Image Map

quarta-feira, 12 de março de 2014

Secretary II - Capítulo 7


Halloween - Parte 1



Joseph está em Los Angeles! Ele teve que ir até lá resolver alguns problemas e parece que se encontraria com alguns compradores, não sei bem. Em todo o caso, ele disse que tentou falar com você, mas não conseguiu. A situação está pior do que eu imaginava ou é só impressão? 
- Jared... - vacilei um pouco ao segurar o telefone, e pensei por um segundo. Los Angeles. Quanta nostalgia eu era capaz de sentir só de pensar naquele lugar. Era até estranho, mas repentinamente eu queria poder vivenciar tudo aquilo novamente. Não que fora algo totalmente bom, mas apesar de estar ao lado de um homem poderoso e armado, eu sabia que poderia batalhar para mudar a situação. Agora eu nem sabia mais com o que estava lidando. Não foi fácil permanecer durante aquela semana na casa em que eu morava antes, e ainda menos fácil foi ignorar as chamadas de Joseph. Não sei como ele não tinha vindo me procurar em casa, eu sempre podia esperar aquele tipo de atitude dele, mas o mesmo me surpreendeu e provou agir de modos diferentes também. - A situação está impossível de ser nomeada, Jared. As vezes tudo que eu quero é poder me esconder. 
Então se esconda. Você já começou a fazer isso se demitindo da Empire. Preferiu pular fora ao enfrentar as coisas como deveria. 
- Espera... Como é? Está me chamando de covarde? 
Não, Demi, só estou dizendo que você está optando pela saída mais fácil. Fugir. 
Iria mostrar a ele quem é que ficaria com vontade de fugir. 
Ignorei a raiva momentanea que senti por aquele comentário e tomei ar, encarando a janela que iluminava a sala. Eu estava sentada no chão, em cima do tapete, com o notebook sobre o mesmo e alguns livros jogados ao redor. Um intenso momento de tédio que eu gostava de usar para ouvir música, ler alguns trechos de livros favoritos e simplesmente navegar na internet. Vendo daquele jeito, minha vida até parecia normal... Monótona. 
- Jared, você acha que tudo vai voltar ao normal um dia? - perguntei, como uma criança inocente. 
Já se perguntou se você realmente quer que tudo volte ao normal? 
- Como assim? - inclinei minha cabeça para o lado, segurando o telefone com meu ombro, enquanto digitava no notebook que tinha pegado emprestado de Cassie. 
Paixão por ação, sabe? Vicio descontrolado em adrenalina... 
- Jared, o que você andou bebendo? - arrumei tempo para fazer uma brincadeira, mesmo no meio de toda aquela bagunça. 
Pense sobre isso, Demetria. Talvez você não tenha nascido para levar uma vida normal. - ouvi seu riso. - Isso pode ter seu lado bom. 
Me despedi dele com um simples "tchau" e voltei a fazer o que estava fazendo antes. Pensei no que ele disse e achei tudo aquilo um absurdo. Paixão por ação? Vicio em adrenalina? Como se tudo aquilo estivesse acontecendo por minha escolha! E que lado bom toda aquela encrenca poderia ter? Só se eu fosse uma super heroina que descobrira ter poderes e resolveu aniquilar os inimigos. Mas então lembrei que estava vivendo no mundo real e tentei manter afastados os pensamentos medonhos e a sensação sufocante de duvida. Mas a frase de Jared fixou-se em minha mente. 
Talvez você não tenha nascido para levar uma vida normal.


Joseph's P.O.V
Los Angeles, CA. 

Enquanto eu sentia uma sensação boa provocada pelo vento que batia em meu rosto, encarava a paisagem oferecida pela cobertura do hotel. Era estranho estar ali de novo, era estranho ver tudo tão perfeitamente normal. Era um lugar comum para mim, se não fossem as lembranças de tudo que ocorreu ali. Enquanto eu apoiava meu corpo na sacada, olhei para baixo e lembrei de Margo Quick. Aquela amiga louca e rebelde que cometeu um ato tão absurdo. Eu sabia que Margo perdera a sanidade no momento em que nasceu, mas se matar? 
Por algum motivo, eu conseguia me lembrar de uma conversa que tivemos em uma das milhares de festas em que passamos. Bebiamos algo que queimava mortalmente a garganta, e riamos sem parar feito duas hienas malucas. Na época eu não me importava com nada, só queria aproveitar o que tinha de bom ao meu redor. Um típico adolescente rico, com problemas familiares e tentando esconder de todos as magoas dentro de si. Minha história era deprimente demais, eu até sentiria pena de alguém que passasse pelo mesmo. 
Voltando a lembrar de Margo, pensei na frase que ela tinha me dito durante aquela conversa regada a bebida forte, risadas e beijos. 
"Eu nunca me mataria, sabe? Jamais! Posso matar dezenas de pessoas, posso roubar, posso correr nua pela Times Square... Mas cometer suicídio? Só quando as pessoas perderem o interesse por sexo!" 
Ri com a lembrança das palavras que ela usava e pensei em Demetria. Minha Demetria. Por que tudo tinha que acontecer daquele jeito? Por que logo quando eu começava a pensar que tudo estava bem naquela droga de vida os demônios do passado começavam a me puxar para o inferno de novo? Eu tinha que tomar uma decisão, tinha que ser o Jonas forte e decidido que me acostumei a ser. Eu contaria a verdade a ela, mesmo que doesse. Contaria a verdade pela metade, é claro, porque uma parte... Eu simplesmente não conseguia me lembrar. 

/Joseph's P.O.V

Tarde de Halloween.

Cassie encarava com uma sobrancelha arqueada as várias peças de roupas jogadas por sua cama. Não eram roupas normais, eram coisas exageradas, brilhantes, excêntricas... Fantasias de Halloween. Sem máscaras ou coisas do gênero, mas ela realmente tinha levado aquilo a sério. Eu havia chegado em sua casa pela manhã, com uma bolsa grande com meus pertences. Era o dia de sua gransiosa festa de Halloween, e eu tinha prometido ajudá-la com o que fosse necessario. Foi bom, porque eu pude ocupar minha cabeça com problemas menores, coisas idiotas e sem sentido. 
Zatanna, que tal? - ela pegou um chápeu de mágico e colocou na cabeça, fazendo uma pose engraçada. Me perguntei de onde ela tinha tirado aquelas coisas. 
- Não, Cass, eu não vou usar uma meia arrastão... Sério, não vou mesmo! 
- Você é Demetria ou minha avó que mora em Bolton? 
Não respondi, apenas continuei a encarar as coisas sobre a cama. Uma festa, era de uma festa que eu precisava. Beber um pouco, ter conversas normais e dançar com músicas agitadas. Eu precisava daquilo, como um veículo precisava de combustível. 
Demetria. E... Você vai mesmo de Mortícia? - ela concordou com a cabeça, tirando a chápeu de mágico e pegando uma peruca preta de fios longos. Cassie era uma criança, ela não se importava com problemas; não se importava com o fato de seu relacionamento com Jared estar uma droga. Ela não deixaria de dar uma festa, ela não desconvidaria todas aquelas pessoas que eu não fazia ideia de quem eram. 
- E se... - ela batia o dedo indicar sobre os lábios, procurando por algo invisível. Correu para seu closet e o abriu rapidamente, enfiando-se lá dentro e voltando segundos depois com algo embolado e vermelho nos braços. Suspirei. Vermelho, aquela cor linda, aquela cor tão... 
Aquela cor que me lembrava Joseph. 
- O que é isso? - perguntei, dando-me por vencida e jogando meu corpo na cama, por cima das fantasias mesmo. 
- Você acharia muito infantil ir de chapeuzinho vermelho? - arregalei os olhos e comecei a rir, rir sem parar. Eu estava meio drogada aquele dia, era quase uma certeza. Pensei por um tempo e tudo que consegui fazer foi voltar a rir. Chapeuzinho vermelho? Que porcaria ela estava pensando? Eu, com uma capa vermelha e uma cesta com docinhos para a vovó? Zatanna pareceu algo muito mais aceitável. 
- Sem chances. 
- Calma, você não sabe o que estou pensando em fazer com a fantasia! - ela me lançou um olhar de quem acabava de ter uma ideia brilhante, eu quase podia ver uma lampada acessa em cima de sua cabeça. Cassie carreu até o criado mudo e pegou uma tesoura. Voltou para o closet e pegou um vestido preto simples, algo que seria usava em um velório. Colocou o mesmo sobre o chão e começou a fazer cortes na altura da barriga na peça de roupa. Depois de cortar, ela puxou um pouco o local para que se desfiasse, tirando também uma boa parte do comprimento, deixando o vestido mais curto. Colocou-o de lado e puxou o longo vestido vermelho que tinha tirado do closet antes e eu arregalei os olhos ao ver ela pegar a tesoura... 
- Cassie, não... - era tarde demais, ela já começava a fazer rasgos e mais rasgos. Tirou a parte do tronco do vestido e deixou apenas a longa saia rodada, fazendo algumas modificações depois de vários mínutos e a transformando em uma espécie de capa com capuz. Não sei como ela foi capaz de fazer aquilo, mas eu não conseguia deixar de assistir. 
Se levantou, animada, enquanto seu rabo-de-cavalo rotineiro balançava de um lado para o outro e pela terceira vez entrou dentro do closet, saindo de lá com botas pretas de cano longo. 
- Terminei sua fantasia. - ela sorriu e parecia um artista plastico que acabara de terminar uma grande obra de arte. Encarei a capa, o vestido todo detonado e as botas. - Conhece a chapeuzinho vermelho que foi devorada pelo lobo mau? - quase me assustei com a expressão em seu rosto. Era malígna. - Ela está retornando do inferno

Noite de Halloween.

A noite chegou, e eu podia ouvir os risos de algumas crianças que corriam pela rua. Quando os ingleses tinham se mostrado tão interessados pelo Halloween? Talvez aquele ano estava sendo assombroso, então as pessoas decidiram entrar no clima. Cassie estava na cozinha, comendo algo para aguentar ser anfitriã de sua festa. Eu ainda estava em seu quarto, em dúvida do que fazer com aquela roupa. Desisti de evitá-la e comecei a colocar o vestido, cobrindo minha lingerie preta e simples. Cassie não tinha tirado nenhuma medida de mim, mas acertou em cheio quando fez os rasgos na região do abdomen, ficaram certinhos. Peguei uma meia calça 7/8 e comecei a subir a mesma por minhas pernas. Calcei as botas e por fim tentei colocar a capa. Eram tantos rasgos e aquela mistura do vermelho e preto realmente me fazia parecer uma criatura demoniaca. 
Criei coragem e me encarei no espelho, balançando a cabeça e rindo. Observei toda a maquiagem que Cassie deixou sobre a penteadeira e peguei tudo que era escuro. Deixei meus olhos marcados em excesso; eu estava parecida com aquela cantora... Taylor Momsen, se não me falhava a memória. Passei a batom vinho bem escuro nos lábios e ajeitei com os dedos. Ainda pude usar a maquiagem para aumentar minhas olheiras e dar a minha pele um aspecto palido e roxiado. Soltei o cabelo que estava quase na alltura de minha cintura, me olhei mais uma vez no espelho e quase cai para trás, assustando-me comigo mesma. Não me divertia daquele jeito desde adolescente. Desde Vincent. 
Se Vincent me visse daquele jeito, ele certamente falaria "O lobo mau achou seu gosto ruim e te cuspiu fora?". Voltei a rir, saindo do quarto e indo ao encontro de Cassie, que deveria estar quase tendo um filho por causa de sua ansiedade. 
A noite estava apenas começando... E algo me dizia que ela seria longa... Terrívelmente longa. 

Encontrei Cassie andando de um lado para o outro na sala. Ela estava irreconhecível; peruca de cabelos negros e bem compridos, vestido preto e longo, com aquelas detalhes embaixo, exatamente com o da Mortícia. Maquiagem sombria e tudo o mais. Ela arregalou os olhos ao me ver e fez um final de cruz com os dedos, rindo em seguida. Acompanhei seu riso e perguntei por Jared, mas ela simplesmente disse de um jeito desanimado que ele já estava no local da festa, ajustando com os últimos detalhes. A festa de Halloween de Cassie seria um uma casa - mansão, no caso - que era alugada para festas, festas sombrias de preferencia. Não ficava muito longe de onde ela morava, mas mesmo assim fomos de carro e não demorou até que a mansão toda iluminada entrou em nosso caminho. Parecia um cenário de filme de terror, principalmente porque algumas pessoas com fantasias bizarras circulavam pelo lugar, tentando assustar os outros que andavam pela rua. Saí do carro e bati a porta, passando pelo enorme portão e percebendo que alguns convidados já estavam lá. Reconheci Caleb, que estava com uma capa preta, camisa branca manchada de sangue - sangue falso. Um vampiro, tão clichê. Ao seu lado, estava sua irmã Rachel. Gargalhei ao observar os cabelos longos e ondulados, partidos ao meio, cobrindo um pouco seu rosto. Usava um tipo de camisola branca, estava amassada e suja. 
Samara Morgan? - eu disse rindo, quando ela e o irmão se aproximaram. Caleb sorriu, revelando as falsas presas de vampiro e ambos fizeram comentários de minha fantásia. Qual era o problema deles? Eu não estava tão assustadora assim. 
Cassie me puxou pelo braço e nos levou para dentro da mansão. Nem tive tempo de observar melhor a decoração do lado de fora, o enorme jardim e até uma piscina na lateral. Entramos e eu olhei ao redor, vendo algumas pessoas ajeitando algumas coisas e um DJ arrumando vários cds. A decoração era dark, velas em castiçais estavam espalhadas pelos cômodos. Teias de aranha, sangue falso nas paredes, mini caixas de som instaladas nos cantos das paredes para produzirem sons estranhos. A escada que levava aos próximos andares contava com corpos de mentira jogados nos degraus. Que mentil fértil minha amiga tinha. E o pior: como ela conseguiu organizar tudo aquilo sozinha? O dinheiro e tudo o mais. 
Deixei de pensar naquilo e logo avistei Jared vir até nós. Não reconheci sua fantasia, mas achei engraçado vê-lo com aquela peruca. Cassie deveria ter o ameaçado de morte para que se vestisse daquele jeito. 
- Não reconhece minha fantasia? Droga, sou Sweeney Todd! - pensei por um tempo e conclui que era um personagem interpretado por Johnny Depp em um filme que me recordava vagamente de ter assistido. Cassie saiu de perto de nós e foi brigar com alguns dos organizadores que tinha deixado uma bandeja com drinks - simulavam sangue - cair no tapete escuro. Jared me olhou de soslaio e encarou a capa vermelho. Puxei a mesma para frente, cobrindo meu corpo e balançando a cabeça negativamente. 
- Você é um homem ou um rato, Senhor barbeiro? - perguntei. 
- Por que está dizendo isso? - ele franziu o cenho. 
- Porra, Jared, você vai mesmo continuar nessa situação com a Cassie? Que droga! - cruzei os braços, me sentindo irritada com aquela situação. 
- Não sei o que fazer.
- Você costumava ser mais abusado... - quando percebi, já tinha falado demais. - Tipo quando me bejou no hotel do Joseph em Los Angeles. 
Não esperei para ver sua reação e virei meu corpo, indo de volta para o jardim. Caleb e sua irmã Rachel ainda estavam por lá, encaravam a piscina e conversavam. Me aproximei deles e fiquei encarando o mesmo ponto que os dois. Um corpo de mentira - acreditava eu - boiando na piscina. 
- Cassie é insana. - a Samara comentou, digo, a Rachel. Caleb concordou com a cabeça e ficamos conversando por um tempo sobre assuntos aleatórios. Rachel comentou que eles deixariam a festa de Cassie por um tempinho, já que estavam planejando visitar um orfanato. 
- Quer ir com a gente? - Caleb perguntou. - Vamos levar alguns doces para as crianças e depois voltamos para a festa. Não é longe, acredite. - seu olhar dizia outra coisa, dizia que ele precisava conversar comigo sobre alguma coisa. E eu sabia o assunto, mas senti meu estomago embrulhar só de pensar em saber o que ele tinha descobrido. 
- Vamos! Ainda é cedo, vamos voltar na melhor parte da festa, você vai ver! - Rachel insistiu para que eu os acompanhasse, acabei concordando e depois de avisar Cass que logo estaria de volta, entramos no carro de Caleb. 
Como ele conversaria comigo sobre Erin Fields com a irmã por perto? 
Rachel não era uma adolescente, tinha quase a mesma idade que eu; mas ela era alegrinha demais para a idade que tinha, e enquanto Caleb passava pelas ruas que nos levariam até o orfanato, ela não parou de tagarelar. Seu irmão tirou o celular do bolso e em um sinal vermelho discou um número. O celular de Rachel tocou, fazendo com que a mesma terminasse seu monólogo. 
- Alô? 
Seven days... - ri ao ouvir Caleb pronunciar as palavras de um jeito arrastado e tentando parecer assustador. Sua irmã bufou e desligou o celular, olhando com uma cara de assassina para ele. Boa ideia para tentar fazê-la se calar. 
- Essa fala é minha, Caleb! 

Descemos do carro e Caleb tocou a campainha. Encarei os enormes muros de concreto e o enorme portão de metal. Eu nunca tinha ido em um orfanato antes, e estava começando a pensar que eles realmente eram iguais aos filmes. Tenebrosos, as crianças sofriam lá dentro. Pobres crianças. Uma senhora baixinha, com aspécto simpático e óculos caídos que eram segurados pelo nariz fino nos recebeu com um sorriso. Naquele momento eu mudei minha ideia sobre como seria aquele lugar, porque a mulher parecia um doce. Exatamente como os que seguravamos dentro de abóboras para entregar as crianças. A senhora olhou nossas fantasias e soltou um risinho. 
- Já recebemos piores aqui hoje, podem acreditar. Entrem! - ela abriu o portão e nós passamos pelo mesmo, enxergando um jardim com balanços. A casa era grande, devia ter uns dois andares. A fachada estava decorada com abóboras que provavelmente foram feitas pelas crianças. Me senti aliviada por descobrir que ali era um lugar legal. 
- Não acham que elas vão se assustar com nós? - Caleb disse, receoso. 
- Claro que não! Sabe o que assusta as crianças hoje em dia? Atividades físicas! É sério, elas só querem saber de tecnologia! - rolei os olhos com o comentário de Rachel e subimos por uma escadinha que levava até a porta de entrada. Li a plaquinha que estava na porta. "Orfanato Happiness". Não era um nome muito adequado, pensei. 
Algumas crianças estavam sentadas em uma roda no canto da sala de estar, outras sentadas na escada que levava aos quartos. Algumas vestiam fantasias e corriam de um lado para o outros com suas capas, outras apenas comiam doces que foram entregues por outros visitantes. Era um ambiente agradável. Junto com a senhora que nos conduzia pela lugar, outras três mulheres pareciam trabalhar por ali, já que ficavam com os olhos atentos as crianças. 
- Nenhum deles tem mais de 10 anos, ainda. - a mulher disse, sorrindo ao olhar para uma garota loira que colocava o doce na boca de sua boneca. 
- Vocês trouxeram tantos doces! Vão deixar nossas crianças com cáries e diabetes. - uma outra mulher comentou de um jeito cômico, e eu ri de seu otimismo
Enquanto Caleb e Rachel se misturaram pelo local para conversar com as crianças e começar a distribuição de doces, avistei um garotinho sentado perto de uma janela que dava vista aos fundos do lugar. Pensei em caminhar até lá, até que uma das mulheres que cuidava do local veio até mim, com uma expressão triste. Encarei o menino mais um vez e percebi que seu olhar era distante, frio. 
- Por que ele não está brincando com as outras? - perguntei. 
- Jamie é diferente das outras crianças. - a olhei sem entender, então ela continuou - A maioria das crianças que você vê correndo por aqui chegaram quando ainda eram pequenas demais para ter alguma noção do mundo. Algumas aprenderam a andar aqui, aprenderam a ler e a escrever aqui; aprenderam a ser gente aqui. - o garoto não movia um músculo, parecia viajar em algum lugar de sua mente infântil. - Jamie é diferente porque já chegou a este orfanato sabendo fazer tudo isso. Diferente das outras crianças, ele lembra de seus pais. Ele tem uma noção do que aconteceu para que viesse parar aqui. 
- O que aconteceu com os pais dele? - a mulher suspirou e pediu que eu a acompanhasse, enquanto andava na direção de Jamie. 
- Não sei se a história é verdadeira, mas quando deixaram Jamie aqui, ele segurava uma carta nas mãos. Lemos a quarta e concluimos que sua mãe tinha falecido, e então o pai que deveria cuidar dele mais do que nunca se afundou na bebida e em uma noite morreu em um acidente de carro. Desde então o pobre Jamie é mais um orfão, como tantos outros. 
Algo dentro de mim reagiu diante daquelas palavras. Senti meu coração apertar e lágrimas se formarem em meus olhos. Uma criança tão pequena e bonita como ele não merecia passar por coisas como aquelas. Os problemas da vida deveriam atingir apenas aos adultos; adultos eram menos indefesos. Estavamos perto do garoto, que mal notava nossa presença e eu comecei a analisar a história daquela vida que ainda nem tinha começado direito. 
- Quantos anos o Jamie tem? - tentei disfarçar meu estado, perguntando de um jeito vago. 
- Completou 9 semana passada. 
Era tão familiar. A história de Jamie lembrava a de Joseph. Porém, Jamie tivera ainda menos sorte. 
- Posso falar com ele? 
- Se ele te responder... 
Me afastei da mulher e caminhei para mais perto de Jamie. Respirei fundo antes de me sentar no sofá onde ele estava. Ele nem percebeu o peso do meu corpo sobre o sofá e continuou imóvel. Mordi o lábio e pensei em um jeito de puxar assunto com ele. Conversar com crianças era diferente de conversar com adultos. Você precisava medir suas palavras e fazer com que elas se sentissem seguras. Eu sabia como cuidar de uma criança, pois tinha ajudado minha mãe com Peter. 
- Oi, Jamie! - esperei um pouco, e tudo que continuava a ouvir era a agitação provocada pelas outras crianças. Só isso. Caleb e Rachel pareciam ter voltado a infância. - Meu nome é Demetria. 
Por um milagre, o rosto do menino se virou e ele encarou o meu. Seus olhos eram de um azul intenso e bonito. A pele de Jamie era branca e algumas sardas estavam espalhadas pelas maçãs de seu rosto; cabelos negros e lisos. Ele continuou a me estudar e depois deu de ombros, voltando a olhar para a janela. Bufei e fiquei encarando minhas botas, até que sua voz fina me fez virar o rosto. 
- Seu rosto tá horrível. - ele disse, sem se importar com as palavras e eu gargalhei. 
- Eu sei. Mas essa é a intenção no Halloween, não é? Ficar horrível! 
- Algumas pessoas são horríveis o ano inteiro, então não faz sentido o que você disse. 
Quase engasguei. 
- Você tem razão, Jamie... Mas mudando de assunto, você quer algum doce? 
- Quero meus pais. - mais uma vez meu coração apertou dentro do peito. Por algum motivo, eu me sentia conversando com o menino Joseph. Tão perdido no mundo, com tantas perguntas na cabeça inocente. Ele só queria os pais. Fingi estar com um cisco no olho enquanto pensava sobre aquilo. Eu sabia bem o que Joseph tinha se tornado por não ter tido uma família como deveria ter. As consequencias dos atos de seus pais o tornaram uma pessoa bipolar, fria e vingativa. Eu não conhecia Jamie, mas não queria que ele tivesse que passar por aquilo também. Me senti mal, me senti vazia por dentro. Eu tinha tantos problemas, mas eu era adulta. De um jeito ou de outro eu era mais forte que Jamie, tinha noção dos perigos do mundo. Como aquela criança linda e infeliz cresceria? Aquilo ficaria me assombrando, eu tinha certeza. Encarei seus olhos azuis mais uma vez e senti vontade de abracá-lo, mas preferi evitar. 
- Jamie, os erros dos outros não podem deixar que você mude seu carater, está me ouvindo? - ele balançou os pés e eu continuei a falar. - Conheço uma pessoa que fez escolhas erradas e só conseguiu ser infeliz. Você não quer isso, não é? 
Demetria... - ele estava prestando atenção quando eu disse meu nome, aquilo me emocionou. - Eu sou novo demais para entender o que você tá falando. 
Ri de leve e dei um beijo em sua bochecha, levantando do sofá e me despedindo apenas com um olhar terno. Desejei que aquela não fosse a última vez que eu o veria. 


Caleb inventou uma desculpa para que Rachel corresse para dentro da mansão assim que estavamos de volta à festa de Cassie. O lugar estava lotado, diferente de duas horas antes. Uma música típica de Halloween bombava por toda a área. Encarei Caleb e percebi que ele tinha tirado os dentes falsos de vampiro. 
- Você não podia ter pensando em algo mais nerd e menos clichê? 
- Quer saber o que eu descobri ou não? 
- Quero, claro! 
- Bom, eu passei o resto da semana pesquisando sobre aquele nome. Foi difícil no começo, já que eu não estava conseguindo encontrar nada. - cruzei os braços e me encostei em seu carro, ouvindo com atenção. - Lembra quando eu disse que o nome era familiar? - balancei a cabeça positivamente - Então... Eu sabia que ele não era familiar a toa. Ontem, acabei indo parar no escritório do meu pai, policial Austin, e descobri uma coisa. 
Algo me dizia que sua descoberta não era boa. 
- Pode começar a falar! - pedi. 
- Meu pai tem um cofre... Bem, todos dizem que sou nerd, e dizem isso com razão. Consegui descobrir a combinação desse cofre, Demetria. 
- E...? 
- E... 
DEMETRIA! 
Fechei os olhos com força e respirei fundo antes de me virar e encontrar uma Cassie aparentemente furiosa, que estava com os braços cruzados e batia impacientemente um dos pés contra o chão. Não que ela me assustasse, mas vestida daquele jeito eu preferia não contrariar a fera. Dei um olhar significativo para Caleb, aquele olhar de "Conversamos depois" e fui até minha amiga. A Mortícia continuava a me olhar; poderia até ser coisa da minha cabeça, mas eu senti que ela não estava brava só porque eu tinha demorado um pouquinho no orfanato. Existe um abismo entre estar aborrecida no estilo Cassie e estar aborrecida no estilo verdadeiro. Digo, ela estava realmente aborrecida com algo. 
- Você demorou. 
- Eu sei Cassie, desculpe. 
- Ok, tudo bem... - ela mexia sem parar na peruca. - Não aguento mais esse troço na minha cabeça, quero ser uma Mortícia loira! - ela disse como se estivesse falando com a grama do jardim e não comigo. A encarei com uma sobrancelha erguida. - Preciso que você vá até a sua casa. 
- Por quê? Está me mandando embora da festa ou... 
- Não, tolinha! É que tem uma playlist ótima de músicas no notebook que eu te emprestei. O DJ não está mais tocando coisas que agradam meus ouvidos, fala sério... Quem é que gosta de Black Sabbath? Isso não é o tipo de coisa para se tocar em uma festa de Halloween! - tentei não rir de seu desabafo. 
Pelo menos minha casa não ficava tão longe dali. 
- Eu vou, mas preciso de um carro. Não vou andar sozinha por ai, ainda mais com essa fantasia. 
- Pode ir com o meu carro, Demi. - ela deu de ombros, revelando que estava segurando a chave. Jogou-a para mim e se virou, voltando para a festa que parecia estar mais agitada a cada minuto que se passava. Aquilo duraria a noite inteira. 
Logo eu estava dentro de seu carro, girando a chave na ignição e perguntando se uma simples playlist era o real motivo de eu ter que dirigir até a minha casa. As ruas estavam agitadas, pessoas transitavam por todos os lugares; fantasiadas ou não. Coloquei uma música qualquer para tocar e dirigi pelo caminho já conhecido. 

Estacionei em frente a minha casa e dei uma olhada ao redor. Tudo estava calmo, escuro. Não passava das dez da noite, então aquele silêncio não era algo completamente normal. Ignorei aquilo e fui até a porta, abrindo a mesma com a dificuldade de sempre e entrando. Assim que encarei a sala escura, pude jurar ter ouvido algum barulho vindo do andar de cima, mas devia ser coisa da minha cabeça. Tirei a capa vermelha que já estava me irritando a subi as escadas, indo até meu quarto a procura do precioso notebook. Não demorei a encontrá-lo, o que foi um alívio; dei uma olhada sem sentido para a minha cama e ouvi o barulho novamente. 
Merda! Ladrões? Psicopatas? 
Coloquei o notebook sobre a cama de novo e tentei fazer com que os saltos das botas não fizessem um barulho muito alto. Com todo o cuidado do mundo, segurei a maçaneta e a puxei, xingando baixinho quando a porta fez aquele barulho horrível. Era sempre assim: Quando você tentava abrir uma porta silenciosamente, acabava conseguindo o resultado contrário. Coloquei apenas a cabeça para fora da porta e encarei o pequeno e escuro corredor; apenas duas outras portas: o quarto de bagunças e um banheiro. Suspirei e voltei para pegar o notebook na cama. 
Até que a luz do corredor foi acessa... 
Engoli um grito e pensei rápido: Ficar e morrer ou fugir e sobreviver? 
Eu não estava afim de enfrentar um ladrão ou coisa parecida, mas pensando bem... Se fosse um ladrão, ele já não teria entrado no quarto e me atacado? Desisti do notebook, pensando na desculpa que daria para Cassie e sai correndo do quarto, corri o mais rápido que pude, mesmo com o salto. O mais agonizante de tudo, foi que eu consegui identificar passos vindo atrás de mim. Não tinha coragem de olhar para trás, mas por reflexo acabei fazendo isso. Era um homem alto, com uma blusa preta; o capuz cobria sua cabeça. Quase cai quando estava nos últimos degraus. 
E então a mão do estranho me puxou. 
Tentei gritar, mas logo sua outra mão tampou a minha boca e senti meu corpo ser pressionado contra a porta que reclamou com uma barulho alto. Minhas pernas tremiam feito gelatina. Xinguei Cassie mentalmente, de todos os nomes possíveis. Eu poderia estar curtindo sua festa naquele momento, e não entre a vida e a morte nas mãos de um... Maníaco? 
Eu não conseguia levantar meu rosto, não queria encarar o rosto dele. 
- S-se você v-vai fazer algo c-comigo, f-f-aça logo! - eu disse, gaguejando. Senti a força que ele depositava em meus braços diminuir aos poucos e logo ele me soltou. Consegui ouvir sua respiração acelerada. 
- Se isso fosse um filme de terror... - sua boca se aproximou do meu ouvido, enquanto ele sussurrava. Eu conhecia aquela voz. - Você estaria morta agora. - droga, eu conhecia mesmo! - Mas não é... - ele levou a mão até o capuz da sua blusa e abaixou o mesmo, deixando que caísse para trás. Meus olhos se arregalaram. 
Joseph? - quase gritei e ele veio para perto de mim de novo. 
Demi... - começou a falar, mas a fúria cresceu dentro de mim e eu o interrompi. 
- VOCÊ É MALUCO? QUER ME MATAR? QUE PORRA! - seu rosto não sofreu nenhuma modificação com as minhas palavras altas. Tinha olheiras enormes e os cabelos estavam bagunçados. 
- Está tão demoníaca - depositou um beijo em minha orelha. Arrepio. - Quase me faz ter vontade de vender minha alma para você. 
- O que... - seus lábios se colaram aos meus, mas ele não tinha intenção de aprofundar o beijo. Aquilo foi apenas para me calar. Nossas bocas ainda estavam praticamente coladas quando ele começou a falar de novo. 
- Eu prometo que vou contar o que você quer saber, mas precisa me prometer algo também. - seu hálito estava me drogando. 
- Prometer o que? 
- Preciso da sua ajuda, Demetria. - senti seus dedos fazendo circulos pela parte descoberta de minha coxa. - Prometa que vai me ajudar. 
- Eu prom... - ele voltou a colar nossos lábios, mas dessa vez eu senti sua lingua pedir passagem. Neguei e ele afastou minimamente. 
- Não quero uma promessa em forma de palavras. - fechei os olhos e senti meu corpo se esquentar quando suas mãos grandes e fortes seguravam meus quadris. - O sofrimento, as dúvidas, o que incomoda... Nós deixamos para depois, mandamos para o inferno. - eu disse que aquela noite seria longa. - Tudo que eu quero agora é estar dentro de você

3 comentários:

  1. wooooouuuu nossa Joseph que susto e que pegada hein, até ofeguei aq, ta lindo demaiis posta logo, mais um hoje vai

    ResponderExcluir
  2. Quero mais capitulos!!! Posta logo!!
    >nova leitora<

    ResponderExcluir

Sem comentario, sem fic ;-)