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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 22



Reviravolta



O dia amanheceu frio e cinzento, principalmente para Carter. Ele não se preocupou em subir para seu quarto durante a noite, apenas jogou o corpo no sofá. Se lembrava de que estava assistindo The Walking Dead e se permitiu ser uma pessoa normal por alguns instantes e prestar atenção na trama. Quando nem os zumbis eram mais capazes de prender sua atenção, ele dormiu. 
Durante a madrugada, teve outra remessa de sonhos estranhos, mas completamente diferentes dos que tinha tido no dia anterior, após se drogar. Sonhou com um ambiente escuro e sufocante, cujas luzes verdes e vermelhas disparavam a piscar de direções desconhecidas. Ele tentava encontrar uma escapatória, mas uma mulher vestida de preto surgiu em sua frente, mesmo que a visão fosse completamente embaçada. Era o rosto de Erin, mas não era a voz da garota. Era uma voz diferente, porém familiar... 
O próximo sonho foi ainda mais estranho: ele estava em sua casa, mas o lugar era completamente diferente e assustador. Os quadros nas paredes o assustavam, as luzes não acendiam e um desespero sem tamanho crescia dentro de seu peito. O último sonho - o pior deles - indicava que Carter estava prestes a morrer, porque um barulho de tiro atingiu sua audição, mas algo se jogou contra seu corpo e o empurrou para o lado em questão de segundos, fazendo com que ele caísse dentro da água. Disposto a se afogar. 
Sem nenhum segundo de descanso para sua mente, ele abriu os olhos e sentiu fome. Estava há mais de 24 horas sem comer nada. Se colocou de pé e se incomodou ao ouvir um barulho de pratos na direção da cozinha. Aquilo o irritou, tinha dito para que as empregas ficassem longe por um tempo. Não queria ninguém por perto. 
Durante o curto trajeto que fazia em direção à cozinha, se pegou pensando no cartão vermelho que tinha recebido. Pôde olhá-lo melhor assim que sua visão se estabilizou e descobriu que as palavras rabiscadas em caneta preta se tratavam de um endereço. 
Era óbvio que Carter não estava com medo, ele iria até o lugar sugerido. 
Quando chegou à cozinha, um misto de expressões passaram por seu face. 
Ela estava sentada em um dos bancos altos da bancada e mordia uma torrada com géleia sem preocupação alguma. Os cabelos que beiravam a um tom de ruivo estavam penteados elegantemente, a maquiagem lhe dava alguns anos a menos. Estava com um colar de pérolas e um vestido preto coberto por um casaco cinza, ambos de grife, é claro. Ela levantou o rosto e se deparou com um Carter atônito, que poderia ficar vermelho de raiva a qualquer momento. A empregava que lavava calmamente alguns pratos na pia percebeu a situação, pedindo permissão para se retirar e ir limpar outro cômodo da casa. 
- O que você faz aqui? - Carter disse baixo, quase como um rosnado. A mulher a sua frente largou o resto da torrada no prato e se levantou, caminhando até ele com passos elegantes. Envolveu Carter em um abraço rápido e sorriu levemente, permitindo que linhas de expressão fossem vistas. 
- Bom dia para você também, Carter. - ela disse, com um sotaque francês. - Não é todo dia que sua mãe vem visitar essa bagunça - olhou ao redor, inconformada. - E ainda assim você não a trata bem. Que lástima, não? 
- Não se esqueça de citar a parte em que você não se preocupa com seu filho, Louise. - ele deu de ombros, entrando completamente na cozinha. Louise olhou para as tatuagens no pescoço que escapavam da blusa de frio dele, bufando e revirando os olhos. 
- Me chame de mãe. Eu sou a sua mãe! 
- Me avise se eu estiver errado, mas mãe não é a mulher que está presente quando o filho precisa? Você é simplesmente a mulher que me aguentou dentro de sua barriga por nove meses. Só isso. 
Ambos se calaram e Carter mastigou rápido seu cereal com leite, se sentindo um menino. Os acontecimentos recentes ainda faziam sua cabeça latejar e, de um jeito estranho, ele se sentia fraco. Sentia que algo estava se aproximando... 
- Eu nem deveria ter passado aqui para ver você, então vou voltar para o hotel onde estou hospedada. - Louise pegou sua bolsa e foi para perto de Carter mais uma vez, se permitindo dar um beijo inusitado no rosto do filho. O mesmo estranhou aquela reação e recuou, afastando-se dela. - Espero que não acabe morto, porque com essa vida que leva... - ele a cortou. 
- Pare de bancar a boa mãe e vá procurar um milionário que ainda queira ir para a cama com você! - Carter passou rápido por ela, empurrando um pouco o corpo da mulher. No meio do caminho, ele se virou e a olhou nos olhos. 
- É uma vergonha ter que ver o que está diante dos meus olhos. O que você se tornou, Carter? O que houve com aquele garoto que tinha tantos planos e sonhos... - Carter voltou a cortá-la. - Cala a boca! Aquele garoto nunca existiu, e eu estou pouco me fodendo para a vergonha que você sente ao me olhar. Eu não espero que ninguém me entenda. Eu não preciso de ninguém! - dizendo isso, ele saiu da sozinha e se trancou em seu quarto. 
Massageou as têmporas e pensou apenas no que o aguardava naquela noite. 
Por que sua mãe tinha que aparecer? Já não era suficiente tudo que ele era obrigado a aguentar, ainda tinha que ouvi-la expressar a vergonha e o desapontamento que sentia? 
Raiva. 
E quando a raiva possuia seu corpo, não tinha muito para fazer a não ser tentar aliviá-la. 
Carter se levantou e pegou seu caderno, procurando uma página em branco enquanto segurava a caneta com os dentes. Assim que encontrou espaço, começou a escrever, citando em voz alta as palavras que expulsava de sua mente. 
Se você não pode sair do inferno, se acostume com ele. Talvez seja um pouco tarde para arrependimentos, porque eles nunca adiantam de nada. Ele nunca adiantou de nada. Então, talvez seja a hora de... - Carter parou de escrever e se lembrou da voz que tinha ouvido no telefone no dia anterior. Era uma certeza que se tratava de Scarlett. Relacionar e ligar os fatos dentro de sua cabeça foi fácil. Scarlett estava ajudando Joseph, então era muito provável que Demetria estivesse participando do que parecia ser uma suposta armação. - Deixar queimar. - ele concluiu sua frase, escrevendo no pouco espaço que lhe restava. Fechou o caderno e o segurou com força, certo do que fazer. 
Ela era sua salvação


O táxi estacionou em frente ao hotel onde Louise passaria aquela semana. Após pagar, ela desceu do veículo rapidamente e virou o corpo, pronta para passar pelo porta. Em meio a outras pessoas que passavam ao redor e que também entravam no hotel, ela reconheceu um rosto. E como poderia não reconhecer? 
O homem também pareceu notá-la e instantaneamente congelou no lugar em que estava, prendendo seus olhos nela. Louise não sabia se continuava com aquela estranha troca de olhares ou se ignorava e ia para ser quarto. Após escolher a segunda opção, ela passou rápido por ele. Durante o trajeto de elevador até seu quarto, se arrependeu amargamente por ter saído de Paris. Sabia desde o momento em que aquela estúpida ideia foi plantada em sua mente que viajar para Londres era um erro. Aquela cidade era amaldiçoada. 
Lembrou-se do passado. Das decisões que tomou, dos erros que cometeu... Do que poderia ter evitado. No entando, se o que fora feito apenas para irritar seu pai tivesse sido evitado, Carter nunca teria nascido. 
E, apesar de tudo, Carter ainda era seu filho. 


Cameron's P.O.V

Antes de deixar Londres, eu precisava visitar alguns lugares. Passei brevemente pelo orfanato onde Jamie estava e me despedi dele, recebendo vários questionamentos sobre minha decisão. Ele era só um menino, nunca entenderia minhas razões. E eu não atormentaria sua infância com problemas como aqueles... A parte mais difícil de toda aquela situação, sem dúvidas, foi quando ele me perguntou onde Demetria estava e se ela estava bem. É claro que eu fingi um sorriso e disse que sim, que ela estava ótima e logo iria vê-lo. 
As passagens foram compradas, as malas foram feitas. Eu faria apenas mais duas coisas e então deixaria aquele país para sempre. Mas por que era tão difícil? Eu tentava me convencer de que era o melhor para mim, para ela, para todos. O instinto que fluia pelas minhas veias era troiçoeiro, e se eu não tivesse autocontrole, provavelmente teria corrido até Demetria e raptado ela. 
Revelar meus sentimentos foi um erro... Que tipo de burro eu era? Revelar o que eu sentia por uma mulher casada... Totalmente patético. Como se eu ainda fosse capaz de esperar que ela mudasse de ideia e viesse até meus braços. Talvez ter crescido daquele jeito tenha sido um erro. Me tornei o tipo de cara romântico que finge não ligar para nada. Não que a pintura tenha influenciado isso, muito menos as músicas da época da minha avó que eu tanto gostava de ouvir... Eu apenas queria não ser tão intenso em momentos como aqueles. Poderia ter engolido aquele maldito "Eu te amo", não tinha fundamento dizer aquelas palavras à ela. Não surtiram efeito algum. É claro que não. 
Escutei passos se aproximando e permaneci do mesmo jeito, apenas batendo os dedos contra uma mesa de ferro cinza e velha. Não demorou até que ele se sentasse de frente para mim, me obrigando a levantar o rosto na mesma hora e encará-lo. 
Joseph. - cumprimentei, sério, e ele não disse nada. Apenas me olhava com aquele semblante assassino. Ainda acreditava que conseguiria me assustar. - Não se preocupe em me responder, eu só vim avisar que estou deixando o país. Não se preocupe com sua mulher, tenho certeza que agora ela tem guarda costas melhores. - ele ergueu uma sobrancelha e coçou a barba. - Ok, diga alguma coisa antes que eu comece a ficar com medo! - ironizei e ele bufou, olhando para um policial. 
- Eu finjo que me importo e pergunto o motivo, ou peço para o meu advogado trazer alguma bebida para comemorar? - Jonas resolveu abrir a boca. Eu ri com escárnio. 
- Peça para ele trazer uma bebida, sim, e então você guarda para dividi-la com a Demetria e seus dois novos protetores. Não parece que vai ficar muito tempo por aqui. 
- Bom para mim, não? 
- Totalmente! - concordei. Estava ficando óbvio que ele tinha conhecimento dos acontecimentos recentes entre mim e sua esposa. 
- Já terminou? - Joseph ameaçou se levantar, mas eu balancei a cabeça e fiz um gesto com a mesma para que ele continuasse onde estava. - Então continua a falar, Wolfe. 
- Você é sortudo. - eu disse simplesmente e ele parou de me olhar como se fosse um psicopata. Ficou sem reação. - E sabe a pior parte? Éperceber que ela realmente te ama. Ela resistiu em todas as vezes em que tentei fazê-la ceder. Parabéns. - esperei pelo momento em que ele começaria a rir da minha cara, ou então dizer que ele já esperava por aquilo. Tão convicto do amor que ela sentia por ele. 
- É evidente que não significou nada para ela, Cameron. 
- Quanta humildade. 
- Eu disse a ela para não se preocupar mais com isso, não tem por quê. Mas, quer saber a verdade? Eu senti muita raiva. Não deixei que Demetria percebesse, é claro, mas eu tive que me esforçar para controlar a vontade de quebrar a sua cara. Tive que me controlar, caso contrário eu fugiria daqui de algum jeito e mostraria à Demetria o que ela realmente merece, se é que você me entende. - se ele pensou que me colocaria para baixo com aquelas palavras, estava muito enganado. Nenhum músculo do meu rosto se moveu. Na verdade, eu estava enojado. - Eu amo demais aquela mulher para permitiir que algo insignificante como isso afete alguma coisa. - talvez o melhor a fazer fosse levantar e ir embora, depois embarcar para longe da Inglaterra. Mas, não, eu não me controlei. 
- Tem certeza que você ama a Demetria tanto assim? - Jonas ficou na defensiva, abrindo a boca para dizer alguma coisa. Eu fui mais rápido, mantendo o tom de voz baixo, para que ninguém ao redor pensasse que se tratava de uma briga. - O que você já fez por ela, afinal? Digo, algo realmente importante, e não satisfazê-la na cama, ou comprar uma jóia cara... Eu falo de sacrifícios, Jonas. 
- Isso não te interessa. - ele rebateu. Respirei fundo, tendo consciência de que se eu fizesse o que passava pela minha cabeça acabaria dentro das grades também. Desgraçado. 
- Você se colocaria na frente de um tiro por ela ou simplesmente assistiria enquanto ela cai ferida no chão? - ele ergueu uma sobrancelha e suas mãos - que estavam apoiadas na mesa - se fecharam em punhos. - Eu me lembro muito bem de uma certa cena, então, esquece, não precisa responder isso. 
- Já terminou? - Jonas voltou a perguntar, claramente perdendo a paciência. 
- Ela sofre por você... Mas e você, já sofreu por ela? Realmente por ela, e não por você, por fatalidades que acontecem na sua vida. E a vida dela? Não deve ser fácil ter o marido preso, um perturbado a perseguindo, amigos com problemas graves... Você já parou para pensar em outra coisa a não ser o fato de que ela é sua? O sentimento é fácil quando você tem a pessoa amada por perto, mas e quando você é obrigado a vê-la de longe e fingir que não sente nada? - eu não me importei por estar dizendo tudo aquilo. Eram palavras que estavam engasgadas há muito tempo. Nunca tive medo de Joseph Jonas. Se alguém estava prestes a desistir daquela conversa, era ele. - Você até faz parecer que amar é fácil. - Joseph se levantou e me olhou com um ódio aparente. O policial que estava próximo percebeu o gesto dele e se aproximou. Ergui minhas mãos em um sinal claro de paz e levantei o canto da boca. - Mas tudo bem, ela é sua, espero que você saia logo daqui e volte para os braços da mulher que tanto ama. - me levantei também. - Vamos ver por quanto tempo essa obsessão vai durar! 
- Obsessão? - ele questionou, prestes a partir para cima de mim. Aquilo me divertia. - Eu não devo explicação alguma a você, não preciso provar nada. Ela sabe o que eu sinto por ela, então eu realmente não me importo com a opinião alheia. 
- Você realmente sabe amar alguém? Me perdoe, mas eu não consigo acreditar que o cara que dormia com qualquer uma que surgisse em sua porta seja capaz de sentir algo assim. E talvez o que você sinta por Demetria seja, de fato, uma estranha obsessão, porque ela te "salvou" e te mostrou uma "nova vida". - fiz aspas com os dedos, recuando um passo quando ele praticamente avançou em minha direção. - Que tipo de homem que diz amar uma mulher escreve em uma carta que talvez seja capaz de fazê-la feliz um dia e, horas depois, fica ameaçando se jogar do próprio prédio? -Demetria tinha me contado aquilo. Não era algo que ela deveria compartilhar, mas sua situação quando chegamos à Suíça não era nada boa. 
- Vá embora... Vá embora antes que eu realmente tenha um motivo para ficar preso aqui. 
- Pare de perder tempo com essas ameaças, Joseph. Eu não tenho medo de você! 
O policial impediu Jonas de tomar qualquer atitude impulsiva e o afastou, pedindo que eu fosse embora. 
Demetria não era minha, eu estava prestes a deixar a cidade onde nasci... Mas pelo menos Joseph sabia exatamente o que eu pensava. 
Peguei um taxi, disposto a ir até minha casa, pegar minhas malas e uma outra coisa. Dpois faria uma última visita. A mais importante. 

/Cameron's P.O.V


Demetria's P.O.V

Aquele seria um dia cheio. Então, eu precisava me alimentar. Assim que acordei sozinha naquela cama enorme, evitei pensar muito em certas coisas e tomei um banho rápido, me trocando e descendo até a cozinha. Mal conseguia lembrar quando tinha usado aquela cozinha, tudo estava tão limpo e organizado. Sem o auxílio de uma empregada ou de qualquer outra pessoa, fiz um café bem forte e tentei fazer uma omelete. Durante o processo, prendi o cabelo em um coque alto e fiquei olhando para a janela, com os braços apoiados no mármore. Não estava nevando, mas também não estava sol. 
Naquele dia, eu plano seria colocado em prática. Por dentro, é claro que eu estava assustada, mas não poderia deixar transparecer. Aquele era o dia em que eu mais precisaria ser forte, porque muita coisa estava em risco. A liberdade de Joseph dependia daquele plano. Deixei tudo perfeitamente combinado com Scarlett e Caleb, mesmo que ainda achasse aquela parceria um tanto quanto estranha. Ali, olhando para o jardim da casa, eu ainda poderia aproveitar o resto do dia. A calma do dia. 
A noite seria turbulenta. Perigosa. Decisiva. 
Voltei a prestar atenção em meu café da manhã, até que ouvi a campainha tocar. Pensei por um instante se deveria atender ou não. Naquele simples intervalo de tempo, ela tocou de novo. 
Desliguei o fogo e corri até a porta, hesitando um pouco antes de puxar a corrente e abri-la. 
Eu não deveria ter sentido aquele medo, porque a próxima visão que tive alegrou meu dia. Um sorriso aberto se formou em meus lábios assim que avistei os cabelos loiros. Abaixei o olhar e fiquei ainda mais feliz quando notei a barriga já saliente. 
- Cassie! - praticamente berrei, deixando que ela me abraçasse imediatamente. 
Demetria! - ela imitou meu tom de voz, mantendo um abraço forte. Nos soltamos e começamos a rir sem explicação. 
- Meu Deus, é muito bom te ver! - eu disse, não me controlando e levando minha mão até a barriga dela. Encostei meus dedos por cima do tecido levemente, maravilhada com a sensação que senti. Ela riu e olhou para dentro da casa, inflando um pouquinho as narinas. 
- O que você está cozinhando? Eu estou com fome! 
- Vem, entra! - dei espaço para que ela passasse. Fomos empolgadas até a sala, onde ela praticamente se jogou no sofá. - Por que não me avisou que vinha? Juro que eu teria preparado algo melhor do que uma omelete. 
- Eu poderia ter avisado, afinal eu já sabia que viria quando te liguei da outra vez. Mas preferi fazer uma surpresa... - concordei com a cabeça, me sentando ao lado dela. 
- Você veio sozinha? 
- Não, meu irmão veio comigo, ele está na minha casa. Precisava descansar um pouco. - assim como eu temia, o silêncio incomodo veio. Provavelmente estávamos pensando a mesma coisa. Pensando em Jared. - Você tinha razão, Demi. 
- Sobre o quê? - ela acariciou a barriga e depois colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. 
- É reconfortante, sabe? Toda aquela coisa de arco-íris que vem depois da tempestade deve mesmo ser verdade. É lógico que eu ainda não superei nada do que aconteceu... - a voz de Cassie falhou um pouco. - Mas eu tenho esse pequeno ser comigo agora, tenho certeza que tudo isso não aconteceu sem razão aparente. Aliás, agora eu posso comer o tanto de sorvete que eu quiser! E daí que vou engordar? - nós duas rimos. - Sério, eu não ligo que está frio, eu como vários potes de sorvete por dia. - apenas fiquei escutando enquanto ela falava. Era bom ouvir coisas como aquelas. - Amanhã eu vou fazer minha primeira ultra-sonografia! - Cassie disse empolgada, se levantando. - Podemos ir comer? - ri de novo e me levantei também. Antes que eu pudesse segui-la até a cozinha, o telefone tocou. Fiz um gesto com a mão pedindo para minha amiga não se preocupar e se servir do que quisesse. 
- Alô? 
Tem um tempo para mim? - Cam disse, mordi o lábio. Eu não falava com ele desde a noite da festa de Elizabeth. 
- Eu estou ocupada agora. 
É rápido... E importante. Por favor, eu prometo que é a última vez. - ergui uma sobrancelha com as duas últimas palavras de sua frase. Como assim a última vez? 
- Última vez? - eu quis saber. 
Tem um tempo para mim ou não? Vou explicar. - respirei fundo, ouvindo o barulho de talheres na cozinha e sorrindo rapidamente. Voltei a prestar atenção no pedido de Cameron e me dei por vencida. 
- Ok. 
Posso ir até a sua casa? 
- Sim. 
Até logo, Demi. - desligou. Levantei e fui até a cozinha. Cassie já estava comendo e eu apenas me juntei a ela, mandando pelo menos alguma coisa para meu estômago. 
- Espera... - ela levantou as duas mãos, como se tivesse se esquecido de alguma coisa super importante. - Cadê o Joseph? Na empresa? Qualquer resquício de sorriso em minha face desapareceu completamente. Como eu explicaria tudo que estava acontecendo para Cassie? Ela estava grávida e eu achava que era melhor não ocupar a cabeça dela com problemas como aqueles. Em todo o caso, ela era minha amiga. Esconder as coisas só parece ser uma saída, porque na verdade não é. 
Contei tudo, evitando alguns detalhes que não eram necessários. Era loucura demais, surreal e cruel demais. Ela parou de comer e seus olhos marejaram. Sem que eu tivesse pedido ou estivesse esperando, ela me abraçou e percebi que Cassie tinha começado a chorar. 
- Ele vai sair dessa, ok? Que droga! Quando seremos felizes de verdade? - ela desfez o abraço e ficou me olhando. Parecia uma garotinha com aquela expressão. Senti vontade de chorar também, mas não o fiz. - Demi, eu preciso voltar para casa. Só passei aqui para te ver mesmo, mas depois a gente conversa mais, tudo bem? - e mais uma vez ela me abraçou, correspondi. - Eu sei que logo as coisas vão voltar ao normal. - ela sussurrou bem perto do meu ouvido e eu apenas balancei a cabeça de forma positiva. 
Assim que ela foi embora, eu apenas deixei meu corpo jogado no sofá, esperando por Cam. 
A campainha tocou de novo depois de meia hora e eu senti algo dentro de mim responder de um jeito estranho. Levantei e fui até a porta, abrindo ela de um modo devagar, como se eu quisesse prolongar o tempo em que não precisava olhar para ele. 
Cameron me olhou nos olhos, como sempre, e sorriu. Percebi que ele carregava algo retangular e um pouco grande, que estava coberto por um papel branco. 
- Bom dia, Demetria. Não precisava ter se arrumado para me receber. - dei espaço para ele entrar e evitei rir daquele comentário. Eu estava com uma roupa larga, sem maquiagem e com o cabelo preso. 
- Você sabe que eu não me arrumei. 
- Mas no meu ponto de vista ainda assim continua linda. 
Cam colocou seja lá o que era aquele objeto encostado em uma parede e se virou para que pudéssemos ficar frente a frente. Olhei para o sofá, indicando que ele poderia se sentar se quisesse, masCameron ignorou. 

Cameron's P.O.V

Ela me olhava com certa curiosidade e receio, tinha medo de se aproximar. Então, eu fiz isso por ela. Não conseguia desviar meus olhos dos olhos dela, simplesmente não conseguia. Demetria respirou fundo e cortou nosso contato visual, olhando para qualquer coisa que não fosse o meu rosto. 
- Antes que eu diga alguma coisa... - desencostei o quadro embrulhado da parede e caminhei até o sofá, olhando brevemente para ela. Me sentei e logo ela fez o mesmo, ficando ao meu lado. - Isso é para você. - Demetria apenas encostou os dedos no papel que cobria o quadro. Eu ri da expressão que ela estava fazendo e coloquei o objeto em cima do sofá, para ajudá-la a abrir. 
- O que é? 
- Abra e descubra! 
Meio sem jeito ela começou a puxar o papel e eu assistia as emoções mudarem em seu rosto. Quando o quadro estava totalmente livre do embrulho, ela o segurou com as duas mãos pelas laterais e ficou estática. Eu podia jurar que lágrimas estavam prestes a sair de seus olhos. Fiquei quieto, apenas esperando alguma outra reação. Tentando ignorar aquele estúpido arrependimento que eu estava sentindo. 
- Isso... Isso é... - Demetria tentou dizer, deixando que uma lágrima caísse. Levou uma das mãos até a boca e depois tocou a superfície da pintura com os dedos. - Isso é lindo! Foi você que pintou, não foi? - ela limpou o lágrima, fungando disfarçadamente. - Eu vi o cavalete no seu quarto aquela noite... 
- Sim, eu pintei. Espero que você goste. - não olhei para ela quando falei, o que a fez colocar o quadro ao seu lado e se aproximar um pouco mais de mim. 
- Mas por que eu e o Joseph? Por que pintou nós dois? - naquela pintura que eu estava trabalhando há um bom tempo, Demetria estava com o rosto corado e sereno. Os cabelos compridos estavam soltos e uma flor estava colocado atrás de sua orelha. A princípio, aquilo era tudo. Mas então eu decidi que algo estava faltando... Pintei a imagem de Joseph atrás dela, com o queixo encostado em seu ombro. 
- Porque é o que faz você feliz. 
- Por que você disse que seria a última vez? - Demetria desconversou, se afastando um pouco e ficando encostada do outro lado do sofá. Aquela era a parte difícil. Encostei meus cotovelos nos joelhos e levantei o rosto para olhá-la. Doía, simplesmente doía ter que olhar para algo que eu sabia que nunca seria meu. A fúria fazia meu sangue ferver, eu seria capaz de qualquer coisa para me livrar daquele sentimento. No entando, ao mesmo tempo, eu seria capaz de qualquer coisa para torná-lo algo real
- Eu vou embora, Demi. Sabe, sempre tive o sonho de conhecer o mundo, viajar para vários lugares. Conhecer culturas diferentes. - ela se mexeu desconfortável enquanto me ouvia. Pude reparar que seu lábio inferior era mordido com frequência e seus dedos brincavam com alguns fios de cabelo que estavam soltos. - Decidi que essa é a melhor hora para fazer isso. - sorri, tentando acreditar que tinha escolhido o caminho certo. - Vou viajar hoje... E minha primeira parada será na Austrália. Tenho alguns amigos que moram por lá. Sei que agora outras pessoas estão por perto para cuidar de você. 
Silêncio. Apenas o silêncio. 
- Se isso vai fazer você feliz, não há motivos para contrariar. - em um impulso que me pegou de surpresa, Demetria se levantou do sofá. - Obrigada pelo quadro, sem dúvidas é o presente mais lindo que eu já ganhei. 
- Não precisa agradecer. - levantei, já pronto para sair daquela casa. Era o melhor, eu tinha que me afastar de Demetria o mais rápido possível. Antes que meu corpo parasse de obedecer minha cabeça e decidisse agir sob o controle do coração. - Bom, eu vou indo... - levei minha mão até o ombro dela. Demi nada fez, apenas ficou parada me olhando. Soltou o ar pela boca e alternava entre me fitar e desviar o olhar para o quadro. Eu a puxei para um rápido abraço, apenas para ter aquele último contato. Não me mataria. Demetria correspondeu. Inspirei o cheiro dela, querendo guardá-lo para mim. Senti suas duas mãos em minhas costas e o calor daquele corpo. Abaixei um pouco o rosto, encostando acidentalmente minha boca no pescoço dela. - Você vai ficar bem, ok? Tudo vai ficar bem! Está cercada de pessoas que vão contribuir para isso. - afastei um pouco meu corpo do de Demetria e, por impulso, fiz um carinho em sua bochecha corada. Ela ergueu o braço e colocou sua mão por cima da minha. 
- Obrigada por cuidar de mim, Cam. Eu espero que você seja muito feliz, de verdade... Você merece! - os olhos dela marejaram de novo. Por que diabos os meus também pareciam estar? 
Quando ela percebeu que eu voltei a me aproximar, recuou e era como se me repreendesse com o olhar. Eu apenas ri sem felicidade e neguei com a cabeça. 
- Não se preocupe, eu não vou te beijar. Não vou fazer nada que você não queira. - sem usar minhas mãos para segurá-la em lugar algum, inclinei minha cabeça e a abaixei um pouco, arriscando dar um beijo em sua testa. Pressionei minha boca contra a pele quente e hesitei ao romper o contato. Quando o beijo se encerrou, ela ainda continuou com os olhos fechados por um momento. 
Me esqueci de tudo que tinha planejado fazer quando aquela mulher sorriu. 
Caminhei até a porta, dando as costas para ela. Algo parecia me puxar naquela direção, mesmo que eu estivesse lutando contra. 
- Desculpe por magoar você, por ser egoísta. Por ter permitido que tudo saísse do controle. Nunca foi a minha intenção, eu queria poder tornar tudo isso mais suportável. Era tudo que eu queria... - o barulho de seu choro se iniciou, e isso fez meu corpo gelar. Não, eu não poderia suportar mais. Precisava ir embora! 
Olhei para cima, tentando obrigar as malditas lágrimas a ficarem dentro dos meus olhos. 
- Não se lamente, meu amor, não se lamente. - os olhos dela se arregelaram e só então eu percebi a besteira que tinha feito. Fechei os olhos e me xinguei mentalmente, lutando contra o meu próprio corpo. Olhei para ela só mais uma vez, me despedindo com um aceno. 
Dei as costas para Demetria e respirei aliviado. 
Cam! - quando estava determinado a andar para longe daquela casa, ela me chamou. Virei apenas o rosto, sentindo o vento frio passar por nós. Ela abraçava o próprio corpo, tentando se aquecer. - Me promete que você vai ficar bem. - Demetria disse com firmeza, tentando esconder a trêmura em sua voz por causa do frio. 
- É claro que eu vou ficar bem. Eu sempre fico. - ergui o canto da boca. Eu sabia que aquilo a agradava. 
- Obrigada. - concordei com a cabeça. 
- Obrigado você, por existir. 
- Eu... 
- Eu te amo, Demetria. Não deve ser segredo para ninguém, e nem quero que seja. - ambos mordemos os lábios. - Pode até ser um pouco irracional pedir isso, mas não se esqueça. Por favor, não se esqueça de mim... 
- Não vou me esquecer. - ela sorriu mais uma vez. E eu, como um fraco, praticamente corri para longe. 
Sem mais despedidas, sem mais palavras úteis, eu corri para o lado de fora da casa. Atravessei a rua sem olhar para os lados e entrei em meu carro. Minha bagagem já estava lá dentro, tudo estava pronto. Tudo. Menos um homem que não queria se sentir daquele jeito. Nunca mais. 


Eu poderia ser um soldado em seu caminho para a guerra. Como nos filmes que fui obrigado a assistir quando estava no colégio. Talvez não fosse tão ruim... A maioria daqueles soldados tinha alguém esperando por eles com um coração na mão. Os soldados deixaram amores para trás e nutriram apenas a promessa de que um dia voltariam para seus lares. Se eu fosse um soldado, seria o solitário que batalharia apenas por batalhar. Se sobrevivesse, no caminho de volta eu não encontraria mãos macias prontas para segurar meu rosto. Não teria uma mulher para chorar de saudade em meu peito. Naquela época preta e branca tudo parecia tão mais simples. Complicado, mas simples. Eu apreciava coisas de época como aquelas, gostaria de ter tido a chance de viver em um tempo passado. Nunca me questionei o motivo de gostar de pintar, de ouvir música clássica ou imaginar como eu seria se vivesse nos anos 40. Mas eu gostava de ser daquele jeito. 
Um cavalheiro, às vezes um romântico a moda antiga e até mesmo um simples pintor que sofria de amor não correspondido. 
Todos aqueles devaneios cessaram quando uma música começou a tocar. Apertei minhas mãos contra o volante e a sensação de impotência veio de novo. Kings Of Leon. A maldita banda que me lembrava Demetria. Maldita Demetria. 
Descontrolado, tirei aquele CD e o joguei com raiva no banco de trás do carro, colocando outro. Era um de músicas bem antigas, realmente boas de se ouvir. Principalmente aquela que estava começando a tocar. 
O sinal ficou verde e eu continuei meu trajeto que seria um pouco demorado, mas nada que não fosse resolvido com preocupações na mente e as letras depressivas daquelas músicas. Por que eu tinha que ficar me atormentando tanto por causa de uma mulher? Porra! 
Tentei pensar na Austrália, em como aquele lugar era incrível. Tão diferente, sem todo aquele frio que eu já estava acostumado. Sydney, Cairns, Gold Coast, Magnetic Island. Poderia aproveitar ao máximo tudo que tinha direito. Pensei na última vez em que passei por aqueles lugares, há alguns poucos anos. Nada para fazer a não ser ir para as praias, mergulhar, visitar cachoeiras e outras maravilhas. Mulheres de biquini. Eu me lembrava de uma bela morena que tinha conhecido, de como ele ficou louca por mim... 
Ri sozinho com a memória, me sentindo estranho por pensar em alguém que não fosse ela. Claro, porque além de ser o injustiçado da história, eu ainda tinha que aguentar o fato de que me sentia mal a cada fração de segundo que parava para pensar em outra vida que poderia estar levando. E por que não ter outra vida? Austrália era apenas o primeiro destino daquela viagem sem hora para acabar. Eu me divertiria, beberia, sairia com mulheres de todos os tipos. Loiras, morenas, orientais... Nada me impedia, nada! Continuaria a pintar meus quadros, e quem sabe compartilhá-los com pessoas que poderiam adquirir algum interesse nos mesmos. Por que não? 
Realmente fazer algo da vida.

killing me softly with her song...

Ao mesmo tempo em que ouvi aquele trecho, ouvi também outro carro buzinar atrás do meu. Ignorei, pronto para mudar de direção. Um barulho alto se aproximava, mas eu estava absorto demais para olhar para os lados e notar alguma coisa. 
Algo veio de outra rua com uma velocidade monstruosa, pude notar. Mas não consegui fazer mais nada, porque quando me dei conta o vidro da parte da frente do meu carro já tinha se rachado e não demorou para que se transformasse em vários resquícios de vidro que se espalharam em várias direções. Um barulho agudo. Tive que fechar os olhos e proteger meu rosto com o braço quando senti vários deles entrando em contato com a minha pele. A pele onde atingiam ardia. 
Em seguida meu corpo sofreu um choque, um grande impulso. Os músculos, ossos e órgãos pareciam ter saído do lugar, e tudo que consegui fazer foi grunhir de dor e arregalar os olhos instantaneamente. 
Tudo estava acontecendo em câmera lenta. 
Um veículo muito maior estava se chocando com o meu. Me senti um nada, um peso morto que apenas ia violentamente na direção em que o carro era empurrado e sofria vários impactos. 
Estava sem cinto de segurança, sem forças para fazer qualquer movimento. Fechei os olhos novamente, transtornado com o zumbido insuportável nos ouvidos. Meus braços estavam dormentes e a cena saiu do modo lento, se tornando rápida demais. Algo atravessou a parte lateral do carro. Algo perfurou a parte lateral do meu corpo. Cheiro de sangue. 
Dor. 
Dor o suficiente para arrancar o barulho dos meus ouvidos e pesar os meus olhos. Mas tão rápido como veio, foi embora. Minha visão desapareceu e a dor se esvaiu. Fiz questão de ter apenas uma coisa em mente: um rosto. Se aquela era a minha hora de morrer, que fosse com a visão da ladra do meu coração. 
As forças que ainda tinha para conseguir aquele feito escaparam de vez. Nada ao meu redor importava mais. 
Apenas por um momento insignificante, voltei a escutar o que estava próximo. A agitação do lado de fora, as vozes altas, a música que estranhamente ainda continuava a tocar. 

Killing me softly...

E então eu apaguei de vez.


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bandeirinhas da frança porque eles vão continuar aqui na cidade \o/ 
enfim... 70.000 visualizaçoes, obrigada a todo mundo que me acompanha desde o inicio, se ainda tiver alguem ai, e obrigada a quem visita o blog e comenta, ate mesmo para aqueles que visitam e nao comentam :)
sexta entro de ferias, ai começo a postar todo dia, e se deixar de postar um dia posto dois capitulos seguidos, porque essa fic ta quase no final!!!
tchau e obrigada again ♥️

"Repost" entre aspas mesmo, bc tentei postar pelo celular, como tava em rascunhos, acabou indo parar no meio das postagens do mês de maio e eu tentei de todas as maneiras arrumar, but nao consegui.

QUEM AI GOSTOU DO CLIPE DE REALLY DON'T CARE? EU SIMPLESMENTE AMEI, MAS MUDANDO, SE ESTIVEREM LOGADOS NO YOUTUBE, SAIAM DE SUAS CONTAS E ABRAM 5/6 ABAS COM O CLIPE, E SEMPRE QUE TERMINAR DE PASSAR/TOCAR, RECARREGUEM AS PAGINAS, VAMOS TIRAR A DEMI DO FLOP, TRANSFORMAR REALLY DON'T CARE EM HIT!!!!!


Divulgação: Jemi Histórias

Um comentário:

  1. Eu amo essa fic e sempre acompanho seu blog <333 amei o clipe de Really Don't Care, a Demi lacrou, como sempre.
    Posta mais logo, ta perfeito demais, beijooos <3

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Sem comentario, sem fic ;-)