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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 1

O som da incerteza é confortável, confortável até que sugue todas as minhas certezas. Até que cegue os olhos mais atentos. Até que uma palavra sincera perca seu significado, o seu valor. Gostaria de saber por que essa vida tem a infeliz necessidade de sentir prazer ao nos ligar como peças de um jogo; peças de um dominó. Basta uma desabar e lá estão as outras, abaladas pelo impacto e fazendo o mesmo com as seguintes. Gostaria de saber a fórmula da coragem, até mesmo da violência, mas teria de ser uma fórmula que não afetasse a cumplicidade, a esperança, o amor. Não se trata mais de um assassinato, nem de um crime intrigante, tampouco de vilões com a missão de causar dor. Agora nós somos os vilões de nossas próprias histórias, nós cavamos nossas próprias covas, roubamos nossa própria paz. Injustiçados pela própria justiça. E talvez a vida seja mesmo esse grande véu composto por problemas mascarados de soluções que envolve a todos nós. Talvez seja mesmo assim... Um obstáculo, uma recompensa, um obstáculo, uma recompensa... Tão bem intercalados que até se confundem. Quem sabe uma recompensa pode até estar disfarçada de obstáculo ou vice-versa. No fim, fica a grande questão: o quanto tudo isso foi capaz de me mudar? Mudar o que conheci, mudar o que aprendi a amar.

Capítulo:


Sombras



Demetria's P.O.V

Estava escuro. 
Mas não se tratava de uma escuridão desagradável, eu apenas não estava acostumada com ela. Não parecia a minha casa. 
Enquanto eu descia aquelas escadas que pareciam intermináveis, me senti como se estivesse em um filme, esperando pelo acontecimento que decidiria meu destino na trama. A ansiedade retardava tudo, até mesmo minha visão parecia mudar de maneira lenta. Sorri, olhando brevemente para baixo e fitei a seda vermelha que cobria boa parte do meu corpo. Era um vestido longo, sem alças e com uma fenda na perna. Uma de minhas mãos - cobertas por luvas pretas que chegavam até a metade de meus braços - segurou o corrimão com mais força quando minha audição conheceu aquela primeira nota. Assim que as escadas acabaram, consegui identificar uma sombra em uma das paredes. Aquela sombra era provocada por um candelabro com cinco velas que se encontrava sobre a cauda de um piano. O meu piano. 
Meus saltos produziram o típico barulho no chão e, como se apenas esperasse por aquele momento, mais notas foram tocadas no piano. Não eram notas delicadas e muito menos afinadas. Elas eram pesadas e desordenadas, como se alguém estivesse simplesmente socando as teclas. Eu parei na entrada daquele cômodo e apenas esperei, soltando um risinho discreto. 
Mas ele percebeu. 
Ele percebeu e o ambiente se tornou silencioso. Joseph deixou o piano de lado e virou-se para me olhar, permitindo que um sorriso tímido desse as caras. Eu apenas o ignorei e caminhei até o piano, tentando parecer charmosa ao pegar um leve impulso e me sentar sobre a cauda do mesmo. Após afastar um pouco o candelabro, cruzei minhas pernas, permitindo que a fenda do vestido se abrisse mais e uma delas ficasse exposta por completo. Primeiro ele a analisou com felicidade brilhando nos olhos, depois subiu seu olhar e o fez se encontrar com o meu. Quando aqueles olhos verdes deixariam de fazer parecer que poderiam sugar toda a minha energia? Cada mísero pedacinho estável de minha mente. 
Desviei seu olhar e levei os dedos cobertos pela luva até minha nuca, a massageando levemente, fechando os olhos durante o ato. Pelo fato de meus cabelos estarem presos, eu sabia que Joseph tinha uma vista privilegiada do meu pescoço, assim como de minhas costas. Em um gesto esperado por mim, ele se levantou de supetão de onde estava sentado, batendo com os dedos uma última vez nas teclas e produzindo um som esganiçado que me fez rir mais uma vez. Não tive mais tempo de pensar em outra coisa, já que no segundo que se passou ele já tinha dado um jeito de descruzar minhas pernas e depositar seu corpo entre elas, deixando que os dedos espertos deslizassem pela perna descoberta. Poderia parecer um momento qualquer, um simples jogo de sedução entre um casal... Era bem mais importante do que isso. 
Quatro meses haviam se passado desde o nascimento de nosso primeiro filho, Matthew. Toda a alegria que sentimos ao receber aquele anjinho em nossas vidas foi o suficiente para manter nosso interior aquecido por um bom tempo. Eu precisava de uma pausa de determinadas coisas, necessitava de uma recuperação que só viria com o tempo. No começo foi complicado, me lembro de ter chorado algumas vezes. Lembro-me também de olhar no espelho e não gostar da imagem que ele me oferecia. Pelo menos eu tinha a opção de me sentir aliviada, já que todos aqueles transtornos, dores e sensações ruins passariam com o tempo. Foram apenas consequências de meu parto. O sofrimento que meus hormônios sofreram era mais do que compreensível. E depois veio toda aquela avalanche, que na verdade deveria ser chamada de cuidados essenciais com um bebê. Noites mal dormidas, dores de cabeça, fraldas para trocar, sustos e idas repentinas a um hospital. Uma loucura, não há como negar. 
Aquilo afetou de certa forma minha relação íntima com Joseph, é claro. Durante os dois primeiros meses em que Matthew estava conosco, a cama era sempre fria. Não apenas por causa do forte inverno europeu, mas também porque não estávamos trocando carícias mais profundas. Um beijo, dois, três. Um carinho aqui, outro ali. Apenas isso, raramente tentávamos realmente ter algo mais intenso, porém nada que nos satisfizesse completamente. Ele tinha medo de tentar alguma coisa e me machucar, ele parecia ter certeza de que eu não estava totalmente bem. E eu tinha medo de decepcioná-lo, de acabar com o encantamento que por tantas vezes ele demonstrava ter por mim. 
Naquela noite, apenas com a companhia do piano e das velas, teríamos a chance de voltar a sermos nós mesmos. Depois de muito tempo, sim, mas achamos melhor esperar a maré baixar para realmente saciarmos todos os desejos e vontades incontroláveis que vinham domando nossos corpos sem piedade. Eu mal podia senti-lo tocar minha pele, já conseguia entrar em estado de loucura, querendo e querendo mais. Eu percebia que ele também estava desesperado. E, com todos aqueles pensamentos em mente, mordi o lábio inferior e levei meus dedos até a sua nuca, segurando o local com firmeza. 
Você não sabe tocar, Joseph. - soltei as palavras de maneira bem baixa e arrastada, com a intenção de provocar mesmo. Chamas me atingiram quando em resposta ele apertou uma de minhas coxas e aproximou mais nossos corpos, chocando sua boca com meu pescoço. Eu realmente ficava em estado de desespero toda vez que ele me tocava, e naquela noite a situação pareceu piorar. Eu precisava dele, e precisava no sentido sujo mesmo. Arfei e o assisti retornar a posição anterior, deixando que as íris verdes ofuscassem o resto do meu mundo e dessem apenas foco a ele. Surpreendida, respondi com um gemido que escapou inevitavelmente de minha garganta quando os dedos de Joseph driblaram meu vestido e já escorregaram para o interior de minhas pernas, apenas fazendo menção de tocar o lugar. 
- Ah, eu não sei? Tem certeza? - ele disse com um sorriso, e chamar aquele sorriso de malicioso seria estar sendo muito modesta. Joseph aproximou nossas bocas, mas não me beijou, apenas roçou os lábios. O abracei pelos ombros, querendo trazê-lo para mais perto. - E o Matthew? - perguntou baixinho. 
- Herdou o sono pesado do pai. Tão lindo! Você deveria ter visto, dormindo como um anjo... 
- Jamie? - ele sabia onde nossos filhos estavam, eu sabia que aquelas perguntas faziam parte de seu jogo de sedução. 
- Dormindo na casa de um amigo, só vai voltar amanhã. - respondi convicta, sorrindo abertamente. Joseph afastou-se um pouco e me fez descer do piano com uma violência devassa, segurando meu corpo frágil pela leve queda com determinação. Ele virou o pescoço e olhou para além das escadas, voltando a me olhar e mordendo os lábios. - Joseph, eu tive tanto trabalho para descer as escadas! Você vai me fazer subi-las de novo? O que aconteceu com a fantasia no piano? Eu tocando enquanto nós... - parei a frase e pisquei, trazendo revelações antigas à tona, divertindo meu marido. 
- Você está preocupada com as escadas? Se eu fosse você minha preocupação giraria em torno do que pode lhe acontecer depois que eu nos trancar naquele quarto. - o arrepio foi inevitável, assim como a forte mordida que meus dentes deram em meu lábio inferior. Meu corpo enviava respostas gritantes, implorava para que aquele homem fizesse logo tudo que pretendia fazer. Mesmo que durasse a noite toda. 
- Está tentando me assustar, Jonas? - Joseph não disse nada, tudo que fez foi me puxar pela mão e seguir até a escada. Eu estava vibrando por dentro, cada célula do meu corpo parecia comemorar com as outras, formando uma grande festa que me obrigava a soltar o ar com afinco, já que meu coração batia intensamente e a respiração aos poucos ficava difícil. Eu deveria estar me sentindo daquele jeito? Sim, deveria. Me sentia intocada por um longo tempo e finalmente aquela maldição seria quebrada. Eu já poderia sentir a sensação correndo por todo o corpo. 
Perdida em todos aqueles devaneios que me deixavam ainda mais excitada, fui me dar conta de que a porta de nosso quarto estava aberta, esperando que nossos corpos passassem por ela e cumprissem seu destino. Nós dois rimos ao trocar um olhar cúmplice e ele pediu em um gesto com a mão para que eu entrasse primeiro. Assim que o fiz, ainda de costas para ele, ouvi o barulho da porta se fechar e amaldiçoei os incessantes arrepios que recebia com cada vez mais frequência. Duas mãos correram pela minha cintura, formando um abraço firme. Lábios quentes e macios encostaram-se na pele do meu pescoço e subiram em câmera lenta, chegando até uma de minhas orelhas. Manti os olhos fechados, controlando as chamas que faziam meu corpo por dentro. Joseph soltou sua voz rouca, presenteando-me com palavras que quase obtiveram efeito semelhante a um orgasmo. Eu disse quase
- Você sempre me deixou louco, mas isso que sinto agora é diferente. Tem ideia do que tenho vontade de fazer com você? Não, eu espero que não tenha. Ser pega de surpresa vai deixá-la ainda mais sexy, eu sei. Acho que nunca te quis tanto, Demetria Jonas. Isso está me sufocando tanto que a única maneira que encontro de aliviar a sensação é fazendo com que você a sinta também. - sua língua encostou em meu lóbulo e logo seus dentes o seguraram. Meus lábios se abriram e foi seu nome que eles expulsaram. - Vem ser minha como nunca foi antes, eu te imploro.
Seu perfume não tinha pena de meu olfato, suas mãos não tinham pena do meu corpo, sua aparência charmosa e sexy não tinha pena de minha visão. Seu amor não tinha pena de minha alma. Sua vida não tinha pena de minha existência. 
- O que você quiser, Joseph, o que você quiser! - eu nunca conseguia respondê-lo a altura, até poderia me sentir humilhada por todas as palavras de tirar o fôlego que aquele ser humano sempre carregava na ponta da língua. Eu apenas movimentei meu quadril, percebendo que isso despertou sua atenção. E não apenas sua atenção, outra coisa também. 
- Eu amo o seu cheiro, e não sei por que diabos fico com as mãos suando frio e desatento ao resto do mundo quando o sinto. - me virei, decidindo que fazê-lo calar a boca era essencial naquele momento. Ele não poderia me fazer chegar ao ápice com palavras, eu precisava ter o corpo dele, da maneira que deveria ser. Só assim fecharia os olhos e tentaria dormir satisfeita quando não aguentasse mais. 
Mencionar que seu beijo era maravilhoso seria mais clichê do que o sol nascer todas as manhãs, então me restava apenas aproveitar e ser responsável pelos sons de satisfação e ao mesmo tempo de agonia que ele já começava a soltar com os lábios, mesmo quando estavam colados aos meus. O obriguei a me soltar e caminhei para o meio do quarto, puxando sozinha o zíper do vestido e o deixando desabar até atingir certeiramente o chão. Segurei o tecido de minha luva com os dentes e o puxei, livrando-me das duas em pouquíssimo tempo. 
- Não vai dizer nada? - o questionei, afastando a delicada peça de roupa com um dos pés e dando dois passos a sua frente. 
- O que tem para ser dito? Eu elogiaria sua lingerie se existisse uma. - sorriu maroto, não conseguindo desgrudar os olhos de toda a minha pele desnuda. Os saltos perigosamente altos eram as únicas coisas que não faziam parte do meu corpo, mas continuavam nele. Voltei a ficar de frente para Joseph e segurei sua mão, o levando até a cama, deixando que ele apreciasse toda a parte de trás do meu corpo. Quanto mais ele fosse provocado, melhor para mim. O joguei na cama sem cuidado, e ele me olhou inconformado e vingativo, o tipo de olhar que sempre me divertia. Subi na cama e o puxei pela gravata, apenas para deixar claro que eu também queria brincar àquela noite, e não apenas ser o brinquedo. Depois que o soltei, desfiz o penteado em meu cabelo, permitindo que ele caísse pelos meus ombros e fui até uma mesinha colocada estrategicamente ao lado da cama com algumas coisas. Me servi com um copo de uma bebida vermelha que queimou ao descer pela minha garganta e depois que o servi com um copo idêntico ao meu, nós brindamos em silêncio. Joseph não conseguia parar de olhar meus seios, e isso me dava a sensação de controle, de tê-lo na palma da mão. Recorri mais uma vez até aquela mesinha e peguei um frasco que atraiu sua atenção. Sorrateiramente o empurrei pelo peito até que seu corpo ficasse completamente deitado na cama e me coloquei por cima. Senti sua excitação próxima a minha pélvis e ri malvada. 
- O que me diz de uma massagem especial? - perguntei como se aquela fosse a opção mais desgustável de um refinado cardápio. Ele agarrou meus quadris e fechou os olhos por um momento, os abrindo a balançando a cabeça negativamente. 
- O que me diz de parar de me enlouquecer? 
- Desculpe, não vai dar. - informei com um risinho arteiro e Joseph se levantou comigo, invertendo nossas posições e tomando o frasco de minhas mãos. Sem esperar mais o abriu e colocou um pouco do óleo com um perfume deliciosamente agradável em uma de suas mãos, juntando as duas depois e espalhando o conteúdo por elas, deixando o frasco de lado. Logo suas mãos quentes me tocaram, e o efeito provocado pelo óleo - ou talvez pelo toque dele mesmo - já começava a me fazer delirar. A massagem iniciou-se calma e comportada, mas as coisas definitivamente passaram do limite quando meus seios foram tocados e bem tratados, massageados como se fossem algo precioso demais para receber uma atenção inferior àquela. Me irritava vê-lo com toda aquela roupa, então levantei meu tronco e comecei a tirar todo o tipo de tecido que não fizesse parte de sua pele. E que aroma embriagante aquela pele emanava, eu tive que encostar meu rosto na curva de seu pescoço por um momento para aproveitar melhor. Joseph aproveitou esse momento parar segurar meu quadril com uma de suas mãos mais uma vez e levar a outra até meu clitóris, o massageando sem que eu desse permissão. Seus dedos foram beneficiados pela lubrificação natural que se revelava em minha intimidade, e dois deles escorregaram para dentro de mim. Joseph os movimentou algumas vezes, impetuoso. Não me controlei e deixei que ele notasse a minha satisfação por aquele toque, contribuindo para que sua expressão se tornasse a de um selvagem e para que me atacasse como se eu fosse a mais vulnerável presa. 
- Senti saudade de você. - Joseph sussurrou. 
- Também senti de você. - devolvi, captando o segundo sentido daquela revelação. 
- Senti saudade de nós
Nossos corpos nus se contorciam na cama que já se encontrava bagunçada, lençóis revirados. A bebida que tomávamos derramou pelo local e consequentemente sobre partes dos nossos corpos. A massagem continuou, uma massagem simultânea. Lábios com lábios. Sexo. Uma combinação refinada de aromas. Nossas peles ardentes se uniram e tudo passou a fazer mais sentido. 


Ainda era bem cedo quando meus olhos se abriram e tudo que consegui enxergar foi cabelo. Apressei-me a remover os fios bagunçados de minha face e ergui um pouco a cabeça, sem coragem alguma de levantar o resto. Eu estava deitada de bruços e apenas um lençol branco e amarrotado cobria meu corpo. Minha mão correu pelo outro lado da cama, mas estava vazio. Voltei a fechar os olhos e sorri sozinha, ouvindo o barulho do chuveiro. Mas por que ele não me esperou para tomar banho? 
Fiquei sem me mover por mais algum tempo, me perguntando se Matthew estava acordado. Babá eletrônica certamente era uma invenção dos deuses! Foi graças a ela que pude comprovar que meu menino tinha mesmo o sono muito pesado, gostava de aproveitar bem seus sonhos inocentes. Matthew não costumava acordar antes das sete da manhã, exceto quando estava doentinho ou com muita fome. Caso nada disso estivesse acontecendo, o pequeno dormia a noite inteira. Meus pensamentos foram parar em Jamie, mas eu sabia que ele estava bem na casa de seu amigo Charlie. Decidi que não ganharia nada a não ser mais sonolência se ficasse jogada naquela cama, então me dispus a levantar rapidamente, o que acabou provocando uma tontura repentina e curta, que me fez cambalear. Ri ao notar minhas pernas bambas. Consequências da noite anterior, eu tinha certeza. Ajeitei brevemente meu cabelo e vesti um blusão cinza que encontrei por perto, saindo do quarto e entrando em outra porta próxima. Toda vez que eu entrava ali fazia questão de prestar atenção em cada detalhe. As paredes de um verde bem clarinho, a decoração delicada e clara, e principalmente o berço em um dos cantos. Fui com pressa até ele, curvando um pouco o corpo para verificar se meu bebê estava bem. Seus olhinhos estavam fechados, mas suas mãos se mexiam algumas vezes, parecia que estava sonhando com alguma coisa. Sorri e levei minha mão até seu rosto macio, deslizando meus dedos por sua bochecha em um carinho. Eu nunca deixaria de parecer uma babaca quando olhasse para ele, nunca conseguiria parar de repetir para mim mesma: Meu Deus, você é mãe. Você é mãe. Você é mãe!
Ajeitei Matthew com cuidado para que pudesse continuar a dormir de maneira agradável e verifiquei se tudo estava realmente bem com ele, apenas depois disso saí tranquila de seu quarto e voltei para o meu. Puxei o blusão para cima e voltei a ficar como tinha chegado ao mundo, me dirigindo até o banheiro. Passei pela porta e enxerguei Joseph dentro do box, de costas para mim. Ah, aquelas costas! Não demorei para abrir o box e surpreendê-lo, roubando um sorriso de seus lábios. Como de praxe, o olhar que trocamos foi mais do que apaixonado. Principalmente depois de uma noite como aquela... Joe fazia com que eu me apaixonasse por ele quantas vezes quisesse, e em cada uma sua fórmula parecia ficar mais precisa. 
- Não quis te acordar, você estava tão linda dormindo que seria um crime fazer isso. 
Eu o abracei, sem dizer nada e ele retribuiu o abraço. Encostei meu queixo em seu ombro e fiquei olhando para o nada, gostando da sensação que sua pele encostada na minha me proporcionava. Ele também permaneceu em silêncio, mas beijava meu ombro. 
- Como é possível que eu possa me apaixonar até pelo seu silêncio? - desfiz a falta de som no ambiente - exceto pela água caindo - e o questionei com a voz bem calma, mantendo meus braços em volta de seus ombros. Às vezes fazíamos aquilo: permanecer sem dizer nada, mas abraçados ou com as mãos dadas. Como se conversássemos e compartilhássemos momentos e lembranças através de pensamentos em comum. Beijei seu ombro apenas uma vez. Nos soltamos um pouco e ele levantou o rosto, deixando a água cair por todas as partes. Ensaboei minhas mãos e as passei pelo seu peitoral, em carinhos leves. Depois nos olhamos em silêncio mais uma vez e ele apenas me deu um selinho. Joseph ainda não tinha respondido a minha pergunta. Então ele percebeu minha inquietação e resolveu se manifestar. 
Demetria, você disse que estava se apaixonando pelo meu silêncio, certo? Então vou continuar quieto, não quero que sua motivação vá embora. - eu ri de sua justificativa e nós continuamos daquela maneira por mais uns dez minutos. Depois terminamos nosso banho e cada um tomou sua direção. Ele vestiu seu sedutor terno preto e se preparou para ir à Empire, e eu optei por um vestido rosa leve, um pouco curto, mas com a mangas cumpridas. Não demorou muito para que Matthew acordasse, e estava faminto. O tirei de seu berço e o levei para meu quarto, onde Joseph ainda se encontrava penteando o cabelo para trás. Ele olhou com os olhos brilhantes para nosso filho, beijando a ponta de sua cabeça. Aquele gesto não foi suficiente para agradar Matt, que começou a resmungar, mas ainda não se tratava de um choro. Eu comecei a alimentá-lo e Joe veio se despedir, dizendo que passaria na escola mais tarde para pegar Jamie e sair com ele. Coisas de homem, afirmou. Nos beijamos brevemente, mesmo que ele tentasse segurar o meu lábio inferior e eu ri, apertando minhas mãos um pouco no pequeno corpo do bebê. O assisti sair pela porta e olhei para o rosto do filho que tinha feito com aquele homem. Me senti realizada, não tinha como evitar. 

/Demetria's P.O.V


Jamie endireitou o corpo em sua carteira quando a professora de cabelos curtos e rosto angelical adentrou a sala, com uma garotinha de cabelos dourados em seu encalço. Suas bochechas coraram instantaneamente e ele desviou o olhar quando seu estômago reagiu de forma estranha. É só fome, ele pensou. Depois que a professora pediu pacientemente que a aluna nova se apresentasse para toda a classe, sugeriu que ela se sentasse em um dos lugares livres. Coincidentemente um deles era ao lado de Jamie, que sorriu sozinho e alguns garotos de sua classe perceberam, começando a rir. A menina de nome Olivia se sentou tímida e apenas sorriu sem mostrar os dentes para Jamie, que retribuiu sem jeito. Enquanto Olivia arrumava suas coisas cor de rosa em sua carteira, um lápis acabou caindo no chão. Jamie rapidamente se abaixou para pegar, mas não contava que ela havia pensado fazer a mesma coisa. As mãos de ambos se chocaram e as bochechas voltaram a corar. Olivia olhou as sardas de Jamie, assim como seus olhos azuis e soltou um risinho, recolhendo seu lápis e endireitando o corpo. Passou a ignorá-lo, mas às vezes se permitia olhá-lo de soslaio. 

Durante o recreio, Jamie se afastou por um momento de seus colegas ao perceber que garotos maiores que ele rodeavam Olivia, e a expressão no rosto dela não era boa, estava prestes a chorar. Jamie ajeitou a gola da camisa de seu uniforme e deu passos tensos até eles, parando e pigarreando, atraindo a atenção do garoto que tentava roubar o lanche da loira. 
- Qual é o seu problema, Jamie? Seu rosto está pedindo por um soco? 
- Não. - Jamie respondeu rápida e calmamente, não se intimidando. Ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços. - Mas o seu está, Jim. 
Jim ignorou e voltou a concentrar sua atenção em tomar a lancheira cor de rosa de Olivia, que encolhia o corpo e olhava para Jamie como se pedisse ajuda. 
- Olha aqui, se você se acha tão valentão, por que não vai tentar roubar o lanche de algum dos professores? Uma garota é fácil, não é, Jim? Você é um covarde! - Jamie apontou para ele e riu, fazendo Olivia e até mesmo os dois amigos de Jim rirem também. 
- Não banque o super herói, Jamie, tente crescer antes disso. - zombou da estatura do garoto, rindo com escárnio. - Agora saia daqui, seu sardento! - Jim aparentava ter uns três anos a mais do que Jamie, que havia completado dez na semana anterior. 
- Não estou bancando o super herói, na verdade não estou bancando nada. E por que você acha que me chamar de sardento vai me deixar triste? A professora Alice disse que garotos sardentos são bonitos, isso quer dizer que as garotas gostam de sardas. 
- Eu gosto de sardas! - Olivia se manifestou pela primeira vez, ainda com um pouco de medo de Jim. Jamie ficou cara a cara com o mais alto e fez um gesto com a cabeça para que saísse dali. Jim bufou e se afastou, fazendo os outros dois o seguirem. Jamie sorriu convencido e se sentou ao lado de Olivia, brincando com a barra da manga do casaco azul marinho do uniforme. - Obrigada, Jamie. - Olivia sorriu mais abertamente daquela vez, se aproximando e dando um beijo na bochecha sardenta de Jamie, que arregalou os olhos e abaixou um pouco a cabeça. 

Na hora da saída, Jamie avistou o carro preto de Joseph e pediu que Olivia fosse com ele até lá, queria apresentá-la. Os dois caminharam com suas mochilas e de mãos dadas. Joseph saiu do carro, avistando os menores e tirando os óculos escuros para olhar aquela cena melhor, depois sorriu orgulhoso. Olivia se perdeu no rosto de Joseph por um tempo, obrigando Jamie a cutucar seu ombro antes de falar. 
Joe... Essa é a Olivia, minha nova amiga! - Joe parou de frente para os dois e cumprimentou a garota. 
- Olá, Olivia, como vai? 
- Bem, mas eu acho que conheço você. - ela parecia confusa, procurando por algo invisível no rosto de Joseph. O homem franziu o cenho e Jamie não entendeu nada. 
- E de onde você acha que me conhece? - ele perguntou e ela negou com a cabeça, inocente. 
- Não sei, mas já vi seu rosto em algum lugar. Deixa para lá. - aconselhou e se despediu de Jamie com outro beijo em sua bochecha, que dessa vez teve coragem o suficiente para retribuir. Joseph se lembrou de sua infância assistindo aquela cena, mas sacudiu a cabeça e voltou a colocar seus óculos. 
- Pronto para comer porcarias e depois ir comprar aquela camisa do Chelsea de que tanto falamos? - ele disse animado e Jamie sorriu de orelha a orelha, fazendo uma breve comemoração e entrando no carro, assim como o mais velho. 


Demetria's P.O.V

Felizmente estava sol, felizmente eu tinha a visita de duas amigas. Cassie e Scarlett. Depois que conversamos um pouco na sala de estar, bancamos as mães bobonas - exceto Scarlett, no caso - e deixamos nossos filhos sob os cuidados de Nancy - minha empregada e babá dos meninos para quando eu precisasse. Optamos por colocar maiôs e aproveitar o belo dia de frente para a piscina do jardim. Fiquei na espreguiçadeira da esquerda, Scarlett no meio e Cassie na da direita. Em meu copo havia suco de laranja, no de Scarlett vodka e no de Cassie chá gelado. Cassie estava bem, apesar de algumas olheiras devido a noites mal dormidas, mas mesmo assim bem. Tinha voltado a ser a mulher que ria por qualquer coisa e falava demais em qualquer ocasião. Confesso que ainda era estranho ter Scarlett por perto, não que aparentasse ser uma ameaça, mas olhar para ela e imaginar que antigamente fora uma agente secreta, era um tanto quanto desconfortável. Mas isso não impedia que nossa amizade aumentasse. Terminei meu suco e coloquei o copo no chão, retirando meus óculos de sol e ajeitando o corpo na espreguiçadeira. Eu me sentia leve, com a auto-estima alta... E é claro que eu sabia cegamente o motivo. 
- Parece que alguém está feliz por aqui... - Cassie soltou uma voz melodiosa, como se cantasse uma música. Eu apenas ergui os cantos dos lábios e dei de ombros, Scarlett nada dizia. Depois de alguns minutos em silêncio, a morena ergueu o corpo e ficou sentada, olhando para a grama, parecia pensativa. 
- Cara, eu acho que o Caleb quer me pedir em casamento. - ela soltou de repente e Cassie e eu também levantamos nossos troncos, surpresas. Uma expressão maliciosa se formou no rosto da loira e ela esfregou a palma de uma mão na outra, como quem está tramando alguma coisa. 
- Sim, é claro, e você vai aceitar. - Cassie avisou e Scarlett a olhou perplexa. 
- Mas é claro que não! 
- O que você tem na cabeça, James Bond? - os apelidos da loira para a morena sempre me faziam rir. Eu prefiri ficar quieta e esperar pela justificativa de Scarlett. - Ele é tão romântico com você... Segura sua mão toda hora, diz coisas doces. Se isso não é o suficiente, vá procurar um psiquiatra! - Cass se jogou na espreguiçadeira, emburrada. Scarlett olhou para mim e fez cara de nojo, apontando para a outra. 
- Por que você não quer esse compromisso, Scar? - perguntei e ela balançou as mãos, desesperada para mudar de assunto. 
Demetria, para ser bem sincera, eu não estou acostumada com essa vida. Noite passada sonhei que dava uma surra em dois grandalhões enquanto passava batom! Todo esse lance de morar junto, dividir cama e... 
- Está vendo? Vocês dividem a cama, porra! - Cassie voltou a se mostrar elétrica, levantando-se e sentando na mesma espreguiçadeira de Scarlett, que a empurrou sutilmente para longe. 
- Me deixem em paz, gatas, eu não quero isso. Quero beber! - Scarlett pegou sua vodka e bebeu em apenas um gole. 
- Você deve ser o homem do relacionamento, não é possível. Não concorda comigo, Demi? 
- Por acaso parece que eu tenho um pênis? - fez um gesto com a mão que indicou a extensão de seu corpo. E ficou realmente bem claro que ela não tinha um pênis. 
- Só se você for super profissional e souber escondê-lo muitíssimo bem. - Cassie admitiu. 
Apenas ri e me levantei, deixando as duas discutirem e dei um breve mergulho na piscina. Fiquei submersa até meus pulmões implorarem por oxigênio. Assim que saí da piscina, revirando os olhos pela discussão do casamento que se mantinha intacta, senti que precisava entrar em casa e ver como Nancy estava se saindo com os bebês. Peguei uma toalha, sequei parcialmente meu corpo e vesti um roupão branco e fofo por cima do maiô, me dirigindo até o espaço especial onde Nancy deveria estar. Os lindos e loiros gêmeos entraram em meu campo de visão, comportadinhos em uma enorme cama com diversos brinquedos. Dianna estava quase dormindo e Dimitri tentava pegar mais de um brinquedo de uma vez, olhando confuso quando um deles escapava por seus dedinhos finos. Toda vez que eu olhava para aqueles bebês via Jared. E o misto de tristeza com emoção que eu sentia era sufocante. Mas eu não tinha o direito de ficar triste, meu falecido amigo não gostaria de ver nenhum de nós triste. Nancy estava sentada no canto da cama, com Matthew em seu colo, o pequeno prestes a dormir. Me aproximei e disse a ela que estava tudo bem, que eu poderia ficar um tempo com eles. Nancy concordou de cabeça baixa, estava estranha. E eu realmente estranhei vê-la daquela maneira, já que quase sempre se mostrava uma pessoa prestativa, falante e amorosa. Estava na meia idade, tinha um corpo rechonchudo e sempre usava vestidos floridos. Quando decidimos contratá-la, foi instantâneo adquirir certa afeição pela mulher. A maneira como ela tratava Matthew e os outros bebês era incrível, assim como Jamie. Também era gentil e maternal com Joseph e comigo. Aquilo fazia muito bem, já que minha mãe continuava a morar na Suíça e nem sempre poderia estar por perto. 
- Algum problema, Nancy? - arrisquei perguntar, empurrando uma centopéia colorida de pelúcia para Dimitri, que riu ao conseguir pegá-la. 
- Não se preocupe, senhora Demetria, não é nada de mais. - ela tentou disfarçar. 
- Nancy, não minta para mim. O que foi? - ela se deu por vencida e respirou fundo antes de falar. 
- Acabei de receber uma ligação do meu marido e ele disse que meu filho Patrick piorou. Eu comentei com a senhora que ele estava com pneumonia, certo? 
- Sim, sim, comentou. - a encarei, enxergando toda a preocupação que a mulher tentava esconder. Matthew nunca havia ficado terrivelmente doente, apenas leves resfriados e febres temporárias, mas eu sabia como ela estava se sentindo, então não pude tomar atitude melhor. 
- Vá para a casa. - sorri complacente. 
- Não posso, tenho muitos afazeres e... 
- Seu filho é mais importante, Nancy. Acredite, eu sei bem disso. Não se preocupe, sobreviveremos por um tempo sem você! - brinquei. 
- Tem certeza? - eu não entendia por que ela continuava se portando de maneira tão culpada diante daquela situação. Sua ajuda era impecável e essencial, mas como eu possuía um carinho muito grande por ela, fazia questão que fosse cuidar do filho. 
- Pode ir, Nancy, a melhor coisa quando estamos doentes é ter nossa mãe por perto. Parece até que melhoramos, não é? - ela concordou com a cabeça. Dimitri tentava conversar junto conosco, mesmo que nenhum som reconhecível saísse por sua boca ainda sem dentes. Eu ri daquilo e passei os dedos pelo seu cabelo loiro e liso. - E faça uma daquelas tortas de frutas que só você sabe fazer, ele vai ficar bom rapidinho! - Nancy sorriu agradecida e veio para perto de mim, se curvando para me abraçar rapidamente e de um jeito desajeitado. 
- A senhora tem um enorme coração, nunca se esqueça disso. - agradeci com um gesto de cabeça e mandei que ela fosse logo, que não perdesse tempo. 
Me vi dentro daquele quarto com três bebês, sozinha. Mas logo minhas duas amigas malucas surgiram, falando alto, brigando e rindo. Tudo misturado. 


Mais tarde ainda naquele dia, tive uma surpresa cômica ao ouvir um tipo de monólogo que vinha do banheiro. Fui até lá e encontrei Joseph de frente para o enorme espelho, sem camisa, fazendo a barba. Ao seu lado, estava Matthew em uma daquelas cadeiras especiais para bebês. Uma das bochechas do pequeno estava lambuzada com o que eu julguei ser espuma para barbear. Abri a boca inconformada e dei um tapa certeiro no ombro nu de meu marido, que gemeu com dor. Apesar da preocupação ao imaginar que aquele produto poderia causar alguma irritação no rosto sensível do bebê, não consegui segurar uma gargalhada. Onde estava minha câmera? Eu precisava muito registrar aquele momento! 
- Mas o que está acontecendo aqui? - perguntei a Joe, pegando uma toalha limpa e fina para limpar o rosto de Matthew. 
- Matt está pronto para ser um homem! - Joseph comentou sério, como se sua afirmação fosse legítima e eu voltei a rir. Depois que o rosto de Matthew já estava limpo, entrei na banheira seca e permaneci ali, apenas fitando os dois distraidamente. Jamie estava em seu quarto fazendo lição de casa, ou jogando vídeo game, escolhi apostar mais na segunda opção. Eu detestava quando Joseph me flagrava naqueles momentos engraçados da vida em que você sorri sem motivo. Ele parou bem de frente para mim e se abaixou, querendo rir. Ignorei suas gracinhas e joguei a toalha que segurava em sua cara. 
- O que vamos cozinhar para o jantar? - perguntei. 
- Cadê a Nancy? 
- Eu disse que ela podia ir embora mais cedo, já que seu filho está doente. - saí da banheira e Joseph abaixou a cabeça. 
- Sim, quem tem a sorte de ter uma mãe, deve aproveitá-la muito. Muito mesmo. - parei de brincar com Matthew e congelei meus movimentos ao ouvir aquilo. Soltei o ar com calma e fechei os olhos por um instante. Eu conseguia sentir a dor que ele ainda sentia. Não fazia muito tempo que Elizabeth havia partido. Mesmo sem deixar que eu notasse, Joseph sofria. Ainda sofria muito por isso. Ele fingiu que nada estava aconteceu e continuou a fazer sua barba, mas eu me aproximei a tempo e acariciei suas costas, olhando para seu rosto. Ele parecia evitar o contato visual. 
- Hey, tudo bem? - não aguentei e decidi me certificar de que ele estava conseguindo lidar com aquilo. 
- Tudo, Demi... - os olhos verdes estavam escuros. Reação típica de quando algo o incomodava ou o deixava triste. - É só que eu sonhei com ela há algumas noites, preferi não te contar. - revelou cabisbaixo, livrando o rosto do último resquício de espuma. 
- Como foi o sonho? 
- Ela me disse que estaria sempre por perto e que eu não precisava lamentar a sua morte. 
- Sim, ela está cuidando de você. - deixei que ele enxergasse meu sorriso. Eu faria qualquer coisa para ver um sorriso brotar em seu rosto naquele momento, mas estava difícil. - Eu também. - então ele sorriu. 
- Então eu ainda tenho um pouco de sorte, porque você eu posso abraçar! 
Joseph teria de ir para uma reunião ainda naquele fim de tarde. Felizmente voltaria logo. 

/Demetria's P.O.V


Scarlett largou sua bolsa em um dos sofás e olhou ao redor, percebendo que as luzes estavam apagadas e nenhum sinal de presença humana dava sinal de existência. 
Querida, cheguei! - disse alto, engrossando propositalmente sua voz. Foi para perto das escadas e encarou o começou do corredor mais acima, mas realmente estava sozinha. - Caleb? - tentou mais uma vez, voltando para a sala e olhando para um dos sofás de maneira suspeita. - Por favor, que você não esteja atrás desse sofá com flores e um anel. - voltou a se assustar só de imaginar Caleb a pedindo em casamento. Não saberia o que dizer, provavelmente sairia correndo. Ainda bem que sabia correr muito rápido. Como ninguém se revelou atrás do sofá, ela largou o corpo no tapete, apenas para ter um momento de reflexão. Soltou os cabelos e ouviu o telefone tocar, voltando a tremer na base. - Por favor, que você não esteja tentando fazer a proposta por telefone, gato. - foi até o aparelho com cautela, debatendo consigo mesma se deveria atender ou não. - Ah, que vá para o inferno todo esse medo! - disse irritada e por fim o atendeu, ouvindo apenas o silêncio do outro lado. - Alô? Eu tenho mais o que fazer do que esperar para ouvir sua agradável voz, estranho. 
Por que a pressa, Karlie? - Scarlett sentiu seu corpo enrijecer e apertou os dedos contra o telefone, soltando o ar com calma e tentando convencer a si mesma de que aquilo não era nada de mais. 
- Caleb, pare com isso! Eu já disse que não gosto que me chame assim! - ralhou. A voz masculina só podia ser do cara que ela precisava aprender a chamar de namorado. 
Caleb? Não, não, minha cara. Trata-se de outra pessoa. Uma pessoa que sabe perfeitamente bem que naquele túmulo em Nova York, cujo nome gravado na lápide é "Karlie Russell", existem apenas diversos sacos de cimento, e não uma ossada envelhecida. - a mulher teve que sentar o corpo no primeiro lugar que encontrou. Suas mãos geladas começaram a tremer e imagens distorcidas vieram até sua mente. Imagens do passado. Sombras que há muito tempo vinha lutando para se livrar. 
- Pare com isso, seja lá quem for. Se quer me assustar, vai ter que se esforçar mais... - mentiu, pois já estava completamente assustada. 
Nos veremos em breve, certo, querida Karlie? - Scarlett não teve o direito de resposta e o telefone se tornou mudo. Ela o largou em qualquer lugar e tudo que conseguia fazer era olhar para a porta compulsivamente, torcendo para que Caleb chegasse logo. Talvez um abraço dele fizesse seu corpo parar de temer. 
Então era isso? Seu passado retornaria? Karlie Russell estava morta de fato, ela não queria trazer aquele fantasma de volta para sua vida. Faria qualquer coisa para não sentir todas aquelas coisas terríveis novamente. Qualquer coisa


Demetria's P.O.V

Jamie e eu estávamos sentados em cima da bancada na cozinha, felizes feito crianças - feito criança duas vezes, no caso dele. Comíamos com gosto um delicioso chocolate derretido, enquanto ele me contava como havia sido seu dia na escola. Contou sobre a garota que defendeu e eu dei tapinhas em suas costas, dizendo que já era um homenzinho. Um homenzinho muito do galante. Nós dois vestíamos pijamas e mergulhávamos incessantes vezes nossas colheres na tigela de vidro que abrigava o doce. Era uma pena que Matthew ainda não podia comer coisas como aquela, senão estaria fazendo parte da festinha. 
Joseph estava atrasado, provavelmente não jantaria. Já passava das nove da noite, e ele havia dito que chegaria antes das oito. Não era do meu feitio bancar a esposa neurótica, mas quando algum imprevisto surgia no caminho de seus negócios, ele me fazia uma simples ligação para avisar. É claro que não importunei Jamie com preocupações daquele gênero, tentei puxar outras conversas com ele. Até de quadrinhos nós falamos sobre. Matthew tinha pegado no sono cedo naquela noite, mas acho que o banho quentinho que eu lhe dei contribuiu para isso. Jamie me pediu para niná-lo e eu deixei, não encontrando momento mais lindo para apreciar. 
O chocolate já estava na metade, e meu nervosismo insistia que eu continuasse a comer. Nervosismo e doces é sempre uma ótima combinação. Durante uma das histórias de quadrinhos que Jamie tentava me contar, me assustei ao ouvir o baque da porta da frente e virei o rosto. Passos apressados surgiram e percebi que eles subiram as escadas com violência. Logo outra porta bateu violentamente. Minha audição captou o choro de Matt, que provavelmente acordou assustado com o barulho repentino. 
E meu olfato captou o perfume de Joseph. 
- Não tem nada acontecendo, ok? Fique aqui e deixe mais um pouco de chocolate para mim. - recomendei a Jamie, que estava apreensivo. Sorri calmamente a ele, dizendo com o olhar que tudo estava bem. Depois virei meu corpo e subi as escadas correndo, chamando pelo nome de meu marido, mas não obtive resposta. A porta do nosso quarto estava trancada e eu bati nela duas vezes, ordenando a Joe que saísse dali e me dissesse o que estava errado. Eu conseguia ouvi-lo respirar de maneira descompassada do lado de dentro. Matthew voltou a chorar e, já um pouco nervosa, eu corri até o quarto do bebê, o segurando em meus braços e cantarolando alguma música baixinho para que se acalmasse. Encostei sua cabecinha em meu peito e fui para o corredor novamente, dando de cara com um Joseph cuja expressão era assombrada. Estava pálido, olhos vermelhos, mãos trêmulas. Assim que ele me viu com Matt, respirou fundo e desviou o olhar, tentando se recompor. 
- O que aconteceu? - ele não me respondeu. - Joseph, me diga o que diabos aconteceu! - elevei meu tom de voz. Ele me olhou e não gostei nada daquele olhar. Lembrava um que recebi certa vez... 
- Não é nada, meu amor. Eu só... - ele coçou a nuca, afrouxando a gravata e vindo para mais perto. - Vou tomar um banho! - beijou a testa de Matthew e depois a minha, esbarrando seu ombro no meu e trancando-se no banheiro. Olhei para meu filho e ele estava sorrindo, provavelmente por causa do beijo de seu pai. Eu queria ser capaz de sorrir em situações angustiantes como aquela também, mas Matthew era só um inocente. E eu tinha vivido tempo o suficiente para saber que Joseph estava mentindo. 
Algo estava errado.



Lembrei o sobrenome do Cam sdjkgnlas
Bom, amanhã irei viajar e volto no domingo, não sei se conseguirei postar durante a viagem, mas como ainda tenho mais um tempo de férias posso voltar a postar e pensar em uma nova fic.
Beijos

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