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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 3 (Parte 1)

Parte I 
Utopia
(Música do primeira parte do capítulo: Crystalised do The xx. Coloque para tocar quando o letra começar a aparecer.)



Demetria's P.O.V

A sombra provocada pelas grandes árvores contribuiu para que o meu corpo permanecesse escondido enquanto eu observava aquela estranha cena e preferia manter uma distância segura. Desisti de me esconder e entreguei meu corpo a área sem árvores, permitindo que os raios de sol me cobrissem. Enquanto eu caminhava levemente por todo aquele gramado, avistei uma placa mediana de madeira envelhecida e escura, que exibia a palavra "Epílogo" em um tom avermelhado, porém desgastado.
O som de risadas e comemorações fez minha atenção desprender-se do que meus olhos tentavam entender e me assustei ao enxergar as duas pessoas que saíam de mãos dadas de uma enorme e bonita casa. Depois que os dois passaram por mim, um pouco perplexa, virei o pescoço para olhar suas costas e respirei fundo. Continuei a andar, e as cenas seguintes aconteceram em sequências perfeitas, como tomadas de um filme. Uma realidade perfeita demais para existir. Eu vi Cassie, e ela realmente não se parecia com a mulher debilitada que eu me lembrava após a morte de Jared. Ela estava mais velha, vestida de maneira impecável e ria de um garoto de cabelos loiros que estava atrás de outra árvore aos beijos com uma garota. O garoto se parecia muito com Jared. A visão que tive em seguida consistia em duas garotas de tamanho semelhante, que conversavam e trocavam risinhos discretos em meio ao resto dos convidados que não davam a mínima para o que estivesse acontecendo do lado de fora daquela festa. Depois, fitei meus amigos Scarlett e Caleb, juntos e de mãos dadas. Também mais velhos. Todas as pessoas que eu conhecia estavam ali... Minha mãe, meu irmão com sua namorada, alguns outros colegas...
Uma garotinha passou sorridente por mim, gritando um nome, "William", e então um garoto que se parecia muito com meu irmão Peter surgiu, a pegando no colo. Senti uma sensação quente e aconchegante em meu peito, como se estivesse feliz ao ver aqueles dois. Como se fossem meus filhos. O nome da menor era "Madeline", eu ouvi quando o garoto mais velho a repreendeu por comer bolo demais.
Tive que congelar meus passos e abrir a boca em forma de surpresa quando outro garoto entrou em cena. Esse era muito semelhante a Joseph... Era Matthew, o meu filho Matthew. Eu tinha certeza! Estava crescido, com a estatura superior a minha e um sorriso lindo nos lábios.
Meu peito só faltou explodir com tanta alegria, mas eu ainda procurava por uma resposta em cada canto de minha mente. Como, além de Matt, aqueles dois poderiam ser meus filhos? Eu era nova demais para já ter tido três filhos, e Matthew era um bebê, nada mais do que um ser ainda frágil que dependia de mim para tudo.
Aquela visão tornou-se turva e senti como se o delicado, porém preciso, vento que surgiu me arrastasse para longe daquelas pessoas, colocando-me em um píer de madeira extenso. Eu estava no meio do caminho, mas já enxergava o casal que tinha visto antes, sentados ao final. Praticamente corri, sedenta por qualquer explicação. Aquela mulher de roupas vermelhas era uma versão minha com mais idade! Como isso era possível? E para me surpreender mais, o homem se tratava de meu marido. Mas Joseph ainda não tinha cabelos grisalhos, ainda estava longe disso, não estava?
Eu parei atrás dos dois e fiquei apenas escutando uma conversa que se iniciava. Na verdade, a mulher começou a cantar Strangers In The Night do Frank Sinatra e sorria enquanto o fazia, despertando um sorriso aberto do homem que segurava sua mão. Os lábios masculinos se abriram e eu senti calafrios ao ouvir a frase que fora pronunciada.
"Como a lua e o mar, não é?"
A mulher virou-se para olhar algo que estava atrás de si, e me senti aliviada ao perceber que ela não era capaz de me enxergar.
"E as estrelas."
Ela se permitiu completar, e os dois trocavam olhares tão intensos, tão verdadeiros... Tão perfeitos! Mas, do angulo em que eu observava tudo, aquela perfeição parecia tão inalcançável, utópica, como se fosse um sonho. Um sonho que eu tanto desejava tornar realidade. Envelhecer com Joseph, ver nossos filhos grandes e felizes. Olhar para os lados e ainda encontrar os antigos amigos. Eu desejava aquela realidade. Um final feliz.
Os dois meninos que eu não sabia ao certo se eram meus filhos olhavam encantados para uma garota de vestido vermelho que passava por eles. E algo no rosto daquela garota me era extremamente familiar, eu só não consegui descobrir do que se tratava. Fechei meus olhos e quando os abri novamente, a cena continuava a mesma, apenas parecia acontecer de maneira mais vagarosa.
Aquele era o epílogo da minha vida, então?
Seria se, segundos depois, as imagens não tivessem escurecido ao ponto de se tornarem desconexas. Tudo ficou escuro e de repente não consegui mais respirar. Era óbvio que aquela não era a minha realidade. Nada seria perfeito daquela maneira.



Acordei. 
A primeira coisa que meus olhos focalizaram foi apenas o teto branco. Meu corpo, antes relaxado naquele sofá preto de couro, ficou ereto e eu só consegui relaxar meus ombros quando percebi que estava em uma das salas da empresa de Joseph. Respirei fundo, deixando meus músculos se recuperarem da tensão repentina e passei uma mão pelo rosto, tentando me livrar de toda aquela preguiça. Ainda um pouco desorientada, fiquei mexendo nos fios do meu cabelo que estava solto e liso até as pontas, ajeitando o casaco que cobria boa parte do resto de minhas roupas. Era uma manhã com sol, porém fria. O filho de Nancy já estava praticamente recuperado, então ela decidiu que estava pronta para voltar ao trabalho. É claro que eu já estava morrendo de saudades de Matthew e Jamie, mesmo que tivesse visto os dois poucas horas antes. Coisa de mãe. 
E ao pensar em meus filhos, o sonho que tive voltou a invadir e incomodar meus pensamentos. Não fazia nenhum sentido! Por que eu teria de sonhar com o suposto epílogo da minha vida? Não me lembrava de ser o personagem principal de algum livro. 
Voltei a ficar distraída, divagando como se não houvesse amanhã, até que a porta da sala se abriu. Joseph passou por ela e olhou estranho para mim, provavelmente percebendo minha cara amassada e minha expressão de desanimo. Após dar uma breve conferida na vista proporcionada pela gigante janela de vidro, seu corpo largou-se ao meu lado e ele logo se permitiu me questionar. 
- O que há de errado com você? - vestia seu habitual terno escuro e os cabelos penteados para trás. Eu não sabia ao certo o que me levou até a empresa naquela manhã, mas ao sair de casa eu senti que precisava dar uma checada naquele lugar, ver se meu marido estava realmente bem. Estávamos em um tipo de sala específica para funcionários descansarem, ou discutirem mais reservadamente sobre assuntos importantes. Dois sofás largos e de couro preto ficavam nos cantos das paredes impecavelmente pintadas, uma mesa retangular de vidro no centro e uma televisão tela grande presa na parede a minha frente. 
- Nada. Apenas não consegui dormir bem à noite, não sei o que houve... - esfreguei as mãos no rosto mais uma vez, gritando mentalmente comigo mesma para que acordasse de vez. 
- Eu percebi. Você se mexeu a noite toda. - ele comentou sério. 
- Como estão as coisas? - desconversei. - Alguma outra ameaça ou situação suspeita? - Joseph negou com a cabeça. 
- Não até o momento, o fluxo de hóspedes no hotel de Dubai e no da Califórnia continuam estáveis, e por enquanto nada alarmante aconteceu no Caribe. Talvez tenha sido apenas alguma falha nos dados, e a ligação uma simples brincadeira de mau gosto. 
- Viu só? - sorri sincera, colocando minha mão sobre a sua que estava apoiada no sofá. - Eu sabia que tudo ficaria bem! 
- Não comemore antes da hora, Demetria. - foi apenas isso que ele me disse, eu senti uma pontada de certeza em suas palavras, como se ele previsse que as coisas desandariam novamente. Em um impulso eu me levantei, pegando minha bolsa e ajeitando os cabelos mais uma vez. Joseph sorriu com esse meu gesto, contemplando os fios longos. Ah, se eu pensasse em inovar ao extremo e cortar aquele cabelo bem curto, era uma certeza que ele me mataria! Abri os botões de meu casaco distraidamente.
- Só passei por aqui mesmo para ver como você estava. - esperei ele se levantar e espalmei minhas mãos em seu paletó, o alisando. - Tenho que ir, preciso buscar o vestido para a festa. - comentei desinteressada. 
- E por que você parece desapontada com isso? - Joe só podia ter o poder de ler minha mente, às vezes eu o odiava por ser capaz de tal façanha. Um ódio bom, é claro. 
- Porque não acho certo. A Empire passando por problemas e eu fazendo compras? Cassie me irrita com essa mania de querer controlar tudo... - confessei, torcendo os lábios. Meu marido riu levemente e levou uma mão até minha nuca, apenas brincando com os cabelos que ali estavam.
Demetria, não seja exagerada. Vá, pegue seu vestido e fique linda para mim. Se bem que eu prefiro você sem vestido, mas tudo bem. - sorri maliciosa e me preparei para dar apenas um selinho emJoe, mas ele esquivou-se e ergueu uma sobrancelha de maneira galante. - Falando nisso, hoje à noite nós vamos sair. - cruzei os braços e neguei com a cabeça, fazendo um som negativo com a boca. Ele me olhou sem entender. - Qual é o problema, não quer sair comigo? - se fez de ofendido. 
- Só porque somos casados você perdeu o jeito com a coisa? - falei com a voz autoritária, fingindo que realmente estava atrás de confusão. Uma leve linha de pânico surgiu em seu rosto e ele parecia pensar em maneiras de reformular seu convite. - Não vou aceitar um convite feito dessa maneira. - meus braços permaneciam cruzados como os de uma criança emburrada. - O que houve com o jeito diferente de namorado para me convidar para sair? - Joseph revirou os olhos e suspirou, enfiando as mãos nos bolsos da calça e olhando ao redor, pensando em algo. 
- Você faz questão de cada banalidade... - brincou. 
- Não posso fazer muito se você decidiu se casar com uma mulher exagerada. Aceite as consequências, Jonas! 
- Eu me casaria com você mesmo que estivesse nu no pólo norte. - ele tinha a missão de me fazer rir naquele dia, não era possível. 
- Mas que tipo de cantada ridícula é essa? - olhei minhas unhas e segundos depois ele segurou meus dois braços com um pouco de força, olhando fundo em meus olhos. 
- Hoje eu quero ficar um tempo a sós com você, não diga não. Já ouviu falar que algumas noites são mais longas que outras? Bem, comigo essa será bem mais do que isso, minha namorada. - gargalhei, me divertindo com o jeito baixo e sedutor que seus lábios soltaram aquelas palavras, e a maneira como parecia um galã de cinema fazendo a cena que mataria milhares e milhares de mulheres nas telonas algum tempo depois. - Melhorou? - ele me soltou e eu apenas concordei com a cabeça, deixando claro que estava apenas brincando, que iria para qualquer lugar com ele. 
- Até logo. - beijei seus lábios docemente e me afastei, caminhando até a porta. 
Parei quando estava prestes a fechá-la e olhei nostálgica para o corredor no qual eu me encontrava. Sorri de maneira idiota e Joseph colocou o rosto perto da porta, tentando descobrir o que estava acontecendo. Fiquei aérea por um segundo, tendo lembranças de um passado já distante. 
Demi, você está comigo? - Joe me acordou daqueles pensamentos. 
- Estou... Sinto falta dos tempos de secretária. - eu disse, não tendo muita certeza se realmente sentia. Isso bastou para que meu marido sorrisse convencido e estufasse o peito. Ah, Joseph... 
- Sei bem do que sente falta... Seu chefe. - disse sabiamente, adquirindo uma pose superior. Como se ainda fosse o meu superior. 
- Há! - soltei, erguendo as sobrancelhas e respondendo sua pose de chefe com deboche. - E você de ver as minhas pernas desfilando descobertas por esses corredores! - pisquei, jogando meus cabelos para trás com a mão, imitando seu olhar sedutor. 
- Justo. - deu de ombros. Decidindo que já era hora de sair dali, logo eu estava fora da Empire. 

Raramente eu usava fones de ouvido, mas senti a necessidade de me isolar do restante dos sons do mundo enquanto estava dentro de um táxi. Eu poderia estar com meu carro, mas gostava de caminhar pelas ruas daquela cidade, então usá-lo nem sempre me agradava. Só optei por aquele transporte rápido porque a caminhada até a loja que me aguardava seria cansativa demais. Enquanto observava as imagens passarem correndo através dos meus olhos, encostei a cabeça no banco e esperei até chegar ao meu destino. A música mudou sozinha e eu segurei o iPod com mais vontade, aumentando o volume. Era exatamente do que eu precisava! Um som envolvente que me fizesse refletir sobre as coisas que aconteciam em minha vida. 

Inside your pretending
Crimes have been swept aside
Somewhere where they can forget.


O que realmente estava acontecendo com o legado que Joseph dominava? Por que eu tinha o estranho pressentimento de que ele passava por mais problemas e comentava apenas sobre alguns? Não gostava de pensar nisso, doía imaginar que ele omitia algo de mim. Logo eu, que sempre lhe disse que estaria disposta a ouvir qualquer coisa, a lidar com qualquer problema. Ele deveria ter a certeza de que poderia me chamar de amiga. Compartilhar todos os seus segredos comigo. Talvez eu devesse parar de condená-lo. Respirei fundo, controlando o instinto investigativo. Como eu o odiava! 
Eu não seria novamente a mulher irritante que colocava sua necessidade descontrolada por saber das coisas acima de seu bom senso. Aquela Demetria tinha ficado para trás. O único segredo que impediu Joseph de ser feliz não fazia mais parte de nossa vida, ele não era um assassino. Não era um criminoso. Esse é o pior segredo que alguém pode guardar, então eu não tinha mais motivos para me preocupar. Qualquer relacionamento enfrenta problemas, qualquer negócio pode oscilar. Qualquer dúvida pode ser anulada com a confiança. A explicação para tanto drama era simples: eu ainda não estava acostumada com uma vida normal. 

Divine upper reaches
Still holding on
This ocean will not be grasped
All for nothing.


E o homem que conheci ao ir buscar Jamie na escola, pai de sua amiga Olivia? Talvez eu devesse procurá-lo novamente. Tinha de estar errada, talvez tenha visto mal, enxergado o que andava no meu subconsciente ultimamente. Não fazia sentido. Ele era idêntico, ou quase idêntico a alguém que eu conheci. E por que me olhava como se também se sentisse atormentado com minha presença? 

Did you really want?

Eu respondi mentalmente a pergunta feita na canção, como se ela estivesse sendo direcionada a mim. Eu queria tudo aquilo que tinha. Não abriria mão de nada. Quis lutar por causas que acreditei que valeriam a pena. E realmente valeram. O único problema era a sensação no peito de não saber o dia de amanhã. O pressentimento. Quase como se eu soubesse que minha vida daria um giro mortal novamente. Mistérios sem fundamento rodeavam minha cabeça. 

Refuse to surrender
Strung out until ripped apart
Who dares, dares to condemn
All for nothing.


O táxi parou e eu pisquei rapidamente, voltando ao mundo real. Ao sair, avistei a loja plaina, luxuosa e convidativa onde deveria pegar meu vestido que fora feito sob medida. Entrei e me pediram para esperar apenas alguns poucos minutos. Logo uma mulher me recebeu docemente e entregou-me uma delicada e retangular caixa branca com uma assinatura em um dos cantos, provavelmente do estilista. Lá estava meu vestido. Apesar de muito curiosa para vê-lo, fiz todos os procedimentos necessários e optei por sair logo dali, tentando me equilibrar naqueles saltos e segurar a caixa, assim como minha bolsa e minha mente que andava tão pesada. Compras poderiam me acalmar, ou simplesmente passear por um parque emoldurado pela natureza. Talvez eu devesse mesmo fazer um dos dois. 
Quando pensei em atravessar a rua, congelei meu corpo e tentei escondê-lo. Julian estava do outro lado de mãos dadas com sua filha. Pensei por um segundo e talvez estivesse sendo uma ridícula. Era óbvio que aquele era outro homem, completamente diferente de quem eu imaginava. A semelhança que existia era superficial. O homem olhou para a região onde eu estava e sorriu levemente, acenando com a mão. Não encontrando saída, eu correspondi e me assustei com um flash de câmera que disparou ao meu lado. Olhei para o responsável e notei que se tratava de um paparazzi. Mas qual era o intuito de um paparazzi ao me fotografar? Como se eu fosse uma pessoa famosa... 
Se bem que, vendo por outro lado, fazia algum sentido. Tablóides adoram escândalos, com certeza tinham conhecimento sobre a situação da Empire. Seria conveniente postar uma foto minha com os dizeres "Esposa de Joseph Jonas vai às compras no centro de Londres enquanto seu marido luta para não falir. Que falta de consideração!" Olhei feio para o homem com a câmera e voltei a procurar por Julian, mas ele e sua filha já tinham desaparecido. 
Respirei fundo e disse a mim mesma que estava tudo bem. Caminhei por mais um tempo apenas olhando as coisas ao meu redor e, atravessando outra rua, lá estavam os dois novamente. A garotinha apontou para mim e puxou a blusa de seu pai, que se virou e me olhou estranhamente. Desconfortável, eu voltei a cortar meus passos rápidos e só dei continuidade ao andar quando um veículo se aproximou e buzinou para que eu lhe desse passagem. Sem ter como evitar, fui vencida e fingi um sorriso, apertando a mão dele em um cumprimento e dando um beijo singelo no rosto magro de Olivia.
- Certo, chega! Quando e por que começamos a trocar olhares assustados? - aquele homem era bem direto. Tentei dissipar o meu nervosismo, mas talvez fosse mais certo dizer logo a verdade. 
- Veja bem, Julian... - tentei parecer casual ao tocar naquele assunto. - Você... É simplesmente muito parecido com alguém que eu conheci. Seus cabelos são negros, seus braços não possuem qualquer tatuagem, mas os olhos e algumas expressões que você tem são idênticas... - apesar de tentar não assustá-lo, eu sabia que havia conseguido o efeito contrário. Olivia me olhava abismada e Julian sugeriu que fôssemos até um café que ficava do outro lado da rua. 
Enquanto Olivia escolhia qual pedaço de bolo adoraria comer, eu e seu pai nos sentamos em uma mesa ao fundo, tensos. 
- Deixe-me entender melhor... Você pensou que eu era essa pessoa? Por isso se chocou tanto quando me viu pela primeira vez? 
- Mais ou menos. - eu batia um dos meus saltos contra o chão compulsivamente, não conseguindo manter calmas as minhas pernas que tremiam. 
- É estranho conversar desse jeito com alguém que eu não conheço. Mas continue, agora estou interessado. - Olivia se esqueceu de nós quando seu bolo chegou e ela passou comê-lo faminta. Julian perguntou se eu gostaria de comer ou beber alguma coisa, mas neguei a cabeça, o deixando hesitante. 
Seria mais plausível que eu apenas dissesse que não passava de uma coincidência e fosse embora, mas senti a necessidade de contar uma parte daquela história a ele. 
- Havia um homem... - comecei, como se contasse uma estória fictícia. - Ele só fazia coisas erradas, só percorria caminhos sinuosos. Fazia mal a algumas pessoas. Ele estava muito ligado a certas coisas que aconteceram na vida do meu marido e até mesmo na minha. - só percebi que aquelas memórias ainda me abalavam quando me encontrei compartilhando elas com Julian. - Descobri que ele era meu meio-irmão... E depois ele morreu. Desculpe-me se te olho como uma louca, mas não é aceitável que você tenha algum tipo de ligação com ele. Você não é ele, não é o Carter. - eu gesticulava com as mãos, e aquele cheiro de café parecia me deixar ainda mais agitada. 
- Carter era o nome desse homem? - ele questionou interessado, olhando brevemente para sua filha. - Curioso. 
- Por que é curioso? 
- Porque  me chamaram de Carter. Uma única vez. 
- Quando? - olhei para ele como se estivesse investigando algo sério, como se tivesse mesmo poder para fazer isso. 
- Há nove anos. - Julian olhou para baixo, recordando-se totalmente da história e consegui enxergar Carter perfeitamente através da expressão perdida que seu rosto adquiriu. Quando se ergueu, os olhos verdes fitaram os meus. Arrepios. - Eu estava bêbado, muito bêbado em um bar. Uma mulher chegou e me abraçou repentinamente, alegando que meu nome era Carter. O que você acha que aconteceu em seguida? Um homem e uma mulher com o nível alcoólico alto em seus sistemas... Atração. Consequências. - Julian olhou terno para Olivia, que sorriu em resposta. Eu entendi o que ele quis dizer. 
- Olivia é fruto dessa noite que você passou com a mulher? 
- Sim. 
- E o que aconteceu? Você cria Olivia sozinho? 
- Sim. A Margo ficou ao meu lado apenas até o dia em que deu a luz. Depois, eu acordei certa manhã e o bebê estava no berço, juntamente com um bilhete. Nunca mais a vi. 
- Espera! Você disse Margo? - ele concordou com a cabeça. Pisquei os olhos, chocada. 
Tive que lutar contra a surpresa que tomou o meu corpo em forma de uma falta de ar. Meu coração acelerou, mesmo que fosse uma reação exagerada. Julian se parecia muito com Carter. Já fora confundido com meu falecido meio-irmão uma vez. E a mãe daquela garotinha adorável era Verônica: o amor da vida de Carter. 
Coincidências malditas! 
Passei as mãos pelo rosto em sinal de choque e depois fiquei mexendo nervosamente em meu cabelo. Ele me olhava quieto. 
Preparei-me para a questão crucial. 
- Julian... Você vive com os seus pais? Ou pelo menos os conhece? - aconteceu o que eu menos esperava: sua cabeça se balançou de forma negativa. 
- Eu cresci com uma tia. E ela sempre foi muito evasiva quando precisava tocar nos assuntos que envolviam meus pais. - ele percebeu minha face pálida e riu. - Você acha que posso ser irmão gêmeo desse tal Carter? Talvez faça sentido... Você disse que ele morreu, vocês eram meio-irmãos. Talvez os sonhos que ando tendo com você tenham uma explicação. Talvez Carter esteja tentando se comunicar com você através de mim. Gêmeos têm essa estranha ligação, sabia? - era claro como o dia que ele estava zombando de mim. 
- Cale a boca! - me exaltei. - Você sabia que provavelmente dormiu e engravidou a única mulher que Carter amou em vida? - eu disse em um sussurro para que Olivia não escutasse minhas palavras grosseiras. - E você não é totalmente igual a ele. Não dizem que todos nós temos pessoas ao redor do mundo que possuem uma aparência semelhante a nossa? Não me peça para levar sonhos em consideração. Isso foi só uma inconveniente coincidência. - me levantei irritada e frustrada. Querendo esquecer tudo que tinha ouvido naquela mesa. Julian queria continuar com seus risos, risos em consequência do meu desesperado. Eu não queria saber se corria a chance de ter outro irmão perdido por ai, não queria saber se o homem que eu infortunadamente deveria chamar de pai adorava bancar um coelho. Tudo que eu fiz foi dar tchau à Olivia e lançar um último olhar carregado para Julian, dando-lhe as costas e por fim me afastando. 


Não tinha motivos para permanecer nervosa. As descobertas de mais cedo não atrapalhariam minha maravilhosa noite com Joseph. Ele não precisava saber daquele ocorrido. 
Foi então que me senti culpada... 
Sempre exigi que ele não escondesse coisas de mim, mas estava escondendo uma dele. Tinha de me encontrar de novo com Julian, descobrir mais, cavar mais fundo. E por enquanto isso não me importava. Ele não era o Carter, ele não tentaria me matar. Teve uma filha com Margo, a suicida? Sim, talvez fosse uma certeza. Mas era passado. Ficou para trás. Não era da minha conta. 
E o assunto decretou-se morto a partir do momento em que escolhi a roupa que vestiria naquela noite. 
Para o meu próprio deleite, decidir borrifar mais um pouco do perfume em minha pele, ajeitando minhas pulseiras e indo até o espelho conferir se o caimento do vestido estava bom. Depois que tive certeza, coloquei os sapatos de mesma cor e peguei uma bolsa de um tom parecido. Meus cabelos estavam soltos, penteados para o lado. Nas orelhas brincos simples e dourados. No rosto eu tinha uma maquiagem também simples, apenas para esconder as leves olheiras e realçar meus cílios. Antes de mais nada, eu tive que passar no quarto de Matthew e aproveitar um breve momento com ele, alisando seu fino cabelo. Depois fiquei um pouco com Jamie também, que me perguntou o que eu estava esperando para ir logo "Ter uma noite de aventuras com Joe". Essas foram as suas palavras. 
Desci as escadas com cuidado e procurei por Joseph com os olhos, afinal, sem ele aquele encontro não aconteceria. Nancy surgiu da cozinha e me olhou com os olhos brilhando. Eu me sentia um pouco desconfortável enquanto a olhava, já que considerei quase um abuso sair para me divertir com Joe e ela ficar na casa durante o tempo que fosse necessário cuidando dos meninos. Como em um instinto que só uma mãe pode ter, ela sorriu levemente e negou com a cabeça, segurando minha mão ao perceber que eu estava inquieta. 
- Tem certeza que está tudo bem, Nancy? Não parece certo... 
- De maneira alguma, senhora. - ela disse prontamente e eu revirei os olhos. Não gostava de ser chamada de senhora, fazia parecer que eu já tinha mais de quarenta anos. 
- O que foi que nós combinamos? Só Demetria! - exigi. 
- Como a senho... Como quiser, Demetria. - sorri satisfeita e dei um rápido abraço nela. - Agora vá, divirta-se com o seu homem. Se esqueçam do relógio e aproveitem a noite. - ela juntou as palmas de suas mãos e comentou em um tom malicioso. Eu a imitei e depois Joseph surgiu, me chamando com o olhar. Caminhei até ele, em direção a porta da casa e antes de trocarmos qualquer palavra, demos um ultimo tchauzinho para Nancy. Saímos pela porta, cruzando o jardim e chegando ao Rolls Royce preto. 
Joseph me fez parar e segurou minhas duas mãos, olhando para o meu corpo e depois para o meu rosto. Seu perfume era mais do que inebriante. Vestia uma camisa azul marinho que era coberta por um casaco cinza escuro, calças sociais da mesma cor do casaco e um sapato também social. Lindíssimo. Estranhei seus cabelos não estarem impecavelmente para trás, mas os fios desordenados eram apenas um charme a mais. Tinha algo de sombrio em seus olhos verdes, uma obscuridade que me atraia. Abrindo a porta do carro para que eu entrasse, ele voltou a me olhar de cima a baixo e soltou um risinho malicioso. Quais ideias não estariam circulando por aquela mente travessa que ele tinha? 
Quando nós dois já estávamos dentro do confortável carro, eu olhei para o lado de fora e apenas apreciei a noite que se iniciava e os diversos postes de luz. O clima era ameno. Percebi que meu marido esperava por algo antes de ligar o carro, então virei meu rosto e fiz um sinal com a cabeça para frente, dizendo que ele poderia nos levar onde quisesse. 
- Por que me olha tanto, Jonas? Não gostou do meu vestido? - estiquei um pedaço do tecido de cor clara daquela peça, a olhando com olhos instigantes. - Já sei! Você sente falta de um decote, não é? - arrisquei e ele continuava em silêncio. Começou a falar logo depois, me pegando de surpresa. 
- Homens gostam de muita pele exposta quando estão livres, quando não se importam, quando podem olhar para todos os lados com liberdade. Mas quando eles têm a sua mulher, preferem que ela os deixe descobrir cada parte de seu corpo. - ele revelava aquelas palavras de um jeito inteligente e rápido, escolhendo não me olhar durante o pequeno discurso. Seus olhos se perderam no que estava a frente do carro por um instante e eu aproveitei para fitar seu perfil. Ele me capturou em um daqueles momentos que eu gostava de olhá-lo sem que ele estivesse me olhando. Seu próximo alvo foram minhas pernas. Sem se controlar, ele acariciou uma de minhas coxas, de maneira que me arrepiei ao sentir o toque de seus dedos frios. 
- Sim... - encontrei uma oportunidade para completar sua dedução. - Um detalhe inteligente e misterioso em um vestido sem decote pode chamar mais atenção do que um decote exagerado. Eu gosto de brincar com a sua imaginação... - provoquei, cruzando minhas pernas e obrigando ele a soltar uma delas. 
- Certo, depois dessa brilhante colocação eu acho justo que nós embarquemos ao nosso destino. 
- Não sei o que você ainda está esperando para colocar isso em pratica. Vamos! - exclamei. 
- Tão desesperada assim por mim, Demi? Vou me lembrar disso quando estivermos sozinhos mais tarde. - o frio gostoso no estômago veio e eu apontei para frente, ordenando que nos levasse logo dali. 

Quase pulei para fora do carro quando percebi que estávamos no ponto mais bonito da Westminster Bridge. O majestoso Big Ben estava bem a nossa frente e o vento era um pouco mais forte. Após algumas pessoas cruzarem a ponte e passarem por nós, Joseph e eu percebemos que teríamos um curto instante sozinhos ali. Eu saí do carro primeiro e apoiei minhas mãos na estrutura de metal, olhando para baixo e contemplando a paisagem. Eu poderia passar muito tempo simplesmente olhando todas aquelas luzes. Senti Joe se aproximar e me abraçar por trás, colocando meus cabelos apenas para um dos lados de meus ombros e aproximando a boca do meu pescoço. Nunca percebi como aquele lugar era romântico quando vazio. 
Deixei-me entreter, felizmente toda a situação com Julian vinha vagamente em minha mente, tendo pouca importância. 
Não quis ficar parada, o puxei pelas mãos e nos coloquei exatamente no meio da ponte, imitando com a boca o som de algo dançante e passando meus braços pelos seus ombros, o sentindo enlaçar minha cintura. Tentei conduzir alguns passos, e duas ou três pessoas cruzaram aquela direção, olhando para nós como se fôssemos loucos ou bêbados. Mas a noite mal tinha começado. Pessoas sóbrias também fazem coisas loucas. Nós dois ríamos enquanto andávamos juntos de um lado para o outro. Joseph segurou minha mão, a ergueu girando meu corpo e depois o tomou em seus braços novamente, até que encerrou nossa dança desajeitada. Olhei para o lado e um senhor se aproximava sorridente. Tinha um chapéu na cabeça e vestes desgastadas, mas não parecia com um morador de rua, apenas alguém humilde. Ele segurava uma jeitosa caixinha de madeira. Joseph e eu ficamos de frente para ele ao notar que queria conversar conosco. 
- Boa noite, jovens. 
- Boa noite. - nos entreolhamos e respondemos em uníssono. 
- Vocês gostariam de ser desafiados? - ele perguntou com a voz animada, abrindo a caixinha e tirando de lá dois pedaços de papel quadrados e pequenos. 
- Depende. - Joseph respondeu por nós dois. Um daqueles papeizinhos foi entregue para mim e o outro para o homem ao meu lado, nós dois nos olhamos confusos novamente e o senhor riu, oferecendo-se para explicar. 
- Agora, peguem essa caneta... - ele puxou uma caneta comum que era presa em sua caixa por um cordão dourado. - E escrevam apenas uma palavra que define algo que vocês gostariam muito de fazer na vida. Apenas uma palavra. 
- Mas isso é muito difícil! - choraminguei, pegando a caneta primeiro e abrindo bem uma de minhas mãos para servir de apoio para o pedacinho de papel. 
- Não é difícil, suponho que todos sabem o que querer nessa vida, certo? 
Concordei e fiquei olhando para as luzes do Big Ben e sentindo o vento em meus cabelos enquanto pensava no que poderia escrever. Não sabia o propósito do que aquele senhor estava fazendo, mas ele fora tão simpático que decidi atender seu humilde pedido. Escrevi uma única palavra rapidamente e lhe entreguei, passando a caneta para Joe, que não pensou demoradamente como eu. Logo o homem de chapéu estava com nossos dois papéis. Os leu silenciosamente e depois encostou-se à ponte, colocando a mão no queixo, pensativo. 
- Então... - Joseph começou, mas foi interrompido assim que o senhor ergueu seu dedo indicador. 
- Você. - ele apontou para mim e aproximou-se um pouco. - Com base no que escreveu no papel, te desafio a dividir sua voz com muitas pessoas e conseguir fazê-las sorrir, mas tem de ser um sorriso sincero. - Joseph me olhou e ergueu uma sobrancelha. 
- Mas isso é o que eu sempre digo para ela fazer. - comentou exibido. 
- E você, jovem exibido... - eu ri e Joseph fechou a cara. - Não importa quando, não importa como, terá de salvar uma vida. Não que tenho de doar um rim ou coisa parecida, mas precisa fazer alguém enxergar que viver vale a pena. - eu não estava entendendo mais nada. Mas sabia que o que Joseph tinha escrito naquele papel tinha a ver com seu sonho de infância. - Os dois estão desafiados. Não tem obrigação nenhuma comigo, podem me ignorar e ir embora agora... Ou entendam como dois desafios que vocês dois fizeram a suas próprias pessoas. O que sua consciência terá a dizer se o cumprirem ou não. E, agora, acho que posso pedir uns trocados por impulsionar vocês a fazer algo que não estariam pensando se eu não tivesse surgido nessa ponte. 
- Está certo, está certo. - Joe lhe deu algum dinheiro. Nunca tinha visto pessoas fazendo o que aquele senhor fazia ali. Mas achei um jeito interessante de se lidar com a falta de recursos. Se todos recorressem a meios como aqueles ao invés da criminalidade, talvez estaríamos em um mundo mais tranquilo. 
- Tenham uma boa noite, jovens! - ele retirou o chapéu como uma reverência e depois o colocou na cabeça novamente, se afastando e indo ao encontro de outras pessoas. 
- Interessante. - comentei quando meu marido e eu entrelaçamos nossos braços e começamos a caminhar de volta ao carro. 
- Quando pretende cumprir seu desafio? - ele perguntou sem rodeios. Pigarreei e pensei em uma música. 
Love me tender, love me sweet. Never let me go. You have made my life complete and I love you so... - cantei afinadamente, elevando um pouco o tom da voz ao chegar no final daquele trecho.Joseph estava sorrindo. - Desafio cumprido! - comemorei e ele negou com a cabeça. 
- Não, não é desse jeito. Não valeu! 
- Mas eu cantei e fiz você sorrir... 
- Ele disse que você deve arrancar um sorriso de muitas pessoas e não apenas o meu. - Joe me repreendeu. Olhei para a água abaixo de nós. 
- Se eu tentar pular dessa ponte, você vai me salvar por que realmente quer ou só para cumprir seu desafio? - ele pareceu prestes a ficar muito irritado com aquela pergunta, então eu ri alegando que era uma brincadeira e juntei nossos lábios. 


Joseph pediu que eu parasse de rir, mas ele mal conseguia acertar a chave na fechadura, já que também ria feito um maluco. Fiz "shhh" para ele e fui pega de surpresa ao ser puxada para dentro doquarto de um hotel em Londres. Era muito bonito, e me senti imediatamente apaixonada por aquela cama. Caminhei, me esforçando para arrancar os sapatos e larguei meu corpo na cama, apertando as diversas almofadas que deixavam minha cabeça mais feliz. De bruços, continuei imóvel, com o quadril imperceptivelmente erguido, e isso pareceu fazer Joseph soltar o ar com força, correndo até a janela e fechando as cortinas. Virei meu corpo, erguendo os braços e os dobrando, suspirando confortavelmente e colocando minha cabeça em cima das duas mãos únidas. Ele se encostou em uma mesinha de madeira próxima da janela e inclinou um pouco o corpo, olhando para baixo e depois levantando os olhos verdes brilhantes, totalmente sério e misterioso. Eu tentei imitá-lo, mas já estava gargalhando descontrolada novamente, a musculatura de minha barriga começava a doer. E mais risos altos provocados por taças de vinho em uma quantidade não recomendada preencheram o ambiente. Joe tentou se aproximar e tropeçou no tapete, me obrigando a cobrir o rosto com uma das almofadas para não engasgar. 
Love of my life don't leave me, you've stolen my love, and now desert me... Love of my life can't you see...
- Pare, por favor! Você é péssimo! - fingi que estava vaiando ele, tampando meus ouvidos. O assisti jogar seu casaco longe e soltar lentamente os botões da camisa, também se livrando de um jeito desajeitado de seus sapatos. 
- Faça melhor, então, Demetria. - ele me desafiou com a voz mole, levemente bêbado. 
Bring it back, bring it back, don't take it away from me... Because you don't know what it means to me. - continuei, com uma mão colocada sobre o peito, ficando de joelhos na cama, como se estivesse no meio de uma verdadeira performance musical, com direito a platéia e tudo o mais. Uma das coisas que ainda me fascinava em Joseph era o fato de compartilharmos um gosto musical muito semelhante. 
You will remember when this is blown over, and everything's all by the way. When I grow older I will be there at your side, to remind you how I still love you. 
I still love you.
Love of my life... - Joseph pronunciou em um sussurro e mesmo que sua voz não soasse perfeita enquanto cantasse, eu poderia continuar ouvindo por mais algum tempo. Sua camisa azul foi parar no chão, então ele passou a dar passos rítmicos, como se acompanhasse um piano imaginário que tocava na música em que cantávamos. Fiquei movimentando meus dedos sob o ar, fingindo que realmente tocava um piano. Com o olhar significativo que trocamos em seguida, eu entendia o que ele tanto queria. Queria incitar o perigo, a paixão, a perfeição. Três palavras que começavam com a mesma letra e, juntas, provocariam uma mistura avassaladora. - Vou cantar outra... - puxei as pulseiras de meus braços e neguei com a cabeça, pedindo que ele ficasse quieto. 

You've applied the pressure
(Você aplicou a pressão)
To have me crystalized
(Para me ter cristalizado)
And you've got the faith
(E você tem fé)
That I could bring paradise.
(Que eu poderia trazer o paraíso.)

- Você já falou demais por hoje, Jonas. Falou tanto que a recepcionista... - uma breve pausa para rir. - Ouviu o que você disse que queria fazer comigo. Ela ficou te olhando como se dissesse "Meu Deus, homem, deixe de ser selvagem assim!" - ele balançou os ombros como quem não se importa e ficava cada vez mais próximo da cama. - Portanto, fique calado! Venho logo para mim. Vem me cobrir com todo o seu amor que me consome de maneira única. - as palavras saíam provocativas ao excesso e, mesmo que de longe, eu sabia que ele olhava boquiaberto para os meus lábios que foram umedecidos rapidamente pela minha língua. 
- Você é a única pessoa que eu conheço que fica romântica enquanto bêbada. - preferi considerar um elogio. Joseph subiu na cama, não deixando de me olhar nos olhos e eu o puxei pelos ombros, fazendo com que nós dois ficássemos de joelhos. Corri meus dedos gelados pelo seu abdômen nu, aproveitando da pele e descendo até o cos de sua calça, brincando com o zíper, deixando ele tenso e hesitante. Sua mão tentou segurar a minha, mas eu a empurrei e lancei-lhe um olhar travesso. Provavelmente meus cabelos estavam bagunçados e o rímel em meus cílios borrado. Eu deveria estar parecendo uma mulher insana, insana por aquele homem. 
- Mas eu não estou bêbada, porque se estivesse, meus reflexos não estariam bons o suficiente para fazer isso... - puxei o zíper e comecei a fazer movimentos circulares por aquela área, sentindo como ele havia se animado rápido. Com seu auxílio, removemos a calça de seu corpo e ele pediu com um olhar suplicante para que eu não parasse com as provocações. Enquanto meus dedos espertos driblavam o tecido da boxer preta que ele usava e já começavam a tocar seu pênis, começando uma masturbação, ele uniu mais nossos corpos e beijou meu pescoço, deslizando a língua pela região. Fechei os olhos e entendi aquilo com uma disputa. Intensifiquei meus movimentos, arrancando um som agoniado de sua garganta. Sua glande foi tocada lentamente pelos meus dedos e depois dei atenção à base. Joseph me obrigou a parar e praticamente empurrou meu corpo na cama, deixando-me deitada. Rimos uma última vez, o teor de uma audácia e malicia sufocante era crescente entre ambos. Quando a razão e palavras perdem seu sentido, o instinto corre vibrante pelas veias. 

I'll forgive and forget
(Eu vou perdoar e esquecer)
Before I'm paralyzed
(Antes que eu seja paralisado)
Do I have to keep up the pace
(Tenho que manter o ritmo)
To keep you satisfied?
(Para mantê-la satisfeita?)

E com essa linha de pensamento, eu senti seu corpo nu grudar-se ao meu ainda vestido. Mas logo Joseph deu um jeito nisso, procurando avidamente pelo zíper que se encontrava na parte de trás. Eu o ajudei e logo me encontrava apenas com a calcinha branca que conseguiu roubar sua atenção por longos segundos. Ele inclinou um pouco seu corpo, tentando me aquietar, pedindo que eu parasse de me mexer e rir embaixo de si, mas era impossível. Eu estava aérea, e sabia que ele também. Felizmente naquela época eu andava me cuidando de outras maneiras, então o preservativo passou longe de nossos pensamentos. Depois de apenas apreciar meus seios com as mãos, ele se abaixou e grudou a boca em um dos mamilos enrijecidos, segurando o bico rosado com os dentes e puxando levemente, arrancando um gemido sôfrego de meus lábios. O ar que saía por sua boca só fazia a sensibilidade do local aumentar e eu senti uma mistura de dor com prazer, passando com força minhas unhas por suas costas. Ele passou a língua mais um pouco pelos meus seios e depois subiu para me beijar nos lábios. Grudei nossas bocas com fervor, sentindo seu hálito de vinho, admirando a agilidade que ele tinha para se livrar de minha calcinha. Totalmente nua, eu não esperava que ele agisse daquela maneira tão veloz, mas me agradou. Mantendo contato visual, ele segurou seu pênis e o levou até minha vagina, deslizando de um jeito lento e gostoso toda a sua extensão pelos meus lábios vaginais, que, por estarem lubrificados, permitiam que a provocação fosse mais certeira. Meu clitóris também foi estimulado, a vontade de gemer e clamar por mais já estava comigo. Eu queria segurá-lo com força e saciar a vontade de tê-lo ferozmente, mas Joseph adorava mostrar que estava no controle, então já foi logo erguendo minhas pernas, colocando as duas em seus ombros e me penetrando sem esperar. Ele foi fundo, tão fundo que desprevenida eu senti todo o meu corpo arrepiar-se, agarrando uma das almofadas que estava ao lado, dizendo seu nome de maneira suplicante. Suas mãos deslizavam por minhas coxas erguidas, as apertando enquanto distribuía beijos em meus tornozelos. Minha barriga se contraía a todo o instante e eu já não sabia mais calcular a velocidade em que ele fazia aqueles movimentos delirantes de vai e vem. Algo dentro de mim queimava, o prazer quando seu pênis deslizava pelo meu interior, saindo e entrando com mais força no momento seguinte era inexplicável. Eu não conseguia tocá-lo, só deixar que nossos olhares apaixonados continuassem guiando um ao outro. Joseph desfez aquela posição, saindo totalmente de dentro de mim, deixando-me em chamas, pedindo enfurecidamente por mais. Colocou-se totalmente por cima de novo, mas dessa vez minhas pernas estavam livres, elas se abriram ansiosas para seu toque. Senti o suor de seu corpo quente junto ao meu, os pêlos de sua perna roçavam na minha que era totalmente lisa, era incrível. 

Things have gotten closer to the sun
(As coisas ficaram mais perto do sol)
And I've done things in small doses
(E eu tenho feito coisas em pequenas doses)
So don't think that I'm pushing you away
(Portanto, não pense que eu estou empurrando você para longe)
When you're the one that I've kept closest.
(Quando você é a única que eu tenho mantido o mais próximo.)

Joseph iniciou outra penetração, me deixando agoniada ao não elevar sua velocidade. Fazia de propósito. Parou de se mover, correndo uma das mãos pelo meu tronco, até chegar a um de meus seios sensíveis e o agarrando com vontade. 
Joe... Não faz isso. - implorei com os olhos fechados, tentando obrigá-lo a ir fundo novamente. Só eu sabia o quanto era maravilhosa a sensação de tê-lo completamente dentro de mim. 
- Não me diga o que fazer. - ele alertou insolente, ameaçando penetrar mais um pouco, massageando meu clitóris com dois dedos. 
Joseph! - praticamente gritei, irritada e anestesiada ao mesmo tempo. 
- Peça com jeito, . Peça com jeito! - eu queria ver até quando ele aguentaria permanecer congelado, daquela maneira lenta e tortuosa. Puxei seu tronco com a força que ainda tinha, agarrando seus cabelos e por fim conseguindo o que eu queria. Um gemido escapou dos meus lábios, assim como dos seus, que passou a se movimentar continuamente. Suas duas mãos espalmaram meus quadris e ele deu um jeito de trocar nossas posições, me deixando por cima. Sorri satisfeita e o fiz sair de dentro de mim, inclinando um pouco meu corpo e abaixando a cabeça para apenas passar minha língua pelos seus lábios. Joseph tentava impulsionar meus quadris para baixo, para que o encaixe de nossos corpos fosse executado, mas eu neguei. Estava a caminho do ápice, fazendo qualquer coisa para continuar aquele sexo maravilhoso, mas ver o desespero explícito em seu rosto valia mais que tudo isso. Pelo menos valeria por um breve momento. Eu abaixei meu corpo, sendo penetrada por completo pela terceira vez. Segurei um gemido, fechando os olhos com força e sentindo as mãos dele próximas de meus seios. Soltei o ar e minha barriga se contraiu, rapidamente eu tratei de conseguir efetuar também uma contração dos músculos vaginais, coisa que o deixou louco. Não deixei que ele saísse de mim, nem que se movimentasse. Apenas fiquei parada daquele jeito o olhando, deixando Joseph agoniado. O suor estava em todo o seu corpo, os cabelos desordenados, os lábios entreabertos e os olhos mais vivos do que nunca antes. Eu só precisava aguentar mais um pouco. 

You don't move slow
(Você não se move devagar)
Taking steps in my direction
(Dando passos em minha direção)
The sound resounds, echo
(O som ressoa, eco)
Does it lesson your affection?
(Será a sua lição de afeto?)
No.
(Não.)

- Quem está rindo agora? - provoquei com a voz intensa, não aguentando e tendo que manter os olhos fechados ao inclinar a cabeça para trás. 
Demetria, não me torture assim, não é justo... - teve que cortar sua fala para gemer baixinho, mais uma vez. - Por favor... Por favor, continue... Demi... - movimentei meus quadris, os levando de um lado para o outro de um jeito vagaroso, passando a adquirir velocidade. Deixando de lado o desespero, ele fechou os olhos mergulhado em felicidade e me segurou possessivo, apenas aproveitando. - Oh, meu Deus! - passou a me estimular com palavras também. - Eu faço qualquer coisa, mas não pare. - ignorei meus joelhos que já reclamavam e continuei com os movimentos de subida e decida, determinada a satisfazê-lo o máximo que eu fosse capaz. 
Surpreendente fora perceber que ele ainda tinha energia para mais. Levantou-se e se aproximou - enquanto eu confusamente tentava erguer meu corpo - para segurar minha cintura com as duas mãos e me virar, privando-me de admirar seu corpo, deixando-me de joelhos e com as costas inclinadas, os quadris levemente elevados. Senti a penetração mais frenética acontecer tão rápida que eu não tinha pausa para respirar durante os intervalos. Então desisti de me concentrar nisso e deixei que ele fizesse o que queria. Não aguentando, eu larguei minhas duas mãos na cama. Seu tronco se inclinou sobre o meu e senti seus lábios em meus ouvidos, provocando meu lóbulo. Sorri, entorpecida, apenas a espera de um orgasmo. 

You say I'm foolish
(Você diz que eu sou tolo)
For pushing this aside
(Por pôr isso de lado)
But burn down our home
(Mas queimar a nossa casa)
I won't leave alive.
(Eu não vou sair vivo.)

Glaciers have melted to the sea
(As geleiras derreteram ao mar)
I wish the tide would take me over
(Queria que a maré tomasse conta de mim)
I've been down on my knees
(Andei me ajoelhando)
And you just keep on getting closer.
(E você continua se aproximando.)

- Mais alto! Eu quero ouvir seu ponto máximo, quero senti-lo. - Joseph estocou violentamente e eu gritei, sentindo uma de suas mãos segurar meu pescoço, sua boca se aproximou e eu juntei as duas, unindo nossas línguas e o provocando. - Vamos... Enlouqueça-me mais. Eu quero mais. Preciso demais de você. Dê-me mais! - a velocidade aumentou de novo. Eu não conseguia sentir dor apesar de seu jeito possesso de me segurar ou por suas investidas profundas. Ele fez meus joelhos cederem e deixou meu corpo deitado de maneira lateral, sem abandoná-lo. Eu ofegava, não tendo mais noção do que acontecia ao redor, apenas viciada em me movimentar para lá e para cá enquanto ele me conduzia. Fez questão de ficar com os lábios ao pé do meu ouvido para que eu ouvisse seus gemidos, o prazer que escapava em forma de palavras obscenas e deliciosas que mal eram formuladas corretamente. Estávamos tão dispersos que só nos demos conta que a beirada da cama estava próxima, quando o prazer maior chegou e ambos tivemos de nos segurar um ao outro durante os movimentos rápidos, quando não dava para parar até que a explosão de sensações fosse acionada no interior de nossos corpos. Unidos em um abraço perfeito, deixamos o peso de nossos corpos escapar da cama, indo de encontro ao tapete fofo colocado sobre o chão. Sentindo seu líquido quente jorrar e se espalhar pela minha intimidade, fechei os olhos e apenas dei às boas vindas ao ápice. Em sua forma mais genuína e deslumbrante. 

Go slow.
(Vá devagar.)

No momento do orgasmo, o mundo é lindo. Não existem problemas, nem dúvidas. Um sorriso se abre assim que os olhos se fecham. Ambos respiram fundo. Um arrepio gostoso percorre cada pedaço dos corpos, ambos os sexos estão em chamas. Um calor reconfortante e estimulante permanece no peito. O amor. A mulher se sente única, amada, desejada, mais mulher do que nunca. O homem se sente no poder, se sente orgulhoso, coberto pelo deleite, mais homem do que nunca. 
Quando as sensações diminuíram, nos dois caímos na gargalhada novamente. Como se apenas tivéssemos tomado conhecimento de que estávamos no chão naquele momento. 
Sem vontade de sair dali, ele ficou me olhando sorridente. Com as bochechas coradas, eu desviei o olhar e fiquei encarando o lustre do quarto. Até que senti os lábios dele grudarem-se carinhosamente nos meus e tive de corresponder. Nossos pés se roçavam, acariciavam um ao outro. 
- Sempre disse que perco a noção das coisas quando estou com você. Olhe só onde acabamos... No chão. - tapei sua boca e soltei um risinho. 
- Eu adoro a maneira como você me domina e ao mesmo tempo faz com que eu me sinta alta, no limite da satisfação. Com você eu sinto que o mundo é um lugar melhor, apesar de todos os contratempos. 
- Eu adoro a maneira como você me deixa em um profundo êxtase e depois faz com que eu me sinta em paz, feliz por saber que aproveito tudo isso com a pessoa que tanto me agrada poder conhecer cada dia mais. 
- Você ainda vai pagar caro por me acostumar tão mal. 
You... Just like heaven. - Joseph voltou a cantar, me ignorando e eu fiz cara feia, tirando alguns fios de cabelo do rosto. 
Jamais estaria livre do efeito que ele tinha sobre mim. E ninguém nunca teria ideia de como isso me deixava feliz, satisfeita. Completa. O que também me deixava feliz era saber que, depois de um sexo tão enlouquecedor, envolvente e apaixonante, nós ainda seríamos capazes de olhar nos olhos um do outro naquela noite, conversar sobre qualquer coisa e rir como os melhores e verdadeiros amigos. 
- Será que tem champagne ou vinho por aqui? - perguntei interessada, com a garganta seca. 
- Não sei, mas acho que quebramos um abajur. E algo que ainda não consegui identificar. 

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