abaixou sua arma e, com lágrimas nos olhos, levantou o rosto. Arthur estava encostado em uma árvore, observando a cena. 
O homem alto caminhou em passos firmes e rápido até Stone, o puxando e o obrigando a se levantar. 
- Espero que hoje eu não veja seu rosto novamente, porque vou ser obrigado a arrancá-lo. Me ouviu? Saia daqui! - bastaram aquelas palavras para que Carter se indireitasse e passasse as costas da mão pelo ferimento em sua boca. Olhou uma última vez para Scalett e levantou uma sobrancelha. 
- Scar, você era uma das únicas pessoas que eu era capaz de conseguir sentir algo bom. Era
- Sorte a minha. - Scarlett respondeu friamente, assistindo Carter se afastar e entrar em seu carro. Ele arrancou com fúria e logo estava longe. 
Arthur foi para perto da mulher de vestido roxo e lágrimas nos olhos. Aquilo era tão raro. Se lembrava de ter visto Scarlett chorar apenas uma vez: durante seu intenso treinameno. 
- Ele vai pagar, Arthur. Agora é pessoal. - ela disse simplesmente, dando meia volta e indo buscar Joseph. 


Demetria's P.O.V

(n/a: E, para finalizar (aleluia, hein?) coloque essa música para tocar bem baixinho durante as próximas cenas. Não leve a letra em consideração, apenas o ritmo.) 

Sair por aquela porta foi como acordar de um belo sonho. Algo estranho estava acontecendo, as pessoas estavam apreensivas. Joseph segurou minha mão enquanto descemos pela escada e me conduziu até a entrada, onde um aglomerado de pessoas comentavam sobre algo que não estava nos planos. A sobrinha de Elizabeth, Kendall, estava encostada em um canto, sendo amparada pelo pai de Cameron e por outro homem. Olhei com medo para Joseph e ele apenas continuou a andar. Ignorei o que supostamente tinha acontecido e nós dois paramos perto do que carro responsável por conduzi-lo até aquela festa. Joe segurou minhas duas mãos e se despediu com o olhar, beijando suavemente meu rosto. 
- Seja forte, aguente só mais um pouco. Eu vou livrar você disso, ok? - encostei minha testa na sua, roçando nossos narizes. Ele sorriu para mim mais uma vez naquela noite e celou os lábios nos meus, pela última vez. Eu teria que ter paciência e esperar para tê-lo ao meu lado novamente. 
- Agora vou ficar arrependido por não ter arrancado as suas roupas e te feito minha. - ele disse, o olhar tão intenso em conjunto com o sorriso enviesado fizeram meu coração acelerar. Outra vez. - Não teríamos tempo para tanto... 
- Mas nós vamos ter. E, prepare-se, uma noite não será o suficiente para matar a saudade que eu sinto de você. 
Scarlett surgiu atrás de nós, com uma expressão tensa. Ela sorriu brevemente para mim e foi para o lado de Joseph. 
- Aproveitaram o momento? - ela perguntou, olhando diretamente para mim. Confirmei com a cabeça e ela sorriu. Mas algo estava errado, ela não estava daquele jeito quando chegou à festa. Algo parecia ter acontecido. - Ok, que bom! Pelo menos alguém conseguiu sentir algo positivo. Vamos, Jonas? Arthur está nos esperando no carro. 
- Tchau, Demi. - meu marido disse, partindo meu coração. 
- Tchau, Joe. - mandei um beijo no ar, me segurando para não voltar a chorar. 
Eles deram as costas e caminharam em direção ao veículo preto. Uma de suas portas se abriu e um homem desconhecido se revelou. Ele me olhava de um jeito estranho, como se me conhecesse. Não podia negar que algo em seu rosto era estranhamente familiar. Joseph virou o pescoço para me olhar mais uma vez antes de entrar no carro e eu sorri, esquecendo do outro homem que me fitava. Mas voltei a encará-lo quando o mesmo fez um aceno de cabeça para mim e apontou para Joseph com os olhos. Aquele gesto me fez lembrar de meu irmão Peter. 
Mas por que diabos eu lembrei de Peter? 
Chacoalhei a cabeça e assisti o carro ir embora. Virei o corpo e pensei em voltar para a festa, mas a noite precisava ser tão longe ao ponto de Cameron estar escorado em uma das pilastras da entrada, virando uma garrafa de whisky e quase tombando para um lado. Bufei e andei em sua direção. 
- Sério que você ficou bêbado? - me sentei perto de onde ele estava, olhando para o céu. 
- Por quê? Vai bancar a protetora e brigar comigo? - ele riu. - Eu é que sou o protetor por aqui. Pelo menos isso, não é? Pelo menos eu sirvo para isso. 
- Cale a boca, Cameron. Não vou ouvir você bêbado, sinto muito. - levantei-me, prestes a entrar, mas parei quando escutei a garrafa que ele segurava cair. Virei o corpo e seu rosto me assustou. Estava pálido, com lágrimas escorrendo. 
- Minha mãe morreu enquanto dava a luz a mim, isso quase leva a crer que eu a matei. Fui criado por mulheres que recebiam dinheiro para demonstrar um pouco de carinho, mas eu nunca deixei que nada disso me abalasse. Eu sempre fui o tipo de cara que nunca estava para baixo. - Cam andava ao redor, preso em um monólogo. - Eu não precisava da dor, não precisava ficar jogado por aí me fazendo de vítima. Eu me levantei e lutei, engoli a solidão e me tornei alguém aparentemente forte. Mas você sabe o que é acordar todos os dias e perceber que você sempre dependeu do que era dos outros? 
Cam, pare... - tentei, mas ele não se importou. 
- As mulheres que cuidaram de mim durante minha infância? Elas tinham filhos. A mulher que eu amo? Ela ama outro. Sabe qual é a diferença entre o Joseph e eu? As pessoas se importam com ele. - não aguentando mais o peso de seu próprio corpo, ele caiu sentado no chão, encolhendo as pernas e encostando a cabeça nos joelhos. Preferi não me aproximar. - A mãe se importa, pessoas que nem o conhecem direito se importam, você se importa... E eu? Eu fico com a parte que não é real. Eu fico como o amigo sem sentimentos que apenas ajuda, sem ser ajudado de forma alguma. 
Eu não tinha nada para falar, não queria dizer nada que pudesse piorar seu estado. Apesar de tudo, eu era extremamente grata a ele por não ter saído do meu lado enquanto Joseph estava longe. Mas ele precisava entender que eu simplesmente não mandava nos meus sentimentos. Gostaria de tirar aquela dor dele, mas já havia tentado antes e pude comprovar que só tinha conseguido o efeito contrário. 
Cam, eu sinto muito pela sua mãe, mas não se culpe. - foi tudo que consegui responder, evitando boa parte de seu desabafo. 
- Eu estou bêbado! Amanhã não vou lembrar de tudo que obriguei você a ouvir... Então, por favor, finja que eu realmente não falei nada, ok? 
- Ok, você não falou nada. 
Demetria... - ele levantou o rosto e me olhou, sorrindo feito uma criança. O efeito do álcool estava castigando ele de um jeito cruel. - Você está maravilhosa hoje. 
Agradeci com um aceno e caminhei para longe dele. 

What a mess I've made.
Sure we all make mistakes
But they see me so large
That they think I'm immune to the pain.

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Poxa gente, de 200 visualizaçoes, agora raramente passa de 50 :(
Vocês não estão gostando? Falem se sim ou não, porque assim dou um jeito!

Um comentário:

  1. Eu to amando, entro no blog varias vezes por dia, eu to amando essa fic, não deixa de postar, please!

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Sem comentario, sem fic ;-)